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sexta-feira, 24 de março de 2017

UM OUTRO PRISMA DE "A BELA E A FERA"

Como já esperado, a estreia do filme "A Bela e a Fera" no último final de semana trouxe ótimos números para a Walt Disney Pictures. O live-action*
[*Expressão originária da língua inglesa que significa "Ação ao Vivo" (ou, "Ato Real", em tradução livre), o Live-Action é uma variante do RPG que se assemelha bastante à um teatro de improviso. O termo utilizado no cinema, teatro e televisão para definir os trabalhos que são realizados por atores reais, ao contrário das animações.  
Em si, o termo "live-action" é considerado inútil ou redundante, uma vez que a maioria da media visual utiliza atores reais, porém, o seu uso é importante para distinguir os trabalhos em que, normalmente, se utilizaria uma animação, como em desenhos animados, videogame, histórias em quadrinhos, onde um trabalho de animação é adaptado.]
estrelado por Emma Watson atingiu o sonhado $170 milhões no território estadunidense. Com isso, o filme superou a marca de "Batman vs Superman" (US$ 166 milhões) como a maior estreia do mês de março e se tornou o musical de maior sucesso da história do cinema.

Com os $180 milhões em território internacional, "A Bela e a Fera" já soma $350 milhões no mundo. Já é quase a marca da versão animada de 1991, que conseguiu $375 milhões no mundo.

"Remake", só que não


"A Bela e a Fera" (ou "A Bela e o Monstro") é um tradicional conto de fadas francês. Originalmente escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot (1695-1755), Dama de Villeneuve, em 1740, tornou-se mais conhecido em sua versão de 1756, por Jeanne-Marie LePrince de Beaumont (1711-1780), que resumiu e modificou a obra de Villeneuve.

O novo filme é uma releitura do clássico da animação do estúdio, que recria os personagens clássicos do conto para um público contemporâneo, mantendo-se fiel à música original, atualizando com várias novas canções. "A Bela e a Fera" é a fantástica jornada de Bella (Emma Watson), uma jovem brilhante, bonita e independente que é tomada prisioneira por uma fera (Dan Stevens) em seu castelo. 

Apesar de seus medos, ela faz amizade com a equipe encantada do castelo e aprende a olhar para além do exterior horrível da Fera e perceber o tipo de coração e alma do verdadeiro Príncipe ali dentro.

"A Bela e a Fera" estreou em 16 de março. Bill Condon dirige a partir do roteiro de Evan Spiliotopoulos, reescrito por Steve Chbosky.

Confira cinco diferenças entre o live-action e a animação: 


  • Passado dos personagens 
Há duas cenas que revelam um pouco mais do que já se sabia sobre a Bela e a Fera. O personagem principal passou por questões na infância que o fizeram ser um homem arrogante e, consequentemente, sofrer com a maldição da feiticeira. Além disso, todos sabem que a Bela não tem mãe, sempre foram ela e o pai. No entanto, até o filme de Emma Watson, não se sabia o por quê; agora sabemos. 
  • LeFou 
Lembra-se desse personagem? Não? É o amigo de Gaston, que está sempre com ele. Na animação, ele passa despercebido, mas no novo longa ele é bastante marcante, além de ser o polêmico personagem gay prometido pelo diretor. 
  • Muitas músicas 
Claro que as músicas da animação de "A Bela e a Fera" são muito marcantes, mas no live-action há mais músicas do que no filme de 1991. Até mesmo a Fera tem uma canção para si. 
  • Humor 
O novo filme tem muitas piadinhas e momentos engraçados, mais raros na animação. LeFou é o responsável por vários deles. Os "objetos" do castelo, como Lumière, também dão uma graça a mais ao filme. 
  • Diversidade 
Além de LeFou ser gay e ter trejeitos mais femininos, há outro personagem com o mesmo "estereótipo" (apologia gay?). Além disso, há vários atores negros no filme, algo que certamente não se vê na animação.

Porque o desenho é melhor


Em um primeiro momento, o desenho "A Bela e a Fera" parece simplesmente nos convidar – já a partir de seu título – a acompanhar a história de dois seres que vestem como poucos a roupagem da conhecida frase "os opostos se atraem". Mas, atentem-se, eu disse "parece", pois à luz da Psicologia Analítica há uma justificativa mais complexa para que tal atração ocorra.

Personagens no divã


O filme retrata a história de um belo príncipe que foi transformado em Fera por uma feiticeira, devido à sua arrogância e egoísmo, tendo como condição para a quebra deste feitiço a sua capacidade de amar e ser amado em um prazo de 21 anos. Ele então se recolhe em seu castelo e passa a viver solitariamente, apenas contando com a presença de seus empregados, que também sofreram as conseqüências do feitiço e foram transformados em utensílios domésticos.

Bela, uma jovem bonita, inteligente, educada e afetuosa se torna prisioneira de Fera em seu castelo, em troca da liberdade de seu pai. É diante do encontro destes opostos que o filme se concentra, apontando as consequências que ocorrem quando um homem não vivencia de forma integrada seus aspectos femininos (anima*).
[*Anima e animus são termos latinos que, na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung (1875-1961), indicam a imagem da alma de um indivíduo, respectivamente masculina ou feminina. Jung diz:  "A anima, sendo feminina, é a figura que compensa a consciência masculina".] 
No caso da Fera, foi necessário que algo externo – o feitiço – ocorresse para que, ao encontrar-se com Bela, olhasse para dentro de si e despertasse sua anima, até então impossibilitada de vir à consciência. E é apenas no momento em que a reconhece como integrante de seus aspectos conscientes é que se torna capaz de se apropriar de sua real beleza: a interior.

Inclusive, esta é citada por uma de suas empregadas quando, juntamente com ele, se dá conta de que a jovem pode ser aquela capaz de quebrar o feitiço e o orienta a agir de forma sutil, delicada e educada com ela. Quando finalmente consegue tratá-la como tal, despertando sua admiração por ele, Fera dá a maior prova de sua mudança quando liberta Bela para que possa ir socorrer seu pai, ficando apenas com a esperança de que este amor seja retribuído. 

A libertação de Bela simboliza a libertação da anima que, posteriormente, mostra-se integrada em sua consciência quando ocorre a morte simbólica de Fera, na condição de monstro, para dar vida ao homem/príncipe novamente, no momento em que Bela também admite seu amor por ele.


Conclusão


Deste modo, simbolicamente, o filme traz como mensagem a importância de que homens e mulheres vivam de forma mais harmoniosa com suas polaridades internas, o que refletirá não só em suas relações amorosas, mas também nas suas próprias dinâmicas individuais, como é possível conferir no desfecho da relação estabelecida entre a Bela e a Fera. Em última análise, é possível compreender a figura de Bela como "representante legal" da anima de Fera, daí a justificativa para o despertar da mesma e, mais ainda, para a forte atração destes opostos.

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