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domingo, 12 de março de 2017

FILMES QUE EU VI - 28: "DIO, COME TI AMO!"

O ministério da saúde adverte: quem for diabético passe longe desse filme sobre o qual eu vou falar nesse breve artigo. Quer um filme açucarado, mais melado e mais doce que o mel? Então tome "Dio, come ti amo!". O filme é tão doce, mas tão doce que chega causar enjoo.


Antigo não, clássico


Há uma lista de fatores que fazem com que um filme marque uma geração. Muitos desses permanecem insuperáveis por anos, até décadas. A cena mais triste de todos os tempos, segundo uma pesquisa promovida pela Universidade da Califórnia, por exemplo, é de "O Campeão", de Franco Zeffirelli, lançado em 1979.

"Dio, come ti amo! parece desvirtuar qualquer fator: sua narrativa simples acompanha uma jovem italiana de baixa renda e sua paixão pelo noivo da melhor amiga, que, rica, acredita ter amizade com alguém da mesma classe social. Além disso, há uma dívida em jogo: Gigliola (a humilde) salvara a vida de Angela (a abastada) quando esta desmaiara em uma piscina durante uma competição.

Essa simplicidade era visceral à época: 1966. Os cinemas de rua, lotados de moças e também de rapazes com seus lenços lavados ao final das sessões, atestavam um fenômeno: um filme ítalo-espanhol simples, de roteiro tão frágil, tornando-se um enorme sucesso de bilheteria. Mas não era um acaso, a história estava sendo refletida através da juventude efervescente de uma época de transição.


Geração sessenta


Enquanto a primeira metade dos anos 1960 foi marcada por inocência e sentimentalismo na maioria de suas manifestações sócio-culturais, a segunda já é impregnada por um caráter mais áspero, uma acidez revoltosa, a perda da própria inocência e a revolução sexual. "Dio, come ti amo!", filmado no final da primeira metade da década e lançado na segunda, contém, assim, um misto de elementos: se há uma natureza singela e uma pureza quase icônica, há também um pai que não se importa de escutar a filha falando que está apaixonada pelo noivo de sua amiga; se há um amor à primeira vista, há igualmente uma jovem que canta em praça pública, dança com ciganas e não tem receio de cantar ao microfone de um aeroporto para o amado, o amado que, afinal, era o noivo de sua melhor amiga.

Por se tratar de um musical, vale ressaltar a pureza das canções. Embaladas pela voz angelical de Gigliola Cinquetti, as letras soam como uma nostalgia a um tempo que se esvaía, uma premonição inventiva. 
"Deixe que eu viva um amor romântico na esperança de que chegue aquele dia, mas agora não" (em livre tradução), 
é o que canta Gigliola na cena de abertura. A música: 'No ho l'eta' (Não Tenho Idade, na tradução oficial).


Um filme, uma canção, uma época


De fato, o cenário musical era exatamente transitório. The Beatles, verbi gratia, são sintomáticos desse período: reunidos pela primeira vez justamente em 1960 e em trabalhos de pós-fim em 1970, eles percorreram toda a década. Com discos de instrumentações limpas, harmonias simples e melodias doces (a sinestesia cabe bem ao momento), os rapazes de Liverpool passariam ao psicodelismo, às guitarras distorcidas e às letras quase surreais.

Portanto, "Dio, Come ti Amo!" é um modelo de uma época. Ainda além, socialmente e politicamente idealista quando ao tratar de forma tão singela e tímida uma luta de classes em um modelo individual, foi vanguardista do espírito de luta de um povo que, pouco tempo depois de seu lançamento, protestaria contra ameaças de enrijecimento do governo.

Cuidado com a hiperglicemia!


Claro, era o tempo hipócrita do politicamente correto, em que muitos tem nostalgia e outros nem tanto, quando o assunto é política e comportamento social. Mas o filme exibe esse padrão feito especialmente para os fãs da Gigliola, para a juventude sonhadora que frequentava as matinês e tudo mais. 

A mocinha tem o nome da cantora e atriz interpretada por Gigliola Cinquetti. No início do filme ela estabelece uma saudável e feliz amizade com uma nadadora espanhola. Há cenas dos postais recebidos por ambas. Um dia a mocinha espanhola passa por apuros em uma prova de natação e a nadadora Gigliola a salva de um afogamento. 

Daí a gratidão e amizade mais forte, a italianinha passa alguns dias na Espanha no país da amiga e conhece o noivo dela. Resumindo: os dois se apaixonam. Mas é tudo muito certinho: a mocinha sofre por gostar de um moço comprometido (normal isso para quem tem caráter). E em uma festa suntuosa na mansão do patrão do pai da italianinha o mocinho se declara, a namorada escuta e nem se estressa, porque na verdade ela percebe que nem amava seu agora ex-namorado tanto assim. 

A espanhola acaba se apaixonando pelo bonitão irmão da Gigliola. A italianinha abraça o irmão para lhe contar a novidade de que agora acertou os ponteiros com a amiga e o ex-namorado dela. Ao ver a cena o bonitão espanhol acha que ela o trai com outro homem e foge para o aeroporto, mas antes "de dar o flagrante", como bom moço de família daquele tempo foi pedir permissão pai da garota para namorá-la. 

Quando todos esclarecem o que está acontecendo, Gigliola (a italianinha) vai alucinada atrás do seu agora namorado no aeroporto e percebe que ele entrou no avião. Desesperada ela vai até a torre de controle e pede para dar um recado ao seu amor e ela acaba cantando a canção "Dio, come ti amo!". Ele enfim sai do avião para ir ao encontro da sua paixão. Os dois dão aquele beijo técnico, bem técnico (nada de língua) e são felizes para sempre.

Conclusão


"Dio, come ti amo!" parece desvirtuar qualquer fator. Mas só parece. Sua simplicidade conquistou uma geração e a preparou ludicamente para o que viria no futuro bem próximo.

Para quem estuda o idioma italiano é uma boa pedida para exercício de uma língua estrangeira. Para quem gosta de música italiana também (Eu gosto!). Além da clássica 'Dio, come ti amo!', Gigliola Cinquetti na primeira cena canta 'Non ho l'età', outro hit romântico da época. Para quem gosta de filme antigo (Eu gosto!) sem preconceitos (até porque ele é preto e branco) recomendo, mas para quem não suporta tanta coisa melosa (meu glicosímetro, por favor), porque este é meloso, meloso, meloso... é melhor ver um outro filme mais interessante.

Cartaz original do filme lançado em 1
de abril de 1966

Título: Dio, come ti amo!
Título Original: Dio, come ti amo!
Direção: Miguel Iglesias
Elenco: Gigliola Cinquetti, Micaela Cendali e Mark Damon.
Ano de Produção: 1966
Duração: 107 minutos
Cor: Preto e Branco
Tipo de Diálogo: Livre
Gênero: Romance
Faixa Etária: Livre
País de Produção: Espanha, Itália
Legenda: Português
Idioma: Italiano

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