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domingo, 27 de novembro de 2022

DIRETO AO PONTO — QUEM É O SEU SENHOR?


"Reconheçam isso hoje, e ponham no coração que o Senhor é Deus em cima nos céus e embaixo na terra. Não há nenhum outro. [...] ...Sou eu o Senhor teu Deus quem te conduz pelo caminho que deves viver!" (Deuteronômio 4:39; Isaías 48:17b)
Todos nós temos um senhor. Conhecemos o senhor de alguém pelas atitudes, palavras e obras da pessoa, e ela pode conhecer quem é o nosso senhor pelas nossas próprias obras, palavras e atitudes. 

Todo senhorio inspira obediência, e cada um de nós é totalmente obediente a seu verdadeiro senhor. Mas, quem tem sido, de fato, o senhor de nossa vida? É a reflexão proposta no texto deste artigo, mais um capítulo da série especial Direto ao Ponto.

Como reconhecer alguém cujo senhor é o dinheiro?


Provavelmente seu relacionamento com Deus e com as pessoas será baseado naquilo que poderá receber em troca, lucrar ou evitar prejuízos. 

Resistirá à ideia de doar algo de valor, que lhe faça falta, distribuindo somente suas sobras, ou o que é pior, seus restos, com Deus e com o próximo.

Como reconhecer alguém cujo senhor é o tempo

Provavelmente são pessoas governadas pela sua agenda, por prazos, ou que dão tempo ao tempo acreditando que o tempo cura e resolve tudo. 

Estes dificilmente têm tempo para "gastar" com Deus e com o próximo, e não acreditam nem têm paciência para esperar o tempo de Deus.

Como reconhecer alguém cujo senhor é o poder


Provavelmente almeja mais do que tudo ter a atenção e obediência das pessoas, influir nas decisões, dominar cenários, atrair holofotes... 
Não se conforma em ser coadjuvante, nem mesmo de Deus, nem em ver o sucesso e reconhecimento de outras pessoas que consideram tão menos preparados do que eles próprios.

Como reconhecer alguém cujo senhor são os ídolos


Provavelmente exaltam políticos, ideologias, a religião ou os religiosos, pais, filhos, família, amuletos, objetos, parentes, artistas, jogadores de futebol, animais domésticos, a natureza, a comida, dietas, estilos de vida, times de futebol... (esta lista pode até ter fim, eu que não tenho coragem para digitar tudo).

Em alguns casos usam o nome do próprio Deus e de Jesus Cristo, seus templos e liturgias, para renderem homenagens a seus ídolos de estimação.

Há também aqueles que, embora se digam crentes, são mais conhecidos pelos ídolos que adoram do que por qualquer relacionamento com Deus ou com o próximo. Estão dispostos a desfazer amizades, desprezar, discriminar, perseguir, matar ou até morrer para defenderem seus ídolos, que são inatacáveis por outros que não eles próprios.

Como reconhecer alguém cujo senhor é o seu proprio eu?


Provavelmente se enxergam como donos do dinheiro, do tempo, de poder, da ideologia, do corpo, da verdade... 

Embora não admitam publicamente têm a mania de se enxergar como seres imprescindíveis, insubstituíveis, protagonistas da própria história em meio a uma multidão de meros figurantes... 

Usam as outras pessoas em proveito próprio, como se fossem objetos, e depois as descartam (tipo "o amor acabou...").

Quem tem sido o senhor da nossa vida?


As pessoas que tem outros senhores podem até dizer que creem em Deus, ler a Bíblia, ir aos cultos e transitar tranquilamente em meio aos irmãos na fé...
 
Podem ser pastores (ou qualquer outro título eclesiástico que os valham), presbíteros, diáconos, líderes, professores da escola bíblica... 

Mas uma coisa é certa: embora o senhorio das coisas terrenas escravize seus seguidores com momentos efêmeros de prazer, eles não conseguem proporcionar a realização plena do ser humano, o verdadeiro amor, verdadeira paz e, principalmente, a viva esperança.

Quem tem sido mesmo o senhor da nossa vida? Quem tem sido aquele que dirige nossas palavras e atos? O que tem preenchido o nosso coração? Essas são perguntas às quais temos de nos fazer o tempo todo.

Só Deus é o Senhor!


Há somente um Senhor sobre tudo o que existe, que tudo fez e a quem tudo pertence, porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas.

Há somente um Senhor digno de nosso amor, louvor, temor, adoração e obediência, porque somente Ele nos amou de tal maneira que morreu para nos dar verdadeira vida.

Tendo Jesus Cristo por único Senhor temos a certeza que todas as outras coisas, o tempo, o dinheiro, o poder, os ídolos e nosso próprio eu estarão também sujeitos a Ele e serão Seus servos, e não nossos senhores.

Conclusão


Todos os dias somos tentados a servir aos senhores deste mundo, e somente invocando o nosso único Senhor e suficiente Salvador encontramos forças para, com Ele, sujeitar a nós mesmos e todas as coisas ao reino dos céus. 

"Nossa" vida, "nosso" corpo, "nosso" dinheiro, "nosso" tempo, "nosso" poder, "nossa" autoridade, "nosso" conhecimento, "nossa" força, "nossos" talentos: nada disto é nosso!... Tudo pertence a Ele (Romanos 11:36), e Ele pedirá contas da maneira como empregamos os dons que Ele mesmo nos conferiu (Mateus 25:14-30).

Fujamos do senhorio das coisas deste mundo! Amemos ao Senhor, servindo a Ele. Amemos uns aos outros, servindo uns aos outros. Que o nosso Senhor, Aquele que conduz nossas ações, seja um só: Jesus Cristo.

E não se esqueça de uma coisa: 
se Jesus não é o nosso Senhor, alguém ou alguma coisa está sendo. 
Pensemos nisto.

Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.

sábado, 26 de novembro de 2022

BÍBLIA ABERTA — SALMO 126

Olá, meus amados leitores e seguidores do blogue Conexão Geral. Devido aos muitos compromissos com trabalho e estudos, o que limita potencialmente minha disponibidade de tempo, não tenho podido escrever e postar artigos com muita frequência.

Mas, esse espaço é meu "alterego", o lugar onde falo o que quero, quando quero, me pautando sempre, não só na minha liberdade de expressão — direito a mim garantido pela constituição —, quanto, principalmente, pela liberdade a mim garantida pela Bíblia Sagrada, minha carta magna de Deus, onde estão firmados meus valores, conceitos e princípios. 

Por isso, mesmo que não com a mesma frequência anterior, contudo, sempre estarei escrevendo e/ou adaptando e fazendo as postagens aqui.

Hoje, dou início a uma nova série especial de artigos, aliás, uma continuidade da série A Bíblia Como Ela É, com um novo título, entretanto, com o mesmo viés e conteúdo: o de entender textos bíblicos, com análise contextual, sob e sobre sua exegese e hermenêutica. 

Para dar início a essa sequência, vamos conhecer detalhes preciosos, sobre esse belíssimo cântico do saltério oficial de Israel: o Salmo 126.
  • O texto desse artigo é baseado na mensagem por mim ministrada no culto dominical, em celebração à Ceia do Senhor, realizado no dia 06 de novembro de 2022, no salão congregacional do Ministério Evangélico Gilgal.

Salmo 126 — Contexto histórico


O contexto do Salmo 126 se dá no retorno dos israelitas do exílio vivido na babilônia. Eles ficaram 70 anos como escravos na cidade, por conta de sua contínua desobediência ao Senhor.

Porém, assim que o período profético terminou — vários profetas alertaram Israel sobre este tempo — os persas dominaram a Babilônia e sob esse novo governo Deus trouxe os filhos de Israel para Jerusalém novamente.

O foco do Salmo 126 na restauração da glória de Sião sugere uma data pós-exílica, quando os judeus se empenharam na reconstrução do templo e da cidade de Jerusalém. 

Dá para imaginar letras como essas cantadas em resposta à declaração de Deus de permanecer com o povo no templo restaurado (Ageu 2:1-9). Incluído na lista de "Cânticos de Romagem" (sequência dos Salmos 120 ao 134), esse hino teria sido usado durante séculos nas viagens dos judeus à cidade santa para as grandes festas anuais.

Tema principal: Restauração


O Salmo trata da mudança na sorte de Jerusalém e dos judeus quando morreram do cativeiro na Babilônia. A primeira metade do hino exulta na restauração de Sião, o local do templo em Jerusalém:
"Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficou como quem sonha. Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: 'Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles.' Com efeito, grandes coisas fizeram o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres" (versos 1 a 3).
A volta dos judeus para Jerusalém e a construção do novo templo foram sonhos realizados depois de décadas de deslocamento desse lugar santo. A alegria do povo não foi por suas próprias obras, porque ainda viviam com vergonha dos pecados que levaram ao castigo divino, a destruição do templo e o exílio do povo. O júbilo foi em comemoração dos grandes feitos de Deus.

As obras foram visíveis às nações. Durante o tempo do cativeiro, Deus usou servos fiéis como Daniel para demonstrar sua grandeza e superioridade aos mais poderosos reis. Depois da volta, Ele protegeu seu povo de todas as ameaças dos vizinhos. De fato, as nações viram as grandes obras divinas.

Um ponto mais importante, porém, é que os próprios judeus viram as grandes obras de Deus e abandonaram as práticas idólatras que provocaram seu castigo. Alegraram-se em poder adorar ao Senhor, o único Deus, na cidade santa.

A segunda metade do Salmo levanta um pedido para a salvação divina

"Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe. Os que com lágrimas semeiaiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes" (versos 4 a 6).
Agradecer pela salvação e depois pedir a restauração pode indicar que o povo havia aprendido uma lição fundamental que custou para compreender antes do exílio. 

Da mesma forma que muitos hoje interpretam promessas da salvação divina como incondicionais e irrevogáveis, muitos judeus antes do exílio acreditavam ser invencíveis na terra dada por Deus à nação esperavam. 

Jeremias combateu essa falsa confiança antes da queda da nação. A presença do templo do Senhor não era garantia de segurança nacional. Se o povo não se arrependesse, seria castigado pelo Senhor (Jeremias 7:1-15). A nação não acolheu as palavras do profeta e sofreu as consequências (52:1-30).

Verso a verso

Quando Deus libertou o povo — verso 1

"Quando o CRIADOR trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como aqueles que sonham..."
Trouxe do cativeiro se refere ao retorno dos exilados da Babilônia para Jerusalém como um evento que já havia acontecido (84:6, 85:1). O apelo no v. 4, 
"...traze-nos outra vez..."
é difícil, visto que o verbo supõe que a ação ainda não aconteceu.

Embora o verso 1 faça referência ao retorno de Israel, o verso 4 deve estar falando da restauração de paz e prosperidade na terra (122:6,7).

Estávamos como aqueles que sonham indica as pessoas que ansiosamente antecipavam o futuro.

Intervenção de Deus em favor de Israel — versos 2,3

"...Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico; então disseram entre os pagãos: O CRIADOR fez grandes coisas por eles. O Criador fez grandes coisas por nós, pelas quais estamos alegres..."
A intervenção de Deus em favor de Israel dá testemunho de Sua onipotência e supremacia (66:1996:3113:4; Isaías 61:9Jr 31:10Ezequiel 36:23).

Produtividade da terra — versos 4-3

"...Traze-nos outra vez do nosso cativeiro, ó Deus, como os córregos do sul. Aqueles que semeiam em lágrimas colherão com alegria. Aquele que vai adiante e chora, carregando sementes preciosas, voltará sem dúvida com regozijo, trazendo seus molhos consigo."
No verso 1 Yahuah restaura Sião como centro político e religioso; já os versos 4-6 se focam na produtividade da terra.

Os córregos do sul (Neguebe) se referem a córregos sazonais, ou wadis, que de tempos em tempos abençoavam a terra com uma repentina superabundância de água.

Junto com generosidades repentinas, como o wadi, Deus também usou processos metódicos e trabalho duro, como a agricultura. Aquele que permanecer humilde diante de Deus certamente gorará de Suas bênçãos na terra.

Conclusão


O Salmo 126 estudo traz esperança para continuarmos confiantes, apesar da falta de percepção e clareza a respeito do futuro. Às vezes, como os israelitas, você está se sentindo abandonado e perdido ao olhar o atual cenário da sua história.

Certamente, muitos deles choraram durante os 70 anos de estadia no território babilônico, porque não tinham nenhuma perspectiva de mudança tangível.

Mas, era da vontade de Deus o povo passar por aquele sofrimento e também pode ser para você (embora a linha teológica triunfalista não aceite sob nenhuma hipótese — nem mesmo sob as evidência bíblicas — essa realidade irrefutável). 

Apesar de nós termos aversão ao momento de dificuldade, é justamente nesse tempo que Deus quer nos amadurecer, fazendo com que a gente entenda alguns processos importantes para sairmos dali mais fortes.

As lágrimas derramadas pelos Israelitas, logo se tornaram riso, quando o Senhor tirou todo seu povo daquele lugar e eles celebram a grandeza do que Deus tinha feito.

Assim também será no fim desses tempos de incerteza, porque você vai observar que na realidade Deus estava cuidando de você, quando te permitiu passar por determinadas coisas.

Restauração, só no Senhor


Nesse Salmo, o povo adorou a Deus por ter restaurado Sião, e ainda pediu a restauração. Era necessário continuar cultivando a comunhão com Deus, da mesma forma que os cristãos hoje precisam permanecer fiéis ao Senhor, buscando o perdão divino quando tropeçam (1 Coríntios 9:27;  Tiago 5:19-20; 1 João 1:6, 2:2). Não devemos ser enganados por pessoas que pregam uma falsa mensagem de segurança incondicional!

Para quem goza a comunhão com Deus, as bênçãos são grandes. Para Israel no Antigo Testamento, Deus cumpria promessas de colheitas boas, alegrando o povo que havia sofrido na sua separação do Senhor. Para Israel espiritual, as pessoas que servem a Jesus com fidelidade, as promessas são da vida eterna na presença do Senhor!

[Fonte: Estudo Bíblico On Line, por Lázaro Correia; Estudos Bíblicos, por Dennis Allan]

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sábado, 12 de novembro de 2022

CONTÉM SPOILERS — "OS PÁSSAROS", DE ALFRED HITCHCOCK

Neste capítulo da série especial de artigos Contém Spoilers, falarei sobre um dos grandes clássicos dos filmes de terror, assinado por ninguém menos que o lendário e icônico cineasta Alfred Hitchcock.

E, cara, vou te dizer, escrever sobre Hitchcock não é uma tarefa fácil, isto porque, justamente pelo fato dele ser um fenômeno histórico da sétima arte e também por eu ser fã do tipo "baba ovo" dele.

Sobre o autor


Nascido em Londres, no dia 13 de agosto de 1899, Alfred Joseph Hitchcock era filho único de William e Ema Hitchcock. 

Seu pai sempre esteve mais presente em suas falas, ao contrário de sua mãe, de modo que se sabe mais detalhes sobre ele do que sobre ela. 

William era um vendedor de hortaliças, possuía um perfil rígido e desempenhava uma educação severa. Com isso, as escolhas dos colégios na infância de Alfred também seguiam essa doutrina, passando primeiro por um convento e depois para um colégio jesuíta. 

Pelas declarações do próprio cineasta (que foram muitas, já que Hitchcock era bastante aberto a entrevistas, apesar de não muito sociável), a punição foi algo recorrente em sua vida, o que o fez ver as instituições (religiosas, políticas, policiais etc.) com um temor quase traumático.

Mestre do suspense


Alfred Hitchcock é conhecido como "mestre do suspense", justamente por marcar a História do Cinema com as suas criações, esse diretor. Sua vida, sua obra e suas produções cinematográfica sempre foram uma curiosidade inerente ao público.

No mundo cinematográfico, Hitchcock ficou conhecido por passar de designer de intertítulos e diretor de arte a diretor. Já no seu segundo filme, "O inquilino" (1927), alcançou sucesso de crítica e público. 

No Oscar, recebeu cinco indicações como diretor e uma como produtor. Nunca venceu. Em 1968, recebeu o prêmio Irving Thalberg pela sua carreira.

Dentre títulos famosos, podemos destacar "Sabotador" (1942), "A Sombra de Uma Dúvida" (1943), "Pacto Sinistro" (que tratava de um crime perfeito), "Janela Indiscreta" (1951), a história de um fotógrafo que desconfiava que seu vizinho era um assassino), "Um Corpo Que Cai" (1958), "Os Pássaros" (que eram na verdade os vilões), "Psicose" (o filme da famosa cena do chuveiro — 1960), dentre tantos outros sucessos.

Vida pessoal


Na vida privada, casou-se uma única vez, com Alma Reville (✩1899/✞1982), no ano de 1926. eles se conheceram na companhia onde ele trabalhava. 

Alma era roteirista também na Paramount’s Famous Players-Laskey e o casal teve uma única filha, Patricia. 

Seu nome apareceu nos créditos de muitas obras de Hichcock. Além disso era muito, mas muito tímido, e adorava viajar e filmar essas viagens.

Ele soube, melhor do que ninguém, aproveitar do que o cinema lhe permitia fazer. Mestre do suspense, é também um homem de palavras fortes, que muitas vezes magoava por ser rude (porém educado). 

Mas apesar disso, todos desejavam trabalhar ao seu lado. Uma das características era aparecer fazendo uma ponta em cada filme seu. Um diretor magnífico. O diretor faleceu em 29 de abril de 1980.

O filme aborda questões muito polissêmicas como o feminismo e a autonomia das mulheres, as relações de ciúmes e o Complexo de Édipo, a relação do homem com a natureza, etc. Indicado ao Oscar 1964 como Melhores Efeitos Especiais, o controverso "Os Pássaros" é um dos filmes de terror mais cultuados da história. E é sobre ele que falarei na sequência.

O filme


Alfred Hitchcock ainda colhia os frutos que plantara em sua última obra, "Psicose" (1960), quando realizou o filme mais enigmático e controverso de sua longa carreira cinematográfica. 

"Os Pássaros", de 1963, permanece até então como um enigma. Amado e cultuado por muitos como uma obra de arte legítima ou como uma expressão do que há mais sutil no gênero terror. 

Mal compreendido e criticado por outros, que consideram o filme uma anomalia criativa do mestre do suspense, uma trama ridícula numa situação absurda. Apesar das divergências é unânime a opinião de que "Os Pássaros" é um clássico da cinematografia e um marco dos anos 1960.

Sinopse complexa


Baseado em um conto de Daphne Du Maurier (✩1907/✞1989), com roteiro de Evan Hunter (✩1926/✞2005), o filme começa em um pet shop de San Francisco, aonde a senhorita Melanie Daniels (Tippi Hendren) vai à procura de um pássaro. 

Enquanto aguarda um telefonema da atendente é abordada por um homem que supostamente a confunde com a vendedora da loja. 

O freguês está à procura de um par de periquitos para presentear a sua irmã no aniversário de 11 anos. Melanie finge ser a atendente, mas acaba acarretando uma série de situações embaraçosas por na verdade não entender nada sobre aves.

Melanie descobre a identidade do estranho. Chama-se Mitch Brenner (Rod Taylor — ✩1930/✞2015) e é advogado. Na manhã seguinte, ela leva o par de periquitos para o seu endereço, mas é informada pelo vizinho de Mitch que ele viajou para a pequena cidade costeira de Bodega Bay, onde passa seus finais de semana. A Srta. Daniels trata de ir até a cidadezinha levando as aves em uma gaiola.

Ao chegar a Bodega Bay, Melanie se informa com os moradores locais sobre o paradeiro de Mitch e sobre o nome da sua irmãzinha. Vai até a casa da professora Annie Hayworth (Suzanne Pleshette — ✩1937/✞2008) e descobre que a menina chama-se Cathy. 

Dirige até a costa e segue de barco à casa dos Brenner, querendo fazer-lhe uma surpresa. Deixa as aves na sala da casa acompanhada de uma carta à Cathy sem que ninguém a veja e volta para a cidade de barco. No entanto, Mitch a vê com um binóculo e dirige rumo ao porto para encontrá-la.

Antes de atracar ao cais, Melanie Daniels é atacada por uma gaivota que fere a sua cabeça. Brenner a socorre e cuida do ferimento em um restaurante do porto enquanto trocam futilidades sobre os motivos da jovem estar em Bodega Bay. 

No restaurante, coincidentemente a Srta. Daniels conhece a mãe de Mitch, Lidya Brenner (Jessica Tandy — ✩1909/✞1994) e é convidada pelo advogado para jantar na sua casa. Melanie havia mentido para Brenner que estava hospedada na casa da professora Hayworth e que tinham sido colegas na universidade, então volta a casa dela e aluga um quarto para passar a noite.

Quando Melanie chega à casa dos Brenner conhece sua irmãzinha Cathy (Veronica Cartwright). Antes do jantar, a senhora Lidya está preocupada com as suas galinhas, que não quiseram comer ração e descobre ao ligar para a cidade que outros criadores estão tendo o mesmo problema, inclusive com marcas de ração diferentes. 

Após o jantar Lidya e Mitch conversam na cozinha sobre o passado da visitante, principalmente sobre uma notícia veiculada em um jornal de San Francisco onde dizia que Melanie já havia nadado nua em um chafariz em Roma, entre outras peripécias da juventude. Melanie e Mitch se desentendem e a Srta. Daniels volta para a casa de Annie. 

Lá, descobre que a professora e Brenner já haviam sido namorados e que a relação dos dois terminou pela personalidade possessiva da mãe dele, no entanto, Annie ainda gostava de Mitch. Ainda na mesma noite, Melanie é convidada por Mitch para participar da festa de aniversário de Cathy no dia seguinte e aceita o convite.

Brilhante controvérsia


Até então o filme não parece ser de Hitchcock, a não ser pela sagacidade em abordar aspectos aparentemente simples, mas na verdade complexos da natureza humana. 

Porém, na festa de aniversário de Cathy algo inesperado acontece. Enquanto os convidados comem e se divertem no quintal, um ataque furioso de gaivotas desaba sobre eles. 

Durante a noite, na casa dos Brenner, uma nuvem de pardais agressivos e descontrolados cai pela chaminé e provocam uma grande bagunça no interior da residência.

No dia seguinte, após o susto, Lidya vai visitar um amigo, mas o encontra morto dentro de seu quarto, mutilado por bicadas de pássaros e rodeado de aves mortas por toda parte. No meio dessas situações bizarras e assustadoras, Melanie e Brenner se tornam mais próximos e assumem o romance. Apesar das enormes diferenças entre si, a Sra. Brenner e a Srta. Daniels também vão criando laços afetivos.

Quando Melanie vai buscar Cathy na escola protagoniza a cena mais antológica do filme. Enquanto está sentada fumando um cigarro em um banco do pátio, um brinquedo do parquinho começa a ficar enfestado de corvos. 

Melanie avisa a professora Annie que não deixe as crianças saírem para o recreio. Eles simulam uma emergência de incêndio e se põem a correr, no entanto, o ataque dos corvos é inevitável. Melanie e Cathy se salvam por pouco dentro de um carro. 

Minutos depois Melanie Daniels vai até o restaurante ligar para Mitch. Lá se envolve em uma discussão sobre o ataque dos pássaros que vai desde a perícia feita por uma velha especialista em aves até as profecias apocalípticas aviárias de um bêbado no bar.

Na rua, as aves voltam a atacar provocando uma explosão no posto de gasolina e uma série de catástrofes e mortes na cidade. Mitch e Melanie conseguem se refugiar novamente no restaurante, mas entre algumas mulheres que estão escondidas lá, uma senhora histérica culpa a Srta. Daniels pelo ataque dos pássaros, que começou assim que ela chegou a Bodega Bay. 

Assim que o ataque termina, o casal vai buscar Cathy na residência de Annie e encontram a professora morta na área da casa. O medo e a histeria vão se tornando coletivos. 

Os Brenner se trancam dentro da casa, mas sofrem outro grande ataque durante a noite com direito a janelas estilhaçadas, portas rachadas e muito sangue. As cenas finais são surpreendentes, aterradoras e de um suspense só mesmo produzido pelo mestre do gênero.

Roteiro intrigante e um tanto quanto controverso


Com roteiro de Eva Hunter, "The Birds" conta uma pequena e uma grande história. 

A pequena é a relação amorosa entre a protagonista Melanie Daniels e o advogado Mitch Brenner, relação que abrirá as portas para um triângulo e desembocará numa leitura edípica também, reforçando uma das muitas interpretações que as pessoas fazem deste filme através do viés psicanalítico.

Já a grande história é aquela que dá identidade ao filme e que traz o principal mistério da fita, perfeitamente ocultado pelo diretor: a partir de um determinado momento, sem explicações, os pássaros começam a atacar as pessoas em Bodega Bay. 

A quantidade de aves mais a violência dos ataques deixam os habitantes locais paralisados, incrédulos. Até que chega o momento em que precisam lutar por suas vidas.

Uma das formas de olhar para a obra é pela sua "desconexão" diante a filmografia de Hitchcock, e não levanto isso como um ponto negativo. Temos aqui um terror ligado à natureza que dá à obra um véu exploitation, especialmente porque não existe uma forma de explicar, combater ou afirmar que o problema estava para acabar. 

O final aberto dá o tom de desesperança essencial para a fita, e o diretor fez muito bem em deixar o filme exatamente nesse ponto, com o carro andando lentamente pela estrada, "mergulhado num mar de pássaros". 

Antes desse tipo de temática de animais descontrolados e vilões (a natureza voltando-se contra o homem, por algum motivo) ganhar um de seus maiores ícones — notem que eu estou excluindo "Godzilla" (o original, de 1954) aqui por motivo óbvios — e virar febre de produção, Hitchcock dava a esse tipo de temática uma chocante abordagem. 

Mesmo não sendo pioneiro no tratamento do tema — filmes com animais-vilões/natureza-vilã, posteriormente apelidados de eco-terror, são bem antigos –, certamente foi um dos mais inesquecíveis, inclusive fazendo escola.

Produção


Apesar de trabalhar bem com os efeitos que tinha na época, o filme demonstra claramente a idade que tem. Isso não tira da obra, contudo, o impacto do ataque dos pássaros (minha cena favorita é a do ataque às crianças saindo da escola. 

E toda a preparação para esta cena é sensacional) ou o terror que eles vão progressivamente nos causando. 

Sem pressa, o diretor nos faz conhecer a personalidade de Melanie e, em torno de sua paixão repentina, adiciona uma boa dose de humor, sentimento que vai minando à medida que os pássaros mudam o seu comportamento e também muda o nosso olhar para eles, indo das belas aves no início da obra às medonhas máquinas de matar, no final. 

A cena do caos em que mergulham a cidade e o grande plano que temos desses animais na última cena é algo verdadeiramente assustador e se torna ainda mais impactante porque é difícil aceitar um ataque e até um comportamento agressivo/assassino desses animais no dia a dia (sim, os magpies são famosos por atacar humanos, mas é algo bem diferente do que temos no filme). E é jogando com esse combo de imprevisibilidades que o cineasta consegue o seu triunfo.

O filme já ganhou todo tipo de interpretação possível, com questões simbólicas, místicas, psicanalíticas até situações políticas típicas daquele momento da Guerra Fria (os pássaros como uma invasão comunista, etc.). 

Mas o enredo sempre está dando conta das relações casuais, disfarçadas por uma certa beligerância e que no momento em que se tornam fortes, recebem um chamado externo: a luta pela sobrevivência, o fim das amenidades. 

Independente do que motivou o ataque dos pássaros — isso, a meu ver, não tem a mínima importância — o filme guia facilmente as duas esferas de transformação, interna e externa aos personagens, que se desenvolvem em contraste. Uma assustadora história de mudanças comportamentais e transformação do belo e comum em motivo de medo. E tudo por motivos inexplicáveis.

Elenco e Personagens


O elenco escolhido por Alfred Hitchcock é sempre formado por grandes atores. E aqui, em Os Pássaros, não é diferente.

Dada a grande despesa com os complexos processos técnicos, Hitchcock escolheu intérpretes pouco conhecidos, mas competentes da mesma forma.

A protagonista Melanie é interpretada por Tippi Hedren, mais uma reencarnação da loira fatal de Hitchcock, presente em todos os filmes do diretor.

Ao seu lado temos Rod Taylor, interpretando Mitch. Os dois são nada mais que um fragmento de algo muito mais amplo, como revelado pelos esplêndidos diálogos realizados entre os dois personagens.

Conclusão


Além da trama, a questão técnica do filme também se tornou clássica. Desde os cenários complementados com pinturas, passando pelos grandes pássaros de borracha presos a barbantes e indo até a sonorização adotada para causar pavor. 

Na sequência final, Hitchcock não quis introduzir a palavra "Fim" ou "The end", por considerar que o horror da trama não acabaria ali. 

O grande enigma do filme é: por que os pássaros atacam? As interpretações são várias e essa ambiguidade é que garantiu o sucesso do longa metragem. Além disso, o filme aborda questões muito polissêmicas como o feminismo e a autonomia das mulheres, as relações de ciúmes e o Complexo de Édipo, a relação do homem com a natureza, etc. 

Indicado ao Oscar 1964 como Melhores Efeitos Especiais, o controverso "Os Pássaros" é um dos filmes de terror mais cultuados da história. Sendo um filme de Hitchcock, não me atrevo a contar o final. Por isso, só...
  • "Os Pássaros (The Birds)" — EUA, 1963
  • Direção: Alfred Hitchcock
  • Roteiro: Evan Hunter (baseado na obra de Daphne Du Maurier)
  • Elenco: Rod Taylor, Jessica Tandy, Suzanne Pleshette, Tippi Hedren, Veronica Cartwright, Ethel Griffies, Charles McGraw, Ruth McDevitt, Lonny Chapman, Joe Mantell, Doodles Weaver, Malcolm Atterbury, John McGovern, Karl Swenson, Richard Deacon
  • Duração: 119 min.
[Fonte: Canto dos Clássicos, por Bruno Yashinishi — Pesquisador na área do cinema com ênfase em História do Cinema, relação entre Cinema e História e cinema e Filosofia. Pesquisador do cinema clássico contemporâneo com ênfase nas obras do diretor Stanley Kubrick, bem como seu procedimento estético e narrativo. Também foi professor de Filosofia, Sociologia e Ensino Religioso nas séries do Ensino Médio de colégios da rede particular de ensino. Plano Crítico, por Luiz Santiago.]

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