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sábado, 24 de dezembro de 2022

BÍBLIA ABERTA — ESPECIAL: APRENDIZADOS COM O LIVRO DE NEEMIAS

"Para que todos vejam, e saibam, e considerem, e juntamente entendam que a mão do Senhor fez isto, e o Santo de Israel o criou" (Isaías 41:20).
Para o encerramento deste ano (2022), aceitando o convite de um grande amigo de longa jornada, o pastor Luiz Carlos de Assis, entrei em um projeto de oração e estudo bíblico, por ele denominado como "Propósito de Neemias", quando ao longo de todo o mês de dezembro, nos propomos a debruçar na leitura desse revelador livro bíblico, registrado no Antigo Testamento.

Os resultados espirituais desse propósito bastante desafiador, não poderia ser mais gratificante, edificante e agregador. Através da releitura e estudo do livro de Neemias, houve mais uma comprovação do quanto a Palavra de Deus se renova e tão atemporal em sua essência e seus ensinamentos.

Por que devemos estudar o livro de Neemias?


Ninguém passa pela vida sem que, em algum momento, tenha algo perdido ou destruído. Nenhum ser humano está imune às perdas, e muitos sofrem com isso. Outros se conformam, e muitos correm atrás da reconstrução do que se perdeu. Ao longo da vida, a gente tem sonhos destruídos e, muitas vezes, nem acreditamos que eles possam ser reconstruídos. Contudo, servimos a um Deus das reconstruções e dos recomeços.

Vejamos a história de Neemias, que servia como copeiro do rei, em Susã. Ele vivia preocupado com as ameaças ao rei, posto que também exercia os cargos de primeiro-ministro e mestre de cerimônias. Era um homem de inteira confiança do monarca e vivia num lugar de fartura, luxo e riqueza. 

Mas, um dia, Neemias ouviu que Jerusalém tivera seus muros derrubados e suas portas queimadas. E ele não permaneceu prostrado, mas se levantou e se dispôs a mudar a situação. No seu coração nascera o sonho de restaurar sua cidade e trazer de volta a alegria para Jerusalém. Queria reconstruir os muros que foram derrubados e deixar a cidade protegida. 

Neemias não se intimidou com a aparente destruição de Jerusalém, porque tinha uma visão de uma cidade reconstruída e sonhava com o cumprimento das profecias do Senhor com relação a Israel. Temos que aprender com Neemias a levantar nossa vida das ruínas, principalmente pagando um preço por meio da oração e do jejum. 

Como Neemias, precisamos focar nossos pensamentos na grandeza de Deus, reconhecendo sua soberania e majestade. É preciso também amar aquilo que foi destruído, para que tenhamos força para lutar para sua reconstrução, seja um casamento, um relacionamento quebrado, uma amizade que se partiu. Todas as coisas são passíveis de reconstrução. Basta que tenhamos disposição para reconstruir.

A exemplo de Neemias, que mesmo tendo enfrentado aparentes impossibilidades, confiou em Deus, também precisamos depositar uma confiança sem limites naquele que é maior do que todos os inimigos que tentam destruir nossos sonhos, nossos projetos. 

Nossa confiança no Senhor vai nos ajudar a preservar a objetividade e vencer os nossos temores, além de dar-nos força para reconstruir tudo que, porventura, foi destruído em nossa vida. A confiança que Neemias teve em Deus o capacitou — mesmo apesar da forte oposição — a reconstruir os muros da sua cidade amada em menos de dois meses e, assim, mudar a história de toda uma nação.

Quem foi Neemias?

Contexto histórico


Neemias era filho de Hecalias (1:1) e fazia parte da geração de descendentes daqueles que foram levados para a Babilônia pelo rei Nabucodonosor. Após a queda do Império Babilônico diante do Medo-Persa, Neemias aparece na narrativa bíblica com notoriedade.
O nome Neemias significa "o Senhor consolou". O fato de o texto bíblico não fazer nenhuma menção sobre a esposa ou filhos de Neemias, muitos intérpretes sugerem que ele possa ter sido um eunuco, porém não há nada conclusivo sobre isso.
Na corte persa, Neemias possuía um cargo muito importante e de grande responsabilidade, pois ele era o copeiro pessoal do rei persa Artaxerxes I (✩465/✞424 a.C.). Isso fazia dele um membro da corte real que possuía grande influência e prestígio devido a sua proximidade com o rei e a confiança que ele desfrutava, já que seu trabalho não envolvia apenas escolher o vinho do rei  (2:1), mas evitar que ele fosse envenenado.

Perfil espiritual


O perfil espiritual de Neemias, revela que ele foi um dos maiores líderes, estrategistas e acima de tudo Servo de Deus. Homem de grande significado para o povo de Deus. 

Neemias foi um homem de caráter. Ele é descrito como uma pessoa de oração (2:4; 4:4,9; 5:19; 6:9,14; 13:14,22,29,31) e Deus abençoou seu trabalho poderosamente. Ele era um líder talentoso e carismático, que expressava um patriotismo inspirador.

Neemias era íntegro, rígido com relação à justiça e demonstrava grande humildade, bondade e piedade. Ele possuía uma fé verdadeira no Deus de Israel, e era especialmente comprometido com o zelo pelo culto ao Senhor.

Diante de tantas afrontas e perseguições, é inegável que Neemias foi um homem determinado, concentrado, dedicado e persistente. Por ser um líder-nato, ele conseguiu transmitir tais características a ponto de formar um grupo que, juntamente com ele, não desistiu da obra que deveria ser realizada.

Com base na história de Neemias, percebemos que ele era uma pessoa de ação, e, impulsionado por sua fé, ele não ficava apenas esperando que algo sobrenatural acontecesse, antes, se esforçava para fazer o que tinha que ser feito. 

Quando estudamos sobre quem foi Neemias, certamente podemos enxergar que ele foi um homem de Deus, levantado estrategicamente no momento certo, para cumprir a tarefa que lhe foi comissionada.

O que podemos aprender com Neemias para os dias de Hoje?

  • 1. Compaixão para com os irmãos

Sabendo que os restantes, que ficaram do cativeiro, lá na província estavam em grande miséria e desprezo e que o muro de Jerusalém estava quebrado e as suas portas queimadas a fogo, Neemias ficou triste o que transpareceu ao Rei que ofereceu-lhe ajuda. Neemias 2:7,8 Nemias se comoveu e teve compaixão para com os seus. Sentimento que precisa ser cultivado hoje.

  • 2. Dedicação de Neemias ao seu propósito

A vida de Neemias vai ser dedicada as muralhas de Jerusalém. O restabelecimento das as portas de jerusalém e seus significados para o seu povo.

Para tanto inicia uma campanha que revela as caracteristicas de Neemias como Líder na construção dos muros de Jerusalém com destaques para sua perseverança, planejamento e compromisso.

Em resposta aos opositores disse que Deus o faria prosperar (2:20). Hoje precisamos levantar lideranças dedicadas à obra do Senhor

  • 3. Neemias trabalhou na obra

Em Neemias 3 encontramos um grande relato sobre as 12 portas reparadas por Neemias. Já em Neemias 4 observa-se seus maiores opositores Sambalate e Tobias o que Levou Neemias a estabelecer guardas durante a obra.

Neemias 6 marca o fim da Obra mesmo diante de todas as investidas dos inimigos: Em 52 dias de Neemias reconstruiu os muros (v. 15).

  • 4. As estratégias de Neemias

Qualquer estudo sobre Neemias ou explicação do livro de Neemias, seja resumo ou um texto mais completo, trará as imagens de Neemias como um dos maiores estrategistas da Bíblia. As lições da vida e liderança são proeminentes no livro de Neemias.

A mensagem de Neemias para nós é de que podemos construir muralhas como ele construiu o muro de Jerusalém, concluindo-o em 7:1. Não adianta querer fazer uma obra sem ter um plano ou uma estratégia, não vai concluir.

  • 5. Neemias não perde tempo com os inimigos

Com a dissipação dos inimigos (Neemias 4:15) Ele informa que estava fazendo uma grande obra, de modo que não poderia parar (6:3).

Assim Neemias cumpre sua missão com compromisso, dedicação e com a ajuda de Deus.

Conclusão

Aplicação prática e contextual


Neemias era um homem de oração e orou fervorosamente pelo seu povo (v.1). Sua intercessão zelosa pelo povo de Deus prefigura o nosso grande intercessor, Jesus Cristo, que orou fervorosamente pelo Seu povo em Sua oração sacerdotal de João 17. Ambos Neemias e Jesus tinham um amor ardente pelo povo de Deus que eles derramavam em oração, intercedendo por eles diante do trono.

Neemias liderou os israelitas a um grande respeito e amor pelo texto da Escritura. Neemias, por causa de seu amor por Deus e seu desejo de ver Deus honrado e glorificado, conduziu os israelitas à fé e obediência que o Senhor havia desejado para eles por tanto tempo. 

Da mesma forma, os Cristãos devem amar e respeitar as verdades da Escritura, memorizá-la, nela meditar de dia e de noite e dela depender para o cumprimento de todas as necessidades espirituais. 

Segundo Timóteo 3:16 nos diz: 
"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." 
Se quisermos ter a mesma experiência do renascimento espiritual que os israelitas (Ne 8:1-8), devemos começar com a Palavra de Deus.

Cada um de nós deve ter compaixão genuína por outras pessoas que estão sofrendo com dor espiritual ou física. Sentir compaixão, no entanto, e não fazer nada para ajudar não tem fundamento bíblico. 

Às vezes pode ser necessário abrir mão do nosso próprio conforto a fim de ministrar corretamente aos outros. Temos que acreditar totalmente em uma causa antes de darmos do nosso tempo ou dinheiro com o coração correto. Quando permitimos que Deus ministre através de nós, até os incrédulos saberão que a obra é de Deus. 

Aprendemos com o livro de Neemias um exemplo de vida que revela a liderança de um homem temente a Deus cuja oração e desejo foi não somente a reconstrução dos muros e restauração das doze portas de Jerusalém, mas, uma restauração espiritual do povo caído, através de um genuino reavivamento.

[Fonte: Estudo Bíblico Online, por Ronaldo G. Silva. Professor de Homilética e Teologia do Antigo Testamento. Pós-Graduado em Educação pela UFF; Estilo Adoração, por Daniel Conegero; Um Só Corpo]

Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

ESTANTE DO LÉO — "A SANGUE FRIO", DE TRUMAN CAPOTE

Neste capítulo da minha série especial "Estante do Léo", na qual falo acerca dos livros que já li, recomendando-os ou não, falarei sobre um livro sensacional, que, embora eu já o tivesse adquirido há mais de dez anos, só agora eu me interessei em lê-lo e, olha, devo dizer que valeu a pena e lamentei muito não tê-lo lido a mais tempo.

Eu já tive a oportunidade de dizer anteriormente, que um dos meus estilos literários preferidos, é o suspense/mistério, como os títulos da autoria de Agatha Christie (✩1890/✞1976), a rainha do mistério, cuja obra, eu já li toda. Outra coisa que amo é o jornalismo investigativo.

O útil ao agradável


Essas minhas predileções, foram o que me fizeram interessar a adquirir um exemplar do livro "A Sangue Frio", da autoria de Truman Capote. Eu já havia ouvido falar do livro, assim como já havia assistido ao filme homônimo, lançado em 1967, dirigido por  Richard Brooks (✩1912/✞1992) e estrelado por Robert Black e Scott Wilson (✩1942/✞2018).

O que mais me chamou atenção no livro foi o fato dele ser baseado em uma história real; comecei a lê-lo como uma brincadeira, assim, sem muita pretensão, tipo, já que não tenho nada para ler... e, por fim, acabei completamente apaixonado pela escrita de Capote.

Sobre o autor

Capote, cujo verdadeiro nome era Truman Streckfus Persons, nasceu em 30 de setembro de 1924, em Nova Orleans, Luisiana e começou a sua carreira em 1940 como colunista social numa revista nova-iorquina. 

O seu surgimento no universo literário norte-americano aconteceu com o romance "Breakfast at Tiffany's" (1958, que foi levado às telas em 1961, com Audrey Hepburn [✩1929/✞1993] como protagonista e que aqui no Brasil, recebeu o título de "Bonequinha de Luxo"), no qual desmascara, de modo satírico e mordaz, a moral ambígua da pequena burguesia, ansiosa por ascender socialmente.

Então, em 1966, Capote publicou o clássico "A Sangue Frio" (cujo título original é "In Cold Blood"), um relato magistral da violência e da vida americana nos anos 60, inaugurando o jornalismo literário.

Em seu romance "A Sangue Frio", Capote reconstrói, de forma quase documental, o assassinato de uma família ocorrido no Kansas, o que o transformou num best-seller internacional.

Homossexual assumido, Truman Capote, construiu fama nos círculos culturais, porém levava uma vida de excessos entre festas na alta sociedade, regadas a álcool e drogas. Ele morreu, no dia 25 de agosto de 1984, aos 60 anos de idade, em Los Angeles, California, vítimado por um câncer no fígado. De acordo com relatório do legista , a doença hepática, foi agravada por flebite e múltipla intoxicação por drogas.

Sobre o livro

Sinopse


Um homem religioso, uma mãe depressiva, um adolescente, uma garota dona de casa, um cachorro amedrontado e dois ladrões frustrados. Esses e outros personagens são os ingredientes chave para o romance jornalístico "A Sangue Frio", de Truman Capote. 

O livro é uma reportagem investigativa sobre o assassinato de quatro membros da família Clutter, o casal e seus dois filhos caçulas, ocorrido em 1959 na cidade de Holcomb, no Kansas, Estados Unidos.

Em 1959, dois homens invadiram uma casa numa cidade no interior do Kansas, nos EUA, e mataram todos os seus moradores, o pai, a mãe e os dois filhos. Cinco anos depois, os dois sujeitos foram enforcados pelo crime cometido.

Basicamente foi isso que aconteceu, mas esse amontoado de frases conta apenas com a frieza das informações enfileiradas. Muitas vezes basta ao texto jornalístico informar, porém esta ação nem sempre dá conta da dimensão da experiência humana como um todo, uma vez que não raro uma tragédia é reduzida a números. Quatro pessoas foram assassinadas, mas quem são essas pessoas? Dois homens cometeram o crime, ok, mas e aí, quem são esses caras? Por que eles fizeram uma coisa horrível dessas?

Olhar psicanalítico


Como estudante de Psicanálise, agora, não consigo fazer nada sem olhar pelo viés de uma análise psicanalítica do caso. Foi o que fiz, ao ler esse livro. A riqueza na descrição dos detalhes me transportaram para a horripilante noite do assassinato da família Clutter e me fez sentir conhecido dos moradores da pequena cidade de Holcomb — foi como fazer uma viagem macabra sem sair de casa. Me senti enraivado quando li sobre o crime, mas no final do livro quase senti pena de Dick e Perry, dois ladrões muito, na falta de uma palavra melhor, burros.

As vítimas


Os Clutter eram uma família conhecida e respeitada na cidade, os últimos que qualquer conhecido esperaria encontrar mortos. 

A narração de Capote insere o leitor dentro de dois mundo ao mesmo tempo: o da família, nos apresentando aos quatro membros ainda em vida e seus relacionamentos uns com os outros e ainda com terceiros; e o outro, o mundo de Dick e Perry, que procuram uma maneira de ganhar dinheiro fácil e acabam se deparando com os Clutter.

Os algozes


Ainda dentro da cabeça dos ladrões, o autor nos mostra o vicio em aspirinas de Perry e o relacionamento dele com Dick, tornando assombrosamente fácil simpatizar com ele  há também quem diga que Capote era apaixonado por Perry, o que me leva a comentar: nunca li nenhum livro com uma fama e "lendas" como "A Sangue Frio".

A fascinante escrita de Truman Capote não é permeada de emoção, como estamos acostumados, mas a cena em que o namorado de Nancy descobre sobre o seu assassinato me partiu o coração em pedaços. 

E depois, quando observei a amizade entre ele e a melhor amiga da garota crescer e então murchar, fez com que eu entrasse em uma nova maneira de compreender livros e as relações interpessoais que eles nos apresentam.

Fato é que, mesmo quando Dick e Perry são presos e a maneira com que os crimes foram cometidos  — assim como seus motivos — são revelados, você ainda não consegue odiá-los completamente (ou sou eu mesmo que devo ter problemas e simpatizo com assassinos? Freud explica!). Ainda estou tentando me decidir se isso é devido a imparcialidade da escrita, ou se Capote realmente pendeu mais para o lado dos rapazes.

Linguagem jornalística


O jornalismo está atento a isso e sabe que elaborar uma narrativa atrai público, por isso é bastante fácil perceber hoje em dia a forma meio desconjuntada com que repórteres tentam superar a frieza do mero repasse de informações e tentam produzir emoção, por exemplo, enfiando a câmera na cara de alguém que sobreviveu a uma tragédia e acabou de perder tudo e fazer a famigerada pergunta clichê: 
"...como você está se sentindo nesse momento?".
Há, nesta insensibilidade brutal, um visível desinteresse pelo ser humano, uma vez que o que importa é apenas a história que pode ser arrancada dali, com luzes e ângulos corretos.

Com o frenesi de prazos e demandas, parece não haver muito espaço para algo que vá um pouco além desta miríade sensacionalista, já que isso obviamente demanda tempo e nem sempre atende aos anseios dos leitores. Por isso um trabalho como o de Truman Capote, que levou mais de um ano só pra entrevistar as pessoas, é tão prestigiado até hoje, como um grande marco para a profissão.

O que Capote fez foi contar uma história verdadeira de forma literária, ou seja, ele seguiu os procedimentos de pequisa jornalística, mas adequou as informações levantadas à estrutura e à linguagem da literatura como uma ferramenta para narrar a complexa história de um crime real.

O autor afirma que com "A Sangue Frio" ele criou um novo gênero literário, o romance de não-ficção, o que não chega a ser verdade, já que outros escritores já tinham utilizado procedimento semelhante antes dele. A diferença é que Capote foi simplesmente genial nessa empreitada e entregou um trabalho impressionante, que não à toa é considerado uma obra-prima.

Fake ou fato?


Mas nem tudo são flores na vida do autor, já que este modelo de narrativa levanta questionamentos quanto à veracidade das informações, uma vez que durante as entrevistas ele não fez gravações e nem mesmo anotações na frente das pessoas, por achar que isso atrapalharia no comportamento delas. 

Na edição lançada pela Companhia das Letras, com tradução de Sergio Flaksman, há um posfácio escrito por Matinas Suzuki Jr. que trata desta questão e fala sobre como no fim das contas os procedimentos de apuração de Truman Capote eram muito precisos, quase obsessivos, incluindo aí uma capacidade de memorização impressionante.

Através de uma profusão inacreditável de detalhes, ficamos sabendo, por exemplo, como foi o dia de cada um dos envolvidos, a fuga, o impacto causado na população daquela cidade e todo o processo de investigação que culminou na prisão, julgamento e execução dos criminosos. 

Tudo isso é bem perturbador, mas talvez nada se compare ao relato minucioso dos assassinos explicando passo a passo tudo o que aconteceu na casa. É um troço de fazer gelar os ossos.

Algo curioso é que por mais que haja um volume absurdo de informações detalhadas, relatos, cartas, confissões etc, ainda assim não existe uma reposta simples e definitiva para a pergunta: por que, afinal, eles cometeram esse crime de forma tão brutal?

Conclusão


Enfim, Capote nos apresenta um pequeno naco da experiência humana sob seus mais diversos ângulos e nos larga ali, atolados em pensamentos sombrios.

Aparentemente Capote esgotou toda sua criatividade e excelente escrita em seu livro de maior sucesso, mas ainda assim não deixa de merecer todos os elogios que recebeu com a obra. 

"A Sangue Frio" é o melhor livro policial que já li (não-fictício também, mesmo,  embora, conforme já dito acima, algumas pessoas insistam em dizer que parte da história foi inventada por Capote) e um dos melhores livros que já li em toda minha vida, no apanhado geral. Merece de longe as cinco estrelas que tem. E o meu seleto carimbo de:
  • Título: "A Sangue Frio"
  • Autor: Truman Capote
  • Editora: Companhia das Letras
  • Lançamento: 1967
  • 412 páginas
Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.

sábado, 10 de dezembro de 2022

PRONTO, FALEI! — "FAROFA DA GKAY": OSTENTAÇÃO DA VULGARIDADE

Devido ao grande número de acessos no primeiro artigo dessa série especial "Pronto, Falei!", que já conta com quase um milhão de visualizações, desde que o postei, há exatamente uma semana (veja ➫ aqui) e também correspondendo aos muitos e-mails que recebi, me pedindo para escrever outro capítulo para a série, em respeito aos meus amados seguidores aqui no blogue Circuito Geral, resolvi atender aos pedidos.

Dentre os pedidos, também me fizeram algumas sugestões de temas e assuntos, sendo o campeão, o pedido para eu dar minha opinião sobre esse tal evento, que, até então, eu só conhecia de muito ouvir falar. A abominável — sob todos os aspectos — "Farofa da GKay", que virou o assunto preferido dos tão abomináveis quanto portais de fofocas sobre a vida glamourosa, porém, futil e inútil dessas subcelebridades, que, acham o máximo expor, dentre outras inutilidades, detalhes sórdidos de suas movimentadas e promíscuas aventuras sexuais.

Pois bem, lá fui eu na árdua e hercúlea tarefa de pesquisar sobre, afinal, que m... é essa tal tão balada "Farofa da GKay"? Eu já desconfiava que boa coisa não era, pois, para atrair o interesse de uma determinada emissora em fazer a exibição desse famigerado evento através de um de seus canais fechados, como se ele fosse mais um dos seus inomináveis realities shows, por certo, não haveria de ser algo bom. Pois bem, eis minha opinião sobre mais esse lixo luxuoso.

Circo dos horrores


A banda Legião Urbana, em uma de suas músicas, o hit "Eduardo e Mônica", em certo trecho canta:
"...Festa estranha, com gente esquisita...",
pois é exatamente a impressão que tive, quando fui ler sobre esse evento.

Pode ser que você tenha se cansado de ler sobre essa festa. Que não interesse. Mas recomendo que continue a ler porque descobri um mundo muito além do que eu conhecia.

Famosos quem?


O primeiro passo foi recorrer à velha e boa bolha do Twitter. Nada. Concluí rapidamente que minha bolhazinha é maravilhosa para se discutir política, mas uma negação pra falar sobre "babados".

Invoquei o grande oráculo da Era Moderna, a luz que ilumina as trevas de nossa ignorância… sim, minha gente. Apelei para o ilustríssimo mestre de todos os especialistas: o teacher Google.

"Farofa da GKay", digitei com cuidado no buscador do meu velho e amado PC de mesa (estou sem notebook e tenho uma paixão assumida por meu veínho PC...). E voilà, como diriam em francês na redação do Le Monde: ali estava a resposta!

Centenas de referências, ou melhor, milhares (bastando apenas fazer a rolagem da página) pipocaram em frente aos meus olhos, assim como uma inesperada receita de bolo de cenoura com cauda de chocolate.

"Gkay"? Quem?


Desculpe minha ignorância, mas, até então, eu não fazia a menor ideia de quem era essa criatura na já extensa fila da picanha gratuíta! Pois bem, descobri que "GKay" é codinome de uma tal que se diz atriz e influenciadora paraibana Gessica Kayane Rocha de Vasconcelos, natural de Solânea, distante 130 quilômetros da capital do Estado.

Descobri que a moça (30 anos recém-completos) já acumula quase 20 milhões de seguidores no Instagram, e mais de um milhão no YouTube. Estrelou dois filmes (me desculpe, mas não tive a curiosidade de saber quais foram as películas) e participou de séries de comédia no Multishow (o mesmo canal que agora está fazendo a exibição de sua farrinha)…

Espera aí: dezesseis milhões de seguidores? Então tem história aí. Tem relevância, para usar um termo bem clichê. Fiquei envergonhado. Eu, um cara bem antenado, que sempre procura estar a par dos acontecimentos atuais, ávido pesquisador e leitor voraz, nunca ter ouvido falar dessa moça antes do evento. Vivemos em bolhas e estourá-las é necessário. Plec!

"Farofa" é o nome que a mesma deu à sua festinha de aniversário, desde 2017. É mais que um singelo "parabéns pra você" com bolo, refrigerantes e salgadinhos comprados na padaria do sr. Manoel, aquela ali da esquina; virou um evento com mais regularidade que o Rock in Rio!

"Mim gosta ganhar dinheiro..."


Para ter o inenarrável privilégio de participar desse espetáculo, digno de ser comparado aos bacanais promovidos pelos devassos imperados romanos em seus surtos e delírios megalomaníacos, o custo é de R$ 2,8 milhões (não, querido(a), você não leu errado), "dark room" (um quarto escuro para prática sexual, muito comuns em casas de swuings e saunas gays), bebidas e aglomeração, muita aglomeração. Mas, não precisa se preocupar, a apresentação do comprovante de vacina é obrigatória aos convidados. Por lá, ao menos a covid não passa!

Com entrada permitida apenas para convidados, a festa ocorreu no Marina Park Hotel, um luxuoso hoteu "mil estrelas", em Fortaleza (CE), com a presença de "relevantes celebridades" como Kefera(?), Whindersson Nunes, Viih Tube(?), Boca Rosa(?), Matheus Mazzafera(?), Valesca Popozuda, João Guilherme(?), Belo, Gracyanne Barbosa, MC Kevinho(?), Leo Santana, Carlinhos Maia e até o "irmão Wesley Safadão", sim, aquele mesmo, que foi batizado pelo pastor André Valadão, aqui (escrevo de Belo Horizonte, MG) da igreja Batista da Lagoinha, que se apresenta como evangélico.

Comentários nas redes sociais indicam que houve uso de drogas ilícitas e prática de orgias durante os três dias da "Farofa da GKay" — com direito até a apresentação de streap tease realizada por um anão  —, e a própria anfitriã disse em entrevista ter convidado pelo menos 20 homens, com os quais queria praticar sexo. Diante de toda a promiscuidade anunciada (e exibida àqueles que, apesar de não poderem estar presentes [Oh, dó!], pagaram para assistir no tal já citado canal fechado).

Fake life:

Zero espontaneidade!


Não tem problema (e talvez até ajude) se até domingo passado a aniversariante e os convidados eram os "famosos quem?" para muita gente. A estratégia de marketing da "farofa" deu certo e é sobre isso que estudiosos da Comunicação nos convidam a refletir.
"O importante é entender que não há nada de espontâneo nisso, mas muito de estratégia e mensuração"
analisa Simone Faustino, 35, jornalista e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará, onde pesquisa influência digital e autoestima adolescente.

A pesquisadora lembra que os influenciadores têm uma equipe por trás, promovendo continuamente análises que vão desde as mais simples (como a contagem de likes, dislikes, comentários, compartilhamentos e posts salvos), até mais complexas, a exemplo das taxas de conversão ou compra geradas para as marcas após postagens publieditoriais.
"A taxa de engajamento — que mostra a quantidade ou o percentual de pessoas que interagiram com determinado conteúdo após sua postagem — é um índice importante para fazer com que novas pessoas procurem pelos influenciadores para segui-los e que novas marcas os contactem para contratá-los. É isso que faz a roda girar"
observa.

Logo, se você deu sua curtida para Gkay e a turma da farofa, reforçou o poder de mobilização dessas websubcelebridades, como explica Jeimes Alencar, 45, professor e coordenador dos cursos de Marketing da Unifor.
"Eles praticamente criaram um reality show no próprio evento, em que tudo que acontecia era transmitido por meio de lives e postagens. 

Fizeram uma série de ações de marketing, uma forma de trazer a imprensa e a sociedade como um todo para os digitais influencers, para mostrar a força que eles têm como poder de marca"
entende.

O "eu" como negócio


Ainda que algumas pessoas custem a entender esses fenômenos virais, que parecem ter se tornado famosos da noite para o dia, o percurso de parte deles não é tão rápido assim. A própria Gkay já vinha amadurecendo produções para internet desde 2013, primeiro, conforme eu já disse, como humorista, depois como atriz (perdoe-me Fernanda Montenegro) e influenciadora digital — agora com tantos milhões de seguidores no Instagram, quase 2 milhões obtidos só essa semana.

A pesquisadora Simone Faustino recupera o conceito de celebridade pré-internet para entender diante do que estamos agora.
"(Antes) Estava mais ligada ao arquétipo do herói, celebrado na Idade Antiga e ligado a sujeitos que se destacavam pelos seus feitos, pela fama criada por grandes feitos, por ser uma grande pessoa. Elas geravam admiração e até fomentavam relações afetivas e de consumo, mas costumavam ser pouco tangíveis para o público"
diz.

Hoje, porém, nesse cenário de mercantilização da imagem dominado por mídias como o Instagram, o YouTube e o TikTok, Faustino admite a ascensão de outro tipo de figura pública.
"São pessoas que constroem a si não mais como somente formadoras de opinião, mas enquanto marcas, extrapolando os limites das relações que ocorrem no meio digital. A gente vive o chamado capitalismo de plataforma, que favorece um modelo de negócio onde as pessoas monetizam a si mesmas, seus cotidianos e seus gostos para gerar menções, engajamento e negociar publicidade. Alguns autores chegam até a falar que os tempos atuais transformaram o 'eu' em uma commodity"
contextualiza.

Neste sentido, o professor Jeimes Alencar alerta também para uma falsa aproximação. 
"O digital influencer trabalha como símbolo. Às vezes, muito do que você gostaria de ser, muito do que você almeja, está ali. E o seguidor se identifica, mas, às vezes, está diante de uma falsa relação. Nem sempre é tudo cem por cento verdadeiro, né?"
provoca.

Ética e consumo


No jogo de realidade e aparência, um princípio ético pouco respeitado é o da sinalização objetiva do que é publicidade. 
"Sem separação entre o que se diz porque acredita e o que se diz porque houve pagamento, o público fica confuso e pode engolir tudo como verdade",
expõe Faustino.

De acordo com a pesquisadora, eventos como a "Farofa da GKay" vendem cotas de patrocínio para grandes marcas, fazem parcerias com inúmeros fornecedores — que incluem decoradores, estilistas, buffets e, mais recentemente, laboratórios que fazem testagem de convidados para a covid-19 (Isso mesmo, senhores!) — e pagam caro por postagens em perfis de fofocas, alguns com milhões de seguidores, que chegam a cobrar de 20 a 80 mil reais por menção no feed.
"Tudo nesse universo de superexposição é monetizado, desde a indicação do produtinho de skincare até os lugares onde eles comem e as viagens que fazem. Um exemplo: nunca se vendeu tantos pacotes para as Ilhas Maldivas, mesmo com a desvalorização enorme do real. Por quê? É lá que os influencers estão casando, passando lua de mel, fazendo fotos para serem imitadas. A vida perfeita vendida por eles gera nas pessoas o desejo da mímese, que é a imitação"
analisa. Entendeu a jogada?

Ainda segundo Faustino, muitos webfamosos têm noção de storytelling, um universo de técnicas para contar histórias de maneira marcante, usando elementos capazes de conectar o espectador em nível emocional. 
"Quando vemos, estamos com o cartão de crédito na mão".
E assim, enquanto os seguidores dessa gente se entretem com a pegação de uns e a separação ou a reconciliação de outros, os valores de consumo vão dando conta do recado.
"Naquele momento, as pessoas simplesmente deixam de se preocupar com outros assuntos do dia a dia: gasolina, preço de cesta básica e tudo mais, e focam na questão do consumo. 

Então, qual é o vestido que a influencer tal está usando? Qual o valor que foi gasto para pagar, por exemplo, um buffet ou almoço. E isso é muito divulgado por eles, inclusive o tempo todo"
pontua Jeimes Alencar sobre os R$2,8 milhões de investimento da GKay, que provavelmente já retornaram para ela.

Seguir ou não seguir?


Ok, se você chegou até aqui, talvez esteja se perguntando se quer ou não fazer essa roda girar. A primeira recomendação de Faustino é tomar cuidado para não seguir alguém apenas pelo medo de estar perdendo algo, síndrome mais conhecida como FoMO, "fear of missing out".

Depois, a pesquisadora reforça a importância de não perder de vista o ecossistema da internet como um cenário muito rico para a discussão de riscos e oportunidades. 
"Podemos debater muitas coisas, como padrões de beleza, pornografia de vingança, discurso de ódio e a responsabilidade dos influenciadores nesse contexto, pois há, sim, muita gente que se espelha neles"
ressalta.

A própria pandemia, a responsabilidade com o coletivo, o combate ao negacionismo científico e todas as questões sociais e legais envolvidas também devem estar no cerne dessa reflexão, segundo a estudiosa.
"As pessoas falam muito de fake news, mas, além de fake news, é bom a gente entender o que deve ser propagado ou não, ou quem eu devo seguir ou não. Então, criar esse filtro aí talvez seja um caminho melhor para se ter uma uma sociedade mais conectada, com mais sabedoria e conhecimento".
Fica aí a dica de quem sabe o que está falando!

Conclusão


Inegável que a abominável festa tomou proporções muito maiores do que se pode imaginar. Foi impossível você passar pelo Instagram ou pelo Twitter sem ser bombardeado por alguma notícia, foto ou vídeo.

Você, assim como eu, até pode não saber quem é GKay, mas não dá para alegar que não ouviu falar desse evento.

Fosse eu, para comemorar 30 anos, no final de 2022, abriria uma licitação para definir a cidade-sede. Sim, porque pode ser igual Olimpíadas, cada ano em um hotel diferente.

E o que eu tenho a ver com isso?


Absolutamente nada (Graças a Deus!). Mas, falar eu ainda posso, né? Apesar de minha descrença original, concluí que esse imenso "muitas felicidades" se enquadra em política e entretenimento.

Quase todo mundo ali era ligado a alguma categoria do show business, como já exposto com detalhes acima, movimentando cifras inconcebíveis (logo, entretenimento); e foram feitas declarações de protesto e preferências políticas (obviamente, todo mundo ali está no pêndulo da esquerda...). Momentos de cunho político em sua mais crua acepção, inclusive levando a alguns bate-bocas.

Numa vitrine para 66 milhões de pessoas. Pense nisso. Não tenho feito outra coisa desde que me deparei com a informação.

Para encerrar, na edição 2021, assim como na do ano corrente, houveram várias frases marcantes; preferi escolher uma, que resumisse bem o espírito festa de arromba, proferida pela referida Viih Tube(?): 
"não peguei sapinho, isso que importa"!
Ah, para terminar, do jeito que as coisas andam degringolando ladeira abaixo, não duvide se daqui a pouco, algum surtado inventar uma modalidade gospel dessa aberração. Pronto, falei!

[Fonte: Prensa, por Clarissa Blümen Dias; Agora RN]

Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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domingo, 4 de dezembro de 2022

PRONTO, FALEI! — O CATAR QUE A COPA NÃO MOSTRA

Dou início aqui a mais uma série especial de artigos. Nessa série, eu irei escrever sobre minha opinião acerca de assuntos diversos: arte, cultura, música, esportes, religiões... 

Obviamente, por se tratar de opiniões pessoais, não tenho a pretensão de que, necessariamente, haja concordância sobre o que irei escrever nessa série, se eu conseguir fazer com que meus leitores pensem, analisem e formulem suas opiniões — em concordância ou não à minha —, porém, com um mínimo de objetividade, razoabilidade e sensatez, já terei atingido meu objetivo. Vamos ao primeiro assunto?

Qatar: o paraíso desértico do petróleo


Eu não gosto de futebol, aliás, nunca gostei, muito antes pelo contrário, sempre detestei essa modalidade esportiva. Nunca fui torcedor de time de futebol, nunca fui a um estádio ver uma partida de futebol, nunca joguei sequer uma peladinha de rua. Enfim, meu interesse por futebol é o mesmo de um astronauta pela escavação de túneis.

Entretanto, o fato de ser um formador de opiniões, me "obriga" a acompanhar o máximo possível dos assuntos de todos os seguimentos, justamente para que eu não seja leviano, preconceituoso e já tenha uma opinião formada sobre tudo, sem, contudo, sequer ter um mínimo de noção sobre nada ("fenomeno" crônico nos comentaristas internéticos, metidos a especialistas acerca de tudo, em suas achiologias e/ou repetição de discursos típicos dos feitos por papagaios de piratas). Por isso, após algumas pesquisas, vou arriscar falar sobre essa Copa do Mundo que está sendo realizada no Qatar (ou, em bom português, Catar).

Uma realidade fora do alcance dos holofotes midiáticos


Eu estava vendo algumas matérias sobre a Copa, exibidas pelos canais de televisão e/ou veiculadas pelos portais de notícias da internet, mostrando um país que mais parece um protótipo do paraíso. Algo assim, de encher os olhos e alimentar o desejo de relés mortais ocidentais em conhecer, desejo este que foi realizado por uns poucos privilegiados, que viajaram pra lá no intuito de acompanharem ao vivo as partidas.

Em uma dessas matérias, além do luxo faraônico dos hotéis e o requinte dos restaurantes, teve algo que muito me chamou a atenção: gente, as ruas do Catar, devido às altas tempuraturas comuns da região onde ele está localizado, contam com um tecnológico esquema de ar condicionado público, através de dutos espalhados por suas extensões, como os bueiros daqui. Algo realmente impressionante!

Mas, será que o Catar é mesmo essa maravilha, que a mídia (ou seria a Fifa?) quer nos fazer acreditar ser? Só que não! Vejamos.

Money, money, money...


Se havia alguma dúvida sobre qual o único fator importante na escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022 pela Fifa, ela foi desfeita. As opções por Rússia (2018) e Catar são meramente financeiras, e disfarçadas pela entidade com o discurso do "levar o futebol a novas fronteiras".

Apesar de surpreendente, a escolha da Rússia é até aceitável. O país tem tradição no futebol, desde os tempos da União Soviética, uma liga que cresceu de forma estável e tinha condições para organizar um bom torneio, mesmo que precisando tratar de questões importantes como o transporte terrestre.

A opção pelo Catar é a de um Mundial artificial em um país minúsculo. Dinheiro, por certo, não foi problema para o maior exportador de gás natural liquefeito do mundo. E por isso os delegados da Fifa levaram a Copa para o Oriente Médio, ignorando candidaturas fortes como Estados Unidos e Austrália.

Veja alguns números e fatos por trás da Copa no Catar


Catar (ou Qatar, na transcrição internacional) é um país do Oriente Médio, pequeno em extensão e grande economicamente. O país árabe, localizado na Ásia Continental, na região considerada Península Arábica e também Oriente Médio, oficialmente chamado de Estado do Catar, corresponde a um emirado, ou seja, é um território administrado pelo membro da classe dominante, o emir.

Com apenas 11.610 km² de extensão, o Catar tem praticamente metade do estado de Sergipe, com 21.910 km² e considerado o menor estado brasileiro. Isso significa que, para atravessar o país entre as cidades de as-Salwa (mais ao sul) e al-Mafjar (mais ao norte), bastam 211 quilômetros de estrada e 2h30 de carro. Já a maior distância entre estádios é de apenas 70 quilômetros.

Catar é um país rico?


Com boa parte da economia baseada na exploração de petróleo, o país é considerado um dos mais ricos do mundo — sendo 50% do Produto Interno Bruto (PIB) dependente do setor de gás e energia. 

De acordo com relatórios do Observatório da Complexidade Econômica (OEC, na sigla em inglês), o Catar teve balança comercial positiva de 20,4 bilhões de dólares em 2020, principalmente devido à exportação de petróleo e derivados para China, Coreia do Sul, Índia e Japão.

Quem manda na Copa?


A definição da sede, pela Fifa, gerou certa polêmica, assim como a mudança de calendário, passando dos meses de junho e julho para ser realizada entre novembro e dezembro. 

Tudo isso para que o calor não fosse tão forte. Mas, mesmo assim, a temperatura média no clima desértico nesta época gira na casa dos 25 a 30 graus à noite, quando a maioria das partidas será realizada. No entanto, todos estádios são equipados com ar condicionado.

Mas há controversas! Isso porque o Catar, sede do torneio, tem restrições bastante polêmicas — e preconceituosas —, em especial para as pessoas que moram no Ociente, uma vez que, desde 1971, o país é governado tendo como base a Sharia, lei islâmica.

Por exemplo, você sabia que a homossexualidade, além de ser considerada um pecado, é um crime passível de pena de morte? Exatamente por causa dessas leis, que controlam a chamada ditadura monarquista, Joseph Baltter, ex-presidente da Fifa, disse que a Copa no Catar era "um erro".

O que não é visto, enquanto rola a bola

  • 1. A Copa no Catar é pioneira em muitos sentidos

O país é o menor até hoje a sediar um mundial! Mas, como tamanho não é documento, ele é hoje a nação mais rica do globo, faturando em cima da exportação de petróleo e gás natural.

Esta também é a primeira vez que uma Copa do Mundo acontece no Oriente Médio.

  • 2. O icônico estádio desmontável

O segundo jogo do Brasil na Copa foi contra a Suíça, no dia 28, e aconteceu no Estádio 974, conhecido por ser desmontável.

Ele foi construído com contêineres e módulos de aço, e pensado para justamente ter prazo de validade. Após o torneio, ele será desmonstado, feito um Lego, e sua estrutura poderá ser usada para construir outra coisa. 

Ou seja, por lá, não haverão como legados, os famigerados "elefantes brancos", como o estádio Mané Garrincha, em Brasilía (DF), um vergonhoso monumento erguido na nossa capital federal, para a Copa do Brasil, em 2014.

  • 3. A realidade do trabalho escravo

Durante a preparação para a Copa, surgiram muitas denúncias de trabalhos análogos à escravidão. Esses empregados são em maioria imigrantes do sudeste asiático, que trabalham à exaustão, em péssimas condições e sem nenhum direito trabalhista.

Uma reportagem do jornal inglês The Guardian revelou que mais de 6.500 imigrantes morreram durante os preparativos para a Copa, que começaram em 2010, quando o Catar foi anunciado como sede. 37 deles faziam parte da mão de obra adquirida para a construção dos estádios.

  • 4. Os Direitos Humanos não são para todos

Pelo menos, não no Catar. Por causa da Lei Sharia, que condena a homossexualidade e coloca os homens em posição de superioridade em relação às mulheres, a Fifa proibiu que a Seleção Dinamarquesa estampasse o texto 
"Diretos Humanos para todos"
no uniforme oficial de jogo. 
"Os equipamentos não devem ter slogans, declarações ou imagens políticas, religiosas ou pessoais", 
justificou a confederação. Então tá, né, Fifa?

Jakob Jensen, chefe executivo da Federação Dinamarquesa de Futebol, repudiou a decisão — embora tivesse que respeitá-la: 
"Somos da opinião de que a mensagem 'Direitos Humanos para Todos' é universal e não é um apelo político, mas deve ser algo que todas as pessoas possam apoiar"
disse. Coitado, restou a ele, apenas se engasgar com sua indignação!

  • 5. No Catar, é proibido beber álcool na rua

Outra grande polêmica, que, embora tenha gerado muita indignação (principalmente por parte dos brasileiros, muito acostumados a fazer o que querem onde vão) foi a sumária proibição da venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol — apenas cerveja sem álcool, ao custo de R$ 45 o copo! 

Só está sendo possível fazer a compra em hotéis e restaurantes internacionais. E nada de beber em espaços públicos, como em ruas e praças, viu? A prática é proibida por lei.

  • 6. A cerveja mais cara de história das Copas

Pois é. Se fizermos a conversão para Real, cada copo de cerveja com álcool no Catar custará R$ 75! Talvez o excesso de bebidas alcoólicas esteja longe de ser um problema mesmo… (aqui, gargalhadas escandalosas de quem não consome bebidas alcóolicas...)

  • 7. Roupas curtas na mira da lei

Outra coisa fora de cogitação durante a Copa do Mundo do Catar é o uso de roupas que deixam o corpo muito à mostra, especialmente quando o assunto são mulheres. 

Nada de ombros e joelhos de fora, tá (Ih, deu ruim para as tais "musas das Copas", psêudos modelos, propensas candidatas a subcelebridades.)?
Aqui, vale um adendo: as taxas de feminicídio no Oriente Médio são altíssimas. Muitas leis islâmicas corroboram com a violência contra as mulheres e a misoginia. O pior país para ser mulher na região é o Egito. O Catar encontra-se em 18º lugar na lista desenvolvida pela corporação canadense Thomson-Reuters.

  • 8. Nem qualquer maneira de amor vale a pena

No Catar, por exemplo, ninguém vai poder entoar a canção "Paula e Bebeto", de Milton Nascimento, que diz que 
"...qualquer maneira de amor vale a pena...".
Ou então a clássica "Toda a Forma de Amor", outra que se tornou um hino da comunidade LGBTQIAP+, do Lulu Santos, cujo refrão diz que
"...consideramos justa, toda a forma de amor..."
No país do Oriente Médio, é proibido defender os direitos da população LGBTQIAP+ e demonstrar afeto em público, tendo sido proibida até mesmo o uso da bandeira com o símbolo do arco-iris, o estandarte da militância gay.
E aí, ilustres celebridades brasileiras, cadê a lacração de protestos em suas hashtags nas redes sociais? Ficou todo mundo caladinho, encolhidinho. Não teve ninguém com peito para acusar os catarianos de homofobia ou tentar boicotar a realização da Copa no Catar? É o típico caso de "assombração sabe quem aparece".

Embora a Polícia do Catar tenha dito que fará vista grossa durante a Copa com relação aos turistas, para esta e outras questões, todo cuidado é pouco (duvido que alguém irá se arriscar).

  • 9. Nada de cruzar as pernas em lugares públicos

É claro que a polícia também deverá fazer vista grossa para isso durante o mundial, mas, no Catar, em espaços públicos, não é indicado que você sente-se com as pernas cruzadas ou em qualquer posição que deixe a sola do sapato à mostra. 

A razão? Segundo os costumes locais, a sola do sapato é a parte mais suja da vestimenta e, por isso, não deve ficar visível para os outros, tendo sempre que ficar apoiada no chão. Ih, deu ruim para quem gosta de ostentar sensualização nas redes sociais!

Conclusão


Como podemos ver, por trás do rolar da bola na Copa do Mundo do Catar, há muita coisa que não é mostrada às torcidas que, alegres, esperam com euforia e expectativa mais uma estrelinha enfeitando a camisa de suas respectivas seleções. Pronto, falei!


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domingo, 27 de novembro de 2022

DIRETO AO PONTO — QUEM É O SEU SENHOR?


"Reconheçam isso hoje, e ponham no coração que o Senhor é Deus em cima nos céus e embaixo na terra. Não há nenhum outro. [...] ...Sou eu o Senhor teu Deus quem te conduz pelo caminho que deves viver!" (Deuteronômio 4:39; Isaías 48:17b)
Todos nós temos um senhor. Conhecemos o senhor de alguém pelas atitudes, palavras e obras da pessoa, e ela pode conhecer quem é o nosso senhor pelas nossas próprias obras, palavras e atitudes. 

Todo senhorio inspira obediência, e cada um de nós é totalmente obediente a seu verdadeiro senhor. Mas, quem tem sido, de fato, o senhor de nossa vida? É a reflexão proposta no texto deste artigo, mais um capítulo da série especial Direto ao Ponto.

Como reconhecer alguém cujo senhor é o dinheiro?


Provavelmente seu relacionamento com Deus e com as pessoas será baseado naquilo que poderá receber em troca, lucrar ou evitar prejuízos. 

Resistirá à ideia de doar algo de valor, que lhe faça falta, distribuindo somente suas sobras, ou o que é pior, seus restos, com Deus e com o próximo.

Como reconhecer alguém cujo senhor é o tempo

Provavelmente são pessoas governadas pela sua agenda, por prazos, ou que dão tempo ao tempo acreditando que o tempo cura e resolve tudo. 

Estes dificilmente têm tempo para "gastar" com Deus e com o próximo, e não acreditam nem têm paciência para esperar o tempo de Deus.

Como reconhecer alguém cujo senhor é o poder


Provavelmente almeja mais do que tudo ter a atenção e obediência das pessoas, influir nas decisões, dominar cenários, atrair holofotes... 
Não se conforma em ser coadjuvante, nem mesmo de Deus, nem em ver o sucesso e reconhecimento de outras pessoas que consideram tão menos preparados do que eles próprios.

Como reconhecer alguém cujo senhor são os ídolos


Provavelmente exaltam políticos, ideologias, a religião ou os religiosos, pais, filhos, família, amuletos, objetos, parentes, artistas, jogadores de futebol, animais domésticos, a natureza, a comida, dietas, estilos de vida, times de futebol... (esta lista pode até ter fim, eu que não tenho coragem para digitar tudo).

Em alguns casos usam o nome do próprio Deus e de Jesus Cristo, seus templos e liturgias, para renderem homenagens a seus ídolos de estimação.

Há também aqueles que, embora se digam crentes, são mais conhecidos pelos ídolos que adoram do que por qualquer relacionamento com Deus ou com o próximo. Estão dispostos a desfazer amizades, desprezar, discriminar, perseguir, matar ou até morrer para defenderem seus ídolos, que são inatacáveis por outros que não eles próprios.

Como reconhecer alguém cujo senhor é o seu proprio eu?


Provavelmente se enxergam como donos do dinheiro, do tempo, de poder, da ideologia, do corpo, da verdade... 

Embora não admitam publicamente têm a mania de se enxergar como seres imprescindíveis, insubstituíveis, protagonistas da própria história em meio a uma multidão de meros figurantes... 

Usam as outras pessoas em proveito próprio, como se fossem objetos, e depois as descartam (tipo "o amor acabou...").

Quem tem sido o senhor da nossa vida?


As pessoas que tem outros senhores podem até dizer que creem em Deus, ler a Bíblia, ir aos cultos e transitar tranquilamente em meio aos irmãos na fé...
 
Podem ser pastores (ou qualquer outro título eclesiástico que os valham), presbíteros, diáconos, líderes, professores da escola bíblica... 

Mas uma coisa é certa: embora o senhorio das coisas terrenas escravize seus seguidores com momentos efêmeros de prazer, eles não conseguem proporcionar a realização plena do ser humano, o verdadeiro amor, verdadeira paz e, principalmente, a viva esperança.

Quem tem sido mesmo o senhor da nossa vida? Quem tem sido aquele que dirige nossas palavras e atos? O que tem preenchido o nosso coração? Essas são perguntas às quais temos de nos fazer o tempo todo.

Só Deus é o Senhor!


Há somente um Senhor sobre tudo o que existe, que tudo fez e a quem tudo pertence, porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas.

Há somente um Senhor digno de nosso amor, louvor, temor, adoração e obediência, porque somente Ele nos amou de tal maneira que morreu para nos dar verdadeira vida.

Tendo Jesus Cristo por único Senhor temos a certeza que todas as outras coisas, o tempo, o dinheiro, o poder, os ídolos e nosso próprio eu estarão também sujeitos a Ele e serão Seus servos, e não nossos senhores.

Conclusão


Todos os dias somos tentados a servir aos senhores deste mundo, e somente invocando o nosso único Senhor e suficiente Salvador encontramos forças para, com Ele, sujeitar a nós mesmos e todas as coisas ao reino dos céus. 

"Nossa" vida, "nosso" corpo, "nosso" dinheiro, "nosso" tempo, "nosso" poder, "nossa" autoridade, "nosso" conhecimento, "nossa" força, "nossos" talentos: nada disto é nosso!... Tudo pertence a Ele (Romanos 11:36), e Ele pedirá contas da maneira como empregamos os dons que Ele mesmo nos conferiu (Mateus 25:14-30).

Fujamos do senhorio das coisas deste mundo! Amemos ao Senhor, servindo a Ele. Amemos uns aos outros, servindo uns aos outros. Que o nosso Senhor, Aquele que conduz nossas ações, seja um só: Jesus Cristo.

E não se esqueça de uma coisa: 
se Jesus não é o nosso Senhor, alguém ou alguma coisa está sendo. 
Pensemos nisto.

Ao Deus Perfeito Criador, toda glória.
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sábado, 26 de novembro de 2022

BÍBLIA ABERTA — SALMO 126

Olá, meus amados leitores e seguidores do blogue Conexão Geral. Devido aos muitos compromissos com trabalho e estudos, o que limita potencialmente minha disponibidade de tempo, não tenho podido escrever e postar artigos com muita frequência.

Mas, esse espaço é meu "alterego", o lugar onde falo o que quero, quando quero, me pautando sempre, não só na minha liberdade de expressão — direito a mim garantido pela constituição —, quanto, principalmente, pela liberdade a mim garantida pela Bíblia Sagrada, minha carta magna de Deus, onde estão firmados meus valores, conceitos e princípios. 

Por isso, mesmo que não com a mesma frequência anterior, contudo, sempre estarei escrevendo e/ou adaptando e fazendo as postagens aqui.

Hoje, dou início a uma nova série especial de artigos, aliás, uma continuidade da série A Bíblia Como Ela É, com um novo título, entretanto, com o mesmo viés e conteúdo: o de entender textos bíblicos, com análise contextual, sob e sobre sua exegese e hermenêutica. 

Para dar início a essa sequência, vamos conhecer detalhes preciosos, sobre esse belíssimo cântico do saltério oficial de Israel: o Salmo 126.
  • O texto desse artigo é baseado na mensagem por mim ministrada no culto dominical, em celebração à Ceia do Senhor, realizado no dia 06 de novembro de 2022, no salão congregacional do Ministério Evangélico Gilgal.

Salmo 126 — Contexto histórico


O contexto do Salmo 126 se dá no retorno dos israelitas do exílio vivido na babilônia. Eles ficaram 70 anos como escravos na cidade, por conta de sua contínua desobediência ao Senhor.

Porém, assim que o período profético terminou — vários profetas alertaram Israel sobre este tempo — os persas dominaram a Babilônia e sob esse novo governo Deus trouxe os filhos de Israel para Jerusalém novamente.

O foco do Salmo 126 na restauração da glória de Sião sugere uma data pós-exílica, quando os judeus se empenharam na reconstrução do templo e da cidade de Jerusalém. 

Dá para imaginar letras como essas cantadas em resposta à declaração de Deus de permanecer com o povo no templo restaurado (Ageu 2:1-9). Incluído na lista de "Cânticos de Romagem" (sequência dos Salmos 120 ao 134), esse hino teria sido usado durante séculos nas viagens dos judeus à cidade santa para as grandes festas anuais.

Tema principal: Restauração


O Salmo trata da mudança na sorte de Jerusalém e dos judeus quando morreram do cativeiro na Babilônia. A primeira metade do hino exulta na restauração de Sião, o local do templo em Jerusalém:
"Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficou como quem sonha. Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: 'Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles.' Com efeito, grandes coisas fizeram o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres" (versos 1 a 3).
A volta dos judeus para Jerusalém e a construção do novo templo foram sonhos realizados depois de décadas de deslocamento desse lugar santo. A alegria do povo não foi por suas próprias obras, porque ainda viviam com vergonha dos pecados que levaram ao castigo divino, a destruição do templo e o exílio do povo. O júbilo foi em comemoração dos grandes feitos de Deus.

As obras foram visíveis às nações. Durante o tempo do cativeiro, Deus usou servos fiéis como Daniel para demonstrar sua grandeza e superioridade aos mais poderosos reis. Depois da volta, Ele protegeu seu povo de todas as ameaças dos vizinhos. De fato, as nações viram as grandes obras divinas.

Um ponto mais importante, porém, é que os próprios judeus viram as grandes obras de Deus e abandonaram as práticas idólatras que provocaram seu castigo. Alegraram-se em poder adorar ao Senhor, o único Deus, na cidade santa.

A segunda metade do Salmo levanta um pedido para a salvação divina

"Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe. Os que com lágrimas semeiaiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes" (versos 4 a 6).
Agradecer pela salvação e depois pedir a restauração pode indicar que o povo havia aprendido uma lição fundamental que custou para compreender antes do exílio. 

Da mesma forma que muitos hoje interpretam promessas da salvação divina como incondicionais e irrevogáveis, muitos judeus antes do exílio acreditavam ser invencíveis na terra dada por Deus à nação esperavam. 

Jeremias combateu essa falsa confiança antes da queda da nação. A presença do templo do Senhor não era garantia de segurança nacional. Se o povo não se arrependesse, seria castigado pelo Senhor (Jeremias 7:1-15). A nação não acolheu as palavras do profeta e sofreu as consequências (52:1-30).

Verso a verso

Quando Deus libertou o povo — verso 1

"Quando o CRIADOR trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como aqueles que sonham..."
Trouxe do cativeiro se refere ao retorno dos exilados da Babilônia para Jerusalém como um evento que já havia acontecido (84:6, 85:1). O apelo no v. 4, 
"...traze-nos outra vez..."
é difícil, visto que o verbo supõe que a ação ainda não aconteceu.

Embora o verso 1 faça referência ao retorno de Israel, o verso 4 deve estar falando da restauração de paz e prosperidade na terra (122:6,7).

Estávamos como aqueles que sonham indica as pessoas que ansiosamente antecipavam o futuro.

Intervenção de Deus em favor de Israel — versos 2,3

"...Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico; então disseram entre os pagãos: O CRIADOR fez grandes coisas por eles. O Criador fez grandes coisas por nós, pelas quais estamos alegres..."
A intervenção de Deus em favor de Israel dá testemunho de Sua onipotência e supremacia (66:1996:3113:4; Isaías 61:9Jr 31:10Ezequiel 36:23).

Produtividade da terra — versos 4-3

"...Traze-nos outra vez do nosso cativeiro, ó Deus, como os córregos do sul. Aqueles que semeiam em lágrimas colherão com alegria. Aquele que vai adiante e chora, carregando sementes preciosas, voltará sem dúvida com regozijo, trazendo seus molhos consigo."
No verso 1 Yahuah restaura Sião como centro político e religioso; já os versos 4-6 se focam na produtividade da terra.

Os córregos do sul (Neguebe) se referem a córregos sazonais, ou wadis, que de tempos em tempos abençoavam a terra com uma repentina superabundância de água.

Junto com generosidades repentinas, como o wadi, Deus também usou processos metódicos e trabalho duro, como a agricultura. Aquele que permanecer humilde diante de Deus certamente gorará de Suas bênçãos na terra.

Conclusão


O Salmo 126 estudo traz esperança para continuarmos confiantes, apesar da falta de percepção e clareza a respeito do futuro. Às vezes, como os israelitas, você está se sentindo abandonado e perdido ao olhar o atual cenário da sua história.

Certamente, muitos deles choraram durante os 70 anos de estadia no território babilônico, porque não tinham nenhuma perspectiva de mudança tangível.

Mas, era da vontade de Deus o povo passar por aquele sofrimento e também pode ser para você (embora a linha teológica triunfalista não aceite sob nenhuma hipótese — nem mesmo sob as evidência bíblicas — essa realidade irrefutável). 

Apesar de nós termos aversão ao momento de dificuldade, é justamente nesse tempo que Deus quer nos amadurecer, fazendo com que a gente entenda alguns processos importantes para sairmos dali mais fortes.

As lágrimas derramadas pelos Israelitas, logo se tornaram riso, quando o Senhor tirou todo seu povo daquele lugar e eles celebram a grandeza do que Deus tinha feito.

Assim também será no fim desses tempos de incerteza, porque você vai observar que na realidade Deus estava cuidando de você, quando te permitiu passar por determinadas coisas.

Restauração, só no Senhor


Nesse Salmo, o povo adorou a Deus por ter restaurado Sião, e ainda pediu a restauração. Era necessário continuar cultivando a comunhão com Deus, da mesma forma que os cristãos hoje precisam permanecer fiéis ao Senhor, buscando o perdão divino quando tropeçam (1 Coríntios 9:27;  Tiago 5:19-20; 1 João 1:6, 2:2). Não devemos ser enganados por pessoas que pregam uma falsa mensagem de segurança incondicional!

Para quem goza a comunhão com Deus, as bênçãos são grandes. Para Israel no Antigo Testamento, Deus cumpria promessas de colheitas boas, alegrando o povo que havia sofrido na sua separação do Senhor. Para Israel espiritual, as pessoas que servem a Jesus com fidelidade, as promessas são da vida eterna na presença do Senhor!

[Fonte: Estudo Bíblico On Line, por Lázaro Correia; Estudos Bíblicos, por Dennis Allan]

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