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sábado, 20 de abril de 2024

ESTANTE DO LÉO — "O CONCEITO DE FAMÍLIA EM FREUD", JOSÉ NUNES FERNANDES

Li este livro, no formato digital de ebook, como parte da pesquisa para aula que tivemos sobre o tema na faculdade. De fato o conceito freudiano da família, nada tem a ver com o conceito da família tradicional, já arraigada em nosso imaginário coletivo, mesmo e não a despeito, dos atuais mutifacetados contextos familiares existentes na sociedade atual.

Conceito psicanalítico de família


A família sempre foi objeto de estudo na psicanálise. Dr. Sigmund Freud (✩1856/✞1939) afirmava que a família constitui uma restauração da antiga ordem primitiva e devolve aos pais uma grande parte de seus antigos direitos.
'As desavenças entre os pais ou seu casamento infeliz condicionam a mais grave predisposição para o desenvolvimento sexual perturbado ou o adoecimento neurótico dos filhos' (Freud, In. "Três ensaios sobre a sexualidade").
Criador da psicanálise, o neurologista austríaco Dr. Freud, em 1912, também escreveu "Totem e Tabu". Segundo ele, os quatro ensaios desta obra representam uma primeira tentativa de aplicar o ponto de vista das descobertas psicanalíticas ao campo da psicologia social. 

Para além desta proposta, Freud enfatiza a importância da pesquisa multidisciplinar, criando interfaces da psicanálise com outros campos de conhecimento. Trata-se de um estudo sobre a vida mental e os processos psíquicos que a norteiam, realizado a partir de um ponto de vista contextualizador. 

Neste ensaio, Freud reafirma, mais uma vez, a importância de se pensar o homem historicamente, no cerne de seu meio ambiente cultural, atravessado pelas vicissitudes do tempo e do espaço que constituem sua realidade psíquica.

Sobre o livro

A Família Freudiana


Em 1897, ao abandonar a teoria da sedução, Freud menciona pela primeira vez o complexo de Édipo: 
"A lenda grega captou uma compulsão que todos reconhecem porque todos sentiram. Cada espectador foi um dia, em germe, na imaginação, um Édipo e se aterroriza diante da realização de seu sonho transposto na realidade. Estremece diante de toda a dimensão do recalcamento que separa seu estado infantil de seu estado atual" (Freud, La naissance de la psychanalyse. Paris: PUF, 1991, p. 198).
O homem edipiano vai aparecer no momento da passagem de Freud de uma concepção traumática do conflito neurótico para uma teoria do psiquismo inconsciente. 

Mais tarde, na interpretação dos sonhos, Freud associa Édipo e Hamlet aos deuses gregos, criando a cena do desejo de incesto e de assassinato do pai, inaugurando assim, um modelo de romance familiar que sustentara a família ocidental cristã por um século (Freud, 1900/1980). 
Para a psicanálise freudiana, a concepção da família é, portanto, fundada no assassinato do pai pelo filho, na rivalidade deste em relação ao pai, no questionamento da onipotência patriarcal e na emancipação das mulheres da opressão paterna.
O sonho do incesto, a culpa do filho pelo assassinato do pai e desejo pela mãe torna-se um modelo único e universal batizado por Freud de Ödipus — Komplese (um tipo especial de escolha feita pelo homem (Freud, 1910, Obras C. Vol 11). 
Reinventando o Édipo, Freud assegura o funcionamento simbólico da família. 

Retomando Hamlet, Freud o associa a Édipo para construir melhor o Complexo, criando um personagem inconsciente (Édipo) em fusão com um elemento consciente (Hamlet). Podemos dizer que Édipo estava para a teoria, assim como Hamlet está para a clínica. 
Frente à decadência da vida familiar burguesa, Freud lança mão do complexo de Édipo para restaurar a família enquanto instituição, agora simbólica e inconsciente.
A Lei do pai (simbólica) remete a um sujeito culpado de seu desejo (inconsciente). Completando a criação de seu complexo, Freud, adiciona a Édipo (inconsciente), Hamlet (culpa do desejo) e os irmãos Karamazov (o assassinato do pai, real) (Freud, 1928-1927/1980). 

Questionando a morte do pai, Freud nos remete ao pai totêmico, primevo, devorador e criminoso, em suas duas grandes obras: Totem e Tabu e Moisés e o Monoteísmo (1939/80), onde torna o complexo de Édipo universal, por ligá-lo aos dois interditos fundamentais da cultura. 

Consequentemente, o poder na sociedade pode ser centrado em três imperativos: 
  1. um ato fundador (morte do pai), 
  2. necessidade da lei (punição) e 
  3. renúncia ao despotismo do pai tirano da horda selvagem. 
Na evolução do indivíduo, estes três imperativos têm, como consequência, três estágios: no período animista, onipotência e narcisismo infantil; na fase religiosa, poder divino e paterno; e, finalmente, na época científica, o logos (Freud, 1939/1980). 
A família freudiana adota como sua base a culpa e a lei moral, fundamenta o desejo entre condições conflitantes da autoridade, rebeldia, universal, diferença, crime, castigo. 
Esta nova concepção de família, do início do século XX, será capaz de lidar não só com o declínio da autoridade paterna, mas também com a consequente emancipação da subjetividade, uma vez que tem como seu cerne o amor, o desejo e a sexualidade. 
Esta família afetiva implica, através do interdito do incesto, no reconhecimento do inconsciente, do desejo e da própria subjetividade.
A partir da teorização do complexo de Édipo, Freud formulou sua concepção psicanalítica sobre a família, passando a abordá-la sempre relacionando-a ao viés do complexo edipiano, apresentando-a como uma instituição humana duplamente universal, através da qual encontra-se associada a castração simbólica a um fato da natureza biológica. 

Diferentemente de Freud, Melaine Klein (✩1882/✞1960) trabalhou a família através das vivências edípicas dos primeiros meses de vida, focalizando as relações do sujeito com a mãe, como objeto parcial, demonstrando que a função paterna presente, desde os primeiros meses, na relação mãe-filho, ativa o Édipo da criança. 

Por outro lado, para Lacan (✩1901/✞1981), a família humana desempenha um papel primordial na transmissão da cultura, prevalecendo na primeira educação. Lacan mostra a família organizada, segundo imagos paternas e maternas, reconhecendo que esta é responsável pela promoção do processo de humanização do indivíduo, pela criação da subjetividade.

O que entendi na leitura do livro?


Bom, devo confessar que o livro é um tanto quanto complexo, nada facil de entender e, por vezes, devido às minhas indissociáveis convicções cristãs, veio a tendência natural em considerar Freud um herege, um endemoniado. Mas, a razão me volta ao equilíbrio da compreensão do contexto ao qual Freud exercia suas teorias.              
A família é uma organização marcada pela diferença entre as gerações e entre as funções, cuja finalidade é a de proteção daqueles que são os mais vulneráveis — crianças, adolescentes e idosos. A família é o espaço de realização dos mais fundamentais direitos da personalidade. A família é uma instituição configurada na dinâmica genealógica e psicológica.
A terapia familiar no contexto psicanalítico dá ênfase ao passado, à história da família tanto como causa de um sintoma, quanto como um meio de transformá-lo. Os sintomas são vistos como decorrência de experiências passadas que foram recalcadas fora da consciência. 

O método utilizado, na maior parte das vezes, é interpretativo com o objetivo de ajudar os membros da família a tomar consciência do comportamento passado, assim como do presente e das relações entre eles.

As três instituições antiquíssimas: a família biológica, a família religiosa e a família jurídica. A primeira prevalece o fator genealógico e afetivo, a segunda: o fator dogmático, o sagrado, o sobrenatural e sacrificial e na terceira: o fator da jurisprudência e da ordem para o bem comum. 
Todas essas famílias estão dentro do contexto social, político, econômico e cultural. Daí a relevância da ciência psicanalítica para auxiliar na estrutura holística de ambas. A conexão da ciência, da tecnologia e da psicanálise para o bem-estar familiar e de uma sociedade afetiva, justa e fraterna.

Conclusão


Este livro trata de uma reflexão sobre o pensamento de Freud, mais especificamente sobre o conceito de família, através da análise de, principalmente, cinco dos seus últimos trabalhos, as obras de Freud ditas sociais: "Totem e tabu", "O futuro de uma ilusão", "Psicologia de grupo e análise do ego", "O mal-estar na civilização" e "Moisés e o monoteísmo"

Além disso, o autor busca: demonstrar três opiniões sobre os primórdios e as modificações da família até a atualidade (Ariès, Poster e Engels); discutir temas relevantes para o entendimento do que compõe o conceito de família em Freud; e refletir criticamente sobre a atualidade do conceito freudiano de família. O assunto está delimitado à área do saber denominada Psicanálise, abordando também outras áreas. 

Em relação à demarcação, ou seja, delimitação conceitual, o texto está centralizado em alguns temas de análise utilizados para entendimento do grupo familiar, temas que servirão como componentes da discussão sobre o conceito de família: sexualidade infantil, complexo de Édipo, incesto, narcisismo, romance familiar, ambivalência, sentimento de culpa, totem e tabu (horda primeva, tabu, totemismo na infância), moral sexual civilizada, transferência, pulsão, grupo e vínculo.

Ficha técnica

  • Editora: ‎ Letra Capital; 1ª edição (1 janeiro 2014)
  • Idioma: ‎ Português
  • Capa comum: ‎ 118 páginas
  • Sobre o autor:
José Nunes Fernandes possui Curso de Licenciatura Plena Em Educação Artística - Música e de Psicologia. É especialista em Educação Musical e Mestre em Música, ambos pelo Conservatório Brasileiro de Música - Centro Universitário (1991 e 1993). 

É Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (1998). É professor Associado III da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), no Instituto Villa-Lobos (Bacharelado e Licenciatura em Música) e no Programa de Pós-Graduação em Música — Mestrado e Doutorado (professor orientador, ministra Seminários de Música e Educação 1 e Psicologia da Música). 

É professor da disciplina Psicologia da Música no Curso de Especialização em Musicoterapia do CBM/RJ. É professor do Curso de Licenciatura em Pedagogia do PAIEF/CEDERJ/UNIRIO. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Educação Musical principalmente nos seguintes temas: educação musical, ensino da música (formal, não-formal e informal), ensino da música na escola regular, pedagogia, televisão e mídia, psicologia da música, família e psicanálise, psicologia do desenvolvimento, pesquisa em educação musical e história da educação musical brasileira. Líder do Grupo de Pesqusia: Linguagem audiovisual, música e educação (CNPQ).

[Fonte: UFSJ — Universidade Federal de São João del-Rei  original, por João Gualberto Teixeira de Carvalho Filho (Psicólogo e Psicanalista, Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei, Minas Gerais, Brasil. Mestrando no Mestrado em Psicologia da UFSJ, área de concentração "Estudos Psicanalíticos". Contato: jogual@ufsj.edu.br), UNIRIO — Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro]

Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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  • O blogue CONEXÃO GERAL presa pelo respeito à lei de direitos autorais (L9610. Lei nº 9.610, de 19/02/1998), creditando ao final de cada texto postado, todas as fontes citadas e/ou os originais usados como referências, assim como seus respectivos autores.
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sábado, 13 de abril de 2024

ESPECIAL — O DESAFIO DE ENFRENTAR O LUTO

Esta semana aconteceu um fato muito desagradável e que muito me entristeceu: a perda repentina de uma colega de trabalho. Apesar de saber que ela já há algum tempo lutava contra um câncer e mesmo não tendo tido a oportunidade de um relaciomento mais estreito com ela, tendo sido restrito nosso contato apenas no ambiente profissional e, eventualmente, através das redes sociais, o pouco tempo de convivência foi o suficiente para constatar o quanto ela era uma pessoa alegre, divertida, de bem com a vida e mesmo apesar das dores provenientes da sua enfermidade, ela estava sempre pra cima, com um belo sorriso no rosto, cativando e contagiando a todos. 
Descanse em paz, Viviane!
Pois bem, este lamentável acontecimento foi o que me inspirou a escrever/postar o texto deste artigo, pois é fato incontestável que, mesmo sabendo de sua iminente possibilidade, nenhum de nós nunca está preparado para enfrentar o luto. Como estudante de Psicanálise, fui pesquisar como esse sentimento de perda e ruptura de laços emocionais, pode nos atingir em nossa psique e quais as estratégias para que possamos ao menos tentar conseguir superá-lo.

O que é o Luto?

Considerações acerca do Luto em Freud

O luto é caracterizado como uma perda de um elo significativo entre uma pessoa e seu objeto, portanto, um fenômeno mental natural e constante no processo de desenvolvimento humano. 
O processo de luto está inevitavelmente presente na dinâmica entre os dois polos da existência humana: a vida e a morte. Para compreender tal princípio, irei explorar as concepções de luto e seu processo, a partir da ótica psicanalítica, utilizando as contribuições conceituais de Sigmund Freud (✩1856/✞1939) e de Melanie Klein (✩1882/✞1960).

O luto é caracterizado como uma perda de um elo significativo entre uma pessoa e seu objeto, portanto um fenômeno mental natural e constante durante o desenvolvimento humano. 

Nesse contexto, por se tratar de um evento constante, acaba implicando diretamente no trabalho de profissionais da saúde, tornando-se um conhecimento necessário para o amparo adequado àqueles que sofrem a perda.

A ideia de luto não se limita apenas à morte, mas o enfrentamento das sucessivas perdas reais e simbólicas durante o desenvolvimento humano. Deste modo, pode ser vivenciado por meio de perdas que perpassam pela dimensão física e psíquica, como os elos significativos com aspectos pessoais, profissionais, sociais e familiares do indivíduo. 

O simples ato de crescer, como no caso de uma criança que se torna adolescente, vem com uma dolorosa abdicação do corpo infantil e suas significações, igualmente, o declínio das funções orgânicas advindo com o envelhecimento. A capacidade de o indivíduo, desde a infância, se adaptar às novas realidades produzidas diante das perdas servirá como modelo, compondo um repertório, reativado em experiências ulteriores.

Para compreender o conceito de luto dentro da perspectiva psicanalítica foi necessário partir pela obra do precursor da investigação da psique, Sigmund Freud. O autor sistematizou teoricamente fenômenos até então incompreendidos sobre o funcionamento mental. Diante disso, sob a perpectiva de Melanie Klein, não há negativa em relação à concepção do desenvolvimento como base da teoria da sexualidade, mas que a partir dela, construiu a sua teoria com novas contribuições.

Partindo pelo pressuposto de a Psicanálise ter uma linha de pensamento desenvolvimentista, seria totalmente impreciso tomar o caminho pelo entendimento do luto na obra dos autores, sem antes compreender os seus conceitos clássicos, que apresentam, por intermédio do desenvolvimento infantil, efetivas contribuições para o conceito do Luto.

Ao explicar o conceito em "Luto e Melancolia", Freud (1915) o entende como uma reação à perda, não necessariamente de um ente querido, mas também, algo que tome as mesmas proporções, portanto um fenômeno mental natural e constante durante o desenvolvimento humano.

Assim como o ser humano é singular, a forma de receber e enfrentar o luto, também difere de pessoa para pessoa


O sofrimento frente a uma perda é inevitável. Nesse sentido, para sair desse limbo, é importante encontrar um direcionamento para a resolução do luto, a reorganização da vida e o investimento em um emocional saudável, com um novo sentido de existência.
O luto é um conjunto de sentimentos que vem após uma perda significativa. Logo, seu processo é uma adaptação à ausência de algo, ou alguém, e se organiza quando a falta é tomada como algo real.
O significado de luto, no entanto, sempre será diferente para cada pessoa. Entretanto, apesar da dor, o processo é saudável e necessário para a cicatrização e elaboração das feridas emocionais provocadas pela falta.

Logo, é um trabalho subjetivo, mobilizado por uma resposta inevitável que move o indivíduo a viver um processo de ajustes em todos os setores da vida.

Quando a morte leva alguém que amamos, muitas pessoas tentam assumir posturas contrárias aos seus sentimentos de dor, por medo de não sair da situação de tristeza e amargura. Porém, o correto, por pior que pareça, é se permitir sofrer.

Portanto, somente quando extravasamos as emoções é que conseguimos aceitar os fatos. Sendo assim, vale afirmar que, a privação dos sentimentos podem acarretar em problemas psicológicos e desenvolvendo um tipo de patologia, chamado luto patológico.

Em cada uma das fases do luto, o mais importante é vivenciá-las, pois é uma etapa que precisamos encarar para aceitar e compreender os processos da vida. Logo, um profissional especialista pode ser de extrema ajuda no apoio ao indivíduo, proporcionando uma adaptação e uma retomada à vida no seu cotidiano.

Como enfrentar o luto?


O luto é um desafio interno repleto de angústia, dor e questionamentos. Nós nunca sabemos o dia de amanhã, tampouco quando será a nossa hora, ou a hora do outro. No entanto, o período pós perda costuma ser intenso e cheio de significados para quem está nele.

Falar sobre a morte, no geral, é muito delicado. Entretanto, muitos de nós temos a tendência de considerar a morte como um fato aceitável e natural apenas na velhice. Isso, por sua vez, acaba dificultando a nossa aceitação quanto o óbito é inesperado.

Nesse sentido, compreender a morte é fundamental no tratamento de todos que passaram e ainda passam pelo luto. Cada um precisa levar o tempo que for preciso para recompor-se e superar o grande choque da perda.

O luto patológico


O luto patológico, ou luto complicado, é marcado por uma intensificação dos sentimentos, impedindo a reorganização da vida, a superação e o início de projetos futuros. Diante disso, sentimentos de raiva, culpa, impotência, perda, ansiedade, depressão, tristeza e desamparo fazem parte desse conjunto de rompimento do vínculo.

Nestes casos, o acompanhamento psicológico é essencial para o indivíduo. Lidar com a morte nunca foi algo fácil, e algumas pessoas costumam ter mais dificuldades do que outras para entender o processo.

Ainda, vale ressaltar que, podemos classificar o processo de luto como toda adaptação à perda, independente do que se trata, sendo assim, não exclusivo à morte. Dessa forma, entende-se também que ele ocorre quando há algo que abala emocionalmente a vida de alguém, podendo ser considerado como luto também, o término de um relacionamento.

O tipo de morte impacta no luto?


No luto relacionado a morte, podemos falar de diversos tipos de óbito: o natural, o não natural (acidentes, violência, suicídio), os decorrentes de doenças graves e também imprevistos clínicos. Visto isso, o ambiente e a forma em que a morte ocorre determinam em grande amplitude a forma que ela vai ser encarada.

No entanto, o comportamento frente a morte é determinado por diversos fatores e, muitas vezes, dependendo de como a pessoa falece, digerir o acontecimento se torna mais difícil. Nesse sentido, é muito mais fácil aceitar que uma pessoa, já aos 90 anos, morreu por doença, do que aceitar que um jovem de 18 anos morreu em um acidente.

Para amenizar o sentimento de luto, costumamos criar repertórios para lidar com o rompimento do vínculo. Logo, sempre tentamos justificar o óbito, mas dependendo do caso, como justificar? Como entender o por quê aquilo aconteceu?

Uma hora os repertórios se tornam inexistentes e dizer “viveu tudo o que tinha pra viver e agora vai descansar em paz” já não se torna mais um consolo. O tipo de morte impacta no luto. De fato, o ser humano não está preparado para enfrentar a transitoriedade da vida. Desse modo, a dor da perda é avassaladora para o emocional das pessoas submetidas a essa experiência.

A subjetividade do luto


Não há como denominar tipos de luto, ele é um processo único e individual. Contudo, pode-se interpretá-lo em níveis, que partem da ideia de aceitação e da intensidade emocional com a qual o momento é vivido.

Sendo assim, não são todas as pessoas que choram compulsivamente e descontroladamente. Dessa maneira, há também pessoas que conseguem manter sua rotina normalmente, porém, isso não significa que elas não estejam no mesmo processo de dor e compreensão. São somente modos distintos de lidar com a perda.

Além disso, existe também também o luto de pré-morte, ou seja, quando alguém passa por um processo irreversível e os familiares e amigos queridos já começam a aceitar a perda antes mesmo dela de fato acontecer.

As 5 fases do luto


Apesar do luto ser um processo individual e que varia de pessoa para pessoa, na maioria das vezes, ele segue uma padronização até sua esperada superação. Diante disso, a psiquiatra Kübler-Ross aponta cinco fases para a elaboração do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Contudo, essas denominações não significam o fim do sofrimento, mas um período em que a pessoa deixa de lutar contra o fato de que a morte aconteceu, o que facilita o enfrentamento.

No entanto, quando falamos em elaboração do luto, nos referimos à vivência da perda e das dificuldades em entrar em contato com as contingências do vazio que a falta causa.

Alguns autores colocam um período de quatro meses até dois anos para a superação de uma perda. Entretanto, o que determina esse processo e a magnitude deste fato é o vínculo que existia com a pessoa que morreu. Dessa forma, alguns estudos classificam o luto em cinco etapas:

  • 1. Negação — Esta primeira fase acontece após o recebimento da notícia. É definida pela negação da realidade e do problema. A longo prazo, a ficha parece ainda não ter caído, desse modo, a pessoa sempre tenta achar algum jeito para relembrar a perda.
Contudo, as pessoas costumam cheirar as roupas usadas do falecido, vestir seus acessórios, passar tempo vendo fotos e vídeos, chorar bastante e sentir desânimo para realizar suas atividades diárias nessa fase. No primeiro momento, é preciso tempo para digerir a situação.

  • 2. Raiva — Os dias passam e a ficha começa a cair. Por que isso aconteceu? Nessa fase, a raiva toma conta da pessoa por considerar uma injustiça a morte de seu ente querido. Logo, buscam um culpado pelo ocorrido – muitas vezes eles mesmos. Será que eu poderia ter feito algo que impedisse a morte? E se ele não tivesse saído de casa naquele dia?
Todavia, os questionamentos só aumentam e parece inacreditável que aquilo tenha acontecido com alguém que você ama tanto. Os pássaros continuam cantando, as pessoas continuam seguindo suas vidas e o sol brilha como sempre. É revoltante pensar que a vida continua mesmo com seu coração devastado.

  • 3. Negociação — A rotina exige que você continue a vida e você decide sair da fossa. Visto isso, na etapa de negociação a pessoa busca uma solução para alterar o que aconteceu. Geralmente, negocia possíveis mudanças e realiza promessas para si mesmo.
Viver para fazer jus ao legado que a pessoa querida deixou, entrar para projetos sociais e realizar desejos que o falecido não pode cumprir são formas de continuar a vida com um propósito e que, são comuns de serem elaboradas nessa fase.

  • 4. Depressão — Mesmo tentando continuar a seguir em frente, o período de depressão surge após a pessoa dar continuidade a sua vida e perceber a falta da pessoa amada. Logo, a dor, a tristeza e cansaço ficam mais fortes.
O indivíduo se isola e sente-se impotente diante da situação. Sendo assim, os dias parecem tristes, e nada faz sentido. Na etapa de depressão, a realidade é enxergada com mais clareza e a morte do ente querido já não parece mais algo irreal.

  • 5. Aceitação — O tempo passa, as informações vão se organizando e aquele processo doloroso vai chegando ao fim. A saudade ainda continua, mas a compreensão faz com que seja possível enxergar novamente a vida com paz e sem a pessoa amada.
Na quinta etapa, a morte é aceita. Diante disso, compreendemos o acontecimento e não mais sentimos raiva, apenas entendemos e seguimos a vida como ela deve ser seguida. Ao lembrar do falecido, ainda dói, mas nosso dia a dia não é mais tomado por aquela profunda angústia de antes.

 

O que é normal de sentir no período de perda?


Falar sobre o luto é importante, então, devemos conhecer também os sentimentos e consequências que podem se aflorar nesse período complicado. Entende-se, por sua vez, que não há como superar a morte de uma maneira fácil e cada pessoa sente a dor de forma diferente.

Algumas pessoas serão marcadas pelo isolamento social, baixa autoestima e pessimismo durante o tempo de luto, enquanto outras poderão percorrer as etapas do luto com impulsividade, hostilidade e agressividade.

De qualquer forma, a dor do luto precisa ser sentida. Um dos cuidados, entretanto, no período de luto é com a utilização de substâncias lícitas (álcool, tabaco) ou ilícitas (drogas tóxicas). A busca da realidade por meio desses agentes pode ser muito prejudicial para a saúde e dificulta a melhora emocional.

De qualquer forma, o processo de luto dá sinais de quando ocorre e devemos prestar atenção neles para procurar ajuda caso os sintomas sejam excessivos e persistentes. No período de luto, após receber a notícia de morte de alguém, é comum:
  • Ter crises de choro, raiva, estresse e ansiedade;
  • Apresentar sintomas de alimentação compulsória ou falta de apetite;
  • Sofrer com insônia;
  • Passar dias melancólicos;
  • Demonstrar sinais depressivos;
  • Apresentar falta de vontade de exercer qualquer atividade, como estudo e trabalho.

Como acabar com a dor do luto?


Primeiramente, é importante destacar que o luto não é um transtorno ou uma doença, ele é um processo natural de aceitação. Portanto, todos aqueles que sofreram perdas de entes queridos estão dentro do período de luto.

Não é necessário, nem indicado, que haja controle emocional por meio de medicamentos e tratamentos mais específicos, pois os sentimentos não devem ser, de forma alguma, contidos, e sim superados e compreendidos.

Desta maneira, o mais indicado para acabar com a dor do luto é um acompanhamento psicológico para que haja uma assimilação melhor dos fatos para que, assim, a dor emocional seja amenizada.

Contudo, aconselha-se o tratamento psiquiátrico somente em casos de reações psíquicas no processo emocional, ou seja, quando o estresse, a insônia e a depressão tomarem o controle da situação e da vida da pessoa.
Dicas para superar o luto

A morte é um tabu, um assunto que se evita, poucos falam e temem. No entanto, não é possível falar com exatidão quanto tempo dura o luto e como superá-lo. Por conta disso, é interessante saber de algum modo dicas sobre como lidar com a morte de alguém próximo.

Afinal, a única certeza que se tem na vida, é que um dia seremos acometidos por esse fenômeno. Nesse sentido, veja a lista de dicas importantes para você saber e praticar:
  • 1. Dê tempo ao tempo — No período de luto, é importante dar chance ao tempo, procurar encarar o luto como sinal de processo e um ciclo que terá fim. Ele poderá durar bastante tempo, por isso, é importante se livrar de cobranças e expectativas.
  • 2. Procure ajuda profissional — Procurar ajuda psicológica é uma maneira excelente de lidar com a dor, porque só assim a pessoa terá oportunidade de falar tudo o que sente e que a incomoda. Por conseguinte, o psicólogo poderá ouvir e aconselhar, respeitando a dor e direcionando o paciente da melhor forma.
  • 3. Não deixe a rotina de lado — Lidar com o luto pode ser complicado, por isso, continue a vida da melhor forma possível, ou seja, vivendo a rotina, mesmo que seja difícil se esforce. No entanto, conseguir continuar a fazer o seus afazeres poderá te ajudar a sair do limbo da angústia constante.
  • 4. Recorde com amor — Tenha sempre em mente boas lembranças, reviva somente as memórias boas e momentos felizes. Leve com carinho a pessoa amada lembre-se o pra que ela viveu, e não o por que morreu, esse é um ótimo exercício de fixação que te ajudará a aceitar a perda de forma mais leve.
  • 5. Faça atividades prazerosas — Reserve mais tempo para descansar, se cuidar e dar uma atenção maior para as coisas que gosta de fazer, momentos de lazer são importantes para aliviar a ansiedade e angústias trazidas pela morte. Atividades prazerosas aumentam o estímulo de hormônios responsáveis pela felicidade!

Como confortar alguém de luto


O luto é um período difícil não só para quem está vivenciando o processo. Logo, as pessoas ao redor também são fortemente impactadas pelos sentimentos de perda do outro, bastam ter um pouco de empatia.

Muitas vezes não sabemos o que dizer, como nos portar ou o que falar para alguém que perdeu algum amigo ou familiar próximo. No entanto, não existe palavra certa ou um remédio especial que vá tirar a dor do outro mas, algumas atitudes podem amenizar, mesmo que temporariamente, o sofrimento. Em contrapartida, para confortar alguém de luto:
  • Preste suas condolências;
  • Diga que está presente para o que acontecer;
  • Pergunte se deseja companhia ou se quer conversar sobre;
  • Dê um abraço bem forte;
  • Além das palavras, demonstre com atitudes dias depois. Faça uma visita, leve um café ou um presente para mostrar que você se importa.

A terapia do luto como auxílio emocional


Mesmo que seja possível, não precisamos lidar com tudo sozinhos. Visto isso, a terapia do luto é uma estratégia de tratamento psíquico utilizada para que o luto seja superado e o ciclo com a pessoa falecida seja encerrado.

Contudo, é importante que o profissional tenha conhecimento em tanatologia e em terapia de luto para que as intervenções terapêuticas cooperem de forma eficaz nas reações frente à vivência da morte.

O psicólogo especialista em terapia do luto permite que as pessoas se sintam amparadas, validadas por seus sentimentos e produz reflexão, elaboração e aceitação do luto.

Conclusão


Ao falar do luto, percebemos que não há muitas diferenças. Em meio a uma corrida constante pela felicidade e soluções milagrosas para o sofrimento, quase não resta espaço para vivenciar o luto. É comum que as pessoas queiram acelerar esse processo para dar fim à angústia e tudo voltar a ficar "bem". 

Porém, é importante compreender que esta vivência é tão imprevisível, quanto necessária. Não existe uma ordem específica para as etapas do luto, assim como não há certo ou errado. 
Cada pessoa experimenta a dor de forma diferente, podendo haver altos e baixos emocionais, momentos de avanço e outros de retrocesso, um processo que pode durar meses ou anos. Por isso, trata-se de uma jornada individual que exige tempo, paciência e apoio.

A importância do sentir


Aceitar os sentimentos desagradáveis resulta em mais benefícios à saúde mental do que evitá-los ou negá-los. Sentir e reconhecer o próprio estado emocional leva ao autoconhecimento e tende, ao longo do tempo, à aceitação e redução do sofrimento, enquanto que a negação perpetua o conflito entre o indivíduo e suas emoções.

No entanto, em uma sociedade imediatista e permeada pela positividade tóxica é comum solucionar e julgar qualquer situação ou comportamento. Neste contexto, ficamos mais angustiados com os momentos de pesar, já que não nos permitimos sentir.

Esquecemos que a solução está em prestar atenção nas nossas emoções, trazendo maior consciência ao momento presente e, dessa forma, ter a oportunidade de experienciar genuinamente os acontecimentos.
O luto é uma travessia por um percurso que precisa ir da dor da perda até a completa ressignificação da pessoa que fica. Em conclusão, compreender esse trajeto implica na necessidade de conhecer e descobrir-se e, com isso, atingir uma nova dimensão enquanto ser humano.
Em tempos de redes sociais, excesso de informações e mensagens instantâneas, precisamos aprender a parar, sentir e observar a nós mesmos, respeitando nossas necessidades, vontades e limites.

[Fonte: Telavita, original por Psicóloga Sonia Pittigliani - CRP 06/14188 (https://www.telavita.com.br/app/psicologia-online/sonia-maria-campos-pittigliani); Pepsic - Periódicos Eletrônicos em Psicologia, original por Andressa Katherine Santos Cavalcanti e Milena Lieto Samczuk — Discentes 5º ano de Formação em Psicologia, Universidade Metodista São Paulo, Tânia Elena Bonfim — Doutora em Psicologia Clínica pelo Instituto Psicologia USP e Docente supervisora do Curso de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, ambos acessados em 13 de abril de 2024]

Ao Deus Todo-Poderoso e Perfeito Criador, toda glória.

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sábado, 30 de março de 2024

"...EIS O CORDEIRO DE DEUS, QUE TIRA O PECADO DO MUNDO..."

"No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29).
Estamos terminando o período de comemoração da Páscoa, do ano de 2024 (este artigo está sendo escrito e postado, especificamente no sábado, dia 30 de março). E, embora nos dias atuais as comemorações dessa data tão importante para o cristianismo, esteja cada vez mais se arrefecendo e perdendo muito do significado que tinha antigamente, acho salutar abordar o tema aqui no blogue Conexão Geral, mesmo não sendo ele um tema inédito (ao final, eu posto os links de outros artigos abordando a Páscoa).

O significado da Páscoa nas diversas religiões


Uma das celebrações religiosas mais marcantes e respeitadas no mundo é a Páscoa, que tem origem na tradição judaico-cristã e em elementos ligados às celebrações do equinócio da primavera, além daqueles que foram sendo incorporados dos povos cristianizados ao longo do tempo.

Quem segue alguma das muitas religiões de origem cristã está finalizando a chamada Semana Santa, a semana que antecede a Páscoa. Este é um ótimo momento para entendermos de que exatamente se trata a data. Qual é o significado deste feriado em que as famílias se reúnem para almoçar (tradicionalmente, algum prato com peixe) e trocar os tais ovos de chocolate (muito embora coelhos e ovos, absolutamente nada terem a ver com qualquer coisa ligada à Páscoa)?
Além disso, a Páscoa é uma das mais antigas celebrações, com data instituída pela Igreja Católica em 325 depois de Cristo, no Concílio de Niceia. Antes disso, as comemorações desse importante período, já ocorriam há centenas de anos entre os judeus.
A Páscoa, entretanto, não é celebrada por muitas religiões, em função do conjunto de dogmas próprios de cada uma. Assim vamos conhecer qual é o significado atribuído a ela por oito das principais religiões do mundo e com impacto no Brasil.

As principais religiões do mundo


Entre as muitas religiões, há várias formas para se relacionar com a espiritualidade e se ligar ao divino. Imagine pensar em todas essas maneiras, considerando a quantidade de povos, por exemplo, da Ásia e da África.

Por isso vamos nos ater às religiões com as quais convivemos e com as quais de alguma forma interagimos. Considerando que o Brasil é uma terra acolhedora, que congrega povos do mundo todo e abraça a liberdade de suas crenças, entenda a seguir como a Páscoa é vista por elas:

  • Judaísmo

A palavra "Páscoa" deriva do hebraico (pessach) e significa passagem. A celebração relembra a libertação do povo hebreu da escravidão imposta pelo Egito há cerca de 3.500 anos. É a primeira das grandes festas, muito comemorada pelos judeus, pois as tradições são mantidas como uma orientação divina aos seus seguidores.

A Páscoa passou a ser celebrada pelo povo judeu como memória da passagem da décima e mais devastadora praga pelo Egito, informada a Moisés por Deus. A praga da morte dos primogênitos resultou na saída dos antepassados hebreus dessa região em direção à Terra Prometida, trajetória descrita no Antigo Testamento da Bíblia, no livro de Êxodo e que teria ocorrido no ano 1445 antes de Cristo.

  • Cristianismo

A palavra "cristianismo" remete a Cristo e representa a religião com o maior número de seguidores no mundo. Tem raízes semelhantes ao judaísmo e entende Jesus Cristo como o Messias ou o próprio Deus. Ao longo da história da Humanidade, o cristianismo sofreu cisões e o surgimento de divisões. Assim sendo, temos o catolicismo romano, a igreja oriental (ou ortodoxa) e o protestantismo.

Embora com atuações diferentes, todas as divisões do cristianismo ideologicamente entendem Jesus Cristo como o Eleito, o Filho de Deus. E a celebração da Páscoa é sobre a ressurreição de Jesus e a salvação da Humanidade, um ponto central da fé cristã. 

  • Catolicismo romano

Foi no Concílio de Niceia que o Imperador Constantino e o Papa Silvestre I consolidaram a doutrina da Igreja Católica e o catolicismo como a religião oficial do Império Romano, que já havia admitido a livre escolha da crença religiosa pelo povo, sem as perseguições e mortes que muitos haviam anteriormente sofrido. 

Foi neste Concílio que se instituiu a Semana Santa entre o Sábado de Aleluia e o Domingo da Ressurreição, que é o Domingo de Páscoa. O termo Páscoa significa passagem, mas, nesse caso, para a vida eterna, passagem esta que Jesus Cristo teria feito quando ascendeu aos céus e se juntou ao Pai.

A Páscoa, para os católicos, é a celebração da ressurreição de Jesus Cristo, depois de ter percorrido a Via Crucis, ter sido humilhado, torturado, crucificado e morto. Ela traz esperança na vida eterna e a crença de que o Filho de Deus aqui esteve para que o ser humano fosse salvo de seus pecados, principalmente porque, à época de sua vida terrena, a conduta humana era dissonante dos preceitos religiosos deixados pelos profetas. A morte de Cristo foi um sacrifício voluntário dEle para salvar a Humanidade de seus pecados e, devido a Ele, o ser humano recebeu uma segunda oportunidade.

A data de celebração da Páscoa é móvel e corresponde ao primeiro domingo da primeira Lua Cheia após o equinócio de primavera no Hemisfério Norte e do equinócio de outono no Hemisfério Sul, entre 22 de março e 25 de abril, de acordo com o calendário gregoriano.

  • Igreja Ortodoxa

Embora a Páscoa, para os ortodoxos, tenha o mesmo significado daquele atribuído pelos católicos romanos quanto à ressurreição de Jesus Cristo, eles festejam a data de forma bem rigorosa, com idas às missas, uso de muito vermelho (considerada por eles a cor da vida) e jejuns seguidos à risca, nos quais não são consumidos defumados, carnes, manteigas e linguiças.

  • Protestantes

Os protestantes se dividem em luteranos, anglicanos, pentecostais e outros. Contudo a Páscoa tem o mesmo significado para todos os cristãos, variando apenas a forma de celebrar. 

De um modo geral, as celebrações são feitas com reflexão e orações. Na sexta-feira da Paixão, acontece um culto especial com apresentações de teatro, música e dança. No domingo de Páscoa há um louvor à ressurreição. Quanto à data a ser comemorada, ela segue basicamente o mesmo calendário da Igreja Católica.
Islamismo

Os muçulmanos acreditam num único Deus, Criador de todas as coisas, a quem atribuem o nome de Alá e recebem os Seus ensinamentos por meio dos profetas, como é o caso de Maomé. Eles enxergam Jesus Cristo como um profeta. 

Para os muçulmanos, Jesus Cristo não morreu após a Última Ceia, mas foi arrebatado, indo para perto de Alá sem ter passado pelo sacrifício da crucificação e lá permanece até o momento de voltar à Terra. Desse ponto de vista, a Páscoa e a semana que a antecede não têm significado especial para eles.

  • Budismo

O budismo é uma religião que surgiu com Buda (Siddhartha Gautama) no norte da Índia, por volta do século V antes de Cristo. Atualmente, ela abrange países como China, Japão, Paquistão, Nepal, Sri Lanka, Afeganistão, Tailândia e outros. No Brasil, há 243.966 praticantes, conforme dados do IBGE no censo de 2010. Os adeptos dessa religião não celebram a Páscoa, que não faz parte de suas doutrinas.
Sikhismo

Embora com cerca de mil adeptos no Brasil, essa é a quinta maior religião do mundo, com aproximadamente 20 milhões de seguidores. Entendida como sincrética entre o hinduísmo, o islamismo e o sufismo (uma das linhas do islamismo), ela concebe Deus como eterno e sem forma e que todos os seres humanos estão separados dEle devido ao egocentrismo, por isso todos permanecem num ciclo de renascimento.

  • Espiritismo

No Brasil, há 123.4 milhões de fiéis ao espiritismo, conforme o censo de 2010 do IBGE. Segundo a doutrina da religião, os espíritas reconhecem em Jesus Cristo um grande Mestre Ascensionado que veio ensinar aos homens os meios para a evolução espiritual. 

Eles respeitam todas as manifestações religiosas, contudo entendem que esse período de Páscoa deve ser destinado à reflexão e à renovação de pensamentos e atitudes, para fazer surgir uma nova pessoa.
Hinduísmo

Embora tenha poucos adeptos da religião no Brasil, ela é a maior entre as politeístas e uma das oito que mais têm seguidores no mundo. As divindades mais importantes são Brahma (que representa a força criadora do universo), Krishna, Ganesha, Vishnu e Shiva.

  • Religião tradicional chinesa

A China é uma nação que tem em suas raízes três grandes bases filosóficas e religiosas: o confucionismo, o taoísmo e o budismo. Outras menores ou vertentes dessas três maiores constituem a chamada religião tradicional chinesa, um conjunto de valores, crenças e práticas espirituais com várias divindades desenvolvido ao longo dos séculos e que valoriza o culto e o respeito aos antepassados. É uma das principais do mundo, com cerca de 454 milhões de seguidores. Nela, a Páscoa não é celebrada.

No Brasil, essa religião não é significativa, embora haja em São Paulo e no Rio de Janeiro dois templos taoístas. Estima-se que a população de chineses e descendentes no país seja de cerca de 200 mil, embora os dados da imigração na Polícia Federal, publicados em 2014, apontem apenas 37.417 chineses, concentrados 80% na região sudeste.

  • Religiões de matriz africana

Os seguidores do candomblé e da umbanda, religiões de matriz africana, não celebram a Páscoa, embora respeitem as tradições relacionadas à Igreja Católica. O período da Quaresma, por exemplo, tem como significado o combate dos orixás ao mal, por isso as atividades nos terreiros são interrompidas. 

No Brasil, segundo dados do IBGE, publicados no censo demográfico de 2010, as duas religiões, juntas, representam 500.219 praticantes, porém abrangem ainda outras religiões menos expressivas.

Entendido as diversidades do significado da Páscoa, nas mais vertentes religiosas, entendamos agora, o verdadeiro significado, de acordo com o que nos ensina a Bíblia Sagrada.

Jesus, o nosso Cordeiro Pascal

A celebração da Páscoa no Antigo Testamento


O cordeiro pascal era o animal que Deus ordenou que os israelitas usassem como sacrifício no Egito na noite em que Deus atingiu os primogênitos de todas as casas (Êxodo 12:29). Essa foi a praga final que Deus lançou contra o faraó, a qual o levou a libertar os israelitas da escravidão (11:1). Depois daquela noite fatídica, Deus instruiu os israelitas a observar a Festa da Páscoa como um memorial permanente (12:14).

Deus instruiu todas as famílias do povo israelita a selecionar um cordeiro de um ano de idade que não tivesse qualquer defeito (12:5; Levítico 22:20,21). O chefe da família devia abater o cordeiro durante o crepúsculo, cuidando para que nenhum dos ossos fosse quebrado, e aplicar um pouco de sangue nas duas ombreiras e na viga superior da porta. O cordeiro deveria ser assado e comido (12:7,8). Deus também deu instruções específicas sobre como os israelitas deviam comer o cordeiro, 
"já prontos para viajar, com as sandálias nos pés e o cajado na mão" (Êx 12:11).
Deus disse que quando visse o sangue do cordeiro na viga de uma casa, Ele "passaria por cima" daquela casa e não permitiria que "o Destruidor" entrasse (12:23). Qualquer lar sem o sangue do cordeiro teria o seu filho primogênito morto naquela noite (12:12,13).

A celebração da Páscoa no Novo Testamento


O Novo Testamento estabelece uma relação entre este cordeiro protótipo da Páscoa e o consumado cordeiro da Páscoa, Jesus Cristo (1 Coríntios 5:7). O profeta João Batista reconheceu Jesus como "o Cordeiro de Deus" (João 1:29), e o apóstolo Pedro liga o cordeiro sem defeito (Êx 12:5) a Cristo, a quem ele chama de "um cordeiro sem defeito e sem mácula" (1 Pedro 1:19). 

Jesus está qualificado para ser chamado de "sem mácula" porque a Sua vida estava completamente livre do pecado (Hebreus 4:15). Em Apocalipse, o apóstolo João vê Jesus como "um Cordeiro que parecia que tinha sido morto" (5:6). Jesus foi crucificado durante o tempo em que a Páscoa foi observada (Marcos 14:12).

A Bíblia diz que os crentes têm simbolicamente aplicado o sangue sacrifical de Cristo em seus corações e, assim, escaparam da morte eterna (Hb 9:12, 14). Assim como o sangue aplicado do cordeiro pascal fez com que o "Destruidor" passasse por cima de cada casa, o sangue aplicado de Cristo faz com que o julgamento de Deus passe sobre os pecadores e dê vida aos crentes (Romanos 6:23).
Assim como a primeira Páscoa marcou a libertação dos hebreus da escravidão egípcia, a morte de Cristo marca a nossa libertação da escravidão do pecado (8:2). 
Assim como a primeira Páscoa devia ser realizada em memória como uma festa anual, os cristãos devem relembrar a morte do Senhor através da comunhão do Senhor até que Ele volte (1 Co 11:26).
O cordeiro pascal do Antigo Testamento, embora fosse uma realidade naquele tempo, era um mero prenúncio do melhor e definitivo cordeiro pascal, Jesus Cristo. Através de Sua vida sem pecado e morte sacrificial, Jesus Se tornou o único capaz de dar às pessoas uma maneira de escapar da morte e uma esperança segura da vida eterna (1 Pe 1:20,21).

Assim, em síntese, o Novo Testamento estabelece uma relação entre este cordeiro protótipo da Páscoa e o consumado cordeiro da Páscoa, Jesus Cristo (1 Co 5:7). O profeta João Batista reconheceu Jesus como "o Cordeiro de Deus" (Jo 1:29), e o apóstolo Pedro liga o cordeiro sem defeito (Êx 12:5) a Cristo, a quem ele chama de "um cordeiro sem defeito e sem mácula" (1 Pe 1:19). 

Jesus está qualificado para ser chamado de "sem mácula" porque a Sua vida estava completamente livre do pecado (Hb 4:15). Em Apocalipse, o apóstolo João vê Jesus como "um Cordeiro que parecia que tinha sido morto" (Apocalipse 5:6). Jesus foi crucificado durante o tempo em que a Páscoa foi observada (Marcos 14:12).

Conclusão


Em Êxodo 12:3 diz: 
"Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: aos dez deste mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas de seus pais, um cordeiro para cada família."
Este é um perfeito retrato de nosso Senhor Jesus em sua humilhação. Ele, que é o Deus Todo-Poderoso e eterno, tornou-se um cordeiro, o Cordeiro de Deus, que nos redimiu com seu sangue. - "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo." Ao longo da Bíblia, nosso Salvador nos é apresentado sob a figura de um cordeiro.
• No sacrifício de Abel vemos o cordeiro (Gênesis 4:4). 
• na vida de Isaque 
"Deus proverá para si um cordeiro" (Gn 22:8). 
• Na profecia de Isaías 
"Trazido como um cordeiro ao matadouro" (Isaías 53:7). 
• Nas epístolas de Pedro diz que fomos: 
"Comprado com o sangue do Cordeiro" (1 Pd 1:18-20). 
• E por fim na visão de João no livro de Apocalipse: 
"Digno é o Cordeiro" (Ap 5:12).
O nosso Senhor Jesus Cristo foi separado no conselho e decreto de Deus como o Cordeiro que foi morto antes da fundação do mundo (13:8).

Ele é o Cordeiro escolhido do rebanho (Salmo 89:19). Quatro dias antes de ser crucificado, ele entrou em Jerusalém, e foi separado dos homens. Após ser examinado ele foi encontrado por todos como um cordeiro sem defeito algum! 

Assim como os filhos de Israel colocaram o sangue nos umbrais das portas para a salvação de todos na casa, hoje o nosso Pai celestial, pelo poder e graça do seu Espírito Santo, aplica o sangue de Cristo aos nossos corações para nos salvar de Satanás, do mundo, do pecado, do ego e da carne. O sangue de Cristo é a nossa completa libertação (Hb 9:14;10:22).

Para finalizar, vimos que a Páscoa tem significados religiosos profundos, de épocas milenares, que permanecem vivos nas tradições de celebração da data. Diferentemente das religiões politeístas e com divindades muito específicas, Jesus Cristo é respeitado como um grande líder influenciador no aperfeiçoamento do espírito humano e na conexão do humano com o divino.

Renovação, renascimento, amor ao próximo, caridade, união familiar e fé são alguns temas centrais com os quais devemos ter contato rotineiramente, especialmente nesse período. Assim, mantenha a ligação com o que te faz evoluir espiritualmente nesse mosaico que se chama Humanidade!
Cristo é o nosso Cordeiro pascal. Para ele apontaram os patriarcas e profetas. Ele foi a esperança dos nossos pais e o conteúdo da pregação dos apóstolos. Cristo é o Cordeiro imaculado de Deus, o Pão vivo que desceu do céu. Ele é a verdadeira páscoa, a nossa páscoa!
A morte de Cristo na cruz foi a maior missão resgate do mundo. Deus nos redimiu não mediante ouro e prata (metais nobres) nem mesmo pela mais valorizada moeda corrente. Ele resgatou-nos pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro sem defeito e sem mácula. 

Deus deu tudo para resgatar-nos. Deu seu Filho. Deu a si mesmo. Deus, porém, pagou o mais alto preço, o preço de sangue, o sangue do seu Filho. Portanto, você tem um alto valor para Deus. Ele investiu tudo para ter você para ele, a fim de que você se deleite nele.
"O Cordeiro veio sentado em um jumentinho, que tomará emprestado, mas em breve, o Leão retornará assentado em seu cavalo branco"  (Saullo Stan).
Escrevi mais sobre este tema nos seguintes artigos (por ordem de postagens):
[Fonte: Eu Sem Fronteiras, texto original, não creditado (acessado em 30/03/2024); parte do texto desse artigo, foi adaptado do original "Cordeiro Pascal", escrito por Israel Reis]

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domingo, 24 de março de 2024

DIRETO AO PONTO — SOMOS TODOS IGUAIS! (OU NÃO?)

  • Para uma maior compreensão do contexto bíblico, leia: Tiago 2:1-13.
O mundo inteiro ficou em polvorosa com a divulgação oficial da notícia de que a Princesa de Gales, Kate Middleton, está com câncer.

A atitude das pessoas em relação a essa triste notícia é assaz estranha. A maioria está agindo como se ela fizesse parte de uma casta superior de humano, imune à iminente possibilidade de vir a ser vítima das intempéries comuns a todos os demais da mesma espécie.

É como se a Família Real Britânica, não estivesse submissa aos dissabores que são inerentes a todos os seres humanos, como uma consequência das vulnerabilidades e fragilidades humanas.

Com todo o alvoroço em torno dessa notícia sobre o câncer que a herdeira real britânica está enfrentando, me veio a pergunta: 
somos mesmo todos iguais?
E nesse contexto social, onde há tanto clamor pela diversidade, a resposta a essa pergunta não é tão fácil ou simples, com apenas um "sim" ou um "não".

Iguais, porém, diversos


O que faz de você a pessoa que você é? Somos todos diferentes e especiais em muitos aspectos, mas saber disso e entender que a situação é a mesma, mesmo para a pessoa que você passa andando pela rua é o mínimo que devemos esperar em uma sociedade civil.
Todos nós merecemos ser tratados de forma justa, com isso podemos concordar.
É em nossa diversidade que encontramos uma base comum para sermos tratados igualmente. 

A igualdade deve ser sobre todos nós orgulhosamente mostrarmos nossas diferenças e sermos tratados de forma justa e aceitarmos essas diferenças com decência e respeito. 

Devemos apoiar uns aos outros e incluir todos os tipos de pessoas na tomada de decisões no dia a dia, especialmente, porém não especificamente, em nossas vidas profissionais.

O que é igualdade e diversidade?


Igualdade é garantir que todos tenham oportunidades iguais, tratados sem preconceitos ou discriminados por causa de quem são. Diversidade é compreender essas diferenças entre pessoas e grupos de pessoas e valorizar positivamente essas diferenças.

E o que nos diz a Bíblia?


Entendido o conceito de igualdade e diversidade no contexto social, vejamos agora o que nos ensina a Bíblia sobre este intrigante e confrontador tema.

São inúmeros os casos em que as pessoas são tratadas por suas aparências. Muitas pessoas por causa da sua simplicidade não são tratadas com a devida atenção. 

Vemos isso nos noticiários, no comércio e em muitos outros lugares também —
inclusive nas comunidades eclesiásticas.
Embora seja comum vermos isso acontecendo no mundo, não podemos considerar normal este comportamento por aqueles que professam sua fé em Jesus.

O capítulo 2 da carta de Tiago é um apelo eloquente à fé da igreja. Embora Lutero (✩1483/✞1546) tenha chamado esta carta de "Carta de palha" ela ainda é um alimento forte para nossa espiritualidade. 

Se Paulo afirmou que a causa da salvação é a fé, Tiago vai dizer que a evidência da salvação é boa obra. Deus pode ver a nossa fé, mas os homens só podem ver as nossas obras, e a boa obra que esta passagem nos ensina é a imparcialidade, tratar todas as pessoas com a mesma dignidade.
Quem trata as pessoas pela aparência é condenado pela Lei de Deus (8-13)!
A Lei nos ensina a amar ao próximo como amamos a nós mesmos. Se não amamos, antes tratamos as pessoas com diferenças, estamos quebrando os mandamentos. Se quebramos a Lei de Deus seremos considerados culpados por ela, e uma vez culpados seremos condenados. Deus não terá misericórdia de quem não tiver misericórdia.

A questão não é quem é o meu próximo, a grande questão é de quem eu serei próximo. Não podemos separar o relacionamento humano da comunhão divina. A verdadeira fé é conhecida pelo relacionamento imparcial com as pessoas.

E a equidade?


Entendido os conceitos sobre igualdade e diversidade, é salutar que, dentro do mesmo contexto, compreendamos o significado da equidade. Sim, pois quando se fala em igualdade e desigualdade, é essencial tratar desse conceito de enorme importância.

Ou seja, o reconhecimento de que as pessoas são naturalmente diferentes, portanto, cada uma merece tratamento específico de acordo com as suas particularidades.Para isso, vejamos o que nos diz a Constituição Brasileira de 1988:
"[...] todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]" (Art. 5º).
Essa é uma das disposições trazidas pela Constituição Federal, documento legal de maior valor na sociedade brasileira. Mas pode ser que, ao ler essa passagem, você questione a sua veracidade prática, considerando que no dia a dia, é possível enxergar e vivenciar diversas circunstâncias julgadas como desiguais.

E quando se fala em igualdade e desigualdade, é essencial tratar de um conceito de enorme importância: a equidade, ou seja, o reconhecimento de que as pessoas são naturalmente diferentes, portanto, cada uma merece tratamento específico de acordo com as suas particularidades.

O principal foco da equidade é diminuir a desigualdade, por meio de uma perspectiva que interpreta os contextos e propicia o respeito à diversidade, abrindo espaço para a inclusão. Isso porque, muitas das vezes, agir similarmente com pessoas e em conjunturas diferentes, pode reproduzir desiquilíbrios e injustiças.

Assim, tratar dos conceitos de igualdade e equidade é, na verdade, discutir sobre o princípio da justiça. A diferença entre os termos pode ser sutil, entretanto, juntos, constituem os pilares de uma sociedade justa e democrática. 

A discussão remonta a Grécia Antiga, Platão (e Aristóteles, em seus escritos sobre ética, política, moral e justiça, trataram da relevância da equidade para o bem e a felicidade perfeita da polis. 

Partindo da crítica à teoria platônica das formas ou ideias, Aristóteles abriu um novo horizonte para a filosofia ocidental e, dentro do seu legado encontramos a concepção aristotélica de equidade. 

O conceito de equidade considera as diferenças como elemento essencial para a eficácia da igualdade. A concepção da equidade passa a ser a justiça aplicada no caso particular, ou seja, a justiça contextualizado e individualizada.

Considerações contextuais


Tratar todas as pessoas com dignidade é seguir o exemplo do próprio Deus e agir com justiça. Jesus nunca descriminou alguém por nenhum motivo. Ricos e pobres, religiosos e pecadores, judeus e gentios, todos tinham livre acesso à Ele. Ele sempre se aproximava das pessoas oferecendo sua mão amiga.

Como discípulos de Jesus devemos tratar com todo respeito, atenção e dignidade as pessoas por sua natureza humana, por sermos iguais, por não sabermos o que será o amanhã, e para fazer a vontade do Pai. No trabalho, na rua, no laser, e também na igreja deve-se cultivar a melhor das estimas.

A carta aos hebreus recomenda por fim que a todos devemos receber bem, pois alguns hospedaram anjos sem ter consciência disso:
"Continuem a amar uns aos outros como irmãos em Cristo. Não deixem de receber bem aqueles que vêm à casa de vocês; pois alguns que foram hospitaleiros receberam anjos, sem saber" (Hebreus 13:1,2).
A hospitalidade foi e continuará sendo a principal característica do evangelho, pois o modo como recebemos as pessoas demonstra o quanto amamos a Deus.

Conclusão


Igualdade é garantir que todos tenham oportunidades iguais, tratados sem preconceitos ou discriminados por causa de quem são. Diversidade é compreender essas diferenças entre pessoas e grupos de pessoas e valorizar positivamente essas diferenças.

Diversidade é, portanto, sobre direitos humanos, e entender que não importa quais sejam nossas diferenças, devemos valorizá-los. Isso exige que todos joguem pelas mesmas regras para reconhecer nossas diferenças e defendê-las também. Nunca devemos ser discriminados por causa dessas diferenças.

A equidade é um atributo divino que revela o caráter justo de Deus. A Bíblia nos apresenta um Deus imparcial, que trata a todos com equidade, sem fazer acepção de pessoas. Esse modelo divino nos inspira a agir da mesma forma, buscando tratar a todos com justiça, compaixão e cuidado.

Somos um povo que pertence a Deus e uns aos outros — e Deus deseja que isso seja verdade para todas as pessoas, em todos os lugares. A boa nova é que Deus nos convida a participar desse esforço para que aqueles que nos cercam possam experimentar essa verdade e descobrir que eles também pertencem ao seu reino.


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terça-feira, 12 de março de 2024

OS "HERÓIS DESCONHECIDOS" DA BÍBLIA — EPAFRODITO

Em mais um capítulo da minha série especial de artigos, "Os 'Heróis Desconhecidos' da Bíblia", vou tratar de um personagem esquecido, de quem talvez você nunca tenha ouvido nada. 

Paulo, no capítulo 2 da carta aos Filipenses, mostra-nos que o próprio Pai exaltou a Cristo sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo o nome (2:9-11). Se a ênfase do capítulo 1 de Filipenses é Cristo primeiro, a ênfase do capítulo 2 é o outro na frente do eu. 

Neste capítulo, Paulo dá quatro exemplos de abnegação. Ele menciona o exemplo de Cristo (2:5-11), o seu próprio exemplo (2:17,18), o de Timóteo (2:19-24) e o de Epafrodito (2:25-30). Aqui, portanto, tratarei de Epafrodito cujo significado é: "gracioso", "amável" e "generoso".

O contexto de Filipenses

Para entendermos a importância de Epafrodito no ministério de Paulo, é imprescindível que compreendamos o contexto no qual ele escreveu a epístola à igreja de Cristo reunido em Filipos.
A carta de Paulo aos Filipenses é uma das mais belas desse apóstolo. Esta epístola está repleta de ternura, gratidão e afeição.

Filipenses nos apresenta um diário íntimo das próprias experiências do apóstolo. Ela foi escrita em circunstâncias difíceis, enquanto o grande defensor da fé era prisioneiro.

A nota dominante em toda a carta é a alegria triunfante. Paulo, embora fosse um prisioneiro, era muito feliz e incentivava seus leitores para sempre se regozijarem em Cristo. A alegria apresentada em Filipenses envolve uma ardente expectativa da iminente volta de Jesus. Isso pode ser observado quando ele faz cinco referências à volta de Cristo, e em cada referência há uma nota de alegria (1:6,10; 2:16; 3:20; 4:5).

Quando Paulo escreveu esta carta, ele tinha dois propósitos: agradecer à igreja de Filipos por sua generosidade. Essa é uma carta de gratidão pelo envolvimento desta igreja com o veterano apóstolo em suas necessidades. Essa igreja foi a única que se associou a Paulo desde o início do seu ministério para sustentá-lo (4:15). 

Enquanto Paulo esteve em Tessalônica, eles enviaram sustento para ele duas vezes (4:16). Em Corinto, a igreja de Filipos o socorreu financeiramente (2 Coríntios 11:8,9). Quando Paulo foi para Jerusalém depois de sua terceira viagem missionária, a igreja levantou ofertas generosas e sacrificiais para atender aos pobres da Judeia (2 Co 8:1-5). 

E quando Paulo esteve preso em Roma, a igreja de Filipos enviou Epafrodito com donativos para prestar-lhe assistência na prisão (Fp 4:18). E o segundo propósito desta carta era alertar a igreja de Filipos acerca de sérios problemas: um interno e outro externo.

Nada é tão novo, nada é tão velho...


Um deles era a quebra da comunhão. A desunião dos crentes era um pecado que atacava o coração da igreja. Esta era uma arma destruidora que estava roubando a sua eficácia diante do mundo. A igreja filipense sofria com problemas de presunção (Fp 2:3), que induziam ao egoísmo (2:4), quebrando a koinonia, o espírito de boa vontade para com a comunidade.
(Estão vendo como nada é tão novo e nem tão velho?)
Isso gerava pequenas disputas (4:2) e espírito de reclamação (2:14). Havia um espírito individualista e elitista em alguns membros da igreja de Filipos que colocava em risco a harmonia na igreja. Até mesmo duas irmãs estavam em desacordo dentro dela (4:2). 

O segundo problema era a heresia doutrinária. A igreja estava sob ataque também do perigo dos falsos mestres (3:2). O judaísmo e o perfeccionismo investiam contra a igreja. Paulo os chama de adversários (1:28), inimigos da cruz de Cristo (3:17).
É nesse cenário controverso que se destaca a figura singular do nosso "herói desconhecido", o irmão Epafrodito, tão incomum quanto o seu nome.
Esse valoroso obreiro é citado na carta aos Filipenses apenas neste trecho (2:25-30) e em 4:18, mas isso já é suficiente para compreendermos seu profundo amor por Jesus e pela Igreja. 

Quem foi Epafrodito?


A vida de Epafrodito refletia seu nome. Ele era um homem pronto a servir, mesmo correndo grandes riscos. Ele foi o portador da oferta da igreja de Filipos a Paulo e o portador da carta deste àquela igreja. 

Epafrodito viajou de Filipos a Roma para levar uma oferta da igreja ao apóstolo (2:30; 4:18) e também assistir o apóstolo na prisão (2:25). Paulo o chama de irmão, cooperador e companheiro nos combates. Epafrodito era um com Paulo em afeto, em atividade e em perigo.

Paulo diz que Epafrodito era um irmão (2:25). Se estamos em Cristo, há um elo de amor fraternal que nos une uns aos outros. Quanta desunião há no meio do povo de Deus. Quantas divisões e contendas, brigas por poder, discussões tolas, reuniões que, em vez de aproximarem os irmãos, acabam por afastá-los da comunhão com Cristo e a igreja.

Paulo diz que Epafrodito era um irmão. Mas ele era também um cooperador  (2:25). Ele era um trabalhador na obra de Cristo e um cooperador de Paulo. A palavra grega que Paulo usa aqui é synergos, denotando que Paulo e Epafrodito estão no mesmo serviço do Reino de Deus. Onde estão os cooperadores do Reino de Deus? Onde estão os "Epafroditos"?

Ele era também um companheiro nos combates. Warren Wiersbe, erudito em teologia, conhecido como o "pastor dos pastores" (✩1929/✞2019) disse: 
"A vida cristã não é uma colônia de férias, mas um campo de batalha".
Epafrodito estava no meio desse campo de batalhas com o apóstolo Paulo. A ideia do original é que eles são "companheiros no conflito"  na guerra contra o mal. Não lutamos contra pessoas. Nossa guerra é contra Satanás, o príncipe deste mundo.

Epafrodito e Paulo


Epafrodito chegou a Roma durante a prisão anterior de Paulo com um "presente" substancial (presumivelmente em dinheiro) dos cristãos filipenses ao apóstolo, de cujo empobrecimento eles tinham ouvido falar. Depois de cumprir sua comissão e fortalecer, por meio de sua personalidade calorosa e afetuosa, o vínculo de comunhão entre o apóstolo e seus "amados" filipenses convertidos, Epafrodito permaneceu em Roma em parte para prestar serviço pessoal a Paulo, como representante dos devotos filipenses, e em parte para participar na "obra de Cristo" como colega do Apóstolo no ministério missionário. 

Paulo encontrava-se muito doente. Ele não apenas adoeceu, mas adoeceu para morrer. Sua enfermidade foi algo gravíssimo. Ser cristão não é viver em uma redoma de vidro blindada em que nada nos atingirá. Muitos irmãos nossos partiram cancerosos, cegos, surdos; e isto não os tornou derrotados. Pelo contrário, mesmo em meio à mais alta dor e sofrimento, continuaram servindo ao Senhor!

Enquanto isso, os filipenses ouviram falar da doença de seu enviado e, aos poucos, sua ansiedade tornou-se conhecida em Roma. Em parte para aliviar essa preocupação e satisfazer o "anseio" de Epafrodito; em parte para transmitir o reconhecimento agradecido do apóstolo pelo presente recente; também em parte, podemos presumir (embora com delicada consideração esta razão não seja expressamente declarada), para que a saúde do enfermo seja totalmente restaurada através de um descanso completo, como ele não teria em Roma, o Apóstolo o envia de volta a Filipos com uma testemunho cordial de seu trabalho zeloso e serviço cortês. Depois disso, Epafrodito desaparece da história do Novo Testamento, deixando atrás de si a memória fragrante de devoção abnegada e esquecida de si mesmo à pessoa de Paulo e à causa de Cristo.

O que aprendemos com Epafrodito?


Ao nos debruçar na carta do apóstolo Paulo aos Filipenses, podemos o ver dizer que Epafrodito era seu cooperador e companheiro. Cooperador é aquela pessoa que serve onde for necessário, que está sempre disponível. Que trabalha sem que haja necessidade de "holofotes", de algum benefício próprio. A alegria do cooperador é ver as coisas acontecerem. E o Apóstolo Paulo afirma que assim era Epafrodito.
"Julguei, todavia, necessário mandar até vós a Epafrodito, por um lado meu irmão, cooperador e companheiro; e, amigo de lutas; […]" (Filipenses 2:25).
Analisando o versículo, vemos Paulo destacar importantes características a respeito de Epafrodito.

Ao observarmos o contexto da carta, é esclarecido que o apóstolo Paulo estava preso e necessitava de alguns recursos na prisão em Roma. Os irmãos têm conhecimento disso , e lembrando do seu líder, pensam e dispõem-se a levantar recursos. 

Mas quem faria com que chegasse a Paulo? Quem viajaria e o encontraria em Roma? Quem prestaria esse socorro? Epafrodito voluntariamente se dispõe. Segue viagem, adoece gravemente, chegando quase a morte, todavia não deixa de cumprir sua missão, seu coração leal e amável não considerava sua vida por preciosa, mas se arriscava em prol do Reino.
"[…] visto que, por causa da obra de Cristo, chegou ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, para suprir a vossa carência de socorro para comigo" (Fp 2:30 / ARA).
Ah, meu Deus! Que homem admirável! Que atitude grandiosa! Epafrodito não considerou sua vida por preciosa, mas buscou auxiliar, honrar a vida do seu líder, por amor a Cristo!!

Como precisamos de Epafroditos nos dias de hoje! Que em nossas igrejas, se levantem os Epafroditos. Verdadeiros cooperadores. Ministros de socorros genuínos. Pessoas leais, que andam em amor Ágape, o tipo de amor sacrificial que não busca os próprios interesses (1 Coríntios 13:5).

Homens e mulheres compromissados com a Causa de Cristo. Que se doam por amor! Com corações devotos. Gente que não considera sua vida por preciosa, como fazia o apóstolo Paulo e tantos outros… gente que não busca os interesses desse mundo, e até mesmo os próprios, dantes dão a primazia ao Evangelho de Cristo. Gente que serve, que socorre. Gente que é mão que levanta, que sustenta, que faz o Reino avançar!

Precisamos de pessoas com a mentalidade e a atitude de Epafrodito: de honra, de serviço, de doação, de humilde, voluntariedade e amabilidade. E existe uma boa notícia a quem cultiva e desenvolve isso. A boa notícia é que se você pensa e age como esse homem de Deus, como Epafrodito,tão doador, disponível a servir, entregue, e cheio de amor e honra ao Senhor, colherá honra!! Pois como disse o admirável apóstolo Paulo:
"[…] honrai sempre a homens como esse!" (2:29).

Conclusão


Este cooperador de Paulo foi um homem de qualidades superlativas. Ele chegou a ponto de dispor a sua vida pela obra de Cristo (2:30). A viagem de Filipos a Roma era uma jornada longa e árdua, de mais de mil quilômetros.

Associar-se a um homem acusado, preso e na iminência de ser condenado, constituía para Epafrodito um risco sério. Entretanto, ele se dispôs a enfrentar todas essas dificuldades pela obra de Cristo e em favor da assistência material e espiritual a Paulo na prisão.

A palavra grega que Paulo usa no versículo 30 de Filipenses 2 para: se dispôs a dar a própria vida (ARA) é paraboleusamenos. Essa palavra se aplica ao jogador que arrisca, que aposta tudo em um lance de dados. Que se levantem os Epafroditos nessa geração!

[Fonte: Verbo da Vida, texto original por Janiklessya Oliveira (acessado em 11/03/2024); Apologeta, texto original por Luan Lessa (acessado em 11/03/2024). Cristão Alerta, texto original acessado em 11/03/2024.]

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