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terça-feira, 31 de outubro de 2017

A REFORMA PROTESTANTE E SEU LEGADO PARA A HUMANIDADE


No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero fixou nas portas da Igreja de Wittenberg, na Alemanha, as 95 teses contra a venda de indulgências. A data marca o início da Reforma Protestante e de um novo momento na história da humanidade.

Nesta terça-feira (31) a Reforma Protestante completou 500 anos, cinco séculos que marcaram a história do mundo ocidental não apenas pela divisão da Igreja Católica, mas por diversos benefícios que o protesto de Martinho Lutero trouxe para a sociedade em geral. 


Os benefícios da Reforma


Uma das maiores mudanças foi a contribuição da Reforma para a Educação, que até então era oferecida apenas pela Igreja Católica, mas com a Reforma, passou a ser oferecida pelos municípios, províncias e estados. 
  • Escola pública
Por isso é possível afirmar que foi pela Reforma Protestante que se criou a educação pública e totalmente gratuita. Tudo isso pela publicação de 1524 de Martinho Lutero com o nome de "Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha, para que criem e mantenham escolas cristãs". 
  • Estado laico
Outro grande benefício que a Reforma Protestante trouxe para a sociedade foi a separação entre a Igreja e o Estado. Naquela época, o Papa tinha poder superior aos chefes de Estado, até que o protesto de Lutero – e outros que se espalharam pela Europa – fizeram com que os Estados buscassem a separação com a Igreja Católica. 
  • Liberdade de Expressão
Outro benefício vindo com a Reforma Protestante é a liberdade de expressão, vinda depois da separação entre a Igreja e o Estado, por conta do ensinamento de que o cristão tem sua consciência cativa somente a Deus. 
  • Acesso à Bíblia
O acesso à Bíblia, e consequentemente a outros livros, também foi uma grande conquista da sociedade ocidental, pois Lutero foi utilizou a imprensa inventada pelo alemão Johannes Gutenberg para imprimir a versão da Bíblia em Alemão.
"Nenhum aspecto da vida humana ficou intacto, pois abrangeu transformações políticas, econômicas, religiosas, morais, filosóficas, literárias e nas instituições. Foi, de fato, uma revolta e uma reconstrução do norte",
afirma o escritor Eby Frederick, autor do livro "História da Educação Moderna" (1962, Editora Globo, 633pg.).


Os benefícios da Reforma na Educação


Na educação, os impactos foram determinantes. Na Idade Média, a igreja era a única responsável pela organização e manutenção da educação escolar. A partir do século 16, surgiram as nações-estados, que se opuseram ao poderio universal do papa e formou-se a classe média.

O historiador e professor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, Rev. José Carlos de Souza, explica que o comércio, a atividade pública e as próprias igrejas, entre muitos outros setores, possuíam demandas que requeriam cuidadoso preparo. Toda mudança social traz novos desafios.
"Certamente, por essa razão, Lutero sentiu-se impelido para falar e se pronunciou de modo enfático sobre a necessidade das autoridades civis investirem na educação", 
avalia o professor.

Neste contexto, os movimentos da Renascença e da Reforma são precursores de profundas mudanças na concepção de ensino. 
"A educação começa a visar de modo claro e definido à formação integral do homem, o seu desenvolvimento intelectual, moral e físico", 
conta o professor Ruy Afonso da Costa Nunes. 

Cidadania


Martinho Lutero também estimula a criação de escolas para toda a população. Houve forte ênfase ao ensino para suprir as demandas da recém chegada sociedade moderna, com dimensões geográficas, políticas, econômicas, intelectuais e religiosas em transformação. 

A contribuição da Reforma no contexto educacional é tamanha que, de acordo com o educador espanhol Lorenzo Luzuriaga, a educação pública teve origem nesta época. O movimento já estimulava a educação pública, universal e gratuita, para quem não poderia custeá-la.
"A educação pública, isto é, a educação criada, organizada e mantida pelas autoridades oficiais – municípios, províncias, estados – começa com o movimento da Reforma religiosa", 
afirma Luzuriaga.

Em "Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha", para que criem e mantenham escolas cristãs, publicado em 1524, Martinho Lutero desafia a sociedade a promover uma educação integral.
"Lutero queria todos os cidadãos bem preparados, para todas as tarefas na sociedade. Propôs uma escola cristã que visasse não uma abstração intelectual, mas a uma educação voltada para o dia-a-dia da vida",
explica o professor Alvori Ahlert.

O pastor luterano Walter Altmann comenta a referência de Lutero para o desenvolvimento da educação. 
"Rompeu com o ensino repressivo, introduzindo o lúdico na aprendizagem. Amarrou o estudo das disciplinas a um aprendizado prático. Também lutou por boas bibliotecas, dentro de sua ótica cristocêntrica", 
revela Altmann no livro "Lutero e a Libertação" (1994, Editora Sinodal, 423 pg.).
"Pela graça de Deus, está tudo preparado para que as crianças possam estudar línguas, outras disciplinas e história, com prazer e brincando. As escolas já não são mais o inferno e o purgatório de nosso tempo, quando éramos torturados com declinações e conjugações. Não aprendemos simplesmente nada por causa de tantas palmadas, medo, pavor e sofrimento", 
escreveu Martinho Lutero.

A aprendizagem construiria cidadãos capacitados, honestos e responsáveis. Era exatamente esta a necessidade do novo modelo de sociedade que surgia na época. De acordo com o pesquisador Evaldo Luis Pauly a rápida divulgação de ideias e concepções por meio da imprensa descoberta por Gutemberg, também contribuiu para que as iniciativas de estímulo educacional crescessem.

Universidades


As mudanças e ênfases da Reforma estimularam o surgimento das instituições de ensino.

"A história das universidades nos estados alemães durante os séculos 16 e 17 foi determinada pelo progresso da religião e é quase idêntica a do desenvolvimento da teologia protestante",
declara Paul Monroe no livro "História da Educação" (1985, Editora Nacional, 387 pg.).

O historiador Nestor Beck diz que a Universidade de Wittenberg atraiu um número crescente de novos alunos, pela fama que passou a ter, entre os anos de 1517 a 1520. A Reforma Protestante deixou a concepção de que a ignorância é o grande mal para a verdadeira religião, por isso, superá-la é uma responsabilidade de todos.
"O melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados",
dizia Martinho Lutero.

Expansão


O pensamento e o movimento protestante logo expandiram. A América do Norte, por exemplo, contou com a colonização de vários grupos protestantes, na chamada segunda reforma. O antropólogo e escritor Darcy Ribeiro afirma, no livro Universidade Necessária, que nos Estados Unidos o ensino superior "cresceu mais livre, democrático e fecundo".

As igrejas cristãs prevalecem no cenário educacional norte-americano no século 17 e início do 18. O professor Almiro Schulz explica que após a independência dos Estados Unidos em 1776 e a separação entre igreja e estado, houve uma ênfase ao ensino superior público, secularizado e sob controle do estado.
"A igreja reagiu por meio da educação. As confissões, principalmente presbiteriana, batista, congregacional, metodista se lançaram no ensino superior", 
conta o professor Schulz.


Reconhecimento do Papa


Em 31 de março, ao participar de um congresso no Vaticano sobre os 500 anos da Reforma Protestante, o papa Francisco disse que é preciso reconhecer os aspectos positivos do movimento iniciado pelo monge alemão Martinho Lutero. 

O evento que foi organizado pelo Comitê Pontifício das Ciências Históricas, cinco meses após uma visita do líder da Igreja Católica à Suécia, onde culpou os "poderosos" pela divisão de meio milênio entre os cristãos. 
"O estudo atento e rigoroso, livre de preconceitos e polêmicas ideológicas, permite às igrejas, hoje em diálogo, discernir e assumir o quanto de positivo e legítimo houve na Reforma e tomar distância de erros, exageros e fracassos, reconhecendo os pecados que levaram à divisão",
afirmou o Papa na ocasião, para um público de aproximadamente 150 pessoas. 

Segundo o Pontífice, "aprofundamentos sérios" sobre a figura de Lutero e suas críticas contribuem para 
"superar aquele clima de desconfiança mútua e rivalidade que por tanto tempo caracterizou o relacionamento entre católicos e protestantes". 

Além disso, Francisco destacou o ineditismo de um congresso que reúne as duas vertentes por iniciativa da Santa Sé. 
"Todos sabemos bem que o passado não pode ser alterado. No entanto, hoje, após 50 anos de diálogo ecumênico entre católicos e protestantes, é possível realizar uma purificação da memória, sem traços daquele rancor pelas feridas sofridas que deforma a visão que temos uns dos outros", 
acrescentou. 

Os 500 anos da Reforma Protestante, comemorados em 2017, marcam a primeira vez que a Igreja Católica participa oficialmente das celebrações de aniversário da revolução de Martinho Lutero. A reaproximação faz parte de um amplo movimento de Francisco em defesa da união entre os cristãos, principalmente por conta das perseguições por parte do jihadismo islâmico na África e no Oriente Médio. 

Conclusão


Os fundamentos da igualdade e liberdade são evolução da tese luterana de que não existe diferença entre leigo e clérigo, de que todos são iguais perante Deus. Todos os Pais da Reforma insistiram no conceito dos diretos e responsabilidades do indivíduo em interpretar as Escrituras segundo sua consciência e orações. As mudanças se seguiram para o estado de direito e o capitalismo e, bem ou mal, foram um fundamento para a economia moderna.

A elevação do status da mulher, a dignidade do ser humano e a libertação dos escravos foram algumas das ações diretas da evolução dos princípios que a Reforma Protestante trouxe ao mundo. Reformadores e missionários pós-Reforma conseguiram realizar a abolição de escravos, do tráfico e da prostituição, a queima de hereges e genocídios de deficientes físicos e sacrifícios de crianças, lutas que persistem até hoje. 

Embora ainda aja pouco reconhecimento pela sociedade pós-moderna acerca da raiz de seus direitos e valores desfrutados na atualidade, em especial para o pensamento, leis e sociedade civil, o legado aí está. Breve leitura histórica apontará para esta grande luz que veio sobre a humanidade. Portanto, salve 31/10/2017! Celebremos os 500 anos da Reforma Protestante e seu legado eterno para própria cristandade e para todo mundo


A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade 
E nem 1% religioso.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

NOVEMBRO AZUL: APENAS UM TOQUE, UMA CURTIDA POR UMA VIDA


O câncer de próstata ocupa o segundo lugar no ranking de mortes de homens por câncer, perdendo apenas para o de pele. Neste artigo, chamarei a atenção para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença, argumentando que o preconceito é um "vilão" a ser combatido nesse cenário.


Os dados


Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) dão conta que o câncer de próstata é o segundo maior causador de mortes de homens, perdendo apenas para o câncer de pele. Podemos afirmar, a partir das informações que temos, que o câncer de próstata é o sexto tipo mais comum no planeta e o que mais atinge os homens, representando aproximadamente 10% do total de cânceres.

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, surgem todos os anos 50 mil novos casos de câncer de próstata que resultam em 12 mil óbitos. Por incrível que pareça o maior vilão nessa realidade não é a doença em si, mas o preconceito e a desinformação.


O que é


O câncer de próstata é o câncer mais frequente entre os homens, sendo que um em cada 6 homens vai ser acometido por este tumor e, é o segundo tumor que mais mata os homens, perdendo apenas para o câncer de pulmão. O tumor pode surgir com o envelhecimento masculino, normalmente a partir dos 45 anos e a incidência deste câncer vai aumentando com a idade podendo acometer cerca de 70% dos homens após os 80 anos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, estima-se 61.200 casos novos no Brasil (estimava mais recente, para o ano de 2016).

Como fatores de risco, para o desenvolvimento desta doença, podemos citar: história familiar, que é muito importante (pai e/ou irmão com câncer de próstata), raça negra; além destas, a ingestão de alimentos ricos em gordura animal (carne vermelha) e carne assada também podem estar relacionados. Existem alimentos que parecem exercer um fator protetor na gênese do câncer de próstata como exemplo: arroz, milho, feijão, vagem, soja, aspargos, tomate e vitamina E.

Os sintomas


Sem queixas ou sintomas – A doença tem na maioria das vezes um comportamento silencioso, ou seja em quase 90% dos casos, o homem que apresenta câncer de próstata não tem queixas ou sintomas associados a este tumor. O paciente só vai apresentar queixas quando a doença é metastática (disseminada pelo corpo) ou quando ela é localmente avançada (o tumor cresceu envolvendo outras estruturas como a bexiga, uretra e outros), e nestes casos perdemos a chance de curar este paciente.

É importante salientar que sintomas como: levantar a noite para urinar, fazer força para urinar, urinar várias vezes durante o dia e/ou a noite, perder urina (incontinência urinaria), retenção urinaria (não conseguir urinar) estão na imensa maioria das vezes relacionadas à hiperplasia benigna da próstata que é, após os 50 anos de idade, a doença mais comum na próstata, sendo que a mesma deve ser avaliada, diagnosticada e tratada para evitar futuras complicações.

Segundo a SBU, está indicada a avaliação da próstata de todos os homens que apresentam historia familiar de câncer de próstata, a partir dos 45 anos e para os demais homens a partir dos 50 anos, sendo que sempre deve se discutir com estes os prós e os contras, da avaliação, do diagnóstico precoce ou tardio, e dos tratamentos contra o câncer de próstata.

A avaliação é feita através da dosagem do PSA (antígeno prostático especifico) no sangue e do exame físico (toque retal - causa do preconceito e resistência de muitos homens) que é indispensável. Cerca de 30% dos homens que tem câncer de próstata, os níveis de PSA estão dentro de valores considerados normais, e sem o exame físico o diagnóstico deste tumor não seria feito.

A reavaliação da próstata é feita anualmente e em casos de maior risco a cada seis meses. Em homens com mais de 60 anos, e com PSA menor que 1,0, a reavaliação poderia ser feita com intervalos maiores. Aqueles pacientes que foram operados da próstata para doença benigna devem fazer a reavaliação da próstata seguindo os mesmos critérios, como se não tivessem sido operados.

Na suspeita de câncer de próstata, o paciente deve ser submetido à biópsia da próstata guiada pela ultra-sonografia transretal, e em casos específicos, a biopsia é feita por técnica de fusão de imagens e guiada por Ressonância magnética. Uma vez confirmado o diagnóstico de câncer de próstata, o paciente deve ser estadiado (avaliação realizada para identificar se o tumor esta localizado, localmente avançado ou disseminado), para só então determinar o tipo de tratamento que será utilizado e se deve ser tratado.

Tratamento e prevenção


A escolha do tratamento leva em conta muitos parâmetros (idade, doenças associadas, expectativa de vida…), bem como agressividade do tumor. Hoje através de exames, podemos em muitos casos estabelecer como este tumor vai evoluir, e nos casos onde a evolução é lenta e o risco de metástases é baixo, podemos apenas fazer uma "vigilância ativa".

Por isto a importância de se individualizar e discutir, cada caso. Por exemplo um paciente de 80 anos com câncer localizado na próstata não deve mais ser submetido a cirurgia radical, ao passo que o mesmo tumor em um homem de 60 anos, com doença agressiva, já deveria ser tratado por esta técnica.

Existem várias formas para tratar o câncer de próstata, em casos muito específicos, podemos acompanhar este tumor com a "vigilância ativa", mas deve ser bem discutida com o paciente.

Naqueles casos de câncer de próstata mais agressivos, onde doença é localizada, e expectativa de vida maior que 10 anos, a cirurgia: prostatectomia radical (retirada completa do próstata e vesículas seminais) ainda permanece como a melhor opção para tratamento deste paciente. Em alguns casos específicos pode-se usar a radioterapia externa.

Na doença localmente avançada e/ou metastática existem formas paliativas de tratamento, mantendo o paciente com uma boa qualidade de vida.

A melhor forma de prevenir as complicações do câncer de próstata é fazer o diagnóstico precoce e tratá-lo adequadamente. Importante, que sempre, a avaliação e o tratamento sejam individualizados e discutidos com o paciente, respeitando todas as normas técnicas e utilizando medicina baseada em evidências.

A Sociedade Brasileira de Urologia aconselha que os homens com idade superior a 45 anos façam uma vez por ano os exames preventivos, que consistem no toque retal e na coleta de sangue para a dosagem do PSA. Mesmo que possam ser vistos como constrangedores, tais exames não podem ter freio no preconceito, principalmente quando a proteção à vida é que está em jogo.


Sobre a campanha


A campanha "Novembro Azul" foi criada, pela Sociedade Brasileira de Urologia, para conscientizar os homens sobre o câncer de próstata, prevenção e diagnóstico do mesmo, e além disto estabelecer uma ótima relação entre os homens e seus urologistas, estimulando a avaliação completa da saúde masculina.

"Novembro Azul" é uma importante campanha criada em 2003 na Austrália com o objetivo de conscientizar a sociedade e, principalmente, os homens sobre a relevância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata e outras doenças que acometem os homens.

Deve-se incentivar os homens a realizar sua avaliação anual das doenças da próstata, tentando desta forma evitar que pacientes sejam diagnosticados com câncer de próstata em estágios clínicos avançados, o que impossibilitaria formas de tratamento curativo e exporia estes homens aos riscos e complicações da doença disseminada. Sabemos, atualmente, que em fases inicias o tumor de próstata pode ser curado em 90% dos casos.

Conclusão


Se houvesse por parte do Estado e da sociedade a preocupação em atuar efetivamente na prevenção de doenças, certamente os gastos com saúde pública seriam bem menores. Imaginem o impacto desses 50 mil novos casos de câncer de próstata nas finanças das famílias e da saúde pública. Imaginem o tamanho da tristeza causada por essas 12 mil mortes. 

Cuidar da saúde do homem é cuidar da família é cuidar do Brasil. Não temos como ceder a vida ao preconceito, à desinformação. Urge o desenvolvimento de campanhas voltadas a esclarecer a sociedade sobre a importância da profilaxia em relação às doenças masculinas, assim como as femininas, embora seja notório que a mulher é mais cuidadosa e menos preconceituosa no tocante a sua saúde. 
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sábado, 28 de outubro de 2017

ASSUNTOS POLÊMICOS - DESMISTIFICANDO A PRÁTICA DE ATOS PROFÉTICOS

Certamente esse já é um assunto bastante batido, contudo, devido a sua persistência em ocorrências, não me custa nada remexer sua polêmica. Antes de mais nada, faço questão de deixar bem claro que cada um tem o direito de acreditar no que quiser. Não há os que acreditam em duendes, em ETs, em papai noel, em coelhinho da páscoa...? Enfim, todos temos o direito de acreditar ou não naquilo que bem quisermos. Entretanto, no caso específico, por mais que eu respeite as crenças (e até mesmo as descrenças) de outrem, meu compromisso é com a Palavra de Deus, na qual eu creio.

Exegese X exejegue


Entre os muitos conceitos equivocados que há tempos tem invadido a igreja nestes últimos tempos, os chamados "atos proféticos" (detalhe: as Escrituras não fazem NENHUMA referência a isso) estão entre as coisas mais bizarras inventadas. É uma pena, uma pena mesmo ver evangélicos levando a sério toda sorte de práticas oriundas do paganismo, tal qual como ocorreu com a igreja católica na idade média.

Uma prova disto é a descarada semelhança que os atos proféticos têm com diversas práticas ocultistas. Veja o que diz Jostein Gaader a respeito da magia em sua obra "O livro das religiões":
"...O ser humano que se vale de ritos mágicos, ele está tentando coagir as forças e potências a obedecer à sua ordem – que com frequência consiste em atingir finalidades concretas. Desde que os rituais mágicos sejam realizados corretamente, o mago acredita que os resultados desejados ocorrerão por uma questão de lógica."
Se trocarmos a palavra "mago" por "pastor", "bispo" ou "apóstolo" (considere suas variáveis femininas), veremos, sem muito espanto, que essa lógica é exatamente a mesma usada pelos defensores dos patéticos atos proféticos. Como maior exemplo, podemos conferir a explicação do René Terra Nova (aquele engraçadinho que se auto-intitulou "paipóstolo" e depois "patriarca") um dos maiores divulgadores e incentivadores desta doutrina no Brasil, ele afirma no site da MIR (Ministério Internacional da Restauração), denominação com sede em Manaus-AM, onde é líder, sobre o ato profético:
"...é uma expressão, uma atitude visível da igreja que tem um respaldo no mundo espiritual. Digo que o ano profético é uma mensagem enviada ao reino do espírito que ratifica a ação da fé e da palavra" (Atos proféticos comando de Deus ou invenção humana – MIR).
Ou seja, o chamado ato profético nada mais é do que uma tentativa do ser humano de manipular o mundo espiritual a seu favor, obtendo assim alguma vantagem no mundo físico. E nisto a igreja brasileira tem sido extremamente criativa!

O ranking dos mais absurdos e bizarros atos proféticos  


Houve um caso ocorrido em Curitiba, onde um grupo de irmãos achou que deveria demarcar o território com urina, igual fazem os lobos e outros animais. Assim, após beberem muita água, saíram mijando em pontos estratégicos da cidade "decretando a vitória do Senhor". Essa apoteose circense bombou na internet.

É cada absurdo que talvez algumas pessoas não acreditem que isto realmente aconteça! Eu mesmo teria dificuldade em acreditar se não tivesse visto com meus próprios olhos e ainda participado (que vergonha..., mas tenho de confessar meus erros) de alguns destes rituais.
São coisas incríveis como:
  • Subir no prédio mais alto do centro e tocar shofar (que na verdade é nada mais nada menos do que chifre de bode, ou seja, longe de ser um shofar autêntico, que é feito com chifre de carneiro - e afirmo sem medo de errar que a maioria não sabe o significado do shofar [que são mais culturais do que espirituais, diga-se] e nem suas implicações no contexto bíblico) aos quatro ventos "decretando o senhorio de Cristo sobre toda a região";
  • Espalhar uma mistura de sal, óleo e vinho nos limites da cidade para supostamente "destronar um principado local" (no meio dos "especialistas em demonologia", chamados de "libertadores", dos quais a ilustre senhora Neuza Ytioka é referência, esse tal principado é chamado de "espírito regional"), ah, e essa mistura também era fabricada obedecendo a um "determinado protocolo espiritual";
  • Destruir meia dúzia de ovos de galinha que "simbolizavam os ovos de um demônio em forma de dragão que age sobre determinada cidade" (essa foi de doer, desde quando demônios põem ovos?!);
  • Com base na palavra que diz "onde colocar a planta de vossos pés será abençoado" - algo que Deus disse única e especificamente a Moisés e Josué, sob a égide de todo um contexto (Josué 1:8) -, sair andando descalço à noite pelas ruas do bairro.
Há... evangelismo? Ah, por favor, não mude de assunto.

Sem dúvida, tudo é realizado com a melhor das intenções. E, como diz o ditado, até o inferno está cheio de bem intencionados. A pergunta que devemos nos fazer é: e aí, funcionou? A resposta é óbvia: NÃO!!! Tudo o que essas pessoas dizem que vai acontecer, como uma total redenção do Brasil, por exemplo,  não aconteceu. E eles são ousados, pois determinam prazo para o cumprimento das respostas aos tais atos proféticos. Até agora, nada. Na verdade, o que vemos é um Brasil cada vez mais violento, afastado de Deus e sendo corroído pela corrupção em todas as áreas. Uma impiedade tão avassaladora ao ponto de tornar Sodoma e Gomorra sucursais do paraíso.

Não me entendam mal, é lógico que eu acredito que, não só uma cidade, mas até mesmo um país inteiro pode ser mudado através do poder do evangelho! O problema é que atualmente as igrejas preferem usar rituais mágicos para ter sucesso na guerra contra os poderes das trevas e da iniquidade. E assim deixamos de lado as verdadeiras armas: Leitura e estudo da Bíblia, arrependimento, oração, bom testemunho, evangelismo, discipulado para consolidar. Estas coisas sim têm poder de mudança, e deveríamos praticá-las fervorosamente, arduamente, incansavelmente.

Apesar deste modismo ter tomado grande parte da igreja evangélica, não devemos desanimar. Se eu pude ver o quão anti-bíblica é esta prática outros também podem, especialmente os líderes. Basta deixar o orgulho de lado e deixar de fazer "malabarismos" com a Palavra de Deus para tentar se justificarem ou pararem de usar a Bíblia como um trampolim para a fama.

Outras coisas que acontecem


  • Cortar fios ou fitas, simbolizando a destruição de redes de tráfico;
  • Quebrar botija, simbolizando a quebra de sistemas mundanos (eu fiz!);
  • Jogar flechas;
  • Sentar em torno de uma mesa, simbolizando a restauração familiar;
  • Enterrar e desenterrar dinheiro, simbolizando arrancar os "tesouros escondidos" (que tesouros são esses??????);
  • Orar em frente a grandes bancos, ordenando a "liberação financeira";
  • Ungir em frente a locais considerados de idolatria (só se esquecem de ungir alguns púlpitos...);
  • Fincar estacas demarcando limites para "conquista" (essa idiotice, eu também fiz);
  • Dar sete voltas em torno de locais a serem "conquistados" (essa também);
  • Rasgar papéis que simbolizam "contratos espirituais" (essas também, não só fiz como induzi outros a fazerem #VERGONHA!);
  • Marchas "proféticas", delimitando territórios (fiz também, várias vezes...).
  • Encenar a vestimenta da armadura de Deus (ai, ai, ai... fiz e induzi outros a fazerem #VERGONHA ao cubo);
  • Ungir as genitálias masculinas para "expulsar o 'espírito de prostituição'" (...!);
  • etc, etc, etc... A criatividade e a falta de bom senso não têm limites!
Infelizmente, a Igreja de nossos dias (se é que algumas instituições podem ser chamadas de Igreja em essência) sofre de problemas terríveis oriundos da falta de leitura da Palavra de Deus e da interpretação correta de seus contextos. Uma moda, não tão nova, mas cada uma mais "criativa" (no pior sentido da palavra) está sempre em evidência.

À Bíblia, por favor


Evidente que na Bíblia não existe definição nenhuma para ato profético, assim como também não orienta ninguém a praticar nada semelhante a isso em nossos dias. A começar da origem de tais atos, já temos muito a questionar, uma vez que não é uma ordenança bíblica.

Uma outra definição dada pelos defensores e propagadores dessa prática é:
"Como o nome já sugere são ações realizadas por homens, profetas de Deus com determinado sentido profético, com intuito de profetizar com ações e símbolos. São sinais que apontam para o reino espiritual e que tem consequências no reino físico. São ações expressas em atitudes e palavras".
Obviamente, os que afirmam isso citam supostos (isso mesmo, supostos) exemplos bíblicos de atos proféticos, vamos analisar alguns destes casos com clareza e lucidez teológica: 
  • "Em Gênesis 3, Adão e Eva se cobrem de folha de figueira depois Deus os veste com pele de cordeiro, este cordeiro foi morto, sangue foi derramado, o derramar do sangue foi um ato profético da redenção através do sangue (veja Hebreus 9:22). Este foi o primeiro ato profético executado, realizado pelo próprio Deus". 
A exegese: Claro que em Gênesis, para que Adão e Eva fossem cobertos com peles de cordeiro, o cordeiro foi morto. Mas não é a morte de um cordeiro em si mesmo um ato profético de Deus, conforme afirmam, é a simples lógica que para usar a pele do animal, ele não poderia estar vivo. A Bíblia não menciona a morte desse cordeiro como um ritual a ser seguido. 

Quando se cita Hebreus 9:22 ignora-se todo o contexto de Hebreus que falava acerca do sacrifício de Cristo. Essa sem dúvida é uma das características mais comuns de quem entende como ordenança a realização de atos proféticos: NÃO RESPEITAM OS CONTEXTOS DOS VERSÍCULOS, e os isolam, para dar margem de interpretações errôneas. 
  • "Deus manda marcar com sangue os umbrais das portas (Êxodo 12:7)". 
A exegese: Sim, o fato da Páscoa, a passagem do Anjo da Morte no arraial de fato mostra que a marca do sangue de um cordeiro no umbral das casas livraria o povo dessa última praga. Porém, essa passagem está remetida ao contexto da construção da história do povo Hebreu. Ao longo de todo o Antigo Testamento e Novo Testamento, não vemos a repetição desta prática e tão pouco a ordenança que esse ato deve ser repetido. 

Em se tratando de uma lógica histórica não temos precedentes de que passar o sangue no umbral das portas tenha sido repetido a titulo de ritual (no caso, para se evitar problemas com o Ibama e a Associação Protetora dos Animais, fizeram uma adaptação, substituindo o sangue, por "óleo de unção). Então, qual o sentido da Igreja de Cristo realizar essa prática hoje? Nenhum!
  • "Jacó usa varas simbólicas, devidamente adornadas para a procriação próspera de seu gado (Gn 30:39-41)". 
A exegese: Sim, a passagem bíblica existe, porém, novamente distorcida de sua realidade original. Jacó realmente usou dessa estratégia para que o gado dele fosse aumentado. E isso foi feito diante de Deus, como forma de Jacó ser recompensado por todo o trabalho que havia feito na casa de Labão, e também estava atrelado ao contexto de ÉPOCA. No Antigo Testamento não era uma ordenança, ou ritual esse tipo de prática. Claramente que isso não justifica os atos de alguns pastores que vendem "varas ungidas" para, em tese, prosperar a vida das pessoas. 
  • "Eliseu pede vasilhas para operar o milagre do azeite (2 Reis 4)". 
A exegese:Aqui há um grave erro de interpretação e inversão de valores. Muitos induzem outros a pensarem que sem as vasilhas o milagre não poderia acontecer. Erro absurdo. Só foram pedidas as vasilhas para acomodar o azeite. Poderia ter sido qualquer outra forma de guardar o azeite, ou seja, não é a vasilha em si mesma que produz milagres. Também não lemos no Novo Testamento uma instrução para que sejam levadas vasilhas como forma a profetizar a abundância ou algo da tipo. 
  • "Gideão coloca novelos de lã pedindo a Deus confirmação para suas ações (Juízes 6)". 
A exegese: Para a época, realmente foi uma forma de Deus falar com Gideão. Hoje, nós temos a Palavra de Deus para nos orientar, e sim a Bíblia responde a tudo. Não há nenhuma necessidade de usar métodos usados por personagens bíblicos que estavam em culturas diferentes, sem acesso a informações como nós temos hoje. 
  • "Eliseu usa um pedaço de pau para fazer flutuar o machado perdido (2 Rs 6:6)". 
A exegese: Em hipótese nenhuma eu negaria o que Deus fez. Ele faz como lhe aprouver fazer. Neste caso realizou um milagre como quis realizar. Porém, a forma que Deus age compete somente a Ele. Pode ser que Deus faça milagres como esse hoje em dia? Sim, pode ser. Mas nós não vemos a Palavra de Deus nos orientado a jogar um pedaço de pau para localiza nada em rios. Muito menos a fazer leituras que distorcem o contexto, como se o ritual em si mesmo, fizesse o Milagre de Deus acontecer. Na verdade, o foco aqui é justamente o poder de Deus e não o profeta, o que ele usa ou o que ele faz, como gostam de enfatizar os pentecostais.
  • "Isaías manda o rei Acaz colocar emplasto de pasta de figos sob sua chaga para a cura (20:7)". 
A exegese: Nesta passagem por exemplo, vemos que a pasta é apenas uma espécie de medicamento. Não há nada simbológico aqui, e nem místico, muito menos espiritual. Os milagres de Deus são milagres e ponto. Mas não há problemas em usar medicamentos. E , novamente, olhando para o contexto do cenário apresentado, não há nenhuma indicação de ser feito um ato profético. 
  • "Jesus cospe no chão pega o lodo e passa nos olhos do cego para curá-lo (João 9:6)". 
A exegese: A forma que Jesus operou seus milagres, é diversa. Neste caso ele usou do lodo, e o cego voltou a ver. Não significa que o lodo em si mesmo provocou a cura. Jesus curou e realizou outros milagres apenas dando ordem, pois o poder de curar está nEle. Não faz o menor sentido em usar lodo como ato profético.

Por favor, não espalhe, mas eu já fiz isso. Saí cuspindo nos olhos e ouvidos dos outros para "tirar a surdez e cegueira espiritual". Se tem alguma vítima dessa minha insanidade lendo esse artigo, me perdoe, pelo amor de Deus!
  • "O próprio batismo é um ato profético no momento em que mergulhamos na água para arrependimento (Marcos 10:39)". 
A exegese: Jesus não realizou um ato profético ao batizar, Ele se batizou e deixou o exemplo e ordenança. Essa afirmação é de que o batismo é um ato profético por causa do uso da água é um erro. Pense num país que não tenha a possibilidade de água para batismo tamanha é a necessidade, então, se algum cristão tiver o desejo de se batizar, mas não tem água, ele então não pode ser considerado Cristão? 

A importância do conhecimento da Palavra de Deus


Para minha tristeza e desespero, como você viu, apresentei diversas passagens bíblicas absurdamente mal interpretadas e totalmente tiradas de seu contexto que são usadas para os que defendem o ato profético. É uma tentativa horrível de manipular a Palavra de Deus, e ainda usá-la para validar as piores loucuras de nossos dias. Dei alguns exemplos aqui, mas todos eles giram em torno de algo simples: Leitura de contexto e lucidez.

E, claramente, esta definição que eles dão não tem concordância com nenhum versículo bíblico. Absolutamente nenhum. No Brasil, a maioria das igrejas ditas apostólicas aderiram aos atos proféticos, como prova que os líderes (apóstolos, como se denominam) fazem desafios envolvendo desembolsos financeiros enormes, como um método de provocação, o que gera mero emocionalismo nas pessoas, e que por consequência, arrecadam mais dinheiro para instituição. É bem verdade que tem muitas outras igrejas que não são apostólicas que também praticam esses tais atos.

Há uma conhecida denominação que faz um teatral ritual da entrada de uma arca, carregada por homens vestidos de sacerdotes e afirmam que se trata da Arca da Aliança simbolizando a presença de Deus. Inclusive, essa tal arca, andou peregrinando por todas as sedes dessa dita denominação, tanto aqui no Brasil, como no exterior. Qualquer semelhança com os rituais católicos e as suas imagens peregrinas (como a de Fátima, por exemplo), não é mera coincidência.

O foco destes "atos proféticos" tem dois objetivos claros: 
  1. mostrar que os líderes das organizações são acima da média, portanto, recebem orientações especiais de "Deus" que os mandam fazer tais atos, e 
  2. usar os atos para arrecadar mais dinheiro. 
O que mais me incomoda em todo esse cenário: Se Jesus, que esteve entre nós, andou entre nós, ensinou o que era necessário a respeito do Reino, e os apóstolos deixaram diversos escritos a respeito de como deve ser a vida cristã, qual a razão ou significado de usar um texto do antigo testamento (tirado de seu contexto) para dizer que Deus quer falar conosco? Ou para dizer que Deus quer nos dar uma "nova experiência"? Não faz o menor sentido.

Além de usarem de forma totalmente descabida os exemplos do Antigo Testamento para validar alguns atos proféticos, existe um grande perigo (o maior deles, em minha opinião) na vida daqueles que praticam e aderem aos tais atos: é uma forma direta de dizer que a Bíblia não é o suficiente. Tais atos negam a suficiência das Escrituras, quando são apresentados como métodos para obter a salvação, a vida financeira abençoada, ter dinheiro, conquistas, poder e etc.

Primeiro porque não é isso que a Bíblia nos ensina, segundo, porque quem entende o Caminho de Cristo deveria ser livre das corrupções humanas. 1 Coríntios 5:11-13 diz: 
"Entretanto, agora vos escrevo para que não vos associeis com qualquer pessoa que, afirmando-se irmão, for imoral ou ganancioso, idólatra ou caluniador, embriagado ou estelionatário. Com pessoas assim não deveis sequer sentar-se para uma refeição. 
Pois, como haveria eu de julgar os que estão fora da igreja? Todavia, não deveis vós julgar os que são de dentro? Contudo, Deus julgará os que são de fora. Expulsai, portanto, do vosso meio esse que vive na prática da indecência. O crente não deve buscar juízo pagão" (Bíblia Versão King James, grifos meus).
Em Hebreus 1:1-4 há uma observação claríssima:
"Havendo Deus, desde a antiguidade, falado, em várias ocasiões e de muitas formas, aos nossos pais, por intermédio dos profetas, nestes últimos tempos, nos falou mediante seu Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo o que existe e por meio de quem criou o Universo. 
Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando tudo o que há pela Palavra do seu poder. Depois de haver realizado a purificação dos pecados, Ele se assentou à direita da Majestade nas alturas, tornando-se tão superior aos anjos quanto o Nome que herdou é ainda mais excelente do que eles. O Filho é exaltado acima dos anjos" (Bíblia Versão King James, grifos meus).

Conclusão


Qualquer ser humano que ler as palavras de Jesus, o Filho, como diz em Hebreus, e meditar nessas Palavras com a única fonte de vida existente para nós, não dará espaço e não verá coerência nenhuma para a prática de atos proféticos.

Então como eu defino os atos proféticos: Falta de leitura, de conhecimento, interpretação e contextualização bíblica, uma tentativa aberta de invalidar a suficiência da Palavra de Deus e um método inescrupuloso para iludir e enganar pessoas com a intenção de lucro financeiro. É o que penso e entendo lendo as Sagradas Escrituras. Pense nisso.

A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade 
E nem 1% religioso.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

ASSUNTOS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - A SOMBRA DE PEDRO, O AVENTAIS E LENÇOS DE PAULO TINHAM ALGUMA UNÇÃO DE CURA?

Retornando à série especial de artigos sobre os Assuntos Difíceis da Bíblia, proponho a análise de um polêmico hábito muito comum no segmento evangélico contemporâneo: o denominado "ato profético".

O ato profético é uma espécie de ritual ou prática que faz parte do sistema doutrinário e litúrgico de muitas igrejas, especificamente as neopentecostais e pentecostais, onde as quais adotaram tal sistema como uma influência mesclada do judaísmo do Antigo Testamento e suas implicações simbólicas [ainda que inconsciente ou por ignorância por parte dos pastores e de seus frequentadores] das religiões afro trazidas pelos africanos para o Brasil, pelo espiritismo, pelas artes mágicas e pelo o ocultismo em geral.

Todavia, o meu objetivo neste artigo não é analisar as várias passagens no Antigo Testamento e nem os elementos utilizados como uma espécie de "ato profético ou fé no trabalho que é feito" nas religiões pagãs que descrevi. Limitei-me apenas nos versículos de Atos 5:15,16 e 19:11,12 por falta de espaço e porque estes são os principais versículos utilizados pelos adeptos como base para o ato profético. Desse modo, vejamos estes textos [dentre tantos no AT] utilizados como respaldo para tal prática pelos adeptos e defensores do ato profético, a saber – Atos 5:15,16 e 19:11,12, respectivamente. 


Sobre a sombra de Pedro


A passagem em Atos 5:15 parece indicar que a sombra dos apóstolos era capaz de milagres, embora ali não diga isso claramente, mas apenas que as pessoas levavam os doentes para serem cobertos pela sombra dos apóstolos. Vejamos o versículo:
"De sorte que transportavam os enfermos para as ruas, e os punham em leitos e em camilhas para que ao menos a sombra de Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles... (5:15, grifo meu)"
Leia com bastante atenção. Em que lugar está falando que a sombra de Pedro curava? Em lugar algum. Apenas está dizendo que os leitos com os enfermos eram colados nas ruas para a sombra de Pedro os cobrisse. Em lugar algum está dizendo que era a sombra que curava. 

Para que entendamos com equilíbrio e coerência bíblica esse versículo, é fundamental que analisemos o versículo seguinte que está essencial e contextualmente ligado ao anterior.
"...E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos; os quais eram todos curados. (5:16, grifo e ênfase minhas)."

Porque "na sombra"?


A sombra é uma projeção, é também um vestígio e um sinal. O fato das pessoas, em uma atitude de fé exporem os enfermos à sombra de Pedro significa que elas viam em Pedro a glória de Deus, viam em Pedro olhar de Deus, viam em Pedro o agir de Deus, viam em Pedro o andar de Deus. O versículo posterior (5:16) diz que todos eram curados. Deus não estava apenas com Pedro, mas estava em Pedro e isso fazia a diferença, pois a sombra de Pedro era a sombra do Espírito Santo que o absorvera no pentecostes. Em síntese, não era a sombra de Pedro que tinha "algum poder", "alguma unção" especial de cura, mas sim a PESSOA de Pedro.

Os lenços e aventais de Paulo


Agora vejamos os outros versículos que falam sobre o "apetrechos ungidos" de Paulo. Esses versículos então são usados enfaticamente pelos defensores dos atos proféticos.
"E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam" (19:11,12, grifo meu).
No texto a lume, Lucas relata ou não que os lenços e aventais de Paulo quando eram colocados sobre os doentes eles eram curados? Claro que sim! Entretanto, precisamos entender primeiro todo o contexto desta passagem e de outros livros ou cartas do Antigo Testamento e Novo Testamento que abordam este assunto, ainda que implicitamente para chegarmos à conclusão correta.


Análise minuciosa do contexto


Não obstante, o lugar no qual ocorreu este fato, ou seja – das pessoas pegarem os lenços e aventais de Paulo para colocar sobre os doentes foi na cidade de Éfeso, onde Paulo empreendeu sua terceira viagem missionária (At 19:1), permanecendo lá cerca de dois anos (19:10a). Se analisarmos meticulosamente todo contexto da cidade de Éfeso e o contexto em geral das Escrituras, conforme salientei acima, iremos perceber que Éfeso era uma cidade mística e supersticiosa, onde imperava a idolatria e o culto a Diana dos Efésios (19:18,19; 24-28).

Havia um templo nesta cidade onde esta falsa divindade era cultuada. Contudo, doravante ao misticismo que predominava em Éfeso, muitos ali, ainda não cristãos e até alguns que já haviam se convertido ao evangelho de Cristo Jesus através da pregação de Priscila e Áquila (possíveis fundadores da igreja de Éfeso), não tinham quase conhecimento algum da Escritura.

Estes novos convertidos eram pessoas leigas e incautas em relação às Escrituras, os quais tomavam os lenços e aventais de Paulo e colocavam sobre os enfermos, onde, mesmo assim [por ignorância], Deus curou várias pessoas conforme é descrito em Atos 19:11,12. Paulo amarrava os lenços ao redor da cabeça, para secar o suor da testa e costumava usar os aventais na cintura quando fabricava tendas. 

Por outro lado, embora Deus tenha curado inúmeras pessoas através dos lenços e aventais de Paulo, conforme é mencionado no capítulo 19 de Atos - e isto ninguém questiona, está escrito e ponto final - em todo o Novo Testamento não encontramos nenhuma permissão ou ordem de nenhum apóstolo (nem mesmo do próprio Paulo) ou muito menos do Senhor Jesus nos evangelhos "ensinando ou orientando a prática de atos proféticos".

Podemos procurar que sequer vamos encontrar uma passagem sobre isto! Deus, em Atos 19 fazia maravilhas pelas mãos de Paulo, porém, Ele permitiu pela sua misericórdia que as pessoas fossem curadas pelos lenços e aventais do apóstolo.


Paulo em Deus, não Deus nos objetos de Paulo


Desse modo, os lenços e aventais de Paulo foram um canal do poder de Deus manifestado em sua vida bem como na vida de Pedro e dos demais apóstolos. Porém, é deveras importante compreendermos o significado de outros objetos além dos pedaços das roupas de Paulo com poderes miraculosos utilizados por Deus no AT e NT para evitarmos interpretações equivocadas e heréticas.

Dentre estes objetos temos o cajado de Moisés (Êxodo 8:5, 16), o manto de Elias (2 Reis 2:8,14) e as vestes de Jesus que tinha o poder de curar quem as tocasse, onde não somente a mulher do fluxo de sangue fora curada quando as tocou pela fé, mas também outras pessoas doentes foram curadas ao tocar nelas (veja Mateus 14:36; Marcos 6:56; Lucas 6:19). Interessante observar que ERA DE JESUS QUE SAIA A VIRTUDE PARA AS CURAS E NÃO, ESPECIFICAMENTE, DE SUAS VESTES. 

O propósito das narrativas acerca do poder que havia neles [nos objetos descritos acima] foi mostrar o extraordinário poder de Deus na vida dos seus possuidores, comprovando que a sua mensagem vinha realmente da parte de Deus. O ponto é que esse poder era tão grande que até as coisas com as quais Moisés e Elias tinham contato diário se tornavam canais através dos quais Ele era transmitido.

Devemos entender, entretanto, qual o objetivo dessas narrativas. Em todas elas, o conceito é o mesmo. Jesus e os apóstolos eram tão cheios do poder de Deus que as coisas com as quais tinham contato íntimo se tornavam como que em extensões deles, para curar e abençoar as pessoas. O objetivo é idêntico: enfatizar a enormidade do poder de Deus na vida deles e, assim, atestar que a mensagem pregada por eles, bem como pelos profetas do Antigo Testamento, vinha de Deus.

A prova eram os poderes miraculosos tão extraordinários que até mesmo vestes, bordões, ossos, saliva, sombra e lenços desses homens transmitiam o poder curador de Deus que neles havia. É dessa maneira que devemos entender o relato de Atos 19 sobre o poder curador dos lenços e aventais de Paulo. Contudo, isto, em nenhuma hipótese, pode ser considerado como uma doutrina vero ou neotestamentária. 

Em contrapartida, é importante entendermos que Paulo não distribuiu e sequer orou "consagrando" os seus lenços e aventais para que estes fossem entregues ao povo em uma forma mística como vemos hoje nas igrejas neopentecostais, que "consagram" os mais variados tipos de objetos como um tipo de amuleto ou talismã que possui poderes sobrenaturais, os quais são apenas um símbolo para a prática da fé ou são ativados pela fé do adepto, dizem alguns.


Sincretismo religioso NÃO É sinônimo de fé


A referência à sombra de Pedro e aos lenços e aventais de Paulo forneceram uma oportunidade para que alguns supostos evangelistas fizessem dinheiro com a venda deles e de outros itens que tinha abençoado. Contudo, observe que aqui, o texto não sugere que Paulo distribuiu ou proclamou o poder de seus lenços e aventais, mas, antes, que as pessoas os pegavam sem o conhecimento do apóstolo. Não é, como alguns declaram hoje, que Paulo abençoou lenços para que pudessem ser realizados milagres por intermédio destes.

Portanto, Deus não leva em conta os equívocos cometidos por muitos cristãos sinceros e nascidos de novo no início da conversão em pregações e no serviço prestado a Ele por falta de maturidade e conhecimento das Escrituras. Contudo, em toda a passagem de Atos 19 Deus "não diz que devemos fazer isto hoje ou que Ele aprovava tal atitude dos Efésios". Os sinais e prodígios operados pelos apóstolos e por outros cristãos que não eram apóstolos, como Estevão, por exemplo, eram necessários nesta época "singular" em que o Cristianismo estava sendo expandido às nações para:
  • 1) Apontar para a pessoa de Cristo como o filho de Deus, Deus e a sua obra redentora (Mc 2:1-12; At 2:1-38; 3:1-26). 
  • 2) Atestar que a mensagem que o apóstolo anunciava e o próprio apóstolo vinha da parte de Deus (At 2:14-41; 5:12-16; 10:34-48). 
Em suma, os profetas, na história de Israel no Antigo Testamento, e os apóstolos, na história de Israel e de lugares fora de Israel que foram evangelizados por Paulo foram pessoas usadas por Deus de forma única e extraordinária para um propósito específico que se cumpriu neles historicamente.

Nenhum cristão hoje é usado por Deus da mesma forma que estes homens do passado foram. Não que Deus não possa fazê-lo, não se trata disso. O que não se pode ignorar são os contextos específicos nos quais esses acontecimentos ocorreram. Pedaços de roupas ou qualquer outro objeto de nosso uso pessoal não vai transmitir cura para as pessoas.

Deus não vai, tampouco, assim como os profetas e os apóstolos que escreveram cartas, livros e evangelhos, usar alguém hoje para escrever novas revelações porque o cânon das Escrituras está fechado com todas as revelações necessárias para a igreja. Deus usa hoje, os cristãos, pregadores e pastores de outra forma que difere da maneira que usou os profetas e apóstolos. Deus não muda em sua natureza, porém, Ele muda a sua maneira de agir providencialmente na história.


O ponto de equilíbrio


A atitude mais sábia perante os milagres da sombra e dos lenços não é a dos céticos, que os declaram espúrios; nem a dos imitadores, que tentam copiá-los, como estes televangelistas que oferecem aos doentes lenços , toalhas e outros objetos abençoados por eles, mas sim a dos estudiosos da Bíblia que lembram que Paulo via seus milagres como credenciais apostólicas e que Jesus mesmo foi condescendente com a fé tímida da mulher, curando-a quando ela tocou a orla de sua roupa.

Diante de tudo o que vimos, entendemos pelas Escrituras que os lenços e aventais de Paulo foram usados por Deus para o propósito de cura somente em Éfeso no período em que o apóstolo esteve lá por três anos evangelizando. Assim como, não se vê registrado nas Escrituras outro episódio sobre "Pedro curando através de sua sombra".

Por outro lado, nas igrejas ditas de libertação, os objetos são ungidos, abençoados, fluidificados e consagrados por meio da oração e da imposição de mãos dos "apóstolos", bispos, pastores e obreiros, depois do que passam supostamente ter poderes especiais.

No entanto, em nenhum dos casos mencionados nas Escrituras, os objetos empregados nos milagres passaram, antes, por uma cerimônia de consagração. A Bíblia desconhece totalmente a "unção" das coisas com o fim de serem empregadas em atos miraculosos, para atrair a benção de Deus, ou ainda, para expelir demônios e doenças.

É verdade que no Antigo Testamento alguns objetos, utensílios e mobílias do tabernáculo e, depois, do templo foram ungidos com sangue e óleo. Porém, o propósito não era investir essas coisas de poderes especiais, e sim separá-las do seu uso comum para o uso sagrado nos rituais de sacrifício.


Conclusão


Finalmente, os Efésios eram pessoas místicas, supersticiosas, idólatras e pessoas sem um entendimento claro ou com pouco conhecimento das Escrituras, nesse caso, os novos convertidos. Sendo assim, não devemos imitar ou adotar o ato profético hoje como uma norma ou sistema doutrinário para igreja.

Não há apoio em toda a Escritura para isto! Quando você encontrar um pregador desses famosos da TV entrando em um hospital e saindo pela outra porta seguido por TODOS os pacientes curados, então pode acreditar que ele tem o mesmo poder dos apóstolos. Se ele disser que tem o mesmo poder e não puder fazer isso, então o mais provável é que você esteja diante de um impostor.

[Fonte: Augustus Nicodemus Lopes. O que você precisa saber sobre Batalha Espiritual - pág 148, 149.; Justo González. Atos - pág 265; John Stott - A Mensagem de Atos, pág 344.]

A Deus toda glória.
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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

CANÇÕES ETERNAS CANÇÕES - "SUNDAY BLOODY SUNDAY", U2

Que eu fui fã incondicional do U2 não é novidade para ninguém. Digo fui, porque, na minha singela opinião, a partir dos anos 2000, o quarteto irlandês perdeu muito da essência pop rock (ora mais pop, ora mais rock...) que o consagrou nas décadas de 1980 e 1990. Por isso, para mim, o U2 "acabou" com o lançamento do "dançante" álbum "Pop", de 1997, o pior de todos os trabalhos da banda dos que eu conheço.

Neste capítulo da minha série especial Canções Eternas Canções, eu vou falar sobre uma das músicas, que, mais do que um clássico, se tornou um verdadeiro hino do U2. Passe o tempo que passar, sempre, em qualquer show que Bono Vox (vocal), "The Edge" (guitarra e backing vocal), Adam Clayton (baixo) e Larry Mullen Jr. (bateria e percussão) dão, ela sempre é pedida: belíssima, densa, política e reflexiva 

'Sunday Bloody Sunday'.

I can't believe the news today
[Não posso acreditar nas notícias de hoje]
I can't close my eyes and make it go away
[Não posso fechar os olhos fazê-las desaparecer]
How long, how long must we sing this song?
[Por quanto tempo, por quanto tempo teremos de cantar essa canção?] 
How long, how long?
[Por quanto tempo, por quanto tempo?]
'Cos tonight
[Porque esta noite]
We can' be as one, tonight
[Podemos ser como um só, esta noite] 
Broken bottles under children's feet
[Garrafas quebradas sobre os pés das crianças]
Bodies strewn across the dead-end street
[Corpos espalhados em beco sem saída]
But I won't heed the battle call
[Mas eu não vou atender ao apelo da batalha]
It puts my back up, puts my back up against the wall
[Isso coloca minhas costas, coloca minhas costas sobre a parede] 
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo]
Oh, let's go!
[Oh, vamos lá!] 
And the battle's just begun
[E a batalha apenas começou]
There's many lost, but tell me who has won?
[Há muitos que perderam, mas diz-me: quem ganhou?]
The trenches dug within our hearts
[As trincheiras cavadas em nosso coração]
And mothers, children, brothers, sisters torn apart
[E mães, filhos, irmãos, irmãs dilacerados] 
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo]
How long, how long must we sing this song?
[Por quanto tempo, por quanto tempo teremos de cantar essa canção?]
How long, how long?
[Por quanto tempo, por quanto tempo?] 
'Cause tonight
[Hoje a noite]
We can be as one, tonight
[Nós podemos ser como um só, esta noite]
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo] 
Wipe the tears from your eyes
[Enxugue as lágrimas dos seus olhos]
Wipe your tears away
[Limpe as suas lágrimas]
I'll wipe your tears away
[Vou limpar as suas lágrimas]
I'll wipe your bloodshot eyes
[Vou limpar os seus olhos vermelhos] 
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo] 
And it's true we are immune
[E é verdade que somos imunes]
When fact is fiction and TV reality
[Quando o fato é ficção e a TV realidade]
And today the millions cry
[E hoje milhões choram]
We eat and drink while tomorrow they die
[Comemos e bebemos enquanto eles morrerão amanhã] 
The real battle just begun
[A batalha real apenas começou]
To claim the victory Jesus won
[Para reivindicar a vitória de Jesus]
No [Não]
Sunday, bloody Sunday
[Domingo, sangrento domingo]
Vídeo alternativo de 'Sunday Bloody Sunday', com cenas do filme "Domingo Sangrento", do diretor Paul Greengrass, lançado em janeiro de 2002, no Reino Unido

O que foi o "Domingo Sangrento"


A canção 'Sunday Bloody Sunday', da banda irlandesa U2, é a primeira faixa e terceiro single do álbum "War", sendo lançada em 11 de março de 1983, na Alemanha e na Holanda. 'Sunday Bloody Sunday' é conhecida pela sua batida militarista, guitarra dura e harmonias melódicas. A letra descreve o horror do episódio que ficou conhecido nos anais da história como "Domingo Sangrento"  (Bloody Sunday) em Derry na Irlanda do Norte, ocorrido no dia 30 de janeiro de 1972, quando tropas britânicas atiraram e mataram manifestantes de direitos civis.

Conheça a história


Os 14 mortos no massacre
No dia, 14 manifestantes foram mortos e 26 ficaram feridos. Dentre as vítimas, seis menores de idade foram mortos. Todas as vitimas estavam desarmadas e cinco delas foram alvejadas pelas costas.

Os manifestantes protestavam contra a política do governo irlandês de prender sumariamente pessoas suspeitas de atos terroristas. Essa política era dirigida contra o Exército Republicano Irlandês, o IRA, uma organização clandestina que luta pela separação da Irlanda do Norte da Grã-bretanha e posterior união com a República da Irlanda.

Após o "Domingo Sangrento", o IRA ganhou um número enorme de jovens voluntários, dando força ainda maior a esse grupo guerrilheiro.

As palavras do médico legista da cidade, Hubert O’Neill, resumem bem o sentimento que o ocorrido deixou:
"Isso se tornou conhecido como 'domingo sangrento',e foi sangrento. Era desnecessário. Surpreende-me o que o exército fez nesse dia, atiraram sem pensar no que eles estavam fazendo. Eles estavam atirando em inocentes. 
Estas pessoas podem ter tomado parte em uma marcha que foi proibida, mas isto não justifica que as tropas tenham disparado indiscriminadamente contra eles. Eu diria sem hesitação que foi puramente um assassinato. Foi assassinato."
As 26 pessoas que participavam da marcha pelos direitos civis foram atingidas por tiros disparados pelo Primeiro Batalhão de Paraquedistas Britânico, comandado pelo Tenente-Coronel Derek Wilford e seu segundo em comando, Capitão (mais tarde promovido a General) Mike Jackson.

Os tiros foram iniciados quando parte dos manifestantes tentou vencer, atirando pedras, uma barricada montada pelos militares para conter a passeata. Treze pessoas, incluindo seis menores de idade, morreram na hora. Uma outra pessoa morreu (possivelmente devido aos ferimentos) seis semanas depois. Duas pessoas foram atropeladas por veículos militares. Segundo testemunhas e jornalistas presentes, nenhum dos atingidos estava armado. Cinco deles foram atingidos pelas costas.

Investigações levadas a cabo logo após o evento inocentaram os envolvidos. Uma segunda investigação iniciada em 1998 ainda está em andamento. O Exército Republicano Irlandês (IRA), organização paramilitar que pede a separação de parte da Irlanda do Reino Unido, fundado dois anos antes, teve um considerável aumento no número de recrutamentos e maior simpatia do público após o evento do dia 30 de janeiro.

Uma música com o mesmo nome do clássico do U2, 'Sunday Bloody Sunday', foi gravada por John Lennon no álbum "Some Time In New York". O mesmo álbum traz também a música 'The Luck of the Irish'. Lennon era descendente de irlandeses. Paul McCartney, também descendente de irlandeses, lançou o single 'Give Ireland Back to the Irish' após o incidente; a faixa foi a única da carreira solo de Paul a ser banida pela rádio BBC.

Ruas sujas de sangue


Foto real do local do massacre mostra dois dos mortos
Protesto pacífico virou campo de batalha e acirrou tensões religiosas. Veja passo a passo como foi se deu o desenrolar do sangrento domingo:
  • 1. No ensolarado dia 30 de janeiro de 1972, entre 5 mil e 20 mil pessoas se reúnem na área residencial de Creggan, em Derry, Irlanda do Norte, para reclamar contra as prisões arbitrárias de supostos membros do IRA. Era o segundo dia de marcha pacífica, apesar de o governo ter proibido, em 18 de janeiro, qualquer protesto na Irlanda do Norte até o final daquele ano.
  • 2. Às 15h25, os manifestantes já estão na rua Westland, próxima ao centro da cidade. Vinte minutos depois, encontram uma das barricadas do Exército na rua William. Aconselhados pela organização do evento, se desviam pela rua Rossville para se reunir na praça Free Derry Corner. No entanto, parte do grupo continua pela rua William, onde estão tropas britânicas.
  • 3. O exato estopim do conflito é incerto. Posteriormente, o general Robert Ford, comandante das tropas inglesas, afirma que elas foram recebidas a tiros pelos civis, mas nenhuma arma é encontrada no local. O fato é que houve o confronto – manifestantes com paus e pedras, soldados com balas de borracha, gás lacrimogênio e jatos de água. Dois civis levam tiros e ficam feridos.

Roteiro errado


O local onde se deu o massacre
Parte dos manifestantes seguiram por uma rua barricada e bateram de frente com o Exército.
  • 4. O Exército recebe instruções para prender o maior número possível de manifestantes. Uma unidade do Primeiro Batalhão do Regimento de Paraquedistas avança pelas ruas William e Rossville, inclusive com carros blindados e rifles SLR. Após 25 minutos de tiroteio, o saldo já era de 13 mortos e 14 feridos (um deles morreu meses depois por causa dos ferimentos).
  • 5. Nos dias seguintes, em represália, o IRA convoca uma greve geral, atendida por 90% da população local. Manifestantes atiram pedras e bombas e incendeiam carros. Em Dublin, na Irlanda, é ateado fogo à embaixada britânica. O ressentimento dos católicos aumenta, bem como a luta armada por direitos civis – jovens não politizados passam a simpatizar com o IRA.
  • 6. O primeiro inquérito pós incidente acusa os civis de terem dado o primeiro tiro (ainda que um legista de Derry afirme que a morte dos manifestantes tenha sido "puro assassinato"). Mas, em 2010, um novo relatório conclui que os disparos do Exército não tiveram justificativas. O primeiro ministro britânico David Cameron se desculpa publicamente no Parlamento.

Grupo Sambô e a "criminosa" desconstrução de um clássico


Marcha realizada em protesto contra o Domingo Sangrento,
à frente familiares das 14 vítimas carregam cruzes
com os nomes dos mortos e as fotos de cada um deles
O clipe de uma versão infame de 'Sunday Bloody Sunday' apresentada pelo horrível grupo brasileiro Sambô em forma de samba (eu não cometeria a cumplicidade em postar o clipe aqui, mas se você quiser conferir, clique no link) nos remete a um momento agradável, contagiante, "criativo" e extremamente alegre, no qual as várias pessoas participantes do vídeo se sentem felizes e dispostas a escutar a música.

Mesmo que algumas delas (afirmo sem medo de erra, que a maioria) possam não entender a letra, elas interagem com o grupo, considerando que esta é a hora para ser feliz, esquecer as obrigações e curtir o momento. Um clima de felicidade que aparentemente não demonstra nada de errado, não é mesmo?

Tocando em um ritmo acalorado, com sorrisos de orelha a orelha e dançando juntamente com o público, podemos apostar em algo muito agradável e com uma bela mensagem, certo? Ou você pensa que a música possa ter uma temática triste e nebulosa? E então, a letra da música dá conta de suas expectativas? Nem tanto não é?

O que aconteceu com aquela descontração presente na versão regravada, a qual todos cantam e aplaudem alegremente como algo esplêndido? Assim, a composição original, gravada pelo U2, apresenta grande diferença, não só no ritmo, mas no seu sentido, comparada com a recente e inaudível versão.

É visível que a música trata de um assunto relacionado a uma guerra, que, como vimos, ao contrário do que possamos imaginar não é meramente ficcional.


Porque a versão do Sambô é horrivel?


As 14 cruzes com os nomes das vítimas do massacre, expostas em
um memorial erguido em homenagem a eles
Como pode um tema trágico tornar-se base para um ritmo alegre como se fosse algo comum, não sendo utilizado para fazer-nos refletir sobre as circunstâncias?

Ou você realmente acredita que com a nova versão da música, alguém pare para entender o que está sendo dito? Pra começar não há sentido algum em cantar e agir alegremente diante de uma tragédia, a não ser que se esteja apenas acompanhando as pessoas sem ao menos entender do que se trata.

Por meio disso podemos ver o quão manipulados somos diante da sociedade. Vivemos cercados de padrões, construídos pelo que chamamos de indústria cultural. Esta decide o que ouvimos e conhecemos de modo que melhor lhes convém, e nós simplesmente aceitamos isso acreditando que o que nos é apresentado é o que realmente vale.

Atualmente as pessoas preferem ouvir coisas fáceis de serem consumidas, sem prestar atenção na mensagem, pois as produções culturais são vistas e tratadas como mercadorias. Uma das razões disso é que vivemos muito ocupados e essa situação faz com que não possamos procurar canções além daquelas que nos são oferecidas apenas para entretenimento.

Por isso, não se engane com tudo o que vê e ouve, isso não é nem a metade de toda a variedade cultural que existe. Busque expressões culturais diferentes, que façam mais sentido e que lhe proporcione uma reflexão sobre assuntos importantes e que muitas vezes nem percebemos.


Conclusão


À direita uma cena real do dia do massacre; à direita a banda em
frente ao mesmo prédio onde a cena ocorreu
A canção 'Sunday Bloody Sunday' ficou na posição 268° entre as 500 Melhores Canções de Todos os Tempos da revista Rolling Stone, em 2004.

A revista britânica New Statesman classificou-a como uma das canções do "Top 20" das canções políticas.

Curiosidades

  • O "Domingo Sangrento" irlandês é geralmente confundido com o "Domingo Sangrento" russo, que ocorreu em 1905 e foi um dos motivos da Revolução Russa, de 1917.
  • Bono Vox, líder e vocalista da banda U2 é conhecido por seu engajamento político.
Por revelar de forma poética, mas sem deixar de ser contestadora, o quão estúpido é tudo o que envolve uma guerra ou simplesmente por ser uma belíssima canção, 'Sunday Bloody Sunday' é eterna e, claro, recebe o meu carimbo de
[Fonte: sites Britannica Online; The Guardian; The Telegraph; Folha de S.Paulo; Jornal do Brasil; BBC e The Museum of Free Derry; com assessoria de Pedro Paulo Abreu Furnari, professor do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas, Tania Regina de Luca, professora de história da Unesp]

A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.