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sexta-feira, 31 de julho de 2020

A BÍBLIA COMO ELA É — ENTENDENDO O SALMO 119

Poucos capítulos são tão proveitosos para estudar e aprender sobre a própria Bíblia quanto o Salmo 119, o mais longo de toda a Escritura Sagrada (são 176 versos). Sua autoria é desconhecida, mas seu autor fez um trabalho único, com a bênção e a graça divina, na escrita. Apesar de estar no Antigo Testamento e seu contexto histórico ser especificamente direcionado ao povo hebreu, seus ensinamentos e sua essência são eternos, atemporais.

Em mais um capítulo da série especial de artigos A Bíblia Como Ela É, vamos conhecer mais sobre esse maravilhoso cântico, uma ode eterna à excelente Palavra de Deus.

Conhecendo os detalhes do maior cântico registrado no Saltério (o hinário oficial de Israel)


Ele é um salmo acróstico, no qual a primeira letra de cada verso é uma das 22 letras do alfabeto hebraico. Seu propósito é demonstrar a excelência da Palavra de Deus.

Para fazer isto, o autor vai discursar acerca da necessidade que temos de ouvir e praticar aquilo que Deus ordena e dos benefícios decorridos desta obediência. Assim sendo, o salmista irá se empenhar para nos mostrar que:
  • Nós temos a necessidade de estudar de forma constante e diligente a palavra de Deus. Como o apóstolo Paulo diz:
"Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2 Timóteo 2:15).
  • Nós temos a necessidade de crer e praticar de forma constante aquilo que Deus nos ordena em Sua palavra. Como Tiago, o irmão do Senhor nos diz:
"Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos" (1:22).
  • Que a palavra de Deus é incomparável como conselheira e consoladora e constitui-se no único meio pelo qual podemos alcançar a verdadeira felicidade. É bom lembrar que o Senhor Jesus é a palavra viva de Deus, pois
"o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" (João 1:14), 
enquanto que a Bíblia é a palavra escrita de Deus.
Quando falamos da palavra escrita de Deus, a Bíblia, este Salmo nos ajuda a lembrar que a força humana é incapaz de obedecer aos mandamentos divinos. 

Deus mesmo precisa criar em nós tanto a vontade quanto a força para sermos obedientes a Ele. O apóstolo Paulo se refere a esta verdade dizendo: 
"Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade"(Filipenses 2:13).

Análise teológica


Para alcançar seu propósito, o autor do Salmo 119 lança mão do uso de sinônimos da expressão hebraica תּוֹרָה (toráh), que é comumente traduzida por lei. De fato, somente o verso 122 não traz uma referência à lei ou a qualquer dos outros sinônimos usados pelo autor. 

Quando analisamos o Salmo 119 atentamente podemos listar o seguinte uso da expressão תּוֹרָה (toráh – lei) e de seus sinônimos:
  • תּוֹרָה – toráh = lei. Neste Salmo o uso da expressão lei não está restrito à lei dada a Moisés no monte Sinai, e corresponde à lei de Deus no sentido mais amplo possível, compreendendo absolutamente tudo que Deus ordenou para nossa obediência e conformidade.
  • עֵדוֹת – edot = testemunho. Existia uma cópia da lei de Deus colocada dentro do Santo dos Santos no Tabernáculo e do Templo em Jerusalém para servir de testemunha de acusação contra o povo de Israel diante do único Deus verdadeiramente misericordioso e perdoador – veja Deuteronômio 31:26.
  • פִקֻּד – piqqud = preceito. Constitui-se de instruções dadas aos homens para dirigi-los na conduta correta.
  • חֻקַּת – hukat = decretos ou estatutos. Falam da força obrigatória e da permanência das Escrituras em se tratando de leis "registradas para os dias vindouros, para sempre, perpetuamente" – ver Isaías 30:8.
  • מִצְוֹת – misvot = mandamentos. Palavra usada para ressaltar a qualidade daquilo que está sendo dito.
  • מִשְׁפְּט – mishpat = juízo. Refere-se às decisões do Juiz onisciente a respeito de situações humanas comuns. As Escrituras são o padrão que deve reger o relacionamento entre as pessoas por este motivo são elas exatamente que definem por excelência este termo.
  • דְּבָר – debar = palavra ou דְּבָרִים – debarim = palavras. Este é o termo mais comum e abrange toda a verdade de Deus seja ela declarada, prometida ou mandada.
  • אִמְרה – imrah = ordenanças. Esta expressão é por vezes traduzida como palavra, pois os tradutores buscam o melhor equilíbrio na língua de destino. Ela se refere a qualquer coisa que tenha sido dita por Deus. Como nem tudo o que Deus fala é promessa no sentido nato da palavra em português os tradutores têm optado por traduzir a mesma por "palavra".
Além destas oito expressões, outras também podem ser usadas para se fazer referência à auto-revelação de Deus. Em Salmo 119:3 e 37 encontramos a expressão "teus caminhos" sem o acompanhamento de nenhum dos termos mencionados acima. 

Em Salmo 119:132 encontramos "teu nome" e em Salmo 119:90 temos "tua fidelidade". Estas duas últimas expressões servem para se referir primariamente à imutabilidade daquilo que Deus tem decretado.

O poder da Palavra de Deus


Diante desse belíssimo Salmo nós podemos meditar um pouco sobre o poder que a Palavra de Deus exerce sobre a nossa vida.

Ela tem o poder para trazer avivamento espiritual (vs. 25, 37, 40, 50, 88, 107, 149, 154, 156 e 159). E aqui precisamos refletir sobre o sentido real do avivamento. 

Como o teólogo Jonathan Edwards (1703/1758) bem explicou, este acontecimento não é apenas emocionalismo perdido, mas uma inundação da Palavra de Deus que produz, em nós, um grande amor pelo Senhor. 

Nós não precisamos ser lembrados ou incentivados à lê-la e vivê-la, isso acontece naturalmente e em todas as áreas de nossa vida.
  • Repetindo: avivamento não é apenas emocionalismo perdido, mas uma inundação da Palavra de Deus que produz, em nós, um grande amor pelo Senhor.
Nas Escrituras também podemos satisfazer plenamente os anseios de nossa alma. O salmo começa, nos vs. 1 e 2, já falando que somos bem-aventurados, ou felizes, abençoados, completos e reconhece a Bíblia como a solução para tristezas da alma (vs. 25 e 28). 

Na Palavra, podemos estar plenos mesmo diante dos inimigos e perseguidores (vs. 42, 51, 68, 71, 157), das aflições, angústias e laços de morte (vs. 92, 107, 153), e das ansiedades e incertezas do caminho (v. 105).

"Lâmpada para os meus pés!"


O sertão carioca - Jornal O Globo
Talvez uma boa ilustração para esse ponto seja entender que a lâmpada do v. 105 não é uma lanterna que ilumina tudo na nossa frente, mas uma lamparina que carregamos conosco enquanto andamos. 

Imagem que é bastante representativa para os peregrinos que faziam suas longas caminhadas em meio ao deserto. Ela ilumina o que está ao nosso redor, e precisamos continuar indo em frente para que a luz alcance novos lugares. É isso que significa esperar em Deus, viver na dependência dEle, sabendo que Ele nos guiará enquanto caminhamos.

Também, sob esse entendimento, podemos fazer um link com a parábola das dez virgens, contada por Jesus (Mateus 25:1-13). Ou seja, o Espírito Santo é quem alimenta em nós essa luz que o salmista cita.

Finalmente, a Bíblia tem poder para nos conduzir em crescimento espiritual. O amor e prazer pela Palavra de Deus está presente em todo o Salmo (vs. 16, 47,48, 97, 127, 167 e 174), e ele nos chama a desviar os pés do caminho mau (vs. 9, 11, 133 e 168). 

Conclusão


Em todos esses versículos podemos encontrar os fundamentos essenciais da nossa vida cristã, como adoração, comunhão, serviço/ministério, evangelização e discipulado. O Salmo 119 é, portanto, completo e nos revela que a Bíblia é suficiente para nos avivar, satisfazer e amadurecer espiritualmente. Se você ainda não viveu a experiência de navegar nesse maravilhoso Salmo, que tal começar agora? 
  • Escrevi artigo específico sobre O Poder da Palavra de Deus ➫ aqui.
[Fonte: IPG, por pr. Daniel Martins; Faculdade Mackenzie]

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quinta-feira, 30 de julho de 2020

ESCRITO NAS ESTRELAS — DR. ENÉAS FERREIRA CARNEIRO


Visto como autoritário e truculento por muitos, um político se lança à Presidência prometendo restabelecer a ordem no Brasil. Aos berros, acusa PT e PSDB de serem faces da mesma moeda, defende os valores da família tradicional brasileira e questiona os interesses internacionais por trás da demarcação de reservas na Amazônia.

Não estou falando da movimentação do então  deputado federal Jair Bolsonaro rumo a 2018, mas sim da candidatura do médico acriano Enéas Carneiro ao Palácio do Planalto, em 1994.

Morto em 2007, Enéas concorria pelo pequeno Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona) e deixou para trás figurões como os governadores Leonel Brizola (PDT [✩1922/✞2004]) e Orestes Quércia (PMDB [✩1938/✞2010]). Com 7% dos votos, chegou em terceiro lugar, atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva e do tucano Fernando Henrique Cardoso.

Enéas, para sempre


Quando se realiza o resgate da figura política de Enéas Carneiro, é também o resgate de um desconforto com a imagem de uma democracia que, para muitos, não se cumpriu. Não despropositadamente, o líder do Prona é apresentado como um líder que o Brasil não soube aproveitar, não soube valorizar. Em suma, Enéas Carneiro seria "o melhor presidente que o país jamais teve". De certa maneira, é um jogo dado entre memória e história, mas também entre autoritarismo e democracia.

Nasce um "mito"?


Enéas Ferreira Carneiro nasceu em Rio Branco no dia 5 de novembro de 1938, filho do barbeiro Eustáquio José Carneiro, ex-funcionário da antiga Companhia de Navegação Costeira, e de Mina Ferreira Carneiro.

De família pobre, morou em favela e iniciou seus estudos no Grupo Escolar 24 de Janeiro, na capital do Acre. Em 1947, transferiu-se para Belém, onde completou os primeiros estudos. Aos 19 anos, mudou-se com a mãe para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, para estudar na Escola de Sargentos do Exército e na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, atual UniRio, tendo sido aprovado em primeiro lugar em ambos os concursos. Obtendo mais tarde a patente de terceiro-sargento auxiliar de anestesia, passou a trabalhar no Hospital do Exército.

Como estudante, manteve-se afastado de qualquer atividade política, embora manifestasse alguma simpatia pelo marxismo e pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1964, quando ainda pertencia ao Exército, assistiu "apenas como espectador", ao movimento político-militar de 31 de março que depôs o presidente João Goulart (✩1919/✞1976)

Referindo-se a esse episódio anos depois, afirmaria que o movimento fora realizado 
"contra a desordem e a baderna" 
"não (afetara) a vida do cidadão comum". 
Apesar disso, avaliou negativamente os anos em que o país viveu sob o regime militar.

Formado em medicina em 1965 — ano em que deixou o Exército —, concluiria mais tarde o curso de ciências exatas (física e matemática) na Universidade do Estado da Guanabara, atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Especializado em cardiologia, passou a ministrar um curso de eletrocardiografia a partir de 1975 no Rio e, a partir de 1983, em São Paulo. 

Em 1977, publicou "O eletrocardiograma" (Livraria Atheneu), obra que alcançou grande reputação nos meios acadêmicos, que o colocou como o "patrono do Eletrocardiograma no Brasil" e foi adotada por diversos cursos universitários do país. Paralelamente, abriu consultório médico no Rio de Janeiro. Em 1980, ingressou através de concurso público no Hospital do Câncer e no Hospital do Inamps, além de ter sido contratado como professor-auxiliar do Instituto de Biologia da UERJ. No ano seguinte, contudo, foi dispensado pela universidade, por não estar cumprindo a carga horária exigida pela instituição.

Início da trajetória política


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"Sou professor de cardiologia. Registrei no segundo ofício, em Brasília, um documento afirmando que, se não for eleito, não serei candidato a qualquer outro cargo em nenhum escalão do poder. Nunca fui, não sou e nem serei político profissional. Meu nome é Enéas!"
A estreia de Enéas Ferreira Carneiro na história política brasileira ocorreu por meio dessa curta frase, pronunciada em escassos 15 segundos, no seu primeiro programa do horário político eleitoral gratuito na disputa à Presidência da República em 1989. 

A criação do Prona


Em 1989, decidido a ingressar na vida política, criou o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), que passou a presidir e em cuja legenda lançou sua candidatura à presidência da República, no pleito marcado para novembro daquele ano. Como o partido não possuía representação no Congresso Nacional, Enéas dispunha de apenas duas inserções diárias de 15 segundos no horário eleitoral gratuito de rádio e televisão, iniciado no mês de setembro daquele ano. 

Apesar de praticamente anônimo no início da campanha e de contar com um tempo reduzido nos meios de comunicação, acabou por se destacar entre os candidatos apresentados pelas legendas menores. 

Seus discursos, sempre encerrados com a frase 
"Meu nome é Enéas!" 
pronunciada em tom enfático e que se tornou sua marca registrada (além, obviamente, do visual marcante: a grande barba em contraste com a calva e os enormes óculos), baseavam-se nos valores da ordem e da autoridade e veiculavam ataques violentos e generalizados contra os governantes e a classe política brasileira.

Após derrotas nas três disputas para presidente, o Dr. Enéas disse que não disputaria a outro cargo público, entretanto, ele mudou de ideia: concorreu à prefeitura de São Paulo em 2000 e foi eleito deputado federal pelo estado de São Paulo em 2002.

Conservadorismo distinto


Com discurso nacionalista e autoritário, Enéas Carneiro passou de uma figura anedótica da política brasileira a recordista de votos para deputado federal. Se seu nome tem sido usado como símbolo ou "mito" por alguns grupos de extrema-direita do país, as bandeiras que tais grupos atribuem a ele não são exatamente precisas. Enéas elogiava a filosofia marxista, embora não fosse de esquerda, era contrário ao neoliberalismo e não adotava discursos sobre a suposta ameaça comunista no Brasil, por exemplo.

O discurso nacionalista, conservador, em contrariedade aos partidos políticos tradicionais e à privatização de estatais, foi uma característica perene das candidaturas de Enéas Carneiro em 1989, em 1994 e nas eleições seguintes. Em 1998, Enéas Carneiro conquistou a quarta posição nas eleições para Presidente, em eleição marcada pela proposta de construção de uma bomba atômica como instrumento de dissuasão estratégica.

Herói da direita, mas com flerte marxista


Após a morte de Enéas Carneiro, e especialmente ao longo do processo de agitação de setores conservadores, a que diversas e diversos especialistas denominam como as "novas direitas" ou "onda conservadora", a figura do líder do Prona passou a ser apropriada por essa novas e antigas expressões da direita brasileira. No entanto, desperta atenção algumas questões.

Em primeiro lugar, Enéas Carneiro é costumeiramente retratado nas redes sociais como uma figura política tributária à história do anticomunismo no Brasil, que tem expressões em diversos polos do pensamento de direita, seja o católico, das Forças Armadas ou do próprio fascismo. 

Sem dúvida, em vários momentos o líder do Prona dedicou a sua atuação a confrontar reivindicações e correntes do campo progressista, principalmente o Partido dos Trabalhadores e de sua principal liderança (Lula). Seja no campo político, mas também em um terreno pretensamente assentado na intelectualidade, Enéas Carneiro se apresentava como um anti-lula.

No entanto, a relação era mais complexa que os usos da memória podem sugerir. Em relação à ideologia comunista, a posição de Enéas Carneiro era de críticas quanto à realidade histórica, o que chamava de "fracasso da Revolução Socialista". 

Concomitantemente, Enéas Carneiro ressaltava que interpretava a teoria marxista como a 
"estruturação filosófica mais bela sobre a vida social no planeta",
fazendo ressalvas de que na prática, infelizmente, a teoria não se cumpriu.

O legado político de Enéas Carneiro


Na primeira eleição à Presidência em que concorreu, a atuação de Enéas Carneiro chamou mais atenção pela propaganda eleitoral sintética e pelo uso da frase 
"Meu nome é Enéas!"
alçando o líder do Prona à categoria de anedotário político. No entanto, os componentes de um nacionalismo autoritário e conservador, de larga influência na cultura política nacional, não passaram despercebidos a diversos setores da direita brasileira, que paulatinamente se aproximaram do partido.

Fossem grupos de pressão de militares da reserva, com um crescente descontentamento com os caminhos da chamada "Nova República", ou mesmo pequenas siglas neofascistas atuantes no Brasil e no exterior (EUA e Argentina, em especial), fato é que o Prona construiu, para si e para Enéas Carneiro, a categoria de referencial para a extrema direita brasileira. E, mais que isso, a partir dessas relações, o Prona construiu uma identidade mais robusta, articulada e fundamentada no campo do pensamento nacionalista autoritário.

Conclusão

Fusão e leucemia


Em 2006, a aprovação da cláusula de barreira pelo Congresso ameaçava acabar com o Prona, ao impor restrições a partidos que não recebessem uma votação mínima em boa parte do país. A sigla então se uniu ao Partido Liberal (PL), grupo do então vice-presidente, José Alencar, dando origem ao Partido da República (PR).

No início de 2006 o Dr. Enéas passou a enfrentar graves problemas de saúde. Primeiro foi acometido por uma pneumonia e depois passou a enfrentar uma leucemia aguda. O tratamento quimioterápico a que se submeteu para combater o câncer lhe fez perder a barba, uma de suas características fisionômicas mais marcantes, ao lado dos grandes óculos e da calvície acentuada. 

Desistiu de concorrer à presidência da República, como chegara a anunciar, mas saiu candidato à reeleição para a Câmara dos Deputados, acrescentado mais uma afirmativa ao seu conhecido bordão: 
"Com barba ou sem barba, meu nome é Enéas". 
Foi reeleito em outubro de 2006 com 387 mil votos. 

Com a criação do Partido da República (PR),  permitiu ao Prona a obtenção de representatividade mínima e, consequentemente, o acesso ao fundo partidário de financiamento de campanhas. 

Dr. Enéas Carneiro faleceu no Rio de Janeiro no dia 6 de maio de 2007, aos 68 anos de idade. Ele teve três filhas, uma delas de seu primeiro casamento com Jamile Augusta Ferreira, e, a última, de sua união com a promotora Adriana Lorandi Ferreira Carneiro.

Na pequena comitiva de políticos presentes no velório  entre os quais Bolsonaro e o pastor evangélico Édino Fonseca , chamou a atenção dos jornalistas a presença do então deputado Aldo Rebelo, militante histórico do Partido Comunista do Brasil (PC do B).

À saída, o comunista disse que Enéas agia conforme suas crenças e era 
"um homem público de elevada confiabilidade" 
— sinais de um tempo não tão distante em que a polarização política no país era mais branda.
  • Veja abaixo uma clássica entrevista que o dr. Enéas concedeu ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
[Fonte: Fundação Getúlio Vargas CPDOC; Café com História; BBC News Brasil]

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quarta-feira, 29 de julho de 2020

O PODER DA PALAVRA DE DEUS

Imagem: Arquivo pessoal / Facebook
O texto deste artigo é a transcrição da palavra que ministrei no culto do último domingo, 26. Trata-se de uma palavra que me foi relevada pelo pelo próprio Deus através de um sonho.

A atemporalidade da Palavra de Deus


A Palavra de Deus – tanto o Antigo Testamento quanto o Novo Testamento – é a mais absoluta verdade. Se você quiser conhecer Deus pessoalmente e experimentar uma paz que transcende a todo entendimento, leia a Palavra de Deus e deixe que ela penetre em seu coração. Garanto que você não vai se arrepender.

A Palavra de Deus é viva. É ativa e inerentemente poderosa, e o Todo-Poderoso a usa como um cirurgião usa um bisturi, cortando diretamente no coração, e transformando seus leitores para sempre. Essa maravilhosa transformação acontece todos os dias com inúmeras pessoas de todos os tipos de históricos passados, e de todas as partes do globo.

A Palavra de Deus revela a sua essência


O poder da Palavra de Deus é extraordinário. Através dela Deus revela-Se a Si mesmo a nós e nos instrui em tudo o que é necessário para que possamos viver de acordo com a Sua santa, boa, perfeita e agradável vontade (Romanos 12:1,2). Então é por meio da Palavra de Deus que obtemos conhecimento do próprio Deus de modo a sabermos quem Ele é, o que Ele faz e qual é a Sua vontade e propósito. Além disso, é através da Palavra de Deus escrita que conhecemos a Palavra Encarnada: Jesus Cristo, o Filho de Deus (João 1).

O escritor de Hebreus escreve sobre o poder da Palavra de Deus dizendo: 
"Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração" (4:12).
Ao aconselhar Timóteo, o apóstolo Paulo também fala do poder da Palavra de Deus na Escritura ao dizer que ela é capaz de 
"...torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus" (2 Tm 3:15).

A autoridade, a clareza e o poder da Palavra de Deus


Falar do poder da Palavra de Deus é falar da autoridade das Escrituras. É através da Bíblia que hoje podemos ouvir com clareza a voz de Deus. Por isso dizemos que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática. Conforme escreve o apóstolo Paulo em 2 Timóteo 2:16,17.

Então perceba que o apóstolo diz que a Palavra de Deus tem poder para regular a vida do cristão em todos os sentidos. Ela é poderosa para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir na justiça. É pelo poder da Palavra de Deus que o cristão torna-se apto e plenamente preparado para toda boa obra.

O salmista também fala da autoridade da Palavra de Deus como sendo poderosa para ensiná-lo e instruí-lo em todas as coisas, e preservá-lo nas ordenanças do Senhor. Por isso ele declara: 
"Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia! […] Oh! Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais doces do que o mel à minha boca” (Salmo 119:97-103).
Além de a Palavra de Deus ser poderosa e autoritativa, ela também é clara. 

Revelação que leva ao entendimento e à compreensão


Embora haja passagens difíceis de entender na Bíblia, sua mensagem central possui uma clareza extraordinária, de modo que qualquer pessoa, independentemente de seu nível acadêmico, é capaz de compreendê-la. Por esse motivo lemos no livro de Salmos que 
"...os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes..." (Salmo 19:7). 
Em outra parte ainda lemos: 
"A explicação das tuas palavras ilumina e dá discernimento aos símplices" (119:130).
Portanto, a poderosa Palavra de Deus de Deus é inteligível. 

A Bíblia foi escrita de tal modo que todas as coisas necessárias para a nossa salvação, nossa vida cristã e nosso crescimento são muito claramente demonstrada na Escritura. Portanto, todos os ensinos da Bíblia são passíveis de ser entendidos por todos que a leem procurando pela ajuda de Deus e que estão desejosos de recebê-la.

A extensão da autoridade e do poder da Palavra de Deus


A autoridade e o poder da Palavra de Deus se estendem por todo seu conteúdo. É importante entender esse ponto porque algumas pessoas pensam que ao falar da Bíblia como regra de fé e prática, isso significa que ela não tem autoridade em outros assuntos.

É verdade que o objetivo da Bíblia não é ser um compêndio científico ou uma enciclopédia de história. Por isso ela não descreve os eventos com linguagem técnica, mas fenomenológica. Isso, no entanto, não anula a veracidade, a autoridade e o poder da Palavra de Deus conforme registrada em toda Escritura.

Algumas pessoas também alegam que na Bíblia há passagens que parecem não possuir a autoridade divina. O texto de 1 Coríntios 7:12 geralmente é citado nesse sentido. Nele, o apóstolo Paulo diz: 
"Mas, aos outros, digo eu, não o Senhor".
Porém, o próprio contexto dessa passagem revela que esse não é o caso. Na verdade nos versículos anteriores o apóstolo cita diretamente as palavras do Senhor Jesus Cristo
"Todavia, aos casados, mando, não eu, mas o Senhor" (7:10,11).
Então ao dizer no versículo seguinte: "digo eu, não o Senhor", Paulo simplesmente está dando instruções sobre uma situação acerca da qual Jesus não tratou especificamente durante o seu ministério terreno.

Contudo, essa instrução foi inspirada e por isso possui autoridade divina e é digna de confiança (cf. 7:25; 14:37; 1 Tessalonicenses 2:13; 2 Pedro 3:15,16). Por esse motivo ela é colocada ao lado das palavras de Jesus. 
  • Portanto, não existe uma parte da Escritura que possui mais ou menos autoridade que outra. Toda a Bíblia é a Palavra de Deus poderosa, inspirada, infalível, inerrante e autoritativa.

A suficiência da poderosa Palavra de Deus


Algumas pessoas dizem crer no poder da Palavra de Deus, mas rejeitam a autoridade e a suficiência da Bíblia. Outros não chegam a rejeitar a autoridade da Bíblia, mas aceitam outras fontes como autoridades equiparáveis a ela. Isso obviamente é um grande erro! A própria Bíblia é a Palavra de Deus e não há nenhuma outra fonte que nos permita conhecer a Deus de forma especial além dela.

Na Carta aos Hebreus lemos que antigamente Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras através dos profetas, 
"...mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo" (1:2). 
O Filho é o 
"...resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentado todas as coisas por sua palavra poderosa" (1:3).
Aqui alguém pode perguntar: Mas como Deus fala através do Filho hoje? A resposta não pode ser outra se não através da Bíblia. Na mesma Epístola aos Hebreus isso fica muito claro, pois o escritor bíblico cita exaustivamente as Escrituras do Antigo Testamento para falar da divindade, autoridade e superioridade de Cristo.

Em outras palavras, ele basicamente ensina que se hoje alguém quiser ouvir a voz de Deus através do Filho, então deve recorrer às Escrituras, somente a elas. Isso está de acordo com o que o próprio Cristo afirma sobre Si mesmo e sobre o caráter das Escrituras. Ele diz que são as Escrituras que testificam dEle (João 5:39).

Então nunca devemos tentar substituir a Palavra de Deus escrita por qualquer outro padrão de autoridade final. Lamentavelmente muitas pessoas buscam ouvir a voz de Deus de outras fontes e procuram novas revelações e direções além da Bíblia. 
  • Mas a verdadeira Igreja de Cristo possui apenas uma única bússola para guiá-la. A Bíblia é suficiente, é clara, é infalível, é inerrante e é a autoridade suprema de Deus que nos guia em toda verdade – ou melhor, ela mesma é a verdade absoluta (Sl 119:160; Jo 17:17).

Por que devo confiar na Palavra de Deus?


Se você ainda não está convencido do poder que há na Palavra de Deus, este texto é para você. No entanto, se você já conhece o poder vivificante da Palavra de Deus, este texto também é para você, para que o poder se aperfeiçoe nas fraquezas (2 Co 12:9).

Você consegue ver a importância de estarmos dia a dia impregnados da Palavra de Deus? Nosso empenho e esforço em manter disciplina e rotina no conhecimento das Escrituras nunca são em vão, certamente nosso espírito é beneficiado por esse labor, pois, a Palavra de Deus:
A Palavra de Deus é importante porque:

Conclusão


Se a Bíblia é a Palavra de Deus (e ela é!), não podemos tentar melhorá-la ou acrescentar nela outras palavras. Tudo o que Deus decidiu que soubéssemos sobre Ele está revelado em Sua Palavra. Definitivamente Ele não se esqueceu de nada! Então seguramente podemos afirmar que a Palavra de Deus é poderosa e suficiente.

Entretanto, são muitos aqueles que, com seus corações endurecidos, ouvem a Palavra de Deus mas nunca entendem, vêem mas nunca enxergam (Mt 13:13-15; Marcos 8:18). Por isso sabemos que somente aqueles que recebem a iluminação do Espírito Santo é que podem estar convencidos da autoridade e do poder da Palavra de Deus (1 Co).

O que temos feito diante dessa Palavra que é mais doce que o mel à boca (Sl 119:103) e mais valiosa que o ouro refinado (127)? Como temos avaliado nossa vida, tomado decisões, guiado nossa família? Quais são os parâmetros, se não a própria Bíblia? O que tem influenciado as estruturas do nosso coração? Não estou falando de comportamentos, mas o que serve como motor da nossa vida? O Salmo 119 (posteriormente escreverei um artigo especial e específico sobre ele) nos revela que a Bíblia é suficiente para nos avivar, satisfazer e amadurecer espiritualmente.
"Tua Palavra" – Comunidade Evangélica Vila da Penha (solo Aline Barros) – versão original de 1990, a minha preferida, foi faixa do álbum "Tempo de Guerra"


A Deus toda glória. 
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sábado, 25 de julho de 2020

ACONTECIMENTOS — A HISTÓRIA DE LÚCIO FLÁVIO, O "BANDIDO GALÃ" QUE VIROU UM "HERÓI" NA [OU SERIA DA?] DITADURA

Eu já disse em outros textos escritos e publicados aqui no blog, o quanto sou fascinado pelo período histórico da emblemática década de 1970, quando o Brasil viveu o auge dos chamados "anos de chumbo", iniciados no final da década anterior, com a implantação do regime militar, mais especificamente e/ou endurecida com a promulgação do AI-5.

O Ato Institucional nº 5, conhecido usualmente como AI-5, foi um decreto emitido pela Ditadura Militar durante o governo de Artur da Costa e Silva (✩1899/ ✞1969) no dia 13 de dezembro de 1968. O AI-5 é entendido como o marco que inaugurou o período mais sombrio da ditadura e que concluiu uma transição que instaurou de fato um período ditatorial no Brasil.

O livro que virou o filme


Lúcio Flávio: O Passageiro Da Agonia - José Louzeiro - Traça ...Lúcio Flávio O Passageiro da Agonia [cartaz] | Enciclopédia Itaú ...Blog que virou manchete - Panis Cum Ovum: José Louzeiro, o ...
Pois bem, ontem eu revi uma das grandes obras do cinema nacional, o longa "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia", do cineasta Hector Babenco (✩1946/ ✞2016). Lançado em 1977, o longa é baseado no livro-reportagem homônimo (já li também, claro) do escritor José Louzeiro (✩1932/ ✞2017) e foi vencedor de quatro Kikitos de Ouro no Festival de Gramado de 1978 (considerado o Oscar do cinema nacional), nas categorias de Melhor Ator (Reginaldo Farias — que brilha na interpretação do protagonista), Melhor Ator Coadjuvante (Ivan Cândido [✩1931/ ✞2016] — outro que dá um show como o policial corrupto, Bechara), Melhor Fotografia e Melhor Edição. Ao rever esse clássico de uma das melhores fases do cinema brasileiro, me veio a devida (e que não pode ser perdida) inspiração para o texto deste artigo. Espero que gostem.

Até onde pode ir a inversão dos valores?


Não é de hoje que o Brasil tem o péssimo hábito da famigerada inversão de valores. E, ao revisitar a história do bandido sanguinário, Lúcio Flávio Vilar Lírio (✩1946/ ✞1975), a gente vê o quanto esse hábito revela sua face mais grotesca, quando o bandido é "transformado" em herói, com direito até em manifestação de honrarias nos registros sobre sua vida nos anais da história (inclusive, tanto no livro, quanto no filme, esse fato é muito fácil de ser percebido, se intencional, não sei).

Entendendo a inversão de valores


"Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas" (1 Coríntios 6:12).
No mundo contemporâneo, muitos dos valores que foram passados de geração para geração estão se perdendo e nos percebemos em meio a uma sociedade com valores invertidos, onde o certo e o errado se confundem, onde as pessoas desenvolveram a capacidade de aceitar o errado como certo ou simplesmente se omitir a perceber isso e a reagir diante de tais fatos.

A aceitação neste caso não vem para favorecer, mas para contribuir com a deturpação da ética, do conjunto de valores e princípios através do qual decidimos entre o que queremos, o que devemos e o que podemos fazer.

O mais triste diante desta inversão de valores dos dias atuais é que ninguém mais faz as perguntas básicas para discernir o certo do errado: Eu quero, mas eu posso? Eu devo?

As consequências negativas dessa inversão de valores surgem todos os dias


A começar pelos sustentáculos da sociedade que é o lar e a escola. Nos lares temos visto pais e mães que matam filhos, jogam pela janela, jogam crianças no lixo, fazem filhos de refém. Em contrapartida temos filhos que matam os pais, fazem de refém, batem, fazem tortura física e psicológica. 

Se os valores não estivessem invertidos, esses mesmos pais protegeriam seus filhos de todo e qualquer perigo, lhes supriria todas as necessidades de atenção, amor, orientação, cuidados, educação.

Na escola que é o segunda pilar, o segundo sustentáculo, temos alunos agredindo professores e professores batendo em alunos, temos alunos matando colegas, enfim, temos o ambiente parceiro do lar na educação de um indivíduo transformado em um verdadeiro campo de guerra, onde o aluno não está mais seguro por estar em sala de aula e onde o professor perde o foco de educar e passa a agredir. 

Isto posto, de volta ao tema central do artigo, afinal, quem foi o "Passageiro da Agonia", o bandido galã dos olhos verdes? É o que veremos na sequência.

"Passageiro da Agonia"?

"Bandido é bandido, polícia é polícia. Como água e azeite, não se misturam".

À esquerda, o ator Reginaldo Faria na pele do personagem Lúcio Flávio, à direita

Esta é a mais famosa frase de Lúcio Flávio Vilar Lírio. Mas quem foi exatamente este homem que passou quase inteiramente a vida adulta em presídios, principalmente em Dois Rios, Ilha Grande. 

É muito simples dizer que foi um assaltante de bancos, de carros de entrega de mercadorias, de automóveis. Mas há algo de mais complexo na tecitura emocional e vivencial de presidiários. E com Lúcio Flávio não poderia ser diferente. 

Jovem da classe média mineira, nascido em 1944, filho de um funcionário público com uma professora de escola primária, louro, de olhos claros, frequentador de praias durante a juventude no Rio de Janeiro, sempre em grupo de amigos (o típico playboy praiano)..., mas a personalidade estava sendo tecida por fios invisíveis que surgiam de novelos adormecidos nos escaninhos da alma.

Lúcio Flávio nasceu aqui na capital mineira, em 1944, em uma família de classe média, e foi o precursor dos assaltos a banco no Brasil. Altamente articulado e tendo recebido da imprensa a curiosa alcunha de "o mais alto QI da marginalidade carioca", tornou-se o bandido mais famoso da década de 1970 — respeitado pela bandidagem geral, dentro e fora dos sistema prisional , sendo também o mais procurado pela polícia à época. Aos 30 anos, Lúcio já acumulava mais de 30 fugas e quase cem anos de penas de detenção por roubo, assalto — um deles, inclusive, realizado em uma agência bancária que era localizada no centro aqui de Belo Horizonte, na avenida Afonso Pena , assassinato e estelionato.

A trajetória do bandido que virou mito 


A família Vilar teve que se mudar para o Rio de Janeiro com os oito filhos pequenos, se instalando em Benfica e Bonsucesso. Isto após desencontros políticos  não bem esclarecidos  de seu pai com o então PSD que foi extinto na época. Há inclusive relatos de que Lúcio Flavio sentiu-se profundamente frustrado por não poder concorrer a um cargo de vereador no Espírito Santo em razão da negativa de seu pai, que alegava dificuldades financeiras.
"... motivo de sua incursão no mundo marginal teve sua gênese na época da Ditadura Militar no Brasil; em uma festa de casamento comemorada por sua família, alguns policiais do DOPS adentraram em sua residência e propiciaram momentos de constrangimentos, como os vividos pelo seu pai, que teve o rosto introduzido dentro de um bolo, como também, o espancamento de sua mãe; Lúcio, ainda um adolescente à época, foi igualmente vítima de espancamento, essas agressões teriam sido frutos da época em que ele vivia, ou seja, sob a 'mão' pesada do regime militar; como o pai de Lúcio era cabo eleitoral de Juscelino Kubitschek (✩1902/ ✞1956), e por esse motivo não queria informar o paradeiro de Juscelino, ele tornou-se mais uma vítima da opressão daqueles idos; devido a todos esses acontecimentos, aos 18 anos, Lúcio transformou-se em um bandido" [Copiado na íntegra da Wikipédia].

[De] Bandido ou [a] Herói?


O primeiro contato de Lúcio Flávio com o mundo do crime foi em 1968, quando formou com amigos uma quadrilha para roubar carros. Acredita-se que essa iniciativa se deu após sua candidatura a vereador por Vitória (ES) ser interrompida pelo regime militar. 

Mas foi no Rio, morando em Bonsucesso, que se especializou em roubo de carros e assalto a bancos. Liderava uma quadrilha formada pelo irmão mais novo Nijini, o cunhado Fernando C.O. e o amigo Liece de Paula (todos foram mortos). 

Associava-se a policiais e atuava em todo o país. 
"Bandido é bandido, polícia é polícia, como a água e o azeite, não se misturam." 
É por essa frase que Lúcio Flávio é lembrado. Ela foi dita em entrevista à impressa, em sua última prisão, em 1974, aqui em Belo Horizonte. A declaração fazia referência à prática de muitos policiais que participavam do crime organizado ao mesmo tempo em que mantinham seus cargos na polícia. Era uma forma de o criminoso dizer que estes não deviam ser chamados de policiais, só eram bandidos. 

Como dito acima, Lúcio Flávio — que teve um filho com a companheira chamada Janice, que foi o único e grande amor da vida dele — era altamente articulado e considerado o mais alto QI da marginalidade carioca, em doze anos de carreira no crime, com mais de quinhentos processos, quase cem anos de penas de detenção, destacou-se também pelas fugas espetaculares. Ao todo, chegou a escapar de 16 penitenciárias. 
"Sou bandido porque gosto"
dizia sempre perante à Justiça, acostumado a assumir a culpa dos crimes que praticava, um dos motivos, aliás, que o ajudaram a receber o respeito de seus pares. 

A trajetória de Lúcio Flávio no crime organizado, aliada à sua condição de testemunha-chave num processo envolvendo integrantes da própria Polícia e às contradições no depoimento de outras testemunhas importantes foram aspectos extremamente contrastantes às circunstâncias excessivamente banais apresentadas na versão oficial de sua morte. O assassino de Lúcio Flávio logo teria o mesmo destino, assassinado por outro preso, que por sua vez, também seria assassinado dentro da prisão.

O trágico [e ainda obscuro] fim


Foi no complexo prisional Frei Caneca, no Rio de Janeiro, que, com 28 facadas, Lúcio Flávio seria morto por "Marujo", seu companheiro de cela. O assassino alegou legítima defesa. Os dois teriam brigado após uma rodada de carteado. 

Prestes a dar um novo depoimento à Justiça, Lúcio Flávio era a principal testemunha nas investigações sobre as atividades exercidas pelo Esquadrão da Morte no estado. Apesar de sua ligação com o crime, ajudou a desmascarar um grupo de policiais cariocas pertencentes ao Esquadrão da Morte, entre eles Mariel Mariscot (✩1940/ ✞1981), um dos homens de elite na polícia do Rio na época. 

O assassino de Lúcio Flávio logo teria o mesmo destino, assassinado por outro preso, que, por sua vez, também seria assassinado dentro da prisão. 

Assim, Lúcio Flávio ganhou as manchetes dos jornais como personagem ambíguo, característica própria dos anti-heróis. Odiado por muitos, admirado por outros, encarna um pouco da história do país. Sua trajetória narra um período da história do Brasil na perspectiva do submundo, onde se travam as relações de poder fora das narrativas oficiais e onde, evidentemente, se travam as relações de sentidos produzidos pelo senso comum e pelas instituições.

O Esquadrão da Morte  — O crime em nome da lei

O policial bandido (ou seria o bandido policia?) Mariel Mariscot

No final dos anos 60, já no período de Exceção, organizações para-institucionais foram criadas com o suposto propósito de combater o crime. Eram os esquadrões da morte, que marcaram a dura face da realidade urbana das grandes cidades brasileiras, principalmente no Rio de Janeiro. 

Em 1969 foi desbaratada uma quadrilha de ladrões de carros no Rio de Janeiro em que Lúcio Flávio foi identificado como membro. Descobriu-se logo que não era apenas um simples integrante, mas uma das figuras principais, posição que aprofundou após o assassinato do líder da quadrilha Marcos Aquino Vilar.

Queima de arquivo?


Uma facada no pescoço, que seccionou a carótida, vários ferimentos no peito, mataram, na madrugada, o criminoso Lúcio Flávio, 31 anos, na cela 7 da galeria D do presídio Hélio Gomes, no Rio de Janeiro. O assassino, outro detento, Mário Pedro da Silva, alegou legítima defesa. Lúcio Flávio e Mário teriam brigado após uma roda de carteado.


Prestes a dar um novo depoimento à Justiça, Lúcio Flávio era a principal testemunha nas investigações sobre as atividades exercidas pelo Esquadrão da Morte no estado. Com sua ajuda, foram condenados vários policiais, a começar por Mariel Mariscot, acusado por ele de participação no Esquadrão da Morte, e de liderança em outra organização, de estelionato e roubo de automóveis.

Contexto histórico


Conclui-se que o sujeito do discurso Lúcio Flávio inscreve-se na crença de que a marginalidade é fruto da situação do país durante a ditadura e de que é impossível sair do mundo do crime, mesmo que exista esse desejo. Apesar disso, Lúcio é romântico. Esses posicionamentos, essas formações discursivas pelas quais a personagem é atravessada, interpelam o indivíduo tornando-o sujeito. 

A emblemática fala de Lúcio Flávio traz à tona um outro discurso que não o "da lei e da ordem"; um outro discurso que não apenas o da Justiça e suas instituições (tantas vezes injustas); um outro modo de olhar a relação as fronteiras nem sempre bem demarcadas entre Estado e criminalidade. 

Discursivamente, o que temos é a vocalização de sentidos que estavam ali na sociedade e que se encontravam, no entanto, diluídos nas narrativas espontâneas da urbanidade, mas não encontravam espaços em publicações. 

Num contexto em que a contestação da realidade oficial era designada sempre como uma ação subversiva, "O passageiro da agonia" mostra que a própria realidade, longe das escritas oficiais, é muito mais subversiva do que aquela que o jornalismo "objetivo" de referência na época poderia perceber ou narrar.

Conclusão


As diversas formações discursivas que compõe o romance-reportagem em questão produzem sentidos, sustentados por determinadas posições, ou seja, por formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem. Só conseguimos alcançar essas formações ideológicas olhando para Lúcio Flávio como sujeito e, para o livro que conta sua história, como textualidade atravessada por discursos múltiplos. É preciso mapeá-los.

A glamourização do crime já começou naquela época e se estende pelos nossos dias. Colocam Lúcio Flávio como mais uma "vítima da ditadura", como foi Jesse [Woodson] James (✩1847/ ✞1882) , o bandido do velho oeste em que a família foi vítima do progresso das estradas de ferro. 

Mas a verdade é que já se nasce com o perfil criminoso. Para ser sociopata, não se precisa ser vítima de nada. O bandido é a razão em si. Como o próprio Lúcio Flávio (o Noquinha) resumiu: 
"sou bandido porque gosto"
Então senhores, se não fosse a Ditadura, os maus tratos a família etc, o DNA (perfil genético, essência) criminoso de Lúcio Flávio, se manifestaria de outra maneira, nem que seja porque olharam feio pra ele. 

Por mais duro que possa parecer, considerando-se os devidos contextos e circunstâncias (e aqui NÃO HÁ NENHUM TIPO DE COMPARAÇÃO, REGISTRE-SE), o fato é que bandido é bandido porque gosta, prostituta é prostituta porque gosta e político é político porque gosta. Todos têm — ou melhor, todos temos os nossos — o mesmo traço de caráter e a opção por suas próprias escolhas. Ou não?

A Deus toda glória. 
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