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sexta-feira, 31 de março de 2017

O "ARRAIAL DOS SANTOS" EM "PÉ DE GUERRA"

Se você pensa que no meio da comunidade cristã não ocorrem brigas, contendas, divergências, dissensões, facções... seja bem-vindo à vida real: você está integralmente enganado. Contudo,  tal realidade, por mais improvável que pareça e por mais triste que seja: 

  • 1) NÃO desqualifica a importância da comunidade cristã; 
  • 2) NÃO é justificativa para que alguém não queira congregar e; 
  • 3) NÃO diminui em absoluto a autoridade, relevância e importância da igreja institucionalizada que – quer queiram alguns ou não (problema desses) – foi levantada, instituída e é sustentada pelo seu único dono: O SENHOR JESUS CRISTO.  É sobre esse polêmico e espinhoso tema - que, dada a sua extensão, foi dividido em duas partes -, que eu trato à luz das Sagradas Escrituras neste artigo.


Vamos aos fatos



Brigas dentro das comunidades cristãs são comuns. Mais do que deveriam, já que normalmente estão envolvidas pessoas ditas cristãs. Mas infelizmente sempre foi assim na história da Igreja Cristã.

Algumas dessas brigas ficaram famosas, como a do monge Martinho Lutero com o Papa, que levou à Reforma Protestante, "rachando" a Igreja Católica e dando origem à tão aclamada Reforma Protestante. E muitas outras se seguiram, gerando inúmeras divisões no meio do cristianismo – a cada briga mais séria, uma nova denominação cristã acaba por se formar.

No nosso quintal


Aqui no Brasil não tem sido diferente. Praticamente todas as denominações cristãs mais conhecidas, como a Metodista, a Presbiteriana, a Batista e a Assembléia de Deus, dividiram-se várias vezes nos últimos cem anos. A Igreja Universal nasceu como uma dissidência da Igreja de Nova Vida. A Igreja da Graça é uma dissidência da Universal. A Mundial também é uma dissidência da Universal. E assim sucessivamente.

Eu mesmo já fui testemunha ocular de uma dissidência dentro de uma igreja da qual eu fui membro nos idos anos 1990. E essa mesma igreja batista – pelo mesmo motivo: ou seja, brigas internas  –  já havia "gerado" outra anteriormente e, depois dessa dissidência que testemunhei, houve ainda outras.

O fato é que cada divisão deixa um rastro de pessoas feridas – muitas, espiritualmente mortas mesmo. Coisas muito ruins. Mas parece não ser possível evitar que essas coisas aconteçam.

De quem (ou do que) é a culpa?


Algumas pessoas pensam que o erro está em não usar o exemplo da igreja cristã apostólica, aquela que nasceu logo após a ressurreição de Jesus e foi dirigida pelos apóstolos. E numa primeira análise, essa impressão parece ser correta – afinal, naquela comunidade de fé as pessoas tinham até os bens em comum (Atos dos Apóstolos capítulo 4, versículos 32 a 35). 

Mas se estudarmos com mais cuidado o que a Bíblia relata veremos que não foi bem assim: a igreja apostólica teve problemas. Por exemplo, a rivalidade entre os apóstolos começou ainda quando Jesus era vivo. Veja o que a mãe de João e Tiago pediu a Ele (Mateus capítulo 20, versículos 20 a 22).

A mãe dos dois apóstolos pediu a Jesus que desse os lugares de honra no Reino de Deus para seus filhos – deve ter achado que eles mereciam mais do que os outros (sentimento mais que comum em nosso meio, diga-se). E Jesus "colocou a dona pra correr" e respondeu que ela não sabia o que estava pedindo…

Mas a rivalidade não desapareceu, tanto assim que há uma outra passagem falando sobre o mesmo tema. E a questão aflorou numa hora super imprópria – na mesma noite em que Jesus foi preso. Veja o que está dito em Lucas capítulo 22, versículos 24 a 26:
"E houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior. E ele [Jesus, mais uma vez dando "um show"] lhes disse: 'Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve'" (grifo e acréscimo meus).
Jesus precisou intervir para colocar ordem no "arraial", ensinando que o maior seria aquele(a) que se fizesse o(a) menor, isto é que servisse as demais pessoas.


O quiproquó religioso


Depois que Jesus subiu aos céus, quando a igreja apostólica de fato se constituiu, outras questões apareceram.

Os judeus estavam acostumados a se manter separados dos demais povos, tanto por evitar o casamento com pessoas estrangeiras, como por manter costumes (a circuncisão ou a proibição de comer certos alimentos) que reforçavam esse estado de coisas.

Mas o cristianismo rompeu as barreiras do judaísmo:
  • Primeiro, converteram-se os judeus que moravam na Palestina, todos seguidores das práticas da lei judaica. 
  • Depois, vieram judeus moradores de outros territórios, pessoas muito influenciadas pela cultura grega – muitas nem seguiam mais essas leis. 
  • E mais adiante ainda, começaram a se converter os gentios, os não judeus, que encontrarem nos ensinamentos de Jesus a resposta para seus problemas existenciais.

Divisão?

Acabaram se formando dois grupos dentro do cristianismo: os judeus nascidos e criados na Palestina (chamados cristãos judaizantes), seguidores da lei dada por Moisés, e os demais que viviam de acordo com a cultura grega (chamados cristãos gregos). E isso gerou tensões que explodiram em crises. Vejamos dois exemplos:

O primeiro ocorreu ainda na fase da vida da igreja apostólica, em Jerusalém, quando todas as pessoas tinham os bens em comum. Cabia aos apóstolos cuidar do caixa comum e distribuir para as pessoas aquilo que elas precisavam.

Em dado momento, os cristãos gregos se sentiram prejudicados nessa distribuição – pensavam que os apóstolos, por serem todos judeus palestinos, estavam privilegiando quem era como eles (Atos dos Apóstolos capítulo 6, versículos 1 a 5):
"Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os judeus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: 'Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio…' e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia…" (Grifo meu)
Os apóstolos resolveram o problema de forma sábia. Reconheceram que havia uma dificuldade a ser superada – isto é, não fingiram que estava tudo bem (o que, aliás, em vias de regra, é o que é feito na maioria absoluta dos casos) – e disseram para a congregação que não mais cuidariam da distribuição de recursos entre as pessoas. E incentivaram a congregação a escolher sete homens para fazer isso – foi aí que nasceu o papel de diácono.

Foram escolhidas pessoas de origem grega. Ou seja, para demonstrar sua isenção, os apóstolos incentivaram – e aqui, é válido frisar, que usaram a lógica, o raciocínio, sem espiritualizações magníficas – a escolha de pessoas pertencentes ao grupo que estava reclamando. 

Outro exemplo desse mesmo tipo de tensão aconteceu na cidade de Antioquia, onde estavam Pedro e Paulo. E chegou um grupo de cristãos vindos de Jerusalém, cuja comunidade cristã era liderada por Tiago, irmão de Jesus, a maior autoridade entre os cristãos judaizantes.

Até então, Pedro tinha convivido normalmente com os cristãos gregos, aceitando os hábitos de vida deles. Quando os judaizantes chegaram a Antioquia, Pedro estranhamente mudou de comportamento e passou a criticar os hábitos dos cristãos gregos. Paulo ficou bravo e criticou Pedro na frente de todos (Gálatas capítulo 2, versículos 11 a 14).


Conclusão


Brigas nas comunidades de fé são esperadas. Afinal, estão envolvidos seres humanos débeis, limitados, imperfeitos, passíveis de raiva, inveja, ciúmes, orgulho, etc. 

Mas o exemplo da Bíblia, embora não seja, como muitas pessoas parecem pensar, o de comunidades sem problemas, demonstra que sim é possível superar as dificuldades sem levar a rupturas.

O exemplo da Bíblia é justamente o de como resolver de forma inteligente e com sabedoria as tensões que sempre acabam surgindo dentro das comunidades de fé, por essa ou aquela razão. 

Jesus ensinou que a grandeza dentro das comunidades de fé está relacionada com a humildade e a capacidade de servir. Os(as) maiores são aqueles(as) que mais servem e se dedicam à obra de Deus e não quem ocupa cargos importantes.

Sei que não é essa a realidade que vemos hoje dentro das denominações, mas foi isso que Jesus ensinou e penso que aí está a chave para resolver muitos problemas. O ponto de partida.

Depois, é preciso que os(as) líderes tenham sensibilidade para entender as demandas dos membros das comunidades de fé. Por exemplo, é claro que os apóstolos não estavam prejudicando os cristãos gregos na distribuição de alimentos e roupas, mas mesmo assim foram sensíveis às reclamações e indicaram diáconos, reduzindo a tensão.

Muitos(as) líderes, quando percebem que os membros da comunidade cometem injustiças contra seu ministério, retaliam: isolam ou até expulsam essas pessoas. Não foi esse o exemplo que os apóstolos deram. 

Finalmente, não importa a posição e os prestígio da pessoa dentro da comunidade de fé. Se sua atitude estiver errada, ela precisa ser advertida e chamada a mudar de comportamento.

Repare que Paulo, quando estava em Antioquia, enfrentou ninguém menos do que Pedro, considerado por quase todos os cristãos como o líder dos apóstolos. E Paulo não hesitou em criticar Pedro na frente de todos – mais adiante, foi possível Pedro e Paulo chegarem a um acordo, juntamente com Tiago, no chamado Primeiro Concílio da Igreja Cristã, ocorrido em Jerusalém (Atos dos Apóstolos capítulo 15).

Sobretudo, o exemplo que temos da Bíblia, é que as dificuldades devem ser resolvidas sem gerar divisões ou feridas espirituais sérias nas pessoas. Sempre com espírito de humildade e amor ao próximo. E esse é o exemplo que precisamos aprender a imitar. 

Prosseguimos com o assunto na segunda parte desse artigo que você pode ler aqui.

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