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quarta-feira, 22 de março de 2017

DISCOS QUE EU OUVI - 28: OFICINA G3 - "ALÉM DO QUE OS OLHOS PODEM VER"

O ano era 2005 (e lá se vão 12 anos!), depois da conturbada saída do vocalista PG, que coincidentemente ou não, trouxe com ele uma época de álbuns mornos e açucarados em excesso por parte do grupo, a impressão que "Além do Que os Olhos Podem Ver" deixa é que o Oficina G3 estava ávido por demonstrar seu verdadeiro talento. 

Finalmente, a banda de maior expressão no rock cristão brasileiro voltava a fazer um trabalho digno do respeito que conquistou tanto no meio evangélico quanto no secular. O Oficina G3, que à época andava por caminhos tortuosos, reencontrava neste disco a veia rock que desde os tempos do "Indiferença" não soava tão inspirada.


Aumenta que isso aí é rock and roll


E o retorno foi em grande estilo. Além de trazer músicas com arranjos complexos e de bom gosto, o trio (depois da saída do vocalista PG a banda continuou apenas com os outros três integrantes) também presenteia os ouvintes com a volta da poética nas suas letras. E não há melhor resposta para seu recente passado enfadonho do que a trinca de abertura: "Mais Alto", "Réu ou Juiz" e "Meu Legado" trazem tudo que andava escondido, externado com timidez, e os coloca na linha de frente.

Há grandes passagens de prog-rock (utilizando os recursos eletrônicos com a competência comum ao segmento) e generosas doses de hard rock sem perder a típica aura pop que ainda assim vem renovada.

E quando "Através da Porta" mantém este ritmo up-tempo técnico/agressivo é que tens plena certeza de que as coisas não irão desandar novamente, enquanto a faixa-título é uma ótima power-ballad. O exercício constante de bom gosto continua com "A Lição" e "O Fim é só o Começo", climas quase psicodélicos/bluezzísticos permeados por um sentimentalismo consciente e linhas vocais marcantes.

Grooves incomuns e a contributiva participação do violino em "Amanhã", solos feeling-virtuosos como o de "De Olhos Fechados” e o ótimo dueto entre Juninho e Marcão (ex-Fruto Sagrado) em "Sem Trégua" - valorizado por se tratar de uma das melhores faixas do álbum - são apenas alguns exemplos dentre várias composições dotadas de arranjos inspirados e harmonias belíssimas aos ouvidos. 


Canta, Juninho


Juninho Afram toma a responsabilidade de assumir os vocais com tranquilidade e exala competência, apresentando também um de seus melhores desempenhos nas seis cordas, sendo que o longínquo entrosamento com Duca e Jean obviamente é traduzido em músicas de interpretações soberbas. 

Nada de estrelismos, exagero, falta de bom senso, "Além do Que os Olhos Podem Ver" é um álbum que não perde o fôlego em seus 49 minutos de duração. Retrato de uma banda que além de resgatar seu passado buscava novas sonoridades.

As letras de conteúdo espirituais estão mais apuradas e exibem grande nexo com a realidade, trazendo percepções puramente reflexivas. Até a arte gráfica foge do modorrento padrão utilizado de forma incansável anteriormente.


Mas vamos ao faixa faixa


A primeira faixa é uma Intro um tanto estranha (apenas cachorros latindo). 

Já na segunda faixa "Mais Alto" o Oficina mostra a que veio. O riff furioso, a bateria firme e um vocal harmonioso e bem colocado fazem dessa faixa uma das melhores já gravadas pela banda.

"Réu ou Juiz" mantém a fórmula, para alegria dos fãs mais antigos da banda. A participação dos teclados nessa faixa é um belo presente a todos aqueles que sabem do talento de Jean Carllos, que nunca apareceu tanto como nesse disco.

Esperando uma balada? Errado! Diferente dos discos anteriores, da era PG, em que a terceira música é uma balada, o Oficina G3 vem com a bombástica "Meu Legado". Bem progressiva e com uma ótima letra, a banda convence até os mais céticos do talento que possuem os seus integrantes. Belos solos de teclado, baixo e guitarra.

E a balada? Ainda não. Quem quer ouvir balada que ouça o "Humanos" ou "O tempo". A quinta faixa "Através da Porta" é mais cadenciada que as primeiras, mas ainda é rock do melhor tipo. A bela participação de Jean durante toda a música e riffs maravilhosos de Juninho são o destaque dessa canção.

A faixa-título - "Além do Que Os Olhos Podem Ver" - começa com uma bela introdução e se transforma em uma balada que pode assustar aqueles que não curtiam o cd "Humanos". Mas logo a distorção, o teclado que soa como uma orquestra e a bateria te levam "além do que os teus olhos podem ver".

O destaque de "A lição" fica por conta da bateria e do baixo que têm um importante papel na levada da música.

"O Fim é Só o Começo" tem a participação de Déio Tambasco, ex-Katsbarnéia e irmão do baixista Duca. É uma música mais lenta, com frases de blues tocadas por Déio durante toda a canção.

A primeira "balada balada" do cd é "Lugar Melhor". Bonita, bem cantada por Juninho e com um refrão pesado (como não poderia deixar de ser), essa música é a que mostra mais traços da fase PG, foi a música de trabalho e que ganhou até clipe da MK Music.

"Amanhã" é uma das músicas mais bonitas. Possui um belo arranjo de cordas e a participação incrível de Luiz Fernando. Excelente.

Em "Sem Trégua" o disco volta a ser mais metal, como nas primeiras músicas. Furiosa e musicalmente lírica. Destaque para a participação de Marcão (ex-Fruto Sagrado) no vocal.

Não se assuste com o sampler em "De Olhos Fechados". A música é ótima, e as partes eletrônicas não roubam a cena, apenas enriquecem a faixa que está entre as melhores do disco. Um solo a lá Steve Morse mostra o talento de Juninho.

"Ver Acontecer" é uma boa música com uma letra de crítica política e social. Mantém o excelente nível do disco e possui belos solos de Jean e Juninho.

A última música "Queria Te Dizer" é mais uma balada. É diferente das antigas baladas da banda. Tem mais elementos eletrônicos. É muito bonita e com uma letra muito profunda.


Conclusão


Esse é com certeza o disco que vêm de encontro àqueles fãs que esperavam um álbum do nível do incrível "Indiferença". Os três músicos estão soando muito bem, com belos solos de todos e muito entrosamento (PG não fez a menor falta). Começaram a recuperar o tempo perdido magistralmente, produziram não só o então melhor trabalho da banda como de toda a história do rock cristão brasileiro e também um álbum singular para o BRock contemporâneo, qualidade e equilíbrio em evidência, prestígio em ascensão, musicalidade de volta aos trilhos. Caminho que os recolocou na vanguarda e que os levou fatalmente ao inegável reconhecimento nacional. Se você é fã do Oficina G3, ouça sem medo de ser feliz e pode bater a cabeça à vontade.

  • Juninho Afram - Guitarra e Vocal
  • Jean Carllos - Teclado
  • Duca Tambasco - Baixo
  • Luiz Fernando - Bateria

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