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segunda-feira, 1 de junho de 2015

ORAR, CONFIAR OU SE MANIFESTAR?

Vimos recentemente o Brasil sendo invadido por uma onda de manifestações populares – movimentos que eclodiram em junho de 2013, quando tiveram seu ápice – às quais, motivadas por vários setores da sociedade, passaram a chamar a atenção das autoridades brasileiras por mais investimentos e melhores prestação de serviços públicos nas mais diversas áreas, entre elas as principais: contra a corrupção, por melhor transporte, educação, saúde e segurança. Mas, afinal, qual deve ser o posicionamento do cristão nesse cenário? Nesse artigo tento traçar o equilíbrio necessário, buscando respaldo, obviamente, à luz das Escrituras, nossa regra de fé e de prática.

O Brasil dos brasileiros para inglês ver


Ano passado, quando nos preparativos para realização da Copa do Mundo, a bem da verdade, foi exagerada a imagem veiculada mundo a fora, de um paraíso chamado Brasil, em nítido contraponto com a dura realidade e as necessidades de um povo que luta diariamente para sobreviver ao descaso do serviço público, mormente nas áreas que aqui mencionamos, por outro lado, há de se convir que a falta de organização e comando nas manifestações, assim como o vandalismo que se infiltrou, aliado a proliferação dos temas, prejudicaram parcialmente o foco e a objetividade dos movimentos.

A manifestação popular é legítima ferramenta da democracia, e o governo de plantão sabe muito bem disso, mas o que aqui registro e também quero refletir, é a baderna e o espírito de vandalismo que acaba se infiltrando e tiram proveito dos movimentos, depredando e danificando o patrimônio público e privado, saqueando lojas, incendiando ônibus e viaturas, trazendo total desconforto a todos. 

Essas atitudes trouxeram perplexidade, angústia, medo e insegurança à nação como um todo, inclusive à maioria dos manifestantes, os quais de uma hora para outra se viram em meio a um movimento estranho não projetado. Aqui em Belo Horizonte, cenas estarrecedoras de depredação de bens públicos e privados ao longo da avenida Presidente Antônio Carlos, um dos principais corredores viários da capital mineira, chocaram a população. Por aqui, tivemos ainda o triste saldo da morte de dois jovens, durante os eventos.  E o cinegrafista da Band, Santiago Ilídio Andrade, morto aos 49 anos, ao ser atingido na cabeça por um rojão lançado por manifestantes no Rio de Janeiro? Será que alguém mais além de mim ainda se lembra desses fatos?

À César o que é de César...


A manifestação popular é um direito líquido e certo do cidadão que vive em um estado democrático, porém, tais movimentos não podem tolher o direito de ir e vir dos demais cidadãos não participantes. Vale aqui a máxima: “O direito de um cidadão termina quando começa o do outro”. Assim como os manifestantes, muitos outros também não estão satisfeitos com a situação, mas por decisão própria reagem de maneira diferente, e isso merece respeito.

Se uma manifestação atrapalha o direito de outrem trabalhar, estudar ou simplesmente se movimentar livremente, como acontece quando manifestantes paralisam o trânsito, que dirá quando se depreda e deprecia o patrimônio público que pertence a todos, e pior ainda o particular e privado, trazendo pequenos ou grandes prejuízos pecuniários a quem quer que seja. A princípio me parece que a dose foi exagerada, e se a maioria dos manifestantes nada teve a ver com tais atitudes, com certeza foi prejudicada pela infiltração de uma minoria mal intencionada. Mas, afinal,...

É lícito ao cristão participar de manifestações populares?


Volto agora para a realidade cristã que é o meu foco. Como podemos analisar do ponto de vista bíblico, um cristão participando de um movimento que promove desenfreada insurreição, prejuízos e danos materiais ao próximo? Porventura seria isso um “bom testemunho” ou uma ação qualificada como “boas obras”, para quem foi chamado para ser “Sal da terra e luz do mundo?” (Mateus 5.13-14)

Por outro lado, seria uma boa associação para um cristão, estar aliado a outros que tumultuam, denigrem e imprimem prejuízos a terceiros? Onde fica o conselho bíblico de que “o cristão deve se afastar da roda dos escarnecedores?” (Salmos 1:1). A turba por tradição age no ímpeto do seu instinto, sem o menor senso de equilíbrio e moderação. A Bíblia diz: "Os homens escarnecedores alvoroçam a cidade, mas os sábios desviam a ira" – Provérbios 29:8.

A multidão esconde o rosto e a individualidade das pessoas, induzindo aqueles que estão agrupados em meio à massa humana, a ações que jamais teriam coragem, a não ser se estiverem sob a sombra do anonimato.

Recentemente a imprensa divulgou amplamente, o arrependimento declarado de um jovem de classe média, flagrado e reconhecido graças às câmaras de segurança, quando a multidão enfurecida depredava e tentava invadir a todo custo a prefeitura de São Paulo. O “leão enfurecido” se tornou uma “ovelha arrependida” quando do seu depoimento, assumindo seu erro, inclusive prometendo trabalhar para reparar os danos causados. 

Não bastasse isso, outro flagrante desrespeito aos princípios bíblicos, é o enfrentamento com a polícia, que no caso representa a força do estado, e portanto as autoridades legitimamente eleitas por nós e constituídas por Deus. A Bíblia diz claramente que devemos orar pelas autoridades e nos submetermos a ela e se falharmos descumprindo as leis, estamos sujeitos à repressão imposta.

Bem, entendo que para um cristão verdadeiro, as manifestações populares também são legítimas, porém, até o ponto que sejam pacíficas e não atrapalhem ou infrinjam constrangimentos e ou prejuízos aos demais cidadãos que gozam dos mesmos direitos dos manifestantes, e nem mesmo ao patrimônio público, uma conquista de toda a sociedade. Se as manifestações pacíficas e sem os exageros aqui destacados, forem insuficientes para chamar a atenção e mexer com a sensibilidade das autoridades, de forma que se conscientizem de seus erros, ainda assim, o enfrentamento do ponto de vista bíblico e cristão não é recomendado (Isaías 1:17).

Se manifestando através da oração


Agora, temos sim uma ferramenta eficaz que é a oração do povo de Deus, o que também é uma ordenança bíblica, até a realização das próximas eleições. Chegando lá, nosso voto é a ferramenta mais legítima, coerente e democrática. Será uma espécie de instância maior, à qual os políticos de plantão terão que se render.

Entretanto, é necessário que as autoridades não confundam bom testemunho cristão com alienação ou acomodação. Para tanto, os cidadãos cristãos, tem todo o direito de se utilizarem das ferramentas legais existentes, através das instituições de fiscalização, como o Ministério Público, tribunais de conta e de justiça, os quais estão à disposição de todos e, em última instância, o cristão não deve esquecer que, numa democracia, o voto é o benevolente fiador que avaliza e torna acessível aos políticos, os palácios do executivo e as cobiçadas cadeiras do legislativo, mas ao mesmo tempo, o gatilho que ameaça e, se disparado, assina a “sentença de despejo” dos “inquilinos do poder” que se manifestam como corruptos, incompetentes e irresponsáveis para com o povo.

Ao cristão, a Palavra de Deus recomenda equilíbrio em todas as coisas: “Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor.” Filipenses 4:5.

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