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domingo, 22 de setembro de 2019

ESPECIAL - O CRISTÃO E A DEPRESSÃO

Depressão é uma doença tida como o mal do século 21, é uma doença física que está relacionada ao desequilíbrio químico dos neurotransmissores e requer atendimento psiquiátrico adequado. E como qualquer outra doença, não tratada o quadro pode se agravar. 

No sentido patológico, os sintomas mais conhecidos são relacionados à tristeza, isolamento, pessimismo e baixa auto-estima, que aparecem com frequência e podem ser combinados entre si. 

A intenção aqui, não é falar da depressão como uma patologia propriamente, pois não sou psicólogo e nem psiquiatra, mas sim exortar as pessoas, especialmente aos cristãos, que muitas das vezes, acham que depressão é uma frescura ou algum tipo de possessão ou desculpa para os problemas. 

Encarando o problema de frente 


Tendo-se como primazia a necessidade de líderes religiosos e profissionais da área de saúde possuírem a devida capacitação para agirem de forma preventiva e promocional, torna-se evidente a necessidade de uma busca contínua em conhecimento baseado também em pressupostos teóricos e/ou científicos, capaz de oferecer subsídios para toda a população, incluindo aqueles sujeitos que se encontram abarcados pelo cárcere da depressão dentro de instituições cristãs evangélicas e católicas. 

Em nossa vida cotidiana, infelizmente muitas das vezes, temos que ser ou demonstrar aquilo que nós não somos, temos nossas máscaras e no meio cristão, especialmente nos mais ativos em suas comunidades é muito comum as pessoas se demonstrarem quase que inabaláveis perante a comunidade. 

Depressão não é frescura 


Estima-se que cerca de 30% da população mundial tenha esse mal, ou seja, de cada dez pessoas, três tem esse problema - e já caiu por terra a ideia estapafúrdia de que "depressão é doença de rico", pois essa doença não escolhe gênero, raça, religião ou condição sócio-financeira. Portanto, esteja atento a sua família, pois certamente existe algum membro dela que a tenha - ou, alguma dia, pode vir a ter. 

Certamente, a pergunta mais comum nos consultórios é "tem cura?", bom, como disse no início do texto prefiro não entrar no mérito clínico de ter ou não ter cura, pois isso é bastante debatido, uma vez que alguns dizem que sim, outros dizem que não. No campo espiritual eu digo que sim, há cura! Para Deus não existe impossível, nenhuma doença, nem mesmo a morte. 

A depressão é uma enfermidade classificada pelo CID 10 (CID 10, 1993) na categoria dos transtornos de humor e deve ser considerada uma doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a mesma é a 2ª doença mais incapacitante do mundo. Ainda assim, pode-se verificar a presença de interpretações primitivas, pré-psicológicas e pré-psiquiátricas sobre a concepção da mesma entre os cristãos evangélicos. 

Em sua grande maioria, senão todas as vezes, a doença em questão é atribuída como sendo somente causa do pecado, manifestação de punições divinas e/ou possessão de demônios. 

Jesus deprimido? 


Todavia, a influência do psiquismo em líderes cristãos evangélicos, pode ser observada desde os primeiros líderes religiosos: 
"Tomado de angústia, Jesus orava com mais insistência. Seu suor se tornou como gotas de sangue, que caíam no chão" (Lucas 22:44). 
O versículo acima é aceito pela doutrina cristã evangélica, onde descreve a situação emocional de Jesus Cristo, no período que antecedeu a sua prisão, julgamentos, torturas e posteriormente sua crucificação. Seu nível de estresse se elevou de maneira tão elevada que o mesmo sofreu de um fenômeno denominado "Hematidrose", caracterizado pelo rompimento de pequenos vasos sanguíneos alocados sob as glândulas sudoríparas, tendo-se a liberação de sangue por meio dos poros juntamente com o suor. 

Padre Marcelo Rossi e o fantasma da depressão 


Recentemente, um dos maiores nomes da Igreja Católica do Brasil, o padre-cantor Marcelo Rossi passou por esse problema e corajosamente admitiu e buscou tratamento. Na ocasião houve surpresa por parte de muitos e até mesmo escândalos por parte de outros. As pessoas questionavam "como assim um padre com depressão?", "Padre Marcelo Rossi com depressão?", outras ainda não muito simpáticas a figura do padre e da Igreja Católica "se fosse homem de Deus de verdade não teria isso" ou algo como "ele virou artista, não é mais padre! Depressão é frescura"

O primeiro passo para se resolver qualquer problema é reconhecer que ele existe. Foi isso que o corajoso padre Marcelo Rossi fez, reconheceu o problema. Ele é padre, mas é humano assim como eu e você, ele é padre, mas não é super herói, ele é alguém com suas limitações humanas assim como eu você. E te digo com toda certeza, ele não é o único padre com esse problema, nem padre, nem pastor e nem missionário. 

Pastores deprimidos 


Recentemente, casos de pastores que cometeram suicídio trouxeram à tona um grave problema, que por muito tempo ficou oculto nas fileiras evangélicas: a depressão, pois, em todos os casos de suicídios de pastores registrados no Brasil e no exterior, havia um histórico pregresso de depressão. 

Tendo-se em vista este fato, torna-se relevante pensar na conscientização e formação inicial e continuada de profissionais e líderes religiosos, buscando-se a devida concepção sobre a doença em questão, fomentando, assim, a urgente necessidade de se enfrentar indicadores tão altos de sujeitos imersos em sofrimento psíquico, que em sua grande maioria se tornam incapazes de procurarem o devido tratamento por tamanho preconceito velado sobre doenças e/ou transtornos mentais ainda existente no século XXI, em específico, dentre os cristãos evangélicos. Deste modo, torna-se evidente a necessidade de um aprofundamento sobre esta questão. 

Uma pesquisa realizada por Pérsio Gomes de Deus com 50 (cinquenta) prontuários de pacientes religiosos na região Sul de São Paulo, imersos na depressão, apresentou, de forma sintética, os seguintes resultados: 
a) Em sua grande maioria, os cristãos aqui pesquisados não enxergam a depressão como doença; antes, a compreendem como problema espiritual. 
b) A totalidade dos pentecostais e neopentecostais desta amostragem atribuem a causa da doença a problemas espirituais; em sua esmagadora maioria, diretamente ligadas à ação do demônio (100% dentro da amostra). 
c) Dentre os cristãos históricos representados neste estudo, mais da metade referiu como causa para a depressão a problemas espirituais (pecado, falta de fé); o restante referiu causas devidas a estresse profissional, problemas conjugais, hereditariedade e também desconhecimento da causa – mesmos estes tiveram dificuldade na procura por tratamento especializado. 
d) Esta dificuldade em compreender a depressão enquanto doença causou prejuízo quanto à procura por tratamento especializado e consequente alívio da doença e das limitações por ela imposta. 
e) A doença depressiva, verificada neste levantamento, pôde causar comprometimento da fé no sentido de seu enfraquecimento. Houve influência positiva da fé quanto aos resultados dos tratamentos (92% desta amostra). 
f) Porcentagem significativa de religiosos (pastores), na amostra, apresenta particularidades que necessitam mais estudos para melhor compreensão dos dados encontrados. 

Sintomas da depressão 


Apesar de a depressão ser bastante complexa e distinta - ou seja, varia de pessoa para pessoa -, alguns sintomas são comuns em todos os casos da doença e é sempre bom a gente revê-los: 
  • Cansaço ou fadiga - A psicóloga e psicanalista Priscila Gasparini Fernandes, da Universidade de São Paulo (USP), explica que 
"a falta da produção adequada dos neurotransmissores serotonina, noradrenalina e dopamina gera uma prostração muito grande em pacientes"
provocando fraqueza, cansaço, desânimo e falta de iniciativa para qualquer atividade. 
  • Distúrbios do sono - Ou o paciente dorme demais, buscando no sono uma fuga da realidade, ou não consegue dormir, porque não é capaz de se desligar dos problemas que o levaram à depressão. O resultado é um sono de má qualidade. O paciente não descansa o necessário, daí a piora no rendimento em suas atividades. 
  • Problemas digestivos - A depressão envolve a diminuição de produção dos neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina, que são responsáveis pela modulação da dor e pelo equilíbrio emocional. Por isso, o paciente apresenta maior sensibilidade à dor gastrointestinal, muito comum em quadros depressivos. 
  • Mudanças no apetite e no peso - A depressão altera o apetite, seja para a falta, seja para o excesso, provocando perda ou ganho de peso de acordo com cada indivíduo. É necessário observar o comportamento anormal e buscar ajuda para o adequado diagnóstico e tratamento. É possível que o quadro seja de anorexia ou bulimia, diferentes da depressão, mas capazes de levar a ela. 
  • Dor de cabeça - O indivíduo com depressão acumula sintomas emocionais, frustrações, medos e inseguranças e os descarrega no corpo, somatizando-os, afirma a psicóloga Priscila. Daí as dores de cabeça. É um processo inconsciente: o individuo não tem controle sobre isso. É preciso procurar ajuda profissional. 
  • Tensão na nuca e nos ombros - Em decorrência da somatização, o paciente depressivo fica em constante estado de alerta, ansiedade e nervosismo, o que se reflete na tensão da musculatura, principalmente da nuca e dos ombros. 
  • Dores generalizadas - O corpo todo apresenta sensação de dor, mas as costas e o peito são os mais afetados. É que o cansaço próprio da depressão compromete a postura física do paciente, piorando a tensão e as dores musculares. A falta de atividades físicas agrava ainda mais o quadro. 
A pessoa com depressão se sente mal, física e mentalmente, o que pode interferir na imunidade. Ocorre uma liberação descontrolada de hormônios quando não estamos bem emocionalmente, afetando as células de defesa.

Conclusão 


Nós cristãos, precisamos tirar nossas máscaras! Pararmos de querer mostrar aos outros o que não somos, parar de querer mostrar aos outros que somos super-heróis, que somos de aço, que somos uma fortaleza. Mesmo com comunhão diária e vida de oração, ainda assim somos humanos e podemos ficar doentes, podemos ficar tristes e desanimados. Isso é humano meu irmão e minha irmã, o que não podemos é deixar que isso seja maior que nós! 

É importante que não se exclua a influência de fatores espirituais na gênese da doença depressiva, mas é necessário, também, que se tenha uma compreensão integralizadora da mesma, levando-se em consideração, também, os fatores biológicos, genéticos, cognitivo, social, histórico, pessoal e econômico, para que então, se consiga criar o suporte necessário para libertar os sujeitos deste cárcere. 

Os números da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstram de forma nítida que a depressão irá se alastrar de forma exacerbada e que em 2030, ela será sozinha a maior causa de perdas entre todos os problemas de saúde, sendo mais comum do que outras doenças que são mais temidas pela população. Deste modo, pode-se questionar: será que os profissionais, em específicos, líderes cristãos evangélicos estão preparados para enfrentar tamanhos indicadores? 

A Deus toda glória. 
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