Em 19 de abril de 2017, o calendário simbólico brasileiro registrou os 20 anos da morte de Galdino Jesus dos Santos, o Galdino Pataxó. Natural da Bahia (✞1952), ele foi brutalmente assassinado em Brasília/DF, em 20 de abril de 1997.
Quem foi o índio que se tornou um mártir das causas indígenas
Da etnia pataxó-hã-hã-hãe, estava em Brasília por ocasião das comemorações do Dia do Índio, em 1997, e, com outras sete lideranças indígenas, levava suas reivindicações acerca da recuperação da Terra Indígena Caramuru-Paraguaçu, em conflito fundiário com fazendeiros da região (sul da Bahia).
Depois de ter participado de reuniões com o então presidente Fernando Henrique Cardoso e com outras autoridades, com representantes de movimentos sociais de luta pela terra, entre eles o MST, por ser já muito tarde, não pôde entrar na pensão onde estava hospedado e resolveu dormir num abrigo de ponto de ônibus na avenida W3, Quadra 704 Sul - no centro da capital federal.
O caso, os autores
"Foi só brincadeira..." (?)
Na madrugada, cinco jovens brasilienses de classe média atearam fogo enquanto ele dormia. Galdino morreu horas depois em consequência das queimaduras. Em sua defesa, durante o julgamento, os acusados disseram que o objetivo era "dar um susto" em Galdino e fazer uma "brincadeira" para que ele se levantasse e corresse atrás deles. Um dos rapazes disse à imprensa que ele e seus amigos haviam achado que Galdino era um mendigo e que, por isso, haviam decidido "fazer a brincadeira".
Memorial
A população de todo o Brasil repudiou essa bárbara manifestação de intolerância, com atos públicos em Brasília, no local do crime, que foi ressignificado como Praça do Compromisso, localizada entre as quadras 703/704 da Asa Sul. Nela existem hoje duas esculturas (acima) que lembram o evento: uma delas retrata uma pessoa em chamas e a outra representa uma pomba, o símbolo da paz. As duas esculturas foram criadas por Siron Franco, cuja obra artística está definitivamente ligada à temática dos direitos humanos.
Reflexão sobre intolerância
O índio Galdino teve 90% do corpo queimado |
Tempos de intolerância, na política e nas relações sociais, subjugam a convivência a hierarquias e a exclusões que desumanizam. Aprofundam o fosso que torna irreconhecível, no outro, a sua dignidade e o direito de reconhecimento de suas aspirações de acesso aos bens vitais e ao exercício compartilhado da função política.
São tempos dramáticos, de enormes sofrimentos, de retração de expectativas, de escassez de carisma para a busca de superação dessas condições. Poucos políticos, no Brasil e no mundo, têm reconhecimento para exercer esse papel. As militâncias extremas - quer seja de direita ou de esquerda - e toda sua manifestação de estupidez, são a plateia que em coro uníssono vocifera suas bravatas no tom desafinado de suas ideologias - ou seriam conveniências?
Sob a égide da oposição, não suportam e não aceitam o contraditório, vendo em quem pense diferente não a possibilidade de extensão dos debates em busca de algo que seja comum a todos, mas sim um inimigo que deve ser abatido a ferro e fogo para que possam impor suas verdades. E nos dias atuais, as mídias digitais ampliaram ainda mais a extensão dessa arena onde diariamente pessoas públicas ou anônimas se enfrentam.
O que aconteceu aos criminosos?
Justiça?
Os autores foram logo identificados e presos: Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves Oliveira, Antônio Novély Vilanova, Max Rogério Alves e Gutenberg Nader Almeida Junior, o único menor de idade na época. Todos foram presos e condenados a 14 anos por homicídio triplamente qualificado. O menor cumpriu 4 meses de medida socioeducativa. O julgamento mobilizou o país e chamou a atenção pelos criminosos serem de famílias influentes e com alto poder aquisitivo em Brasília.
Pela gravidade do crime, os detentos não poderiam ter acesso a vários benefícios da lei, mas, já no ano seguinte, receberam autorização para exercer funções administrativas em órgãos públicos. Três dos rapazes chegaram a ser flagrados pela imprensa bebendo em um bar e voltando para o presídio em seus próprios carros, sem nenhum tipo de revista. Em 2004, eles ganharam liberdade condicional, o que gerou muita polêmica em todo o Brasil. E o que aconteceu com os criminosos nos anos seguintes?
Todos foram aprovados em concursos públicos.
- Tomás Oliveira é técnico legislativo no Senado Federal.
- Eron Chaves é agente do Detran-DF.
- Antônio Novély é servidor da Secretaria de Saúde do DF.
- Max Rogério entrou para o TJDF e, atualmente, trabalha em um escritório de advocacia particular.
- Gutenberg Náder foi aprovado para a Polícia Civil do DF em 2014, mas terminou rejeitado na análise de vida pregressa feita pela instituição. No ano passado, passou no concurso da Polícia Rodoviária Federal e hoje é agente da corporação.
Conclusão
Em 20 de abril de 2017, às 18h, na Praça do Compromisso, via W-3 Sul, em Brasília, aconteceu um Ato Inter-religioso em memória dos 20 anos sem Galdino Jesus dos Santos. Promoveram o ato o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), o Fórum Ecumênico ACT – Brasil, a Rede Ecumênica da Juventude, a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília (CJP-DF), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP).
Estiveram presentes povos indígenas que fizeram a dança ritual em homenagem a Galdino, houve declamação de poesias, testemunhos, reflexões sobre o ódio enfrentado pelos indígenas brasileiros. O momento também foi para reforçar a denúncia da violação dos direitos constitucionais e originários dos indígenas, bem como as políticas anti-indígenas do Estado brasileiro. Essa é mais uma daquelas histórias que mancham com o vermelho do sangue o verde, amarelo, azul-anil da bandeira do nosso amado Brasil.
[Fonte: Metrópoles]
A Deus, toda glória.
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E nem 1% religioso.
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