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sábado, 31 de agosto de 2019

PENA DE MORTE: JUSTIÇA OU VINGANÇA?


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  • Não tenho com este presente artigo a mínima pretensão de posar como "dono da verdade" e muito menos trazer uma palavra final sobre o tema que é assaz complexo. Meu intuito é, com base em pesquisas realizadas, propor uma reflexão acerca do assunto, tendo como viés, obviamente, os princípios regidos pela Bíblia Sagrada, a Carta Magna de Deus aos seus seguidores, que é absoluta e não está submissa a conceitos pessoais de justiça (João 14:20-25).
Que a criminalidade no Brasil grassa num galope incontrolável é fato. Diariamente somos surpreendidos com o registro de crimes cada vez com mais requintes de crueldade em todo o país. E a violência é bem democrática, não faz nenhum tipo de distinção. Ou seja, qualquer um de nós está susceptível a ser uma próxima vítima em potencial. 

Na mesma medida em que se cresce os números da violência, mais se discute a deficiência dos órgãos responsáveis pela segurança pública e aumenta o sentimento de impunidade. Com uma legislação flexível, cheia de benefícios e de brechas que favorecem os criminosos, a falta de uma melhor - e/ou uma má - distribuição de renda para o investimento em políticas públicas de segurança, somada à crise no sistema carcerário, têm levantado uma questão um tanto quanto polêmica: seria a pena de morte uma solução para combater o alto índice de criminalidade no Brasil? Qual o posicionamento da comunidade cristã diante dessa polêmica?

Saindo de cima do muro


Mais da metade dos brasileiros apoia a pena de morte. É o mais alto índice desde 1991, quando o Instituto de Pesquisa Datafolha passou a incluir o tema em suas abordagens. No dia 8 de janeiro de 2018 foi publicado o percentual de 57% de brasileiros que apoiam a aplicação da pena de morte no país. Um dado curioso é que a consulta revelou que os católicos são mais favoráveis à medida (63%) do que os evangélicos (50%), enquanto o apoio dos ateus é de 46%.

Ainda de acordo com a pesquisa, o "sim" à pena de morte é mais sonoro entre a população mais pobre e entre os homens. Jovens entre 25 e 34 anos são os que mais apoiam a medida (64%), uma percentagem reduzida para 52% entre aqueles que têm mais de 60 anos. Em 10 anos, o número saltou de 47% para 57% da população que se manisfesta a favor desse tipo de punição. Para a sondagem, o Datafolha entrevistou 2.765 brasileiros em 192 municípios, nos dias 29 e 30 de novembro do ano anterior (2017). No atual levantamento, 57% das pessoas entrevistadas manifestaram-se a favor da sentença máxima, 39% disseram ser contra, e 3% não responderam.

O que é a Pena de Morte


A Pena de Morte ou Pena Capital é um tema muito polêmico, debatido e discutido; pois mexe com a Palavra de Deus, com o projeto do ser humano (vida) e com a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Quando nos deparamos com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, vemos dois artigos que são cruciais neste processo de análise:
  • Artigo 3º"Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal";
  • Artigo 5º – "Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes".
Encontrei uma definição boa sobre a pena de morte: 
"é a sentença aplicada pelo poder judiciário que consiste em retirar legalmente a vida a uma pessoa que cometeu, ou é suspeita de ter cometido, um crime que é considerado pelo poder como suficientemente grave e justo de ser punido com a morte".

O que diz a declaração Universal dos direitos Humanos


A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adaptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Dezembro de 1948, em resposta ao terror e brutalidade de alguns governos, reconhece o direito de cada pessoa à vida, afirmando ainda que ninguém deverá ser sujeitado a tortura ou a tratamento ou castigo cruel, desumano e degradante. A pena de morte viola estes direitos. Alguns protocolos foram assinados:
  • O Segundo Protocolo Facultativo para o Tratado Internacional de Direitos Civis e Políticos, adaptado pela Assembléia Geral da ONU em 1989, defende a total abolição da pena de morte permitindo mantê-la em tempo de guerra.
  • O Sexto Protocolo da Convenção Européia sobre Direitos Humanos, adaptado pelo Conselho da Europa em 1982, prevê a abolição da pena de morte em tempo de paz,podendo os estados mantê-la para crimes em tempo de guerra ou em caso de guerra iminente.
O artigo 1º deste Protocolo, em vigor desde 1 de Março de 1985, prescreve: 
"A pena de morte é abolida. Ninguém pode ser condenado a tal pena ou executado"
O artigo 2º
"Um Estado pode prever na sua legislação a pena de morte para atos praticados em tempo de guerra ou de perigo iminente de guerra"
  • O Protocolo da Convenção Americana sobre Direitos Humanos para a Abolição da Pena de Morte, adaptado pela Assembléia Geral da OEA em 1990, pretende a total abolição da pena de morte, permitindo aos estados mantê-la em tempo de guerra desde que façam essa reserva ao ratificar ou aceitar o protocolo.

A BíBLIA E A PENA DE MORTE

I) A Lei do Senhor, antes da Tora


A Lei Moral de Deus, constituindo a sua vontade permanente para o homem, e estabelecendo as obrigações e deveres, do homem para com Deus e do homem para com o seu semelhante, foi revelada em diversas ocasiões, mesmo antes da codificação mosaica.

Considerando os três aspectos da Lei e a sua aplicabilidade, vemos que as determinações de Deus ao homem proferidas antes da legislação mosaica (como por exemplo: Gênesis 9:6) possuem considerável significado para nós, pois certamente não fazem parte nem da lei civil de Israel (que ainda não existia como nação), nem da lei religiosa daquele povo (que ainda não havia sido emitida de forma codificada e sistemática). As determinações deste período que não dizem respeito a procedimentos ou práticas cerimoniais religiosas são expressões puras da Lei Moral de Deus, representando a vontade dEste, em todos os tempos, para todas as criaturas.

A Pena de Morte foi instituída por Deus neste período. Foi comandada a Noé e a seus descendentes, antes das Leis Civis ou Judiciais, numa inferência de sua aplicabilidade universal. A Pena Capital foi instituída por Deus e não pelo homem. Sua instituição se deu não porque Deus desse pouca validade à vida do homem, mas exatamente porque Ele considerava esta vida extremamente importante. 

Desta forma, perdia o direito à sua própria vida qualquer um que ousasse atentar contra a criatura formada à imagem e semelhança do seu Criador. Esta foi a base da instituição da pena de morte, em Gênesis 9:6, enraizada na Lei Moral de Deus, como um reforço à sua determinação: "não matarás". Esta mesma santidade de vida, encontraria reflexo posteriormente na codificação da Lei Moral de Deus, ou seja, no 6º Mandamento.

II) No Tempo da Lei


Nunca podemos nos esquecer que o Antigo Testamento era regido pelas Leis de Deus. Porém, precisamos discernir os diversos aspectos desta lei, que já tratei detalhadamente em outro artigo (➫ aqui) e reveremos em síntese:
  • A Lei Civil ou Judicial – Representa a legislação dada à sociedade ou ao estado de Israel. Ex: os crimes contra a propriedade e suas respectivas punições. Tinha a finalidade de regular a sociedade civil do estado teocrático de Israel. Como tal, não é aplicável normativamente em nossa sociedade.
  • A Lei Religiosa ou Cerimonial – Esta representa a legislação levítica do Velho Testamento. Ex: os sacrifícios e todo aquele simbolismo cerimonial. Tinha a finalidade de imprimir nos homens a santidade de Deus e apontar para o Messias, Cristo, fora do qual não há esperança.
  • A Lei Moral – Representa a vontade de Deus para com o homem, no que diz respeito ao seu comportamento e aos seus deveres principais. Tem a finalidade de deixar bem claro ao homem os seus deveres, revelando suas carências e auxiliando-o a discernir o bem do mal. É aplicável em todas as épocas e ocasiões.

Há controvérsias?


Como entender passagens como Êxodo 21:12-14; 22:2; Números 35:31 e Deuteronômio 19:1-13. Como entender que o mesmo Deus que disse: "Não matarás", mandou matar, através dos exércitos de Israel, milhares de pessoas, incluindo homens, mulheres, crianças, e até animais (Observar Dt 13:15; Juízes 20:48)?

Dt 17:12,13 


Essa passagem salienta que o ofício judicial fora divinamente determinado e que os vereditos deviam ser aceitos, sob pena de morte. Essa pena era aplicada principalmente nos casos de homicídios. Uma pessoa que tirasse a vida de uma pessoa, pagaria na mesma moeda. 

E isso era assim, devido ao fato de que a vida era um bem sagrado estando protegido pela lei de Deus. A vida era algo de valor inestimável em Israel. Por exemplo, não havia pena de morte em relação a bens patrimoniais. 

Nesse casos, dava-se a pena de forma restitutiva, ou seja, se alguém roubasse uma galinha, esse ladrão restituiria duas galinhas ao dono. Dependendo da gravidade do furto, roubo, essa restituição poderia ser maior. Já no caso do homicídio doloso, haveria a retribuição com a própria vida. Teria que pagar o crime com a própria vida.

Em Levítico 24:21 diz: 
"...quem matar um animal fará restituição, mas quem matar um homem será morto."

III) No Novo Testamento


No caso específico da Pena de Morte, temos alguns registros, onde o assunto é mencionado, não havendo indicação de que os pontos básicos de justiça divina tivessem agora sido modificados, para a nossa era. Vamos ver alguns destes trechos:
Mateus 26:52 –
"Jesus disse: 'todos os que lançarem mão da espada, pela espada morrerá'".
Parece ser um reconhecimento tácito da legitimidade de aplicação da Pena Capital, como justa punição aos que vivem pela violência e desrespeito à vida.

João 19:11 – 
"...nenhum poder terias contra mim, se de cima te não fosse dado." 
Jesus reconhece que o poder de Pilatos de tirar a vida, vem do alto. Ele não contesta este poder, mas o considera legitimo, ainda que aplicado ilegitimamente, no caso de Jesus, e talvez desproporcionalmente aos parâmetros bíblicos, no caso de outras execuções.

Atos 25:11 – 
"Paulo, na sua defesa perante Festo, disse: Se eu cometi algum erro e fiz qualquer coisa digna de morte, não recuso morre." 
Verifique que:
  • a) Paulo reconhece que existiam crimes dignos de morte,
  • b) Paulo informa que não ofereceria resistência ao recebimento da Pena de Morte,
  • c) Paulo, implicitamente, reconhece que alguma autoridade possuía o direito de condenar alguém à morte.
Romanos 1:32 – 
"...que são dignos de morte, os que tais coisas praticam". 
Paulo reconhece que existem pessoas "dignas de morte" dependendo dos atos praticados.

Romanos 13:1 (e versículos seguintes) – 

O conhecido trecho, que especifica as obrigações do governo, já tratado na abordagem dada pela Confissão de Fé, coloca claramente a espada nas mãos do Governo, como instrumento legítimo de punição.

1 Pedro 2:13-14 – 
"...sujeitai-vos à toda ordenação humana".
Os governos recebem a autoridade das mãos de Deus. Devemos clamar contra as injustiças, mas não recebemos sanção para considerá-los ilegítimos aplicadores da justiça, por mais distanciados que estejam de Deus. Não recebemos sanção, de igual modo, para desobedecê-los, mesmo quando são injustos ("...sujeitai-vos não somente aos bons e humanos, mas também aos maus..." 2:18), a não ser quando nos impelem a que desobedeçamos às próprias determinações de Deus. Neste caso, devemos agir e responder como o próprio Pedro em Atos 5:29: 
"Mais importa obedecer a Deus, do que aos homens".

Apocalipse 13:10 – 
"Se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto" – 
Em harmonia com a afirmação de Cristo, em Mateus 26:52, numa inferência de que o princípio de justiça da retribuição, continua válido no Novo Testamento.

Semelhantemente ao verificado no Velho Testamento, as determinações eternas de Deus não estavam atreladas à bondade ou não dos governos temporais. O governo do contexto do Novo Testamento era bastante injusto, ruim e primitivo, mas mesmo assim a legitimidade dos governos não foi retirada.

COMO NOS POSICIONARMOS COMO CRISTÃOS EM RELAÇÃO A PENA DE MORTE


Como cristãos não podemos dizer que a pena de morte não tenha respaldo bíblico, quando aplicada em casos extremos, de crimes hediondos, com requintes de crueldade e perversidade, levada a efeito por autoridade legal, legítima e competente. Isto é verdade, no entanto, a pena de morte ou qualquer outro castigo, imposto por autoridade ilegítima pode ter fins ilegais. 

No caso de países em que cristãos ou outras pessoas são condenadas por causa de sua fé, há legalidade, mas não há legitimidade, diante de Deus. Contudo, considerando que as leis humanas são falhas; que há "erros judiciários", em que inocentes têm sido condenados em lugar de culpados; que há perseguições políticas, religiosas e abusos de autoridade, entendemos que o cristão não dever ser favorável à pena de morte. 

É preferível que, em casos gravíssimos de crimes hediondos, seja aplicada a prisão perpétua, em que o criminoso tem oportunidade de se recuperar, e até de ser um crente em Jesus.

Precisamos entender que estamos vivendo no Tempo da Graça de Deus


  • Não estamos sendo direcionados e sujeitos “à muitas das leis” do Antigo Testamento, mas estamos vivendo o tempo da graça de Deus (Rm 6:14).
  • Não vivemos sob a Lei Civil de Israel.
  • Não estamos sob a Lei Religiosa de Israel e sob nenhuma de suas ordenanças cerimoniais, uma vez que estamos sob o tempo da graça.
  • Não Estamos Sob a Condenação da Lei Moral de Deus, se fomos resgatados pelo seu sangue, mas nos achamos cobertos por Sua graça.
  • Precisamos entender que estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido de que:
Ela continua representando a soma de nossos deveres e obrigações para com Deus e para com o nosso semelhante. Ela é a trilha traçada por Deus no processo de santificação, efetivado pelo Espírito Santo em nossas pessoas (Jo 14:15). Nos dois últimos aspectos, a própria Lei Moral de Deus é uma expressão de sua Graça, representando a objetiva e proposicional revelação de Sua vontade.
  • A defesa da Pena de Morte, contra assassinatos, baseada nos princípios e determinações, inicialmente expostas em Gênesis 9, é uma atitude coerente com o horror à violência demonstrado na Palavra de Deus. A Bíblia é contra a impunidade que reina em nossos dias, contra o desrespeito à vida. Esta violência, que é fruto do pecado e uma prova irrefutável da necessidade de regeneração do homem sem Deus, não pode ser combatida com a mesma violência da parte de indivíduos ou grupos, mas sim pelos governos constituídos. A Bíblia é, portanto, pela lei e pela ordem, pelo respeito à propriedade e à vida, pelo tratamento da violência dentro dos parâmetros legais do governo, pela Pena de Morte, para que a Sua Palavra seja respeitada e a violência diminua na terra.

Conclusão


O ensinamento de Cristo 


"Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão" (Lucas 6:37).
A quem Jesus disse estas coisas? Aos seus discípulos e não a qualquer pessoa, conforme lemos em 6:20. Certamente, estas palavras são extensivas a todos os cristãos em todas as épocas, mas NÃO PODEM SER APLICADAS COMO POLÍTICA DE ESTADO. 

Os magistrados não podem deixar de julgar e condenar os culpados nem passar a soltar todos os presidiários. Isto tornaria inviável qualquer sociedade. 

O indivíduo deve ter o amor como base do seu relacionamento com o próximo, mas o Estado precisa exercer a justiça. Onde o amor predominar, a justiça deixará de ser dura, não por mudança na lei, mas pela ausência de necessidade. Se o amor entre os indivíduos evitar os homicídios, o Estado não precisará executar a pena de morte, caso esteja prevista em lei. Logo, o amor cristão pode transformar comunidades de baixo para cima e não de cima para baixo. A legislação não deve ser feita com amor nem com ódio, mas com justiça.

O papel da Igreja


Igreja não é tribunal. Seu papel é pregar o evangelho, demonstrar o amor e dar oportunidade a todos. Não somos o Estado. 

Jesus perdoou e salvou um dos ladrões que foram crucificados com ele, porém, não impediu sua morte. A salvação da alma não preserva necessariamente o corpo. É verdade que a pena de morte pode dar lugar a eventuais injustiças, pois o sistema judiciário é falível, mas não podemos negar que, aqueles países que a adotam têm o direito de fazê-lo, inclusive com respaldo bíblico. 
"A morte do culpado não é o caminho para reconstruir a Justiça e reconciliar à sociedade. Existe, pelo contrário, o perigo de que isto alimente o desejo de vingança e se semeie nova violência."

[Fonte: Revista Ultimato; Revista Comunhão; CAPC - Ministério Apologético; Nota Expositiva; Militar Cristão; Canção Nova; EDB Web; BÍBLIA ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995; CHAMPLIN, Russel. O Novo Testamento Interpretado. Vol. III. Milenium, S. Paulo, 1986.]

A Autor da vida, toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade. 
E nem 1% religioso.

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