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sábado, 17 de agosto de 2019

FILMES QUE EU VI - 51: "A CAMINHO DA FÉ" - ORIGINAL NETFLIS

Geralmente o público evangélico costuma vibrar, fazer festa quando vê o anúncio de um filme com temática cristã. Se este filme tem o sugestivo título de "A Caminho da Fé" então, o alvoroço é enorme. Logo vêm as manifestações de "glórias a Deus" e "aleluias", assim como comentários e recomendações favoráveis (algumas vezes, antes mesmo de assistir). Muitos feitos até de púlpito. 

Foi assim com o horroroso  sob todos os aspectos  "A Cabana" (escrevi artigos específicos sobre o livro: ➫aqui e sobre o filme ➫ aqui) e muitos outros títulos que, pela "aura cristã" ou pelo título sugestivo, mesmo tendo equívocos teológicos que os fazem beirar à heresia  alguns até ultrapassando (como no caso específico do já citado "A Cabana") , acabam caindo nas graças dos crentes, cujo senso crítico não é lá muito afiado. Foi o que aconteceu com este filme produzido e exibido pela Netflix.

O filme


Adaptar uma história verdadeira em um filme é uma tarefa inerentemente difícil. A vida real raramente segue uma estrutura narrativa organizada e, embora os filmes não sejam obrigatórios para fornecer um arco moral, a falta de um pode dificultar um pouco mais a atenção do público. Isso se torna muito mais difícil quando se tenta discutir a religião dentro do cinema. 

Filmes mais elaborados, mais reflexivos e menos tradicionais são massacrados pela crítica, como o mais recente filme de Darren Aronofsky, "Mãe!". É raro que cineastas da indústria americana se aventurem a discutir um tema tão polêmico como a fé. Diretores de peso como Mel Gibson e seu  na minha opinião, controverso  "A Paixão de Cristo" (escrevi sobre ele ➫ aqui), Martin Scorsese e seus "A Última Tentação de Cristo" e o mais recente "Silêncio" são apenas alguns exemplos do cinema se envolvendo de cabeça nas particularidades e desígnios da fé, seja o espectador um crente ou não. 

Agora, é Joshua Marston o cineasta da vez a navegar as turbulentas águas da crença, um assunto pessoal para a maioria das pessoas, e que o cinema por diversas vezes tratou de maneira desastrada.

O tiro saiu pela culatra?


Encarregado de abordar assuntos interessantes e totalmente importante para uma sociedade intolerante, foi exibido pela Netflix um filme baseado em fatos reais sobre o bispo pentecostal Carlton Pearson, um grande representante da religião em Tulsa (Oklahoma) que colocou sua carreira em risco nos anos 90 ao mudar sua visão sobre o amor de Deus. O filme é Original Netflix e encontra disponível apenas no serviço de streaming.

Sinopse


O longa original Netflix é dirigido pelo americano Joshua Marston, bastante experiente em séries como "The Good Wife" e "Law & Order" e responsável pelo premiado "Maria Cheia de Graça". Talvez por causa de sua carreira de sucesso em séries, o filme tenha ficado com uma pegada season finale, o que de certa forma entrega uma agilidade ao filme. 

A trama aborda o espinhoso tema a respeito da profunda releitura teológica proposta pelo bispo pentecostal Carlton Pearson no final dos anos 90 nos Estados Unidos. Por isso mesmo, esse produto Netflix está longe de ser algo do tipo "Deus Não Está Morto", como os mais desavisados podem supor.

O bispo Carlton Pearson, protagonista de "A Caminho da Fé", conta com uma atuação favorável, ele entra em uma crise de fé após receber a notícia que seu tio cometeu suicídio depois de uma conversa dentro do reformatório em que estava preso, além disso, o fato de indagar sobre assassinato de 800 mil ruandeses da etnia tutsi pela maioria hutu devido a conflitos étnicos também influenciou em questionar sobre o amor de Deus. 

Com um susto ele ouve uma voz abrindo seu olhar espiritual sobre o amor incondicional portado por Deus e a partir desse momento decide levar a experiência para a igreja que dirige.

Carregado com um clima lento e impactante, iremos acompanhar o processo do bispo transpassar a mensagem ouvida — na qual ele jura ser a voz de Deus —, pelo fato de pregar em uma instituição religiosa conversadora a rejeição dos fiéis é imediata e isso reflete perfeitamente na intolerância de alguns cristãos na sociedade brasileira e possivelmente em várias outras. Com um grande foco na nova visão de Carlton Pearson consequentemente começamos a visualizar nitidamente a intensão explícita e proporcional do autor — lembrando que todo o roteiro foi baseado em fatos reais — em levantar supostas contradições escritas na Bíblia.

O elenco


Apresentado em um programa de rádio chamado This American Life, o filme dirigido por Marston é no momento distribuído e publicado apenas pela Netflix. Nessa produção iremos encontrar um elenco com potencial mediano no qual consegue transpassar a mensagem e essência do filme para o público. 

O bispo Pearson é interpretado por Chiwetel Ejiofor, indicado ao Oscar por "12 Anos de Escravidão", e o ator cai como uma luva para viver o líder religioso que conseguiu unir negros e brancos americanos sob o teto da mesma congregação. Isso até o dia em que o mesmo "recebe uma revelação divina" que afirma: 
"TODOS já estão salvos e a ideia de inferno é basicamente uma alegoria." 
A partir de então, o inferno alegórico passa a ser vivido quase que literalmente por Pearson, sua família e as poucas ovelhas que restaram do seu rebanho. Isso tudo com direito até a um julgamento sacerdotal bem ao estilo da Inquisição Católica.

O diretor Joshua Marston faz uma tentativa de dar mais forma dedicando partes do filme à esposa de Pearson, Gina (Condola Rashad, que quase rouba todo o show), e ao seu amigo gay, Reggie (Lakeith Stanfield), mas nenhum dos enredos realmente merece a atenção devida. O arco de Gina chega perto, já que sua relutância em se envolver totalmente com o trabalho de seu marido se transforma em seu mais feroz defensor, mas Reggie fica para trás: a mensagem de inclusão que Pearson está pregando nunca é interrogada por rejeitar a homossexualidade.

O longa conta ainda com uma participação relâmpago do veterano Martin Sheen, o sisudo mentor espiritual do bispo, Jason Segel   se mostrando bastante eficiente fora do seu campo cômico  e ainda uma curta, porém tocante, participação de um inspirado Danny Glover ("Máquina Mortífera").

Mensagem nada subliminar

Igreja inclusiva e salvação universal


Dentro da história encontramos um membro da igreja que se orienta como homossexual, ele reflete a vida de muitos adolescentes que vivem em família religiosa e são pressionados dentro da própria religião, onde ouvem com frequência que àqueles que tiverem relação homoafetiva não serão salvos. O adolescente é outro ponto muito marcante de "A Caminho da Fé" devido ao papel fundamental, representativo e exemplar para os LGBTQI+ e a própria religião.

O bispo Carlton Pearson, que, no auge de sua carreira, fundou o Centro Evangelístico das Dimensões Mais Elevadas em Tulsa, Oklahoma, pregou para milhares de pessoas   centenas de milhares a milhões, se contar com as transmissões de televisão nacionais. Ele aconselhou os presidentes e até fez campanha por eles. Foi um grande líder do segmento neopentecostal  inclusive, foi um dos seguidores de Kenneth Hagin, no Ministério Palavra da Fé , até que teve a tal revelação.

No início dos anos 2000, Pearson se deparou com pessoas sofrendo e morrendo no genocídio de Ruanda, um massacre perpetrado por extremistas entre 7 de abril e 4 de julho de 1994. Ele se perguntou: será que Deus realmente mandaria todas essas pessoas para o inferno só porque elas não eram cristãs? O inferno realmente existiu? 

E assim nasceu o Evangelho da Inclusão, a doutrina da salvação universal e uma polêmica que o faria ser perseguido religiosamente e acusado de heresia. Pregar que o inferno não existia encontrou um retrocesso significativo. A congregação de Pearson encolheu rapidamente e seus colegas o declararam herege. Em outras palavras, é o tipo de ascensão (e dilema) e queda perfeita para a dramatização. Exceto por uma coisa: não há um final real para a história. 

Qual o posicionamento da Igreja?


Nesse contexto, o pastor Ernane W. Léo, da Igreja Batista da Lagoinha no bairro Santa Mônica, aqui em Belo Horizonte (MG), fez duras críticas ao filme, apontando as heresias que são apresentadas na embalagem de uma cinebiografia. Segundo ele
"em resumo, o longa-metragem se concentra a narrar a jornada de Pearson quando ele, abalado pelo sofrimento no continente africano, começa a questionar sua fé. A partir desse ponto ele passa pregar uma mensagem construída a partir de uma 'releitura' da Bíblia Sagrada."

Há os que afirmam que a  Netflix é uma empresa que vem, a cada produção exclusiva, alfinetando o cristianismo e promovendo visões de mundo em concordância com filosofias como humanismo, secularismo e progressismo   o que é uma afirmação estapafúrdia, diga-se. O pastor Léo afirmou que, ao ver a chamada para o filme, acreditou que tratava-se de uma obra cristã  no que, tenho certeza absoluta, ele não está sozinho , mas descobriu estar enganado.
"A princípio eu pensei que esse filme fosse efetivamente uma história cristã, um exemplo de vida prática para a igreja dos dias de hoje. 
Eu assisti esperando uma mensagem que me levasse uma nova compreensão de fé em Cristo, porém o que eu constatei depois é que na verdade eles fazem uma justificativa do erro. O filme é uma justificativa do erro, porém mal feita e contraditória"
disse o pastor. 
"O filme apresenta o cristianismo com ponto de vista totalmente dogmático, em que Deus é aquele homem de barba todo poderoso que você tem que ter medo dele. 
Porque ele pode te condenar por causa dos teus erros. Esse é o Deus que eles apresentam e esse não é o Deus do cristianismo. 
O nosso Deus é um Deus de amor e de paz, mas também é um Deus de justiça. Nós não devemos confundir temor com medo"
resumiu o xará.
"Jesus morreu para todos, então todos estão salvos? A questão é que existe qualquer tipo de conversa e existem argumentos, verdades. 
Nós precisamos saber diferenciar o que são argumentos e o que são verdades. Jesus morreu por todo mundo. É um argumento. Mas não são todos que serão salvos",
 acrescentou.

O polêmico reverendo Caio Fábio d'Araújo Filho, se posicionou sobre o filme no seu programa "Papo de Graça", exibido por seu canal na internet. Confira:

Conclusão


Com uma trama real, um cenário incrível e assuntos importantes, o Original Netflix acaba sendo recomendado para muitas pessoas, desde que tenham senso crítico, saibam refletir e, sobretudo, que tenham conhecimento das Escrituras e convicção de fé. É válido lembrar que o filme não induz religião, teoria ou doutrina para nenhuma pessoa, por isso, o final dele é considerável aberto e totalmente tolerante da parte do bispo. Apesar de ser um longa-metragem com exposição de opinião, a produção teve um trabalho incrível em manter o respeito acima de todos os fatores.

Como polêmica nunca é demais, a produção ainda aborda de maneira sucinta e também delicada, o espinhoso e ainda não bem definido tema da homossexualidade nas igrejas cristãs. O diretor consegue amarrar diversas intrigas do mundo congregacional cristão de maneira que o filme não se torne panfletário. Muito menos cai na armadilha de transformar o seu personagem principal numa figura santificada ou divina. E para quem gosta dos cantos ao estilo "spirituals", o filme está recheado deles! Canções do estilo Black e Gospel permeiam o filme de maneira brilhante.

Enfim, o filme mais se aparenta com um "Nada a Perder" em versão americana, pois há pouco do aspecto da religião organizada. O pastor se importa muito com o status, com a perda de fiéis e principalmente com o lucro que não ganhará sobre sua declaração polêmica.

Meus posicionamentos:

"E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações. 
Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2 Pedro 1:19-21, grifo meu).
Obviamente, não concordo com tudo o que é exposto no filme, todavia, ele nos permite uma forte reflexão acerca da temática. Quer queiramos, ou não, a Bíblia é um acervo de livros que permite diversas interpretações. Isso abre a possibilidade de que cada um a interprete ao seu bel prazer. 

E, a partir daí se iniciam os grande conflitos entre as diversas denominações, assim como o surgimento vertiginoso de incontáveis seitas que fazem uso de suas palavras para atraírem pessoas para fileiras e na maioria vezes, apenas por interesses próprios, de acordo com suas conveniências. 

  • Como um filme reflexivo ele está
  • Como um filme cristão ele está


A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade. 
E nem 1% religioso.

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