Total de visualizações de página

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

ESPECIAL - PORQUE PASTORES E LÍDERES COMETEM SUICÍDIO?


"Porque, mesmo quando chegamos à macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro. Deus porém consolou-nos com a chegada de Tito" (2 Coríntios 7:5,6).
Duas notícias nessa semana, ao mesmo tempo que chocaram, não tiveram a atenção merecida: o suicídio de dois pastores da mesma denominação, porém em estados distintos na Federação. 

Já tem um monte de gente perguntando, debatendo e conversando a respeito, mas essa manhã, analisando minha realidade pastoral e suas infindáveis, enormes demandas bio-psiquicas-espirituais, a pergunta retornou. E não fugi da mesma. Encarei.


A frieza dos fatos


O suicídio de pastores, líderes e filhos de líderes cresce e preocupa, tendo sido até batizado de "onda de suicídios", mesmo não sendo algo novo. Há registros bíblicos de líderes como Sansão, Saul e Judas que tiraram suas vidas. [Vincent Willien] van Gogh, que além de pintor foi pastor, é um dos mais famosos a aplicar a pena capital contra si mesmo.

Nos últimos anos, vários pastores americanos tiraram suas vidas e, assim como no Brasil, o fato passa a ter certa frequência.

O que está acontecendo com os que estão na função de cuidado, mas não conseguem administrar suas próprias demandas? Por que pessoas que já ajudaram a tantos, desistem da própria vida? De acordo com o Instituto Schaeffer
"70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral afetou negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo".

Motivos


A causa mais comum noticiada para o suicídio de pastores e líderes, é a depressão associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais, baixos salários, desvios sexuais e isolamento por falta de amigos.

Sim, pastores têm poucos amigos, e às vezes nenhum. Isso é visível em reuniões nas quais a maioria conta proezas, sucessos, vitórias e conquistas na presença dos demais, num clima de competição para mostrar que possui êxito no exercício ministerial ("'Minha' igreja é mais grande e cheia do que a sua.") . Entretanto, quando a conversa é íntima, o sofrimento se revela. Boa parte está cansada, desanimada, chateada com a igreja e com a liderança. Muitos possuem dificuldades no cuidado com a família e as finanças de alguns estão desequilibradas. Outros se consomem nos desvios sexuais, como a prática da homossexualidade e o vício em pornografia, por exemplo.

Isso acontece, em parte, porque pastores contemporâneos são cobrados como executivos ou técnicos de clubes de futebol, que precisam oferecer resultados numéricos às suas instituições. Caso contrário perdem seus membros, emprego, salário (isso, quando ele tem um salário), moradia e sustento da família. É uma pressão enorme sobre os ombros de um ser humano.

A figura do pastor-pai-cuidador está escassa; aquele que expõe a Palavra à comunidade-família, aconselha os que sofrem e cuida dos enfermos e das viúvas. Há uma crise de identidade funcional entre o chamado pastoral e as exigências do mercado religioso institucional. Para muitos, ser pastor é sinônimo de ser "super star da fé", ícone, ídolo, herói. Quando não atingem essa fama, esse status que é alimentado pela famigerada mídia gospel, então vem a frustração e o declínio pessoal. Abaixo, listo um panorama do porque de pastores cometerem suicídio literal e/ou espiritual.


Pastores se matam porque...


  • Pastores se matam porque pensam que são Deus. Podem resolver tudo. Quando acordam desse desvario, quando a fatura chega, não têm como bancar. Já brinquei de (ser) Deus. Brinco mais não. Sai fora! Essa brincadeira não tem graça alguma!
  • Pastores se matam porque são pessoas boas. Só pessoas boas ficam deprimidas. Pastores-lobos ficam cínicos. São discípulos de Hofni e Finéias (1 Samuel 4). Usam as pessoas. Gente se deprime. Psicopatas, empatia zero, deprimem/destroem os outros.
  • Pastores se matam quando vestem máscaras de santidade. Não brigam com a mulher. Têm filhos perfeitos. Nunca pecam. Oram muitas horas por dia. Retornam, respondem no mesmo dia um número infindável de ligações e esvaziam sua caixa de entrada de e-mails antes das 18h. Ah, jamais deixam acontecer o absurdo de uma mensagem de WhatsApp ficar mais de 1 hora sem resposta. Imagina!
  • Pastores se matam porque não conseguem dizer não. O que vão dizer deles? Estão ali pra servir. São "pagos" para atender a todos o tempo todo. "Ovelha é um bicho carente, não sabe se cuidar, muitas vezes tem de ser levada nos ombros", eles argumentam. E vai que se engracem para outro rebanho, outro redil? "Pastor tem de ter cheiro de ovelha". E quem disse que o cheiro é bom? Onde já se viu feridas purulentas do pecado cheirar a alfazema?
  • Pastores se matam porque querem concorrer com o consumismo religioso e as fórmulas para encher igrejas. Pregam o Evangelho, enquanto os outros, os Lobos, pregam autoajuda espiritualizada. Proclamam as Escrituras enquanto os lobos vendem prosperidade. É uma luta desleal. Lutar ingenuamente essa luta é uma máquina de moer carne.
  • Pastores se matam porque (quando têm) não podem trocar de carro sem ouvir piadinhas egoístas. Se compram casa – em geral, financiada a perder de vista, "estão enriquecendo mesmo à custa das pobres ovelhas". Ouvi uma vez: "Você chegou aqui com uma mão na frente e outra atrás!" O que dizer? Um frase de tamanha mesquinharia merece réplica? O ideal é o que pastor viva miseravelmente, mendigando ofertas. Mas aí, com que autoridade ele poderá ministrar sobre vitória e prosperidade? Tô com preguiça. Sério!
  • Pastores se matam porque não cuidam do corpo, não brincam. Devem dormir de terno e gravata, não é possível. "Nosso descanso não é nesse mundo", escutei um deles. Querem ser maiores que o seu Senhor, contrariando a admoestação bíblica. Jesus dormiu, cochilou de cansado. Se bobear, pastores não dormem nem à noite… Muitos parecem ser assexuados, sem tesão. Sexo é coisa para "pessoas carnais", não para um quarto integrante da trindade.
  • Pastores se matam de raiva, de tristeza, de crise vocacional, de frustração, de pobreza, de baixa autoestima, de falta de sexo, de decepção, de abandono, de tanto trabalhar, de falta de férias decentes, de cobranças injustas, de tanto se cobrar por não saber tudo, ser bom em tudo – pregar como os apóstolos Pedro e Paulo, Agostinho, Spurgeon e Bily Graham, Tim Keller..., visitar como um psicólogo ou médico da família, administrar como um coaching em empreendedorismo, pensar como um filósofo, ensinar como um PhD, ser pai como um guru familiar. Já pensou? Um profissional assim (sem falar que não podem ser profissionais – até porque não podem cobrar como um) merece que salário? Pastores se matam aos poucos. E aos montes. Quietos no seu abandono, na sua tristeza de não ser que os outros acham que são – ou querem que sejam, perfeitos e santos impecáveis.
  • Pastores se matam porque adoecem. E não, não é por causa de consequência de pecados, não senhor. É porque é ser humano, como qualquer outro ser humano – que, se não se tratar, entra em colapso . Stress e depressão são o  pecados que jaz à porta" do pastor. Pecados sexuais idem. Orgulho então… O pastor, como os profissionais da saúde, os policiais e outras carreiras de risco, deveriam ser cuidados e não apenas cuidar. Quem cuida de quem cuida? Quem cuida do seu pastor?

Conclusão


Sou pastor (ainda que meio "por acidente", involuntariamente, mas sou). Não vou me matar. Não posso morrer pelos pecados dos outros. Nem pelos meus (que, aliás, não são poucos, diga-se)! Jesus já fez isso. Aliás, o Pastor mesmo é Ele . O Bom Pastor (João 10). Eu aqui? No máximo, como diria Fernando Pessoa, sou, no máximo (e olhe lá) "um guardador de rebanhos". Pecador. Cheio de debilidades, imperfeições, limitações e muitas fraquezas. Só isso e quem esperar mais de mim, certamente irá se decepcionar, mesmo porque, eu não ofereço nem um côvado a mais do que eu sou ou possa oferecer. 

Se você é um pastor de verdade, "companheiro dos outros no sofrimento" (Apocalipse 1:8), fique esperto. Não se mate por nada. Nem por tudo. Morrer por Jesus é uma coisa bem diferente de se matar pelo rebanho. Ou por ambições neuróticas e messiânicas.

Possibilidades


Ao olhar as palavras de Paulo no texto citado na abertura desse artigo (ou seria um desabafo?), percebe-se como o Senhor usou a chegada de Tito para consolá-lo, quando ele passava por conflitos internos e externos. Há alguns anos, a psicóloga Fátima Fontes, quando perguntada sobre livros que pudessem ajudar em momentos difíceis, respondeu com brandura e firmeza: 
"Nesses momentos, não precisamos de livros, precisamos de amigos". 
É verdade, parece que é isso que o apóstolo deseja ensinar, quando menciona a chegada de Tito (um célebre piadista), bem como o pedido que faz a Timóteo em uma carta, no final de sua vida: 
"...traga Marcos com você porque ele me é útil" (2 Tm 4:11). 
É notável que nos versos seguintes ele pede a capa, os pergaminhos e os livros. Mas primeiro ele precisava de uma pessoa, Marcos. Como diz o pastor Ed René Kivitz
"...pessoas precisam de Deus, mas pessoas também precisam de pessoas". 
Foi "a chegada de Tito" que consolou o apóstolo Paulo, e era Marcos, acima da capa e dos livros, que teria mais utilidade.

É urgente que se perceba a humanidade limitada e finita de pastores e líderes e que passos sejam dados por indivíduos e instituições, para melhorar a qualidade de vida dos que servem ao corpo de Cristo.

Pastores:

  • Fazer algo que traga alegria, prazer: ver filmes, pescar, caminhar, nadar, dançar, viajar, namorar. Atividades que o façam se sentir mais humano;
  • Encontrar um amigo que o aceite como é, com suas bobagens e defeitos, com quem se possa jogar conversa fora e não se saiba explicar o porquê da amizade. Ela apenas existe, nada mais, sendo inclusive possível fora de sua igreja local;
  • Encontrar um conselheiro ou terapeuta de confiança para abrir a alma. Pessoas de confiança, "Titos" e "Marcos" são imprescindíveis nas horas difíceis, diante das lutas da vida que parecem invencíveis.

Instituições:

  • Promover encontros de pastores que possuam caráter terapêutico/curador. Com facilitadores habilitados na condução de compartilhamento de emoções que afetam a vida pastoral;
  • Diminuir as pressões de resultados sobre a função pastoral. Pastor não é um executivo, nem técnico de futebol, mas um cuidador do rebanho-família;
  • Estabelecer um padrão mínimo de orçamento-salário pastoral, para que ele e sua família não sofram privações.
Que o Senhor continue a prover sobre seu rebanho "pastores segundo o seu coração".

A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário