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sexta-feira, 21 de julho de 2017

CHRIS CORNELL E CHESTER BENNIGTON: MORTES DE ASTROS DO ROCK LEVANTA DISCUSSÃO SOBRE O DRAMA DO SUICÍDIO


Enquanto o suicídio segue sendo um assunto sobre o qual se fala pouco, o número de pessoas que tiram a própria vida avança silenciosamente. No Brasil, o índice perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (o que exclui doenças). Em todo o mundo, entre os jovens, a morte por suicídio já é mais frequente que por HIV. Entre idosos, assim como entre pessoas de meia-idade, os índices também avançam.

As recentes mortes de dois astros do rock trazem novamente a discussão sobre o drama do suicídio, que não é um fenômeno apenas entre pessoas famosas. O que acontece é que, justamente por se tratar de pessoas famosas, os casos são divulgados pela mídia, mas, infelizmente, entre anônimos das mais diversas faixas etárias e classes sociais, os casos de suicídios são mais comuns do que podemos imaginar.

Quem foram

  • Chris Cornell
Christopher John Boyle nasceu em Seattle, nos EUA, em 20 de julho de 1964. Ele foi um dos principais nomes do movimento grunge, formando o Soundgarden ao lado do guitarrista Kim Thyail e do baixista Hiro Yamamoto, em 1984. 

Depois, em 1990, Cornell formou o supergrupo Temple Of The Dog, com membros do Pearl Jam e do Soundgarden. Ele ainda formou outro grande nome do grunge, o grupo Audioslave, com membros do Rage Against the Machine (Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilk). Pessoalmente, Cornell teve problemas com a dependência de álcool e drogas, problemas contra os quais lutava.

Em 2007, se concentrou em carreira solo que foi do pop rock ao acústico antes da volta do Soundgarden, em 2010. O cantor ficou conhecido pela voz rasgada e pelas performances virtuosas, quase sempre acompanhada por arranjos com guitarras e baixos cheios de peso. Além da parte musical, Cornell também foi um dos principais galãs do grunge, principalmente nos anos 90.
  • Chester Bennington
Chester Charles Bennington ganhou notoriedade devido a sua carreira como vocalista da banda Linkin Park. No ano 2000, eles lançaram o disco Hybrid Theory, que se tornou um enorme sucesso de público e crítica. 

Com todo o sucesso, Bennington focou também em vários trabalhos paralelos, como músico, produtor e ator. Ele formou sua própria banda, Dead by Sunrise, em 2005, lançando posteriormente um álbum com eles, Out of Ashes. 

Chester também trabalhou com bandas como Stone Temple Pilots, gravando um EP e fazendo shows com eles. Bennington foi reconhecido diversas vezes por seu trabalho como cantor, especialmente com o Linkin Park, sendo colocado pela revista Hit Parader na lista dos "Top 100 Vocalistas de Heavy Metal". 

Era conhecido do público e da imprensa também por seus problemas pessoais, com drogas e álcool. Chester já tinha dito várias vezes usar a música como sua "válvula de escape". Mas após um período, decidiu se limpar e afirmou "não ser mais aquela pessoa", focando então ainda mais no trabalho e na família. O músico tinha 41 anos. Bennington deixa a esposa, a modelo Talinda Ann Bentley, com quem estava casado desde 2005, e seis filhos – três deles do casamento com Talinda e outros três de relacionamentos anteriores.

Fazia anos que o cantor lutava contra o vício em drogas e álcool. Ele afirmou no passado que já havia considerado cometer suicídio por ter sofrido abuso sexual de outro homem, seu padrasto na infância. 

Os dois grandes amigos compartilharam o palco algumas vezes. A mais emocionante foi em 2008, quando Chris Cornell e o Linkin Park fizeram uma turnê juntos. Em algumas datas daquele tour, Cornell convidava ao palco Chester Bennington para interpretar "Hunger Trike" juntos. Trata-se de uma canção do primeiro disco do Temple of the Dog, que para muitos é o grupo que antecipou o grunge. Foi a banda em que Chris Cornell (que logo montaria o Soundgarden) e Eddie Vedder (que fundaria o Pearl Jam) tocaram juntos.

Coincidências mórbidas


Chester Bennington e Chris Cornell eram grandes amigos. Bennington, que morreu ontem, 20 de julho de 2017, era o padrinho dos filhos de Cornell. No enterro de Cornell, Bennington interpretou a clássica música "Hallelujah" (escrevi sobre essa música aqui), de Leonard Cohen, de forma emocionante. 

Ambos, Cornell e Bennington, sofriam de depressão (escrevi sobre este tema aquiaquiaquiaquiaquiaquiaqui e aqui) Cornell tirou a própria vida em 18 de maio de 2017. Os primeiros indícios apontam para que Bennington, também tenha se suicidado. Os dois enforcados. Uma outra coincidência de gelar o sangue: Bennington foi embora deste mundo exatamente no dia em que Cornell nasceu, 20 de julho. O vocalista do Linkin Park tinha 41 anos; o do Soundgarden, 52.

Outra das semelhanças entre as mortes é que estavam em turnê, trabalhando, portanto ninguém poderia prever um final tão trágico. Cornell tinha feito um show na noite anterior do suicídio, e o Linkin Park se apresentava em 22 de junho em Madri, 3 de julho em Londres e previam continuar a turnê em 27 de julho nos Estados Unidos. Leia na íntrega a carta que Bennigton escreveu após a morte do amigo Cornell:
“Sonhei com os Beatles esta noite. Acordei com 'Rocky Raccoon' [canção dos Beatles] tocando na minha cabeça e o rosto de preocupação de minha esposa. Ela me disse que meu amigo tinha morrido. Pensamentos sobre você inundaram minha cabeça e chorei. 
Ainda choro, com tristeza, assim como com gratidão por ter compartilhado momentos tão especiais com você e sua linda família. Você me inspirou de muitas formas que nunca soube. Seu talento era puro e incomparável. 
Sua voz era prazer e dor, ira e perdão, amor e dor no coração, tudo em um. Suponho que isso é o que somos todos. Você me ajudou a entender isso. Acabo de ver um vídeo seu cantando 'A day in the life', dos Beatles, e pensei em meu sonho. Gostaria de pensar que você está dizendo adeus a sua maneira. 
Não consigo imaginar um mundo sem você. Rezo para que encontre paz na outra vida. Mando meu amor a sua esposa e filhos, amigos e família. Obrigado por me permitir fazer parte de sua vida.”

Suicídio, um drama sem status


Falar de suicídio, na maioria das vezes, é falar de depressão. Falar de depressão, no entanto, não necessariamente é falar de suicídio. Ano passado, o site G1 ouviu dois psiquiatras e uma psicóloga especializados para ajudar a esclarecer o assunto que, segundo eles, ainda é negligenciado.

Qual é o perfil do suicida?


Um dos estudos mais completos sobre o tema, feito pelos pesquisadores Daiane Borges Machado e Darci Neves dos Santos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), analisou dados do Sistema de Informações sobre a Mortalidade Brasileira (SIM), Datasus e IBGE entre os anos 2000 e 2012 no Brasil. As pessoas que mais se suicidaram foram as menos escolarizadas, indígenas (132% mais casos que na população em geral) e homens maiores de 59 anos (29% a mais que as outras faixas etárias).

O Mapa da Violência de 2014 (levantamento mais recente) também aponta uma alta de 15,3% entre jovens e adolescentes no Brasil, de 2002 a 2012. O suicídio é predominante no sexo masculino, com exceção da Índia e China. Os homens brasileiros têm 3,7 vezes mais chances de se matar que as mulheres, de acordo com o estudo da UFBA. 

Tem sido registrado um aumento no número de suicídios em todas as faixas etárias: crianças, jovens, adultos e idosos, como afirma o Mapa: 
"Os suicídios no país vêm aumentando de forma progressiva e constante: a década de 1980 praticamente não teve crescimento (2,7%); na década de 1990 o crescimento foi de 18,8%, e daí até 2012, de 33,3%". 
Os especialistas entrevistados pelo G1 demonstraram especial preocupação com os jovens, que tem se suicidado cadas vez mais, e os idosos que são a faixa com o maior índice - 8 suicídios para cada 100 mil habitantes, a maior do Brasil, segundo o Mapa da Violência.

Em setembro de 2016, quando o site divulgou a reportagem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a cartilha anual de recomendação para a prevenção do suicídio. Nela, foram apontadas 15 causas frequentes que influenciam na retirada da própria vida, como o uso de álcool e drogas, perda ou luto e outros transtornos mentais, como a esquizofrenia. Segundo a cartilha, a maior parte dos casos são executados por pessoas com depressão, independente de sexo, faixa etária ou qualquer outra característica.

Por que homens?


“A diferença [de taxas] entre os gêneros é geralmente atribuída a maior agressividade, maior intenção de morrer e uso de meios mais letais entre os homens”, 
concluiu o estudo da UFBA. Ainda segundo o texto, as mulheres 
“são mais religiosas, o que pode se tornar um fator de proteção”.
Conforme a reportagem do G1, o psiquiatra Rubens Pitliuk, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, disse que a principal razão para os homens conseguirem efetivamente tirar a própria vida é a forma como eles tentam se matar. 
"Suicídio em homem é mais violento que em mulher. As mulheres em geral tentam [se matar] tomando comprimidos. É mais difícil a mulher se jogar de uma janela", 
explica.

Uma pesquisa de uma universidade do Canadá, de 2008, encontrou a associação da mortalidade por suicídio com a tendência de expor sentimentos. A taxa era menor nas regiões onde os homens eram mais propensos a falar sobre o que sentiam. 

Por que jovens?


O relatório da OMS afirma que 
"as tentativas de suicídio de adolescentes estão muitas vezes associadas a experiências de vida humilhantes, tais como fracasso na escola ou no trabalho ou conflitos interpessoais com um parceiro romântico."
Já para o psiquiatra José Manoel Bertolote, consultor da OMS e autor do livro "O Suicídio e sua Prevenção", o aumento das taxas entre jovens e adolescentes já está bem documentado, mas ainda são necessários mais estudos para entender as causas.
"Estudos feitos na cidade de São Paulo sugerem que a falta de perspectivas de vida para muitos jovens - insegurança física e econômica, desemprego ou falta de acesso - aliada à desatenção e ao despreparo do sistema público de saúde agravam ainda mais a situação", 
avalia.

A psicóloga Karen Scavacin, uma das revisoras do documento "Preventing Suicide - A Global Imperative", elaborado pela OMS, considera que há, também, características do perfil dos jovens que devem ser levadas em consideração. 
"Tanto a criança quanto o jovem tem uma impulsividade alta (...), ele ignora a irreversibilidade da morte".
O acesso fácil a meios de incentivo também foi apontado pela psicóloga, que vê uma alta nos casos de cyberbullying - bullying feito pelas redes sociais e internet - e que é fator contribuinte para o aumento das taxas entre adolescentes. 
"Hoje em dia é muito fácil você pesquisar como cometer um suicídio em qualquer mídia social. As pessoas não levam em consideração quando um adolescente ou uma criança fala que pretende se matar e isso deve ser uma das coisas que mais influencia".
Todos os especialistas entrevistados pelo G1 avaliaram que, neste caso, os pais e amigos tendem a achar que um comportamento agressivo pode ser confundido com uma fase difícil, como um comportamento clássico de adolescente.
"Um adolescente às vezes tem uma depressão não diagnosticada que vai aparecer como agressividade. Não é aquela depressão que as pessoas imaginam de ficar na cama, de não fazer mais nada. O adolescente sente muita dificuldade de pedir ajuda", 
completa Scavacin.


Por que os idosos?


De acordo com Bertolote, o aumento do suicídio entre idosos ocorre em maior parte também entre o sexo masculino. 
"Nessa idade observamos o acúmulo de problemas de saúde, em sua maioria doenças crônicas e incuráveis, muitas vezes dolorosas ou de tratamento penoso, associado a um isolamento social progressivo, causados pela viuvez, separações, distanciamento de filhos e netos, por exemplo".
Para Scavacin, há o fato de que os idosos planejam por mais tempo e por isso conseguem concluir o ato. 
"Para cada quatro tentativas do idoso, temos um suicídio completo. Se a gente pensar em um adolescente, são 200 tentativas para cada um suicídio completo. Ou seja: o adolescente tenta mais, mas o idoso chega a cometer mais o suicídio". 
disse.


Como salvar alguém?


Bertolote é objetivo na hora de "aconselhar" como ajudar: 
"Para o leigo é, sobretudo, se dispor a se aproximar de alguém que demonstra estar sofrendo ou que apresenta mudanças acentuadas e bruscas do comportamento, ouví-lo e, se não se sentir capaz de lidar com o problema apresentado, ir junto em busca de quem possa fazê-lo mais adequadamente, como um médico, enfermeiro, psicólogo ou até um líder religioso".
De acordo com os médicos, o ideal é que a pessoa seja encaminhada a um psiquiatra e seja medicada. E, no mundo ideal, que tenha um acompanhamento de um terapeuta e o apoio da família.

Outro fator importante é que os medicamentos levam um certo tempo para surtir efeito. Por isso, os primeiros 30 dias após uma tentativa de suicídio e o início do tratamento são os que precisam de mais atenção.

Para Pitliuk, uma boa campanha de conscientização, como ocorreu com a da Aids no Brasil, deve ser feita para a depressão. 
"A população precisa ser mais bem informada de que depressão é uma doença e tem tratamento. Boa parte das vezes, a pessoa se sente mal e não sabe que tem depressão. Se soubesse o nome da doença, talvez procurasse ajuda. E muitas vezes a família não percebe que ela está deprimida", 
explica.

O psiquiatra diz que é importante quebrar o medo dos antidepressivos que, em casos de suicídio, são fundamentais. 
"O remédio é necessário se o paciente tem uma depressão clínica, em que já existem os sintomas físicos - queda de energia, dores no corpo, dores de cabeça, boca seca - ou seja, o organismo inteiro está depressivo. Agora, se você puder juntar o remédio com a ida a uma terapia, é melhor do que só o remédio. Se só puder escolher um, é melhor receitar o antidepressivo", 
considera.

Na rede pública, os psiquiatras e a psicólogoa apontam que o caminho é procurar os Centros de Apoio Psicossocial (CAPS). Por lá, é possível marcar uma consulta com um psiquiatra ou psicólogo. O Centro de Valorização da Vida (CVV), fundado em 1962 em São Paulo, faz um apoio emocional e preventivo do suicídio pelo número 141.

Conclusão


Veja mitos comuns sobre o suicídio:
  • 'Quem fala, não faz' - Não é verdade. Muitas vezes, a pessoa que diz que vai se matar não quer "chamar a atenção", mas apenas dar um último sinal para pedir ajuda. Por isso, os especialistas pedem que um aviso de suicídio seja levado a sério.
  • 'Não se deve perguntar se a pessoa vai se matar' - É importante, caso a pessoa esteja com sintomas da depressão, ter uma conversa para entender o que se passa e ajudar. Não tocar no assunto só piora a situação.
  • 'Só os depressivos clássicos se matam' - Não. Existe o depressivo mais conhecido, aquele que fica deitado na cama e não consegue levantar. Mas outras reações podem ser previsões de um comportamento suicida, como alta agressividade e nível extremo de impulsividade. Os médicos, inclusive, pedem para a família ficar atenta ao momento em que um depressivo sem tratamento diz estar bem: muitas vezes ele pode já ter decidido se matar e tem o assunto como resolvido.
  • 'Quando a pessoa tenta uma vez, tenta sempre' - A maior parte dos pacientes que levam a sério o tratamento com medicamentos e terapia não chegam a tentar se matar uma segunda vez. O importante é buscar a ajuda.
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[Fonte: G1, Wikipédia, Whiplash]

A Deus toda glória.
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