Total de visualizações de página

quarta-feira, 19 de julho de 2017

FILMES QUE EU VI - 33: "CLUBE DA LUTA"

Um grande ano para o cinema, 1999 desafiou as plateias com ricas narrativas psicológicas. Foi o ano de "Magnólia", "De Olhos Bem Fechados", "Quero Ser John Malkovich" e "O Sexto Sentido". Mas um filme mudou para sempre o modo como o público aborda a relação entre ilusão e realidade na tela: "Clube da Luta", de David Fincher, que já entrou na maior idade, completou 18 anos.

Considerado por mim, como um dos melhores filmes de todos os tempos. "Fight Club" (Clube da Luta) ou simplesmente Projeto Caos, conta a história de um jovem (Edward Norton), que após se tornar um indivíduo consumista, participante de uma sociedade repleta de regras, atinge o limite máximo que sua mente consegue suportar. Tornando-o uma pessoa despedaçada, que sofre física e psicologicamente e que por conta disso, não dorme há seis meses. 

Mais que um filme violento, um filme psicologicamente violento


Clube da luta é mais do que um filme violento: pode ser compreendido como uma contra-utopia contemporânea, quiçá como a projeção dos maiores temores – de estado e de efeito no público e mesmo na constituição de suas técnicas formais – dos frankfurtianos mais sombrios em relação ao poder disruptivo da cultura de massas, como em Adorno, ou também como a visão da permanência da melancolia e da barbárie no mundo contemporâneo, como em Benjamin. O espírito dos personagens, oscilantes entre atitudes anárquicas e militaristas, levou até mesmo a que um crítico da prestigiada revista inglesa Time Out afirmasse tratar-se de um filme eminentemente marxista. 

No Brasil, entretanto, "Clube da Luta", que causou maior furor na crítica do que sucesso de público, tornou-se objeto de incessantes polêmicas a partir dos homicídios praticados pelo estudante Mateus da Rocha Meire, em novembro de 1999, quando este, munido de uma metralhadora semi-automática, entrou em uma das salas de projeção do Morumbi Shopping, em São Paulo, enquanto todos assistiam a uma sessão do filme do diretor David Fincher. Ao disparar aleatoriamente contra o público, o estudante matou três pessoas, iniciando mais uma incessante controvérsia a respeito das relações entre violência e imagens nos meios de comunicação. 

O diretor 


David Fincher é incrível. Tem no currículo uma série de grandes filmes como por exemplo "Seven, Os Sete Pecados Capitais", "Zodiac", "Garota Exemplar", "A Rede Social", "O Curioso Caso de Benjamin Button" entre outros e, sem dúvida, é um dos grandes diretores ainda vivos. Mas foi com "Clube Da Luta", que Fincher se consagrou e será eternamente lembrado, esse longa é, de longe, a sua obra prima. 

O filme


Por onde mais começar o texto desse artigo se não pelas regras do clube? São elas: 
  1. Você não fala sobre o Clube da Luta. 
  2. Você não fala sobre o Clube da Luta. 
  3. Se alguém gritar "Pára!", fraquejar, sinalizar, a luta está terminada. 
  4. Apenas dois caras numa luta. 
  5. Uma luta de cada vez, pessoal. 
  6. Sem camisas, sem sapatos. 
  7. As lutas duram o tempo que for necessário. 
  8. Se esta for a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem de lutar. 
Bom, agora que você está ambientado, vamos voltar ao início. O filme, desde o começo, é narrado pelo protagonista (Norton) que não nos apresenta o seu nome. Ele é um trabalhador medíocre, que vê sua vida cair por água abaixo, possui um emprego em uma companhia de automóveis, tem insônia e frequenta grupos de apoio para conhecer pessoas ainda mais depressivas, como forma de não se sentir tão mal. 

Durante esses encontros em grupos (nos quais ele se passava por doente) acaba conhecendo uma mulher Marla Singer (Helena Bonham Carter) que mexe com ele, mas a princípio, negativamente. Percebendo que ela está ali pelo mesmo motivo, também se fingindo de doente, acaba se irritando, fazendo com que eles dividam os grupos para não se encontrarem mais. 

Após uma viagem de negócios, esse rapaz conhece – no voo – um homem chamado Tyler Durden (Brad Pitt), um vendedor de sabão com quem ele acaba se dando bem e consegue o seu contato, o qual em algumas horas será muito valioso pois, ao chegar em casa, se depara com o seu apartamento completamente destruído, vítima de uma explosão – até então desconhecida. 

Sem saber o que fazer e para aonde ir, liga para o amigo que acabou de conhecer e se encontram num bar para tomar umas. Após algumas garrafas e ao sair do bar nós entramos em um ponto muito crítico do filme, onde tudo vai mudar. Quando o rapaz pede abrigo a Tyler, este aceita, mas pede uma coisa, um tanto quanto, peculiar em troca: um soco com a máxima força do protagonista sem nome. 

Ele se recusa e tenta entender o motivo de isso estar acontecendo, até que resolve se soltar e aceitar esse pedido exótico. Sem dúvidas, para mim, essa é uma das melhores cenas do filme pois mostra o antagonismo que é o ponto máximo da genialidade dessa obra, o "bom" e o "mau" que estará presente em todo o longa quando o narrador e Tyler estiverem na mesma cena. 

Juntos, os dois criam o Clube da Luta, resultado da ótima experiência que tiveram ao libertar toda aquela fúria que a vida rotineira causou, principalmente ao protagonista. E era para isso que esse clube servia, mas de tempos em tempos, o grupo foi crescendo e se tornando uma sociedade secreta imensa, com objetivo de acabar com todo o comunismo possível da época – chegam até a citar algumas marcas para enfatizar esse ponto. 

Muitos críticos e fãs do filme, acham ele um tanto quanto fascista, mas o filme propositadamente forma uma mensagem ambígua, deixando a interpretação para o público. O próprio diretor disse: 

Adoro essa ideia que podemos ter fascismo sem oferecer nenhuma direção ou solução. Não é o objetivo do fascismo dizer, 'É por aqui que devíamos ir'? Mas este filme não podia estar mais longe de oferecer qualquer tipo de solução." 





———- Spoilers, por favor ———- 


Após perceber que Durden "deixou para trás" o nosso narrador, ele chega a ficar desesperado, por perceber que o Clube está montando um plano para destruir e acabar com tudo aquilo ligado ao capitalismo de uma forma completamente 

violenta. Em busca de respostas, finalmente, percebe quem o seu companheiro é de verdade: ele mesmo! A cena do hotel é completamente incrível por mostrar o momento da ficha caindo e uma das maiores realidades do filme: muitas vezes, nós não sabemos quem somos. 

Agora sim, tudo no filme começa a fazer sentido, quando eu assisti pela segunda vez, tudo ficou mais claro, por isso é sempre bom rever filmes como esse, na verdade, "Clube Da Luta" merece ser assistido sempre que possível. E, quem gosta de filmes fáceis, com roteiros óbvios e finais previsíveis, é melhor assistir outro.

Mensagem subliminar 


Uma parte do filme que eu não poderia deixar de citar aqui, que me chamou muito a atenção e que é pouco comentada, é quando o nosso protagonista fala conosco para apresentar Tyler Durden, dizendo que ele, além de produtor de sabão, trabalha como garçom (fazendo absurdos com as comidas dos clientes) e também com fitas de vídeo, onde consegue fazer alguns cortes e colocar imagens inapropriadas durante as cenas. 

Isso é claramente usado no começo do filme em uma cena num dos grupos que o protagonista frequentou como mensagem subliminar, mostrando Durden durante um frame ao seu lado, para ressaltar que esse já estava no subconsciente do personagem. Sem contar segundos antes dos créditos, no final do filme que aparece um pênis na tela, como aquilo que Tyler Durden gostava de fazer em seu trabalho. 

"Clube..." no divã 


"Clube da Luta" é um filme surpreendente e inovador. Em seu roteiro há elementos de sobra para análises da sociedade, no âmbito político, econômico, e psicológico. 

O filme trata também de temáticas como uma destruição de falsas necessidades e da libertação do homem das regras impostas pela sociedade; trata de violência nua e crua, sem o viés heroico retratado na maioria dos filmes; fala sobre a alienação do homem moderno, e de frustrações de pessoas que vivem no sistema atual. 

O filme também possui um viés psicopatológico, ao ter como protagonista um homem com características semelhantes àquelas que a psicologia chama de Transtorno Dissociativo de Personalidade. 

A partir da história contada no filme e de uma busca na literatura, será feita uma análise das características do protagonista da história, comparando-as às características do Transtorno Dissociativo de Personalidade, a fim de diagnosticá-lo (ou não) neste transtorno.

Conclusão 


Na história relatada, percebe-se a presença de duas ou mais identidades ou estados de personalidade distintos (cada qual com seu próprio padrão relativamente persistente de percepção, relacionamento e pensamento acerca do ambiente e de si mesmo). No caso, o Narrador (representado por Edward Norton) e Tyler Durden (representado por Brad Pitt). 

Essas identidades ou estados de personalidade assumem recorrentemente o controle do comportamento da pessoa, cada qual com suas idiossincrasias. Nesse processo, há uma incapacidade de recordar informações pessoais importantes, demasiadamente extensa para ser explicada pelo esquecimento comum, caracterizada pelos episódios de amnésia do Narrador do filme. Além disso, percebe-se que esse estado não ocorre através de condições fisiológicas diretas de uma substância. 

Assim, através de uma análise das características do protagonista do filme "Clube da Luta", conclui-se que o Narrador se adéqua aos critérios diagnósticos do Transtorno Dissociativo de Personalidade (que, na psicologia é identificada pelos códigos: F44.81 - 300.14, CID-10).

Ao terminar o filme, surge a pergunta na mente do expectador: "'Clube da Luta' é sobre um homem que inventa uma ilusão de seu ser idealizado, ou sobre 'um fraudulento que ilude um solitário insone para assumir a decadência como o cérebro de uma organização terrorista'"? Eu não achei a resposta. Quem sabe quando eu assistir novamente, não é mesmo?
  • Ficha técnica











A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://circuitogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.

Um comentário:

  1. Foi filme muito bom,quando o vi com minha mãe ele achou muito violento e eu gostei de mais.

    ResponderExcluir