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sábado, 15 de julho de 2017

ASSERTIVIDADE: QUANDO O "NÃO" É FUNDAMENTAL



"E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: (...) 'Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna'" (Mateus 5:1,2,37 - grifo meu).
Estava meditando numa palavra que Deus me deu e que irei ministrar na igreja sobre a importância de dizer 'não' e o quanto é complicado, difícil e, para muitas pessoas, quase impossível dizer um bom, saudável, necessário, vital essencial e retumbantemente sonoro 'NÃO'

O grande problema é que fomos ensinados, doutrinados - até mesmo em nosso relacionamento com Deus, no que se refere dEle para conosco - a não somente ouvir, quanto também a só dizer 'sim'. Assim, grande número de crentes pensam que Deus está sempre pronto a dizer sim para tudo o que pedem, tudo o que querem e não se preparam para a enorme possibilidade de ouvir um providencial não do Altíssimo. 

No texto desse artigo não me aterei apenas numa reflexão espiritual sobre o assunto (vou deixar para discorrer esse viés no dia da ministração), mas sim numa reflexão geral sobre...

A importância de dizer não


É preciso ter consciência de que é importante aprender a dizer não, porque caso não aprendamos, perderemos o controle de nossa vida, e sentiremos raiva por fazer coisas que, na realidade, não queremos. Talvez alguém possa pensar que dizer não é coisa de pessoas más, e que quem faz isso está sendo desagradável. Mas em alguns momentos, é necessário saber estabelecer limites e não ceder diante de manipulações e chantagens emocionais dos outros.

O tema em questão, conhecido como ASSERTIVIDADE, se refere à capacidade de ter confiança em si mesmo para poder dizer não, sempre que for necessário.

Não se trata de ser um egoísta que ignora as necessidades dos demais, e sim de encontrar um equilíbrio entre os dois extremos: ou seja, o de dizer sempre sim e o de dizer sempre não.

Os direitos dos demais são tão importantes quanto os nossos próprios direitos, e por isso é preciso tentar ser assertivo e determinar em quais momentos devemos negar e em quais momentos devemos aceitar o pedido dos outros. Se trata de defender nossos direitos, sem a intenção de ferir ou machucar ninguém.

O que diz a psicologia

Síndrome de reizinho


A psicologia do desenvolvimento, estudo das alterações comportamentais ligadas à idade, destaca que a infância é caracterizada pelo egocentrismo. As atitudes sociais e interativas das crianças são norteadas apenas por suas necessidades. Segundo essa teoria, o egoísmo é a recusa do indivíduo em sair da infância, a insistência em viver a fantasia do egocentrismo.

As religiões também possuem suas definições para o egoísmo. Para o espiritismo existem três patamares: egoísmo pessoal, egoísmo de classe e egoísmo de família. O primeiro acredita ser merecedor de todos os privilégios do mundo. O segundo determina que as vontades do seu grupo profissional ou político sejam atendidas imediatamente. O terceiro exige que os anseios de sua família sejam prontamente atendidos. 

O cristianismo fala em "egoísmo cristão". Nessa modalidade de egoísmo, a pessoa ora apenas em benefício próprio, ou pelo benefício de sua família, nunca pelo coletivo desconhecido.

O egoísta acredita ser mais importante que os demais. As vontades dos outros ficam em segundo plano, isso quando são vistas.

O uso incorreto da abnegação


Mesmo sendo um comportamento tão próximo, o egoísmo é veementemente condenado. Na contramão dessa conduta tão recriminada está o altruísmo. Quem é capaz de abnegar-se de si, abrir mão dos seus pensamentos e vontades em prol de ajudar o outro é sempre visto como uma boa pessoa.

Essa bondade mostra-se de várias formas. Ir ao restaurante que não gosta só porque a turma adora a comida dele. Comprar uma roupa mesmo estando com o guarda-roupa abarrotado porque não conseguiu resistir aos apelos do vendedor. Ir a uma festa que de longe aponta ser chata porque teve medo de dizer não e magoar o dono da festa. Quem sempre faz favores aos outros mesmo tendo inúmeros compromissos.

A abnegação também está no ambiente de trabalho. A manicure que não recusa em atender a cliente que está devendo há meses. O funcionário que sempre adia seu horário de almoço para que os grupinhos possam sair juntos. Quem sempre troca o plantão para favorecer os colegas. E que dizer de quem assume mil projetos já estando abarrotado de coisas para fazer? Quem sempre aceita ficar até mais tarde, sem receber um adicional no salário ou ter as horas contabilizadas.

As atitudes acima são vistas no seio familiar. Aquele primo que passa os finais de semana fazendo consertos para todo mundo. A mãe que sempre abre mão dos finais de semana cuidando dos filhos dos outros. Essa falta de firmeza também alcança os relacionamentos amorosos. Assistir filmes que não gosta porque o(a) parceiro(a) adora. Ir a lugares os quais você não fica confortável para ver o(a) parceiro(a) feliz.

Há pessoas com enorme dificuldade em dizer não. Elas aceitam todos os convites, colocam seus projetos e desejos para atender as vontades alheias não porque são boazinhas. A motivação para dizer sim o tempo todo vem da necessidade de ser aceito, evitar conflitos e brigas que propiciam o deterioramento das relações. Na verdade querer ser agradável 24 horas por dia esconde o medo de ser mal educado, passar uma imagem negativa e ser visto como uma pessoa que pensa apenas em si.

As pessoas que dizem sim compulsoriamente são inseguras e medrosas, afirmam os psicólogos. Entretanto, os especialistas ressaltam que elas também são controladoras, visto que aceitam todos os convites por não quererem ficar fora de nada e pela falsa impressão que podem controlar o tempo e darem conta de seus afazeres e dos compromissos assumidos para satisfazer necessidades alheias.

A dificuldade em impor limites é decorrência da baixa estima


Indivíduos com essa característica sentem que ninguém gosta deles e dizem sim o tempo todo para reverter a situação. Pode-se dizer que eles conseguem. As pessoas boazinhas sempre são requisitadas. Afinal de contas, elas tornam-se referência para quem adora empurrar suas obrigações para os outros. Por ser constantemente procurada a pessoa cria a falsa sensação de ser querido. Vira um círculo vicioso. Para reforçar o bem-estar provocado pelo assédio, o indivíduo cada vez mais abre mão da sua vida para atender quem lhe procura.

Quem não consegue dizer não anula sua essência. Colabora ainda com outro comportamento destrutivo. Pessoas que exigem favores ignorando a vida, prioridades e sentimentos do outro nada mais é do que uma criança grande apegada à fantasia do egocentrismo. Falar sim demasiadamente é falar não para si.

Como conseguir uma maior assertividade em nossas ações?


A base de tudo é sentir que damos valor à sociedade, e que devemos, também, ser respeitados. Além disso, precisamos ter consciência dos nossos fundamentos, da nossa escala de valores, para saber quais coisas desejamos fazer e quais não.

Devemos esquecer o medo e a sensação de culpa ao negar, em determinadas situações. É preciso superar o medo da única maneira possível, afrontando a situação que nos assusta. E com relação à culpa, é mais um tema social que aprendemos, mas se temos consciência dos nossos fundamentos, poderemos dizer "não" baseados claramente em algum motivo, e isso nos dá a segurança de que precisamos.

No momento em que valorizamos de verdade nossas razões, não atuando de maneira precipitada, já não sobra lugar para sentir culpa, pois a decisão que tomamos foi de acordo com nossas convicções.

Como são as pessoas pouco assertivas?


São indivíduos que se afastam de qualquer tipo de controvérsia, e precisam agradar sempre, até o ponto em que não realizam seus próprios desejos e necessidades. Acreditam que, para serem aceitos pelos demais, não podem negar nada, e no fim das contas acabam sendo manipulados. Acabam fazendo coisas que não querem e que vão contra seus princípios. Sua motivação é o medo da rejeição e a falta de confiança em suas próprias ideias.

É de extrema importância deixar claro que esse é um perfil muito diferente daquela pessoa que decide, de forma consciente e voluntária, dedicar sua vida a ajudar o próximo, resignando suas necessidades em algumas ocasiões. Nesse caso, se trata de uma escolha livre e pessoal e, como resultado, a pessoa se sente profundamente satisfeita e feliz.

Muito pelo contrário, nos casos dos quais falamos acima, as pessoas pouco assertivas sacrificam seu próprio bem estar, baseando-se em medos e inseguranças, algo que, definitivamente, não gera nada além de uma grande insatisfação pessoal.

Individualismo x Egoísmo

Embora colocados no mesmo saco, são comportamentos distintos. Tal confusão acontece porque as pessoas que se doam incondicionalmente são idolatradas. Pessoas individualistas sabem que são integrados a outros contextos, família, amigos, colegas de trabalho, de escola, etc. Porém, o individualista sabe colocar-se em primeiro lugar, porém, reconhece as necessidades alheias. O egoísta, por sua vez, não reconhece as necessidades alheias, para falar a verdade, ele sequer enxerga quem lhe cerca como indivíduos.

Falar sim o tempo todo: consequências


Falar sim o tempo todo tem consequências. Não realizar suas atividades cotidianas é uma delas. A pessoa não consegue deixar sua casa em ordem, pois, está ocupada demais cuidando das casas dos outros. O rendimento escolar cai porque o indivíduo ajuda tantos colegas que esquece suas tarefas. Quem sempre concorda com tudo, aquela pessoa "pau para toda obra", tem dentro de si uma enorme mágoa. O sentimento é inconsciente, mas, é fato que muitos desaparecem quando não precisam de nenhum favor. Os bonzinhos em tempo integral têm seu moral reduzido a pó.

Virando o jogo


Segundo o saudoso psiquiatra, psicoterapeuta e escritor Flavio Gikovate é preciso foco, esforço e determinação para quebrar padrões destrutivos. A tarefa é difícil, pois, quem fala sim compulsoriamente, o faz pela vaidade de ser visto como alguém legal. Aprender a dizer não quebra essa vaidade e traz sentimento de culpa. O medo acompanha os processos de mudança, mas, apenas o enfrentamento regenera o ser.

Gikovate ressaltou que o não deve começar a ser dito as pessoas sem vínculos afetivos. Dizer "vou ver o que posso fazer", seguida por "ainda estou vendo" fará a pessoa ver que você está se distanciando. Para os pedidos de empréstimos feitos por familiares e amigos de longa data, responda "entendo seu problema, mas tive alguns contratempos esse mês".

Outro treinamento para aprender a falar não é a técnica do "disco rachado". Ela consiste em repetir a negativa quantas vezes forem necessárias. Por exemplo, ao ser abordado por um vendedor você diz "Obrigado, mas não estou interessado". Se mesmo assim o vendedor insistir, responda "Não discordo da qualidade do produto, mas não estou interessado".

Falar sim o tempo todo: consequências hormonais


Colocar sua própria vida em segundo plano também causa alterações hormonais. O nível de serotonina (hormônio do bem-estar) pode diminuir significativamente. Essa queda provoca chateação e até mesmo quadros de distimia, depressão branda caracterizada pela irritação frequente. De acordo com a psicoterapeuta Fátima Vasconcelos, quando a situação chega a tal ponto, é recomendável a psicoterapia cognitiva comportamental em associação com antidepressivos.

Psicoterapia cognitiva comportamental


Quando não conseguimos resolver nossos conflitos sozinhos, a psicologia entra em ação. Para a dificuldade em dizer não, a Terapia Cognitivo-Comportamental é a corrente mais adequada. Ela foi desenvolvida pelo psicólogo Aaron Beck. O propósito desse modelo é mudar os padrões de comportamento. As técnicas da psicoterapia cognitiva comportamental trabalham os elementos causadores de emoções negativas.

Segundo a Terapia Cognitivo-Comportamental, os sentimentos são consequências dos pensamentos. O trabalho do terapeuta é ajudar seu paciente a entender seus conflitos para que este identifique estratégias para enfrentá-los. A duração desse processo varia de três a seis meses. Confira algumas técnicas:
Técnicas de relaxamento 
A ansiedade protege o organismo, preparando-o para atacar ou fugir de perigos reais ou imaginários. Durante o processo, o organismo libera substâncias que provocam alterações fisiológicas responsáveis por essas respostas. As principais técnicas de relaxamento são:
  • Exercícios de respiração: Inspiração-expiração profundas e amplas, além de respirações diafragmáticas. O treino propicia a sensação de controle sobre o organismo. 
  • Treino em relaxamento: O treinamento consiste em tensionar e relaxar grupos musculares para adquirir bem estar. 
  • Parada do pensamento: Técnica de autocontrole. O paciente deixa vir a tona um pensamento indesejado, mas, ele é interrompido pelo comando de "pare" dado em voz alta pelo terapeuta. A interrupção também pode ser feita através de placas com a palavra "pare". 
  • Autoinstrução: Aqui, o terapeuta ajuda o paciente a desenvolver pensamentos adequados diante à situação temida.  
  • Inoculação do estresse: O paciente vivencia a situação conflituosa na sessão, a fim de criar recursos de enfrentamento para utilizá-las quando estiver cara a cara com o problema.  
  • Solução de problemas: Nesse treinamento, o paciente aprende a manejar e adaptar as estratégias aprendidas durante a terapia, por intermédio de simulações durante as sessões.

Conclusão


Todo o mal causado pela dificuldade em dizer não vem do medo. Medo de falar a verdade e medo de ter amor próprio. Mas, nenhum nem outro é errado. Falar não às vezes faz nosso coração doer, entretanto, ninguém morre por ouvir a verdade. Não tenha medo de expor seus sentimentos. Devemos ser coerentes com nossos valores e fieis aos nossos sentimentos. Sentimentos e pensamentos precisam estar em equilíbrio constante.

O objetivo desse artigo não é propagar o egoísmo, pelo contrario. O quis mostrar a você que falar sim 24 horas por dia, significa anular-se como indivíduo. A falta de respeito cometida por quem não aceita não como resposta, junto com a falta de amor próprio de quem faz tudo para agradar os outros integram um círculo vicioso onde os dois elos perdem.

Quando alguém pedir um favor, mostre que você se importa. Porém, não perca a oportunidade de ressaltar que suas necessidades são tão importantes quanto. Se não quiser ser tão duro, experimente pedir um tempo para pensar, diga "preciso ver se não tenho nenhum compromisso" – repita quantas vezes forem necessárias. Não deixe de cumprir seus compromissos por não querer ser visto como alguém cruel. Dizer não com parcimônia não é sinal de egoísmo é sinal de autoestima.

Dizer não é uma arte


Diga não ao seu filho quando ele quiser comer um doce antes da refeição. Diga não ao seu filho adolescente quando ele quiser sair à noite e não revelar aonde vai e com quem vai. Esse cuidado travestido de chatice impedirá acontecimentos desagradáveis. Diga não a sua amiga quando ela pedir aquele vestido que você nunca usou. Diga não quando pedirem um favor às vésperas de uma prova importante na faculdade. Mostre que se importa, mas, explique que seus compromissos também são importantes.

Mas, como dizer não no trabalho? Dá para recusar a participar de um projeto? Sim, basta ser educado. Peça um tempo para analisar sua agenda. A técnica prepara o terreno para uma possível recusa. Outra tática é mostrar-se lisonjeado com o convite e agradecer dizendo que está envolvido em outras atividades, finalize desejando sucesso. Se o convite for para um happy hour, conte que precisa revisar um relatório, por exemplo.

Para terminar


Vamos terminar esse artigo com dicas práticas que ajudarão nesse difícil aprendizado:
  • Ganhe tempo: Se não quiser recusar imediatamente, diga que responderá após analisar sua agenda. Mas, não esqueça de ligar para dizer porque não pode.
  • Disco arranhado: Caso a pessoa exija uma resposta imediata, repita que precisa analisar sua agenda mil vezes. Vença pelo cansaço.
  • Não é culpa sua: Ninguém pode ser julgado por não querer satisfazer as vontades dos outros. Quem reage mal depois de ouvir um não claramente não recebeu limites na infância. Não seja refém de quem não sabe lidar com frustração.
  • Elogie + negue + agradeça: Valorize o convite, lamente por não poder aceitar, dê uma justificativa e termine agradecendo o convite.
  • Repasse: Será que você é única pessoa que pode fazer isso? Provavelmente não. Se bobear, existem outras pessoas mais capacitadas para a missão. Diga que você não é a mais indicada, pois, nunca passou por essa situação, ou, não é bom nessa atividade.
  • Sugira outra coisa: Diga que não poderá ajudar nessa tarefa, mas, que terá muito prazer em contribuir de outra maneira.
  • Encerre o assunto: Você foi educado, mas, mesmo assim a pessoa não entendeu? Nesse caso, seja monossilábico e diga "certo". Fale que você tem uma vida para cuidar e ponto final.
  • Ensaie: Seguir essas dicas é difícil, porém, ficará mais fácil se você ensaiar na frente do espelho.
O tempo e a maturidade nos ensinam a falar o não que educa, o que nos faz respeitar a imagem refletida no espelho.
  • Nota: Já abordei esse tema aqui.

[Fonte de pesquisa: Portal Psicologado]

A Deus toda glória.
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