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quarta-feira, 15 de abril de 2015

MENSALÃO GOSPEL

Acredito que todos nós brasileiros já estamos fartos de ouvir falar em acordos secretos, negociatas, subornos, propinas e toda essa onda de corrupção que tem revestido nossa nação com lama. Mas muitas de nossas igrejas evangélicas têm andado por um caminho parecido. E, se ainda não apareceram - por enquanto - câmeras escondidas mostrando pastores com a mão na botija, basta olhar um pouco à volta para perceber que o arraial evangélico não anda longe de tudo isso que está aí estampado nas manchetes dos jornais.

Muitas igrejas têm procurado atrair as pessoas oferecendo-lhes um evangelho centralizado nos interesses humanos. É um antropocentrismo pragmático, sob a tutela da teologia do mercado. São as chamadas igrejas neopentecostais. Repare que esse neopentecostalismo de hoje é diferente do pentecostalismo clássico e o movimento carismático do passado que invadiram as igrejas levando o povo ao quebrantamento, ao arrependimento e, consequentemente, à santidade; hoje, o neopentecostalismo de mercado oferece um Jesus que mais parece mercadoria para satisfazer ao homem em busca do seu projeto de vida boa, prometendo-lhe condições de guardar tesouros abarrotados por aqui mesmo - é o que chamam de prosperidade.

A partir daí, o indivíduo é levado a pagar a Deus o seu "mensalão" para que o Senhor dê um jeitinho nas coisas. O "mensalão gospel" é um tipo de suborno que o sujeito quer pagar para Deus votar a favor dele no fatalismo da vida, ou seja, para que tudo funcione do seu jeito e dê certo, não interessa o que precisa ser feito. Pode ser uma mala de dinheiro, um sacrifício, um voto, um ato profético ou uma simples oferta, mas a dinâmica é a mesma no Congresso Nacional: é dando que se recebe. Nestas igrejas, não se compram votos - tenta-se adquirir o favor divino.

É um evangelho de troca. Você paga o "mensalão" e a coisa funciona. Claro que o pastor, ou bispo, ou apóstolo (ou seria lobista dos céus?), conhece o jeito certo, o caminho para convencer Deus a agir, mexendo seus pauzinhos a nosso favor. Desde que você pague a conta, a bênção é garantida. Se algo der errado, tudo bem - afinal, o "mensalão" já entrou no "caixa celestial". Mas isso não é tudo. É preciso, também dedicar-se a um ocupacionalismo frenético. Muitas igrejas ocupam-se em organizar eventos e atividades, e isso quando não se envolvem numa série de outros empreendimentos. A comunidade, de povo de Deus, acaba transformada numa empresa, onde, além de pagar a conta, cada membro tem de trabalhar. O cristianismo acaba se reduzindo a um trabalho eclesiástico e o crente é transformado em um "peão do reino".

Será que estamos num caminho sem volta? O Evangelho continuará a ser falsificado assim, transformado em um relés e raso evangelho? Precisaremos passar por uma CPI celestial? Se for preciso, estaremos assados, pois esta, certamente, não irá terminar em pizza.

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