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sexta-feira, 3 de abril de 2015

JAHVEH VS. O "DEUS FUNCIONÁRIO"


"Porém, como dizem as Escrituras Sagradas: 'O que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que o amam.'" (1 Coríntios 2:9 - NTLH) 
"Nunca ninguém viu ou ouviu falar de outro deus além de ti, de um deus que faz coisas assim em favor dos que confiam nele." (Isaías 64:4 - NTLH) 

Um dos versículos mais populares da Bíblia, citado até mesmo em canções é 1 Coríntios 2:9. Pregadores da Teologia da Prosperidade e do triunfalismo encorajam seus ouvintes a sonharem com coisas que eles jamais sonharam...porque é isso o que Deus preparou para aqueles que o amam...e, nessa visão, pode ser desde um BMW até uma mansão na Riviera Francesa. Outros pregadores, mais tradicionais, usam o versículo acima para se referir ao céu e às bênçãos pós-morte. O texto (1 Co 2:9), dizem, nos mostram que não sabemos que tipo de bênçãos receberemos no céu. 


Porém, será que é isso mesmo o que 1 Coríntios 2:9, citando Isaías 64:4, quer dizer? Bom, uma regra simples da interpretação bíblica nos diz que devemos ler o texto dentro do contexto. Em outras palavras, devemos, no mínimo, ler o versículo dentro de uma unidade textual maior que faça sentido: a perícope. E, vendo o contexto, o que descobrimos? 

1 Coríntios 2:9 


1) Já sabemos aquilo que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Ahn, como...mas o texto não diz que nós não sabemos o que Deus preparou...que nem olhos viram e nem ouvidos ouviram? Sim...isso é o que diz 1 Co 2:9. Mas, você já leu o versículo 10? 
"Mas foi a nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo. O Espírito Santo examina tudo, até mesmo os planos mais profundos e escondidos de Deus." 
Ou seja, por meio do Espírito Santo, sabemos que tipo de coisas "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram". Isso não está oculto, foi revelado. Mais precisamente na Bíblia, que é a Palavra de Deus. 

Claro que isso não significa que saibamos de todos os detalhes. Por exemplo, não sabemos exatamente como será a vida em novos céus e na nova terra...mas temos o quadro geral. 

2) 1 Coríntios 2:9 refere-se ao Evangelho, à salvação de Cristo na cruz. Agora que lemos 1 Coríntios 2:10, é hora de ler 1 Coríntios 2:1-8:

"Meus irmãos, quando fui anunciar a vocês a verdade secreta de Deus, não usei muitas palavras nem grande sabedoria. Porque, quando estive com vocês, resolvi esquecer tudo, a não ser Jesus Cristo e principalmente a sua morte na cruz. Quando visitei vocês, eu estava fraco e tremia de medo. O meu ensinamento e a minha mensagem não foram dados com a linguagem da sabedoria humana, mas com provas firmes do poder do Espírito de Deus. Portanto, a fé que vocês têm não se baseia na sabedoria humana, mas no poder de Deus. 
Porém, para os que são espiritualmente maduros, anunciamos uma mensagem de sabedoria. Mas não é de uma sabedoria deste mundo nem a dos poderes que o governam e que estão perdendo o seu poder. A sabedoria que anunciamos é a sabedoria secreta de Deus, escondida dos seres humanos, a sabedoria que o próprio Deus, antes mesmo da criação do mundo, já havia escolhido para a nossa glória. Nenhum dos poderes que agora governam o mundo conheceu essa sabedoria. Pois, se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o glorioso Senhor. [NTLH]"   
O que Paulo está dizendo? Ele contrasta dois tipos de sabedoria. A deste século e a dos poderosos desta época acabou crucificando a Jesus. Paulo não ostentou esse tipo de sabedoria quando pregou o Evangelho...e ela não deve ser a base da fé da Igreja. A fé deve se basear no poder de Deus...em Jesus Cristo e neste crucificado. O Cristo crucificado é a pregação paulina, é a sabedoria de Deus em mistério, preordenada desde a eternidade, para a glória dos eleitos, mas que estava oculta. Veja bem...estava...outrora oculta. Mas, agora, ela foi revelada pelo Espírito. 

Que Paulo fala do Evangelho, fica mais claro quando lemos o contexto remoto, o que está escrito em outros textos, como Efésios 3:8-9: 
"Eu sou menos do que o menor de todos os que pertencem a Deus, mas mesmo assim ele me deu este privilégio de anunciar aos não judeus a boa notícia das imensas riquezas de Cristo. E também me deu o privilégio de fazer com que todos vejam como se realiza o plano secreto de Deus. Deus, que criou tudo, escondeu esse segredo durante os tempos passados. [NTLH]" 
Portanto, agora, quando você cantar, pregar ou falar sobre aquilo que "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram", você saberá como entender corretamente o ensino de 1 Coríntios 2:9. 

Isaías 64:3 


Quanto a Isaías 64:3, o descalabro é ainda maior. Nessa passagem, o profeta Isaías está fazendo uma oração específica à nação de Israel, que estava em uma situação de desolação e cativeiro, como consequência pelos pecados cometidos contra Jahveh. O período, compreendido do capítulo 63 ao 66, é uma oração profética com teor apologético, que fala sobre a queda, a necessidade do arrependimento e do perdão e da futura restauração na redenção, mediante à submissão ao senhorio e ao reinado do Messias. Para entendermos melhor, é fundamental uma análise acerca do período da história em que Isaías exerceu o seu ofício profético. 

O profeta coloca que ele profetizou durante os reinados de “Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá” (1.1). Alguns aceitam que o seu chamado para o ofício profético tenha sido feito no ano que o rei Uzias morreu, que foi em cerca de 740 aC (6.1,8). Entretanto, é provável que ele tenha começado durante a ultima década do reinado de Uzias. Por Isaías mencionar a morte do rei da Assíria, Senaqueribe, que morreu em cerca de 680 aC (37.37,38), ele deve ter sobrevivido a Ezequias por alguns anos. Isaias profetizou no período mais crucial da história de Judá e Israel. Ambos os reinos do Norte e do Sul haviam experimentado cerca de meio século de poder e prosperidade crescentes. Israel, governado por Jeroboão e outros seis reis de menor importância, tinha sucumbido ao culto pagão; Judá, sob Uzias, Jotão e Ezequias, manteve uma conformidade exterior à ortodoxia, mas, gradualmente, caiu num sério declínio moral e espiritual (3.8-26). Lugares secretos de culto pagãos eram tolerados; o rico oprimia o pobre; as mulheres negligenciavam suas famílias na busca do prazer carnal; muitos dos sacerdotes e profetas tornaram-se bêbados que queriam agradar os homens (5.7-12,18-23; 22.12-14). Embora estivesse para vir mais uma avivamento a Judá sob o rei Josias (640-609 aC), estava claro para Isaías que a aliança registrada por Moisés em Dt 30.11-20 havia sido tão inteiramente violada, que o cativeiro e o julgamento eram inevitáveis para Judá, assim como o era para Israel.

Isaías entrou em seu ministério aproximadamente na época da fundação de Roma e dos primeiros Jogos Olímpicos dos gregos. As forças européia ainda não estavam preparada para grandes conquistas, mas diversas potências asiáticas estavam olhando para além de sua fronteiras. A Assíria, particularmente, estava inclinada a conquistas ao sul e ao oeste. O profeta, que era um estudioso dos assuntos mundiais, podia ver que o conflito era iminente. A Assíria conquistou Samaria em 721 aC. 

Foi nesse cenário horrível que Isaías (hb = “Jahveh é o socorro”) profetizou e, ao se sensibilizar com a situação caótica de Israel, ele faz uma oração profética e apologética a Jahveh (hb = “Eu sou o que Sou”, expressando auto suficiência, ou seja, poder, soberania), o Senhor, intercedendo pelo povo. O trabalho que ao qual ele faz menção na oração, é referência aos feitos do Senhor no passado. Isolado do seu contexto – que vai do capítulo 63 ao 66 –, esse versículo faz alusão a um “Deus funcionário”, passivo, que trabalha, enquanto os seus “servos patrões”, ficam de braços cruzados, só esperando os resultados do trabalho dele (as bênçãos). Não é nada disso que diz o texto e, além do mais, repito, o texto e todo seu contexto são referentes específica e diretamente à nação de Israel e não têm absolutamente nada a ver com a Igreja pós-messiânica. 

Esperando no Senhor


“Esperar”, do hebraico qawar, palavra usada para indicar dependência e esperança. 

O significado da raiz etimológica é o de entrelaçar ou enrolar as fibras de uma corda. O esperar no Antigo Testamento é a confiança nas mãos de Deus. Não está embasada na capacidade do homem, mas na promessa de Deus. É sempre o cumprimento das promessas de Deus: a terra prometida, a libertação do cativeiro, a salvação de Israel, a reconstrução da nação (sentido apologético). 

Para ficar mais claro o que quero dizer, vale salientar que no hebraico bíblico, existem cinco formas e sete ações para declinação de um verbo: FORMAS. - Completo. - Incompleto. - Imperativo. - Infinitivo. - Particípio. AÇÕES. - Qal. - Nifal. - Piel (ação intensa). - Pual. - Hithpael. - Hifil. - Hofal. Então, “esperar no Senhor”: Não significa ficarmos de braços cruzados, esperando que Deus faça tudo por nós. Esperar no Senhor denota ação, atividade, ou seja, fazermos a nossa parte. Deus faz a parte dele e precisamos realizar aquilo que nos compete. 

Vejamos o que significa dentro do contexto da passagem sugerida: 

1 - Esperando pelos grandes feitos do passado 

O profeta Isaías continua sua oração. O crente ora porque depende do Senhor e não porque Deus precisa de nossas orações. Quando o crente espera no Senhor, o desejo é que os céus se abram em bênçãos e que tudo pare diante de Sua grandeza. No caso do profeta, o desejo é que Deus intervenha na situação de invasão e cativeiro. Sabemos, pelo decorrer da história, que Deus não dispensaria a disciplina do cativeiro, porém, não significa que Ele não se agradaria da oração do profeta bem como de toda a nação. O profeta Isaías ansiava pela repetição dos feitos do passado. Muitas vezes, queremos que Deus faça algo tão extraordinário em nossas vidas a respeito dos nossos problemas que chegamos a pensar que Deus só é Deus se agir “movendo montanhas” ou “abrindo o mar vermelho”. A resolução do problema em si é menos importante do que o que devemos aprender do Senhor, mas, no momento, queremos mais é resolver os problemas do que ter comunhão com Deus. O Senhor sempre trabalhou para aqueles que Nele esperam. O mesmo Deus que abriu o Mar Vermelho foi aquele que permitiu Estevão ser apedrejado até à morte. De modo algum significa que os judeus libertados do Egito eram mais amados do que Estevão. No entanto, vemos Estevão mais grato ao Senhor e perdoador do que os murmuradores do deserto (v.1-4). 

2 – Esperando pelo perdão 

O profeta sabe que Deus vai até o pecador contrito e daquele que anda em piedade à Sua Palavra. Isaías sabe que toda a nação é passiva de repreensão porque por muito tempo está em rebeldia. Assim como Abraão incomodava Deus com as perguntas pensando na salvação de Ló da destruição de Sodoma, Isaías quer saber se Deus perdoará o povo algum dia. O profeta se inclui como pecador, juntamente com a nação. Ele já fez isso no capítulo 6. Os termos usados para admitir a própria iniquidade são bem indecorosos. Até aquilo que o pecador considera justiça própria, o profeta diz serem panos da imundícia, ou seja, panos usados nos ciclos femininos (ed beged, em hebraico). Além disso, ninguém chamava a atenção de Deus em oração e quando oravam, Deus não queria atendê-los, pois não faziam as orações acompanhadas de arrependimento (v.5-7). 

3 – Esperando pela misericórdia 

A oração do profeta deveria representar toda a nação. Israel é o barro e Deus é o oleiro. A misericórdia cairia muito bem para Isaías e para a nação, mas, infelizmente, nem todos tinham o mesmo temor que o profeta. O crente está livre da ira de Deus, mas não de Sua disciplina. O pecado traz consequências desastrosas. Para Israel, as cidades santas ficariam desertas e Jerusalém destruída. O profeta se recusa a pensar que Deus não faria nada diante de tamanha humilhação. O fato é que Deus foi blasfemado entre os gentios, mas Ele suportou isso para que Israel experimentasse a Sua disciplina. O nosso pecado desonra a Jesus e Seu evangelho, mas a disciplina cumpre o propósito de purificação. Não pensemos que o prejuízo para a Igreja seria suficiente para Deus impedir a disciplina dos crentes (v.8-12). 

Conclusão 

O profeta Isaías, na seção compreendida entre 63:11 a 64:7 do seu livro, lança um olhar retrospectivo para a história de Israel lembrando como Deus fielmente tem guiado o Seu povo (63:13,14) e como, de bom grado, Ele ajuda aqueles que alegremente fazem o certo e obedecem aos Seus caminhos (64:5). O profeta está cheio de admiração pelo caráter de Deus. “Desde os tempos antigos ninguém ouviu, nenhum ouvido percebeu, e olho nenhum viu outro Deus, além de ti, que trabalha para aqueles que nele esperam” (v. 4 NVI; ver também 1Co 2:9). 

Isaías lembra, também, quão teimoso Israel tem sido e se sente mortificado pelo modo como esta nação tem agido para com o seu terno e paciente Deus. 
“Em Seu amor e em Sua misericórdia Ele os resgatou; foi Ele que sempre os levantou e os conduziu nos dias passados. Apesar disso, eles se revoltaram e entristeceram o Seu Espírito Santo. Por isso Ele Se tornou inimigo deles e lutou pessoalmente contra eles.” (Is 63:9,10 NVI). 
A experiência de Israel ilustra a condição moral da humanidade como um todo. 
“Somos como o impuro [leproso] – todos nós! Todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo [trapos que cobriam o corpo em decomposição do leproso e que também eram usados por mulheres no período menstrual]. Murchamos como folhas, e como o vento as nossas iniquidades nos levam para longe. Não há ninguém que clame pelo teu nome, que se anime a apegar-se a ti…” (Is 64:6-7, NVI). 
Então ocorre uma mudança no discurso. O profeta, de repente, intercede em nosso favor. Ele pede para Deus Se lembrar! “Lembre-se, Senhor”, diz ele, “Tu és o nosso Pai. Nós somos o barro; Tu és o oleiro” (v.8 NVI), somos mortais frágeis e mesmo nossos melhores atos não são nada além de “trapo imundo” (v.6 NVI). Por três vezes ele lembra o Senhor: “Tu és nosso Pai” (63:16 a, b; 64:8); lembra também que Ele é nosso criador (v.8) e que Seu nome, desde o início, é “Redentor” (63:16). 

Como Moisés, Isaías implora a Deus para não desistir de seu povo, para não esconder Seu rosto deles (v.7), mesmo que seja só por causa do Seu nome e reputação (63:14; 64:10,11). 

Quando nos sentimos distantes de Deus, podemos clamar como Isaías: 
“Não te ires demais, ó Senhor! Não te lembres constantemente das nossas maldades. Olha para nós! Somos o teu povo! … Ficarás calado e nos castigarás além da conta?” (v. 9,12 NVI). 
Em resposta às nossas humildes súplicas já conhecemos de antemão a promessa de Deus: “Antes de clamarem, eu responderei; enquanto ainda estiverem falando eu os ouvirei” (65:24 NIV). Que conforto e segurança nos traz o amoroso, justo e misericordioso Deus - o Senhor - a quem servimos em Sua Palavra!

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