Um dos ministério mais "disputados" em muitas igrejas evangélicas - depois do de pastor, claro - é o de profeta. Pessoas que se intitulam e/ou que são intituladas como profetas costumam ter status em muitas denominações, principalmente nas pentecostais, onde os dons espirituais são bem enfatizados e efusivos em suas atuações. Mas, será que muitos desses que se dizem profetas, sabem realmente o significado desse ministério?
Os profetados do Antigo Testamento inspiram e instruem não somente Israel, mas a Igreja de Cristo. O Senhor Jesus Cristo e os seus apóstolos fizeram-lhes referências, reconhecendo a autoridade espiritual deles. O presente artigo objetiva explanar a missão desses homens de Deus e a abrangência bíblica do termo "profeta".
[Nota: Para melhor entendimento deste artigo é fundamental que a leitura do mesmo seja feita com acompanhamento de uma Bíblia aberta.]
1. O início do ministério dos profetas
É sabido que o ministério profético no Antigo Testamente era totalmente distinto em seu contexto de hoje. No AT, Deus só falava através dos profetas. No Novo Testamento, apesar de ainda falar pelos profetas, a maneira do Senhor nos falar é através de sua Palavra sendo que, portanto, as mensagens proféticas só são válidas se estiverem em linha com a Palavra (Hebreus 1:1). Para análise do assunto, usaremos como base o texto bíblico de Números 11.
a) Contexto histórico - Números 11:24
Nos versículos 11 ao 15 do capítulo 11 de Números, observamos que Moisés, por causa de seu trabalho excessivo, sentiu-se incapaz de satisfazer plenamente às necessidades do povo, e isso o deixou frustrado. Todos os homens de Deus passam por experiências similares. Quando chegamos a esse ponto, Deus vem em nosso socorro (Sl 121:1, 2). Foi nesse contexto que o Senhor, para aliviar a carga de Moisés, repartiu o Espírito que estava sobre o seu servo entre setenta anciãos de Israel, a fim de ajudar o grande legislador do povo hebreu a desempenhar o seu ministério (Nm 11:16, 17).
b) Moisés iniciou o ofício profético em Israel - Nm 11:25, 26
O verbo "profetizar" aparece aqui pela primeira vez nas Escrituras Sagradas: "[...] quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram (25)"; "[...] e profetizavam no arraial (26)". Foi com essa congregação de setenta homens dos anciãos do povo hebreu que Moisés iniciou ao que posteriormente ficou conhecido como o ministério profético em Israel.
Apesar de o verbo ter a sua primeira menção no livro de Números, a figura do profeta está presente desde a época patriarcal. Embora não se saiba qual era exatamente a sua função nesse período, parece nos incluir a intercessão, visto que Deus disse a Abimeleque acerca de Abraão: "[...] porque profeta é e rogará por ti (Gn 20:7)".
c) "Tomara que todo o povo de Deus fosse profeta" - Nm 11:29
A resposta de Moisés demonstra que qualquer pessoa podia ser profeta, desde que tivesse uma chamada divina específica. Essa expressão se confirma na história do Antigo Testamento, pois os profetas e profetisas como Débora e Hulda, por exemplo, vieram de diversas tribos, famílias e classes sociais (Jz 4:4; 2 Rs 22:14). Veja ainda o caso de Amós, que era camponês (Am 7:14). Diferentemente dos sacerdotes, os profetas não precisavam pertencer a certa família sacerdotal, como a de Arão; também não havia restrição de idade nem objeção quanto às condições físicas.
2. O Profeta
a) Seu significado - A palavra hebraica usada no Antigo Testamento para "profeta" é "nâbí". Sua etimologia é incerta, mas o verdadeiro significado é possível pelo seu uso nas Escrituras. O diálogo entre Deus e Moisés (Êx 4:14-16) esclarece o sentido do termo, o qual é "falar em nome de Deus". Por conseguinte, é ser um "porta-voz", um "embaixador". (Veja a ilustração do ofício com Moisés e Arão em Êxodo 7:1,2). Deus sabe todas as coisas, conhece o fim desde o princípio; seu conhecimento é absoluto e perfeito em tudo (Is 46:9, 10). Portanto, quem fala em seu nome anuncia o futuro como se fosse presente. Isso explica o estreito vínculo de "profetizar" com "prever o futuro" e, ainda, "revelar algo impossível de saber através dos recursos humanos", ações possibilitadas apenas por Deus.
b) Sua abrangência - Tanto o substantivo "profeta" como o verbo "profetizar" têm amplo significado no Antigo Testamento e em nossos dias. O termo "falso profeta" aparece na versão grega dos setenta, conhecida como Septuaginta (LXX), e em o Novo Testamento; porem, não existe nas Escrituras hebraicas. Assim o termo aplica-se também a adivinhos, falsos profetas e profetas das divindades pagãs das nações vizinhas de Israel, sendo identificados como tais pelo contexto (Js 13:22; 1 Rs 22:12; Jr 23:13).
c) Expressões correlatas - Vidente, por exemplo, possui dois termos hebraicos que o identifica nas Escrituras: hozeh e roeh (hôzer e rô'eh na transcrição técnica). Ambos apresentam dois sentidos: ver com os olhos físicos e ver introspectivamente, ou seja, ver com o espírito, por isso, o profeta é chamado de "homem de espírito" (Os 9:7). Houve um período na história profética de Israel em que os profetas eram identificados simplesmente como "videntes" (1 Sm 9:9).
3. O Ministério
a) Havia o ministério dos profetas? - Há quem negue a existência da escola do ministério dos profetas como instituição em Israel nos tempos do Antigo Testamento. Entendo que no ministério mosaico iniciou-se a atividade profética em Israel (Nm 11:25). Entretanto, o profetismo, como movimento, surgiu séculos depois.
Mais tarde vemos que Samuel presidia a congregação de profetas em Naiote, região de Ramá, onde residia (1 Sm 7:17; 19: 19-23). E adiante, vemos a existência de uma escola dos profetas composta por "filhos" dos que exerciam o ofício (2 Rs 2:3,5,15). É importante ressaltar que "filho", na Bíblia, significa também "discípulo, aprendiz" (Pv 3:1,21; 2Tm 2:1; Fm 10). Note que o texto sagrado revela a existência de uma organização de profetas bem estruturada, e Eliseu chegou a ser o mestre deles (2 Rs 6:1-3).
b) A corporação profética - O termo original para "ministério, serviço" não é o mesmo referente à atividade dos profetas. A expressão "ministério do profeta" ou "dos profetas", significa na verdade "por meio dos profetas". O vocábulo "ministério" indica o serviço religioso específico e especial desempenhado pelos levitas (1 Cr 6:32), pelos sacerdotes (1 Cr 24:3) e pelos apóstolos (At 1:25). Isso, porém, não é em si mesmo prova da inexistência de uma corporação profética em Israel (1 Sm 10:5).
c) Classificação - Os profetas do Antigo Testamento são categorizados em clássicos, ou profetas escritores, e os conhecidos também como profetas não-escritores ou orais. Estes últimos são também chamados não literários, os quais não escreveram seus oráculos, como Samuel, Elias e Eliseu. Os profetas clássicos são também chamados de literários, os quais escreveram suas profecias, como Isaías, Jeremias, Ezequiel, dentre outros. Trata-se de uma classificação simplesmente didática. Ambos os grupos desempenharam o mesmo ofício, mas em épocas diferentes. Todos falaram em nome do Deus de Israel. As Escrituras empregam a mesma expressão para ambos os grupos: "veio a palavra do SENHOR a" ou fraseologia similar (1 Sm 15:10; Is 38:4; Jr 1:2). Todos esses profetas usavam a chancela de autoridade divina: "assim diz o SENHOR" (1 Sm 15:2; Is 7:7; Jr 2:2).
Conclusão
Deus suscitou os profetas para revelar-se ao homem, a fim de que este conhecesse a vontade divina e o plano de salvação na pessoa sublime de Jesus Cristo, nosso Salvador. Por essa razão, devemos considerar "a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração" (2 Pe 1:19).
[Fonte de Pesquisa: CCPA e CPAD]
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