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segunda-feira, 27 de abril de 2015

"FILHOS DO FUNK", FRUTOS DA PROMISCUIDADE

Os apreciadores do movimento funk o defendem como uma cultura e, sim, o funk é uma cultura. Detalho o aspecto cultural do funk em artigo anterior: http://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2015/02/cultura-funk.html. Mas as polêmicas acerca desse movimento pipocam pelas mídias sociais. Infelizmente o que se tem enfatizado é todo o aspecto negativo que permeia e/ou que caracteriza o funk. Vai desde menores - crianças até, como os casos da Mc Melody e o do Mc Brinquedo - cantando "músicas" cujas "letras" fazem explícita apologia ao sexo, às drogas e à violência. 


Justiça seja feita


O Ministério Público de São Paulo abriu na quinta-feira (23) um inquérito para
investigação sobre "forte conteúdo erótico e de apelos sexuais" em músicas e coreografias de crianças e adolescentes músicos. A cantora de funk conhecida como MC Melody, de oito anos, é um dos alvos da investigação, que suspeita de "violação ao direito ao respeito e à dignidade de crianças/adolescentes". O caso está sendo investigado pela Promotoria de Justiça de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos da Infância e da Juventude da Capital.

Segundo uma das representações publicadas no inquérito, Mc Melody "canta músicas obscenas, com alto teor sexual e faz poses extremamente sensuais, bem como trabalha como vocalista musical em carreira solo, dirigida por seu genitor". Além dela, músicas e videoclipes de outros funkeiros-mirins como MCs Princesa e Plebéia, MC 2K, Mc Bin Laden, Mc Brinquedo e Mc Pikachu também são alvo da investigação do Ministério Público paulista.

Mas há também os que se posicionam favoráveis, como o jornalista musical André Forastieri que publicou o texto em seu blog no site R7 "Chega de preconceito contra o funk. Deixa MC Melody ser funkeira e rebolar - mesmo que tenha 8 anos de idade", onde afirma que "vinte anos atrás as menininhas dançavam na boquinha da garrafa ou queriam ser Paquitas" (Leia na íntegra http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2015/04/23/chega-de-preconceito-contra-o-funk-deixa-mc-melody-ser-funkeira-e-rebolar-mesmo-que-tenha-8-anos-de-idade/).

Só que não é sobre isso que eu quero falar e sim sobre outra polêmica do funk: a dos chamados "filhos do funk".

Os filhos do funk


No ano de 2009 os defensores do funk se movimentaram na tentativa de revogar uma Lei Estadual do Rio de Janeiro 5.265/08, que estabeleceu normas para a realização das chamadas festas raves - onde, normalmente, os integrantes das classes média e alta consomem, para não dizer comem, drogas - e os bailes funks, realizados principalmente em morros e favelas da cidade, onde os traficantes exibem seu poderio bélico, e aumentam sobremaneira seu faturamento.

À época argumentaram os defensores desses eventos que a lei criou obstáculos intransponíveis para a realização das festas e dos bailes, tais como a existência de banheiros químicos, detectores de metais nos acessos, e filmagem através de CITV, além de ambulâncias, tratamento acústico do local, e segurança devidamente exercida por empresa autorizada pela Policia Federal.

A galera dos defensores receberam apoio dos integrantes da CPMPC (Corrente Para Manipulação do Pensamento Coletivo), a fim de aniquilar de vez a lei que regulamentou estes eventos. Seu foco principal foi a Polícia Militar, principal instituição de segurança encarregada de dar cumprimento à lei 5.265/08. Surpreendem os argumentos utilizados na defesa da existência de festas raves e bailes funk, sem normas. "Não se pode proibir manifestação cultural", vociferaram.

A Apafunk, Associação dos Profissionais e amigos do Funk, através de seu presidente, Leonardo Mota, afirmou que a proibir seria rasgar a Constituição. Observem que ninguém, exceto a PMERJ, disse que não haver proibição, apenas normas para se cumprir quando da realização das festas raves e dos bailes funks. Os defensores e os integrantes da CPMPC só não falaram da bagunça que gira em torno de tão inocente manifestação cultural. Pelo contrário, argumentos altamente positivos, como o perigo de desemprego para as milhares de pessoas que vivem do funk, foram o destaque.

Espertamente, como convém aos manipuladores, nada foi dito sobre tiros de fuzil para o alto, a fim de comemorar o desempenho dos DJs; músicas (chamo assim com muito boa vontade), elogiando ações criminosas e os integrantes das quadrilhas; letras pejorativas em relação às mulheres; e o consumo exacerbado de drogas por menores, além da prática de sexo ao ar livre. Nos morros e favelas cariocas começou a se falar em "filhos do funk", crianças com 5, 6 anos e recém-nascidas, cujas mães adolescentes não sabem quem são os pais, pois foram gerados no paredão do batidão.

Nada mudou 


Este era o cenário já em 2009. Hoje, seis anos depois nada mudou. Aliás, piorou. Recentemente o Jornal do SBT apresentou em uma série especial a triste realidade do que acontece nesses bailes funk. É algo estarrecedor. Veja vídeo na íntegra https://www.facebook.com/RachelSheherazade01/videos/687048498066409/. Sabem o que é isto? Nos bailes funk, as adolescentes são colocadas contra uma parede, e, muitas vezes entorpecidas por drogas e/ou bebidas alcoólicas, fazem sexo com vários rapazes. O negócio é tão sério, que conforme a reportagem, despertou a atenção de autoridades da saúde pública. Daí o adjetivo: "filhos do funk".

"Se prepara, vagabunda, vai começar a put...", diz uma letra que era hit do funk em lá nos idos de 2009. Agora veja uma das atuais infâmias cantada pelo inqualificável funkeiro Mr. Catra, ídolo máximo dos adoradores do funk: "...Segundo mandamento nunca faça o mal; Nunca faça o mal, sempre faça o bem; Uma mamada e um copo de água não se nega a ninguém". E o que dizer de Tati Quebrabarraco? "...69 Frango Assado; De ladinho a gente gosta; Se tu não tá aguentando; Para um pouquinho; Tá ardendo assopra!!!..."
"As novinha não me quer (sic) só porque eu vim da roça... Roça, roça, roça o p... que ela gosta...", "versos" entoados por Mc Brinquedo, um garoto de 11 anos!

Isto é só que é mais ou menos publicável das "pérolas", essa é a trilha sonora dos bailes funk. Aqui, foquei o funk carioca, mas nada é diferente em outros estados, inclusive aqui, em Minas Gerais. Muda-se o sotaque e a localização geográfica, mas prevalece o cenário bizarro.Mas, enfim, tudo isto seria imaginação? Preconceito com o funk? "Perseguição" à manifestação cultural das massas? Má vontade com a expressão cultural da periferia? Tenho certeza de que não, pois o saudoso Tim Lopes [O jornalista Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, de 51 anos, foi torturado e morto por traficantes na favela da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, em 02 junho de 2002, quando fazia uma reportagem investigativa sobre bailes funk financiados pelo tráfico no Complexo do Alemão, subúrbio carioca. A morte do repórter da TV Globo foi ordenada por um dos líderes da facção Comando Vermelho, o traficante Elias Maluco. Ele e outros seis homens foram condenados por envolvimento no crime.] foi barbaramente assassinado no Complexo do Alemão quando investigava justamente isto, ou seja, meninas consumindo drogas e praticando sexo nos bailes funk. O que podem dizer os defensores do funk sobre este terrível episódio que marcou a história do jornalismo nacional? 

Infelizmente para os defensores do funk, hoje em dia podemos tomar conhecimento rapidamente do que acontece em outros lugares. O funk e suas letras apelativas, pejorativas, indecentes mesmo, tanto aqui, quanto em outros lugares do mundo não é reconhecido como manifestação cultural. No mesmo ano de 2009, circulou na internet um vídeo onde o comediante americano Cris Rock, dizia que é impossível defender este tipo de música. De forma hilária ele as desclassificou como manifestação cultural, reputando-as apenas como lixo.

Minha esperança é que o funk - quer seja ele do mal ou do bem (e aqui eu incluo o famigerado funk gospel), com ou sem ostentação - seja só mais uma febre (e essa já estourou o termômetro do suportável) e que, pelo amor de Deus, não demore mais a passar. Suas sequelas e seus frutos, certa e infelizmente ficarão, mas que ela, a febre, ou ele, o funk, vá para o diabo que o carregue e seja para onde for, que de lá não retorne nunca mais.

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