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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

TELAS QUE FALAM

As Escrituras falam da voz que clama no deserto, que um dia florescerá e será transformado em jardim. Falam do pássaro que encontra abrigo nos altares do santuário do Senhor. Falam do pastor cuidando do seu rebanho, do povo de Israel atravessando pelo meio do mar Vermelho como se fosse em terra seca. Falam da sequidão de estio e do povo clamando por água. Falam de rios que alegram a cidade de Deus. Falam de pescadores, tempestades, redes cheias de peixes, povo sendo curado, gente partilhando pão e peixe. Enfim, todas essas passagens mexem com nossa imaginação, pois são elas mesmas ricas imagens da realidade humana.

A obra de Anderson Monteiro, artista plástico paulista, é construída basicamente de imagens do cotidiano. São quadros e fotos retratando pessoas, lugares, momentos cheios de alegria, beleza e dor. Algumas obras desenvolvem a temática cristã, como os quadros da série “O Messias” ou também da série “Montaria”, centrados na figura de Jesus. Seu rosto sereno e ao mesmo tempo expressivo, a barba cobrindo-lhe a face, o manto sobre o corpo.

Outras obras falam da importância da arte na vida cotidiana, incluindo quadros como o “Um poeta e um violão”, dedicado a Stênio Marcius, ou como o quadro de perfil de Jorge Camargo cantando de olhos fechados. Em tudo se vê o respeito pelo trabalho do músico. E por falar em música, há também quadros dedicados aos músicos de jazz, da série “Jazz for You”. Saxofonistas, trompetistas, bateristas, pianistas e contrabaixistas interagindo em jam sessions que parecem vibrar na tela. Eles celebram a importância da arte e da beleza na vida.

Nota-se, nos quadros de Anderson, a presença das pessoas, seja individualmente, em suas atividades diárias, seja em duplas, caminhando juntas, trabalhando no campo, interagindo, cooperando, ou seja simplesmente andando em meio à multidão. É o caso da séria intitulada “Pessoas”, que mostra uma multidão caminhando junta. Os rostos mais variados, mulheres, homens, jovens, idosos, bebês levados ao colo, gente de toda cor. Percebe-se, no entanto, uma incompletude nos rostos, que aparecem de modo difuso, às vezes apenas o nariz, às vezes apenas os olhos, às vezes apenas um vulto indefinido. Parecem sugerir que todos estamos na mesma condição, carentes de completude, ou escondidos no anonimato da vida urbana.

Por fim, Anderson dá importância à ternura que aparece no rosto das crianças, como nos quadros “Minhas filhas” e “A Família”. Neles se vê o abraço, o apoio mútuo. Há também o belo quadro “Vilarejo”, inspirado na canção de Marisa Monte e que mostra a beleza e a leveza de um lugar simples e abençoado. Para Makoto Fujimura, outro grande artista cristão, carecemos cada vez mais de “arte, amor e beleza” (2013).

Em tudo se vê, na obra de Anderson Monteiro, uma obra de arte que traz cuidado para com a cultura, uma arte que transpira amor e beleza, que são duas grandes contribuições do artista cristão à sociedade contemporânea. Quando trata de temas do cotidiano, percebem-se nos quadros os sinais de esperança, fé e amor, que segundo Calvin Seerveld são as marcas essenciais da arte feita por cristãos. Do ponto de vista do fazer artístico, “[d]as três coisas que as Escrituras dizem que são permanentes – fé, esperança e amor – a mais humana é a esperança” (Seerveld, 2014, p. 24). E ela é a que mais se mostra nos quadros de Anderson Monteiro.

* Fonte: Arte e Cristo - a criatividade cristã *

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