Aprendemos que “Louvar” e “Adorar” tem uma amplitude muito maior do que normalmente notamos. Muito mais que um momento no culto, “Louvor e Adoração” devem ser um estilo de vida, que reflete um desejo de comunhão progressiva com Deus e nossa intenção de cultuá-lO, reconhecendo e exaltando Suas virtudes. Vamos examinar a seguir, algumas palavras utilizadas na Bíblia e relacionadas à Adoração (bem como suas origens na língua grega), para que possamos ampliar nossa visão sobre este tema.
1. Adorar é render-se (do grego: “proskuneo”)
A palavra “proskuneo” descrevia o gesto de curvar-se diante de uma pessoa e ir até o ponto de beijar os seus pés. Traduziria o ato de reconhecer a nossa insuficiência e a superioridade de Deus, colocando-nos à Sua inteira disposição. A ideia básica é a de SUBMISSÃO. Adoramos ao Senhor e nos submetemos a Ele reconhecendo Sua grandiosidade, mas também Sua misericórdia e amor por nós.
A passagem de Jo 4:20-24, relativa à conversa de Jesus com a mulher samaritana (impossível fazer menção à adoração sem citar essa célebre passagem do Novo Testamento), traz 10 vezes “proskuneo” em suas diversas formas. O Novo Testamento destaca a palavra e suas correlatas, por 58 vezes.
Um exemplo marcante de utilização deste termo: a intenção de Satanás, na tentação de Jesus (Mt 4:9) "E lhe disse: Tudo isto te darei, se te prostrares e me adorares". Lc 4:7-8 ‘‘Então, se me adorares tudo será teu. Jesus respondeu: Está escrito: Adore o Senhor, o seu Deus, e só a Ele preste culto". O diabo queria ser adorado e apenas o gesto de Cristo "se prostrar”, seria uma vitória para ele. Jesus sabia que o gesto de culto, não podia ser desvinculado da própria adoração e responde: "Adore ('proskunesis') o Senhor, o seu Deus e só a Ele preste culto".
Só podemos nos “render”, só podemos nos “prostrar”, só podemos nos “submeter” ao Deus Criador de tudo o que há. Aquele que nos torna Seus filhos, quando entregamos nossas vidas 100% a Ele.
2. Adorar é servir (do: grego “latreia”)
O sentido de SERVIR aqui implica em “cultuar e oferecer atos de adoração, que agradem a Deus”. Hb 12:28 diz que: aqueles que aceitaram a Cristo como Senhor, receberam da Sua Graça para viver e servem a Deus, através desta mesma Graça.
Este termo é usado por Paulo em Rm 12:1, para descrever a dedicação de nossas vidas a Deus. Ofertar a Ele toda a nossa potencialidade, capacidade, inteligência, energia, experiência e devoção. Servir, como reconhecimento da transformação que Ele operou em nossa vida. Ele merece o melhor do nosso serviço como forma de gratidão.
Dr. Russel Shedd, cultuado teólogo contemporâneo, em seu livro “Adoração Bíblica”, diz que nosso ato de servir a Deus, requer que O sirvamos em exclusividade. “O Senhor reivindica a totalidade do 'serviço (latreia)' dos seres a quem Ele dá vida. A rebelião do pecado humano enquadra-se nesta realidade: o homem serve no sentido de adorar o que não é Deus” (op. cit., p. 18).
Jesus foi absolutamente claro a este respeito na tentação, respondendo a Satanás: “só o Ele darás culto” (Mt 4:10). E por isso que não podemos fazer “jogo duplo” diante de Deus. Nada de “cara de santo” na Igreja e no dia-a-dia viver como o diabo gosta! Não podemos “servir a dois senhores” como nos diz Mt 6:24.
3. Adorar é reverenciar (do grego “sebein”)
Algumas pessoas, querendo fugir de um “formalismo exagerado” em seu tratamento para com Deus, partem para o outro extremo, desvalorizando a importância de estar diante do Todo-poderoso. Passam a agir tão vulgarmente, que ao invés de se mostrarem “mais íntimos” de Deus, tornam-se ridículos.
Com o tempo, se esta postura não for corrigida, o “temor sadio” (que todos devemos cultivar pelo Senhor), dará lugar ao “desprezo de Suas ordens”. A palavra grega “sebein” é traduzida como “reverenciar com temor”. Não é simplesmente “ter medo”, mas uma “reverente admiração com desejo de aproximar-se”. Não é um medo que faz fugir, mas sim aquele que anseia por chegar mais perto.
O Senhor é maravilhoso, amoroso e Sua misericórdia e graça nos abençoam todos os dias; mas isto não é tudo o que devemos saber sobre Deus. Temos que reconhecer não apenas a bondade de Deus, como também Sua severidade (Rm I 1:22; Hb 10:31; I Pe 1:16).
Ao mesmo tempo, não quer dizer que devemos viver “aterrorizados” pela presença de Deus. Trata-se de um temor sadio, por sermos alvo do Seu amor, fazermos parte da Sua família e do Seu Reino. O Criador de todo o Universo está ao nosso lado e por isso, ficamos cheios de um reverente temor e nunca de “terror”.
Jo 9:31 diz : "Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus (‘theosebes’ – palavra derivada de ‘sebein’) e pratica a sua vontade, a este atende”. Quem quer adorar ao Senhor, sempre terá a preocupação: “O que é que agrada a Deus?”. Viver como o diabo gosta, despreocupado se o Pai aceita ou não o que fazemos, não pode ser a atitude de um verdadeiro adorador.
4. Adorar é realizar serviço sacerdotal (do grego: “leitourgeo”)
Tem a ver com o exercício de nossos dons espirituais, quando dedicamos nosso trabalho ao Senhor, no contexto de nossas Igrejas e comunidades. O trabalho dos sacerdotes judeus no templo, que consistia em oferecer os sacrifícios, era considerado um “serviço de adoração”. Este trabalho foi superado com o sacrifício de Cristo (Sumo-Sacerdote e o último Cordeiro), ao morrer em nosso lugar na cruz.
Entretanto, todo aquele que faz parte do Povo de Deus, foi designado como “sacerdote”, com a função de proclamar as virtudes do Senhor e testemunhar de Cristo por onde for (1 Pe 2:9). Paulo fazia seu serviço pastoral às igrejas, na intenção de apresentar as comunidades que fundou, como uma oferta aceitável a Deus (Rm 15:16).
A obtenção de fundos para os carentes da igreja de Jerusalém é chamada de “serviço ministerial (leitourgia)” (2 Co 9:12, 1 3). Os cristãos, quando servem aos irmãos, motivados pelo amor a Deus exercem a “leitourgia” (At 13:2: “E, servindo (‘leitourgeo’) eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo, para a obra a que os tenho chamado"). Quem serve a Deus serve a Igreja e vice-versa.
Dr. Shedd diz que os livros de Romanos e 1 Coríntios, mostram que o exercício dos dons do Espírito, deve ser encarado como uma expressão de culto e adoração a Deus:
“Paulo lembra aos romanos, que a oferta de seus corpos a Deus é um ato de adoração espiritual, se, contudo, esses mesmos corpos estiverem sujeitos ao Cabeça (Cristo) para servir, profetizar, ensinar, exortar, contribuir, presidir e exercer misericórdia (Rm 12:1-8). Certamente a lista pode ser estendida para incluir todo e qualquer ministério.
A vida do cristão, se não se isolar da família de Deus, nem se separar do próprio Senhor, expressará adoração nas reuniões ou nas atividades do dia-a-dia. A significação dos cultos nos quais a congregação se reunia, alcançou relevância particular na concentração de vozes louvando e ensinando juntas, com corações sedentos, aprendendo e aplicando a Palavra.
Era uma ocasião apropriada para o treinamento (Ef 4:12) dos santos, para servirem a Deus dentro e fora das reuniões. Os dons de apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre, cooperam e fecundam no centro do culto, para encorajar o bom ajustamento, o auxílio de toda a junta e cooperação de cada parte, o que ‘efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor’ (Ef 4:16)”. (Op. cit. p. 91).
Concluindo...
Certamente aumentamos ainda mais nossa visão sobre a Adoração. Este é um tema sobre o qual a Palavra tem ainda muito a nos revelar. Quanto mais aprendemos sobre a arte de Adorar, mais nos entristecemos ao constatar que muito do que pensávamos ser adoração autêntica, não passa de mecanismos automatizados da nossa repetitiva doutrina religiosa.
Enfim, possivelmente, passaremos o resto de nossas vidas aprendendo e continuaremos a aprender, quando estivermos diante do Pai e dos santos anjos de Deus, pois, afinal, há algo além de simplesmente levantar as mãos.
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