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quinta-feira, 23 de junho de 2016

VÍCIOS: DEPENDÊNCIA E PREVENÇÃO

Há um corrente que toma cada vez mais força a favor da legalização das drogas. Há projetos tramitando no Parlamento e, por isso, esse é um assunto que deve ser conhecido e amplamente discutido, por envolver política, economia, saúde pública e a sociedade em geral. Precisamos ter opiniões formadas sobre essas questões e estar dispostos a expô-las, contanto que estas sejam sensatas e realistas.

Sabemos que as Polícias brasileiras estão mais do que longe de manter o tráfico de drogas sob controle. Nossas fronteiras são uma terra de ninguém. Desse modo, há muitos esforços e gastos públicos envolvendo o combate à venda de entorpecentes. Será que a simples legalização seria uma meio de acabar com toda esta luta, a qual o governo parece estar perdendo? Penso que não. É errado pegar atalhos simplesmente para evitar dilemas ou decisões difíceis. Devemos analisar todas as decisões possíveis e suas consequências e, só assim, escolher aquela menos danosa, por mais que isso implique em um grande esforço de nossa parte.

Infelizmente, a nossa sociedade não lida muito bem com a problemática dos vícios, da dependência. Muitos são coniventes, outros omissos e, ainda, outros têm vergonha. Pais com filhos drogados não procuram ajuda, nem menos denunciam os fornecedores da droga à polícia anonimamente. Pelo contrário, eles acobertam (e até financiam) o vício de seus entes queridos e, dessa maneira, incentivam o tráfico indiretamente. Também não há casas de recuperação suficientes ou realmente eficazes. Assim, o número de dependentes só aumenta e a sociedade permanece de mãos atadas assistindo a jovens com um futuro próspero destruírem suas vidas e a dos que estão ao seu redor e lhes amam. A dependência química é uma doença familiar!

Legalizar as drogas seria uma péssima decisão no caso do Brasil. Primeiramente, com tal liberdade o número de usuários cresceria vertiginosamente, pois o preço reduziria bastante, a droga hoje condenada pela sociedade ("se for errado é melhor ainda...") deixaria de sê-lo e curiosos finalmente estariam livre para se satisfazerem. Segundo, nosso país não tem a capacidade de lidar com essa realidade, por ser um caso de risco à saúde pública. Em terceiro lugar, devido à perda de consciência e capacidade de julgamento, haveria muito mais crimes e acidentes, cometidos por usuários fora de suas faculdades mentais usuais. Se em países ricos e com uma política séria lidar com as drogas já constitui um drama, imagine em um país bizarro e limitado como o nosso.

É necessário ressaltar que nos países que permitem a venda legal de drogas, não há um comércio livre e deliberado, mas um rígido e eficiente controle e monitoramento. É necessário permissão do governo para a compra e tendo este que lidar com viciados impõe uma reabilitação onde doses da respectiva droga são cedidas em concentrações gradativamente menores. Sabemos que um Poder Executivo como o nosso que não é, nem de longe, capaz de controlar a venda de bebidas a menores de idade, não seria capaz de garantir o "consumo responsável" de drogas ou auxiliar na recuperação de usuários que exageram.

A realidade da dependência


Dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga de forma contínua (sempre) ou periódica (frequentemente) para obter prazer. Alguns indivíduos podem fazer uso constante de uma droga para aliviar tensões, ansiedade, medos, sensações físicas desagradáveis. O dependente caracteriza-se por não conseguir controlar o consumo de drogas, agindo de forma impulsiva e repetitiva.

Antes considerada como um caso de polícia, a dependência de substâncias químicas (drogas) passou a ser considerada como uma doença crônica, que pressupõe três fatores:
  1. personalidade vulnerável;
  2. disponibilidade da droga, e;
  3. contexto social favorável ao uso.
"Hoje se entende que a dependência química é um processo complexo, que envolve alterações neurofisiológicas, componentes psicológicos e também sociais" ¹, afirma a médica Maristela Monteiro da Organização Mundial de Saúde (OMS) em entrevista à revista Super Interessante.

Dependência física e dependência psicológica


A dependência física caracteriza-se pela presença de sintomas e sinais físicos que aparecem quando o indivíduo para de tomar a droga ou diminui bruscamente o seu uso: é a síndrome de abstinência. Os sinais e sintomas de abstinência dependem do tipo de substância utilizada e aparecem algumas horas ou dias que ela foi consumida pela última vez. No caso dos dependentes do álcool, por exemplo, a abstinência pode ocasionar um simples tremor nas mãos e náuseas, vômitos a um quadro de abstinência mais grave denominado delirium tremens, com risco de morte, em alguns casos. Já a dependência psicológica corresponde a um estado de mal-estar e desconforto que surge quando o dependente interrompe o uso de uma droga. Os sintomas mais comuns são ansiedade, sensação de vazio, dificuldade de concentração, mas que podem variar de pessoa para pessoa. Quase sempre o que faz com que uma pessoa volte a usar drogas é a dependência psicológica.

Todo usuário de drogas vai se tornar um dependente?


A maioria das pessoas que consome bebidas alcoólicas não se torna alcoólatra (dependente do álcool). Isso também é válido para grande parte das outras drogas. De maneira geral, as pessoas que experimentam drogas o fazem por curiosidade e as utilizam uma vez ou outra (uso experimental). Muitas passam a usá-las de vez em quando, de maneira esporádica (uso ocasional), sem maiores consequências na maioria dos casos.

O grande problema é que não dá para saber, entre as pessoas que começam a usar drogas, quais serão apenas usuários experimentais, quais serão ocasionais e quais se tornarão dependentes.

O prazer - um fator a considerar


Um fator de profunda relevância na abordagem sobre dependência é o prazer. Se não há prazer, não há consumo, não há drogadicção. O poder que as substâncias químicas exercem sobre o indivíduo usuário é este, uma resposta imediata à sua necessidade dando-lhe a sensação de prazer imediato. Exemplo: a cocaína excita de imediato a inteligência, o álcool favorece os devaneios e aplaca a ansiedade com uma eficiência que nenhum remédio oferece, a nicotina também produz a sensação de paz, as anfetaminas efetuam o dificílimo "milagre" de suprimir o cansaço, enquanto o "milagre" de mascarar a fome fica por conta da cola de sapateiro. Precisamos levar em conta esses "benefícios" quando analisamos esta questão. As alterações do estado de consciência proporcionadas pelas drogas permitem que o usuário transite, sem dor e sem espera, de uma condição indesejável (insegurança, angústia, desespero, vazio existencial, limitação) para uma condição melhor, apesar de fictícia ou efêmera.

De repente, no lugar do sofrimento, surge o prazer. Findo o efeito da substância, novamente surge a dor, o sofrimento, normalmente ampliado e com ele a necessidade de mais uma dose.

Outras dependências


A comunidade médica atualmente já admite que o ser humano também pode se tornar dependente de hábitos como fazer sexo, assistir TV, jogar, navegar na internet, comer, trabalhar. Nas dependências não químicas, ainda não se pode falar com segurança em alterações neuroquímicas, mas os aspectos psicológicos são bem semelhantes aos casos de dependência química. Exemplo: os workaholics - sujeito que vive em função do trabalho. O cotidiano deles revela os mesmos sintomas de um dependente de crack: conflitos de auto-estima, impulsividade e tentativa de sanar artificialmente sentimentos como carência e frustração. No entanto, como trabalhar em excesso é um comportamento aceito socialmente, essa dependência não é discutida. O mesmo não acontece com o sujeito que já perdeu a casa e os recursos por conta da jogatina desenfreada.

Há solução


Nos grupos anônimos (uma das alternativas de tratamento) costuma-se dizer que há três caminhos, como descritos acima: prisão, instituição ou morte.  Mas sabemos (eles também sabem) que há outra alternativa: o caminho da recuperação, uma mudança radical de vida, que na maioria dos casos não pode acontecer sem ajuda. O lema dos grupos anônimos: "Só eu posso, mas não posso sozinho".

Na opinião do psiquiatra paulista Wilson Gonzaga², uma experiência espiritual é fundamental para que o dependente queira, de fato mudar de vida. Costuma-se dizer que a embriaguez provocada pelas drogas e a transcendência são nadares de um  mesmo prédio; só que uma é o subsolo e a outra é a cobertura. O indivíduo precisa ser colocado em contato com o sagrado, com Deus. Esta é uma tarefa difícil tanto para quem cuida como para quem é cuidado.

Olhando na perspectiva do usuário, ele tem benefícios no "subsolo" e não vai querer sair de lá, a não ser se colocarmos diante dele dois aspectos importantíssimos: o que ele tem a ganhar e o vai deixar de perder. Este segundo aspecto diz respeito ao "preço" que o usuário dependente paga para continuar drogado. Quando maior o preço e consciência que mesmo tem deste preço, maior é o desejo de sair ou parar de "pagar". Outra coisa necessária é a compreensão do dependente de sua condição. Esta tem que estar bem clara para ele, caso contrário ele não vai aderir a um possível tratamento.

Conclusão



Não há tratamento sem a adesão e colaboração do dependente


Olhando agora na ótica do conselheiro, o mesmo precisa sair da "cobertura", ir ao "subsolo" e ter bem claro o caminho de ida e volta e as dificuldades de se percorrer o caminho, para que ele não exija do dependente aquilo que o mesmo não tem para dar e assim inviabilize o tratamento.

Outra coisa importante é que não basta cuidar do dependente. Na maioria dos casos, a família inteira precisa de tratamento. Então não importa qual terapia será escolhida para vencer uma dependência, a participação da família no tratamento faz a diferença. Tudo indica que os familiares são fundamentais (não imprescindíveis) no processo de recuperação. O dependente acaba revelando problemas que são da família inteira.

As expectativas têm demonstrado que encontramos maiores e melhores resultados quando abordamos este problema de saúde através de parcerias especializadas. Vejamos o que isso quer dizer. O propósito de Deus para igreja é que ela seja uma agência do seu reino aqui na terra, que possa propagar o seu amor. Precisamos dimensionar com muita clareza nossa área de atuação, no tocante à manifestação do amor de Deus ao mundo.

Tomemos o caso do bom samaritano (Lucas 10:25-37). Segundo o que lemos o samaritano foi o único que usou de misericórdia pra com o judeu necessitado. Vejamos o que ele fez e o que ele não fez, para que a lição nos ajude no nosso propósito de sermos instrumentos de Deus nesta tarefa específica, que é a de abordar e aconselhar a pessoa que está fazendo uso indevido (ou abusivo) de drogas.

O samaritano vendo o homem caído, aproximou-se, prestou os primeiros socorros e, reconhecendo sua limitação, o levou para onde poderia ser melhor cuidado. Pagou para que o tratamento pudesse ser efetivado e se responsabilizou por tudo que se gastasse.

Devemos, além do preparo espiritual imprescindível, ter um preparo intelectual, igualmente importante. Se vamos abordar e aconselhar usuários de drogas, precisamos saber o que é ser usuário de drogas, o que é uso e abuso de drogas, o que é droga e todos os assuntos relacionados para que nossa ajuda seja mais eficaz.

[Fontes: 

¹Revista Super Interessante. Ano 15. Nº 3. Março de 2001, p. 51. 

www.falandoseriosobredrogas.org.br (um serviço prestado pelo Seminário Teológico Betel em parceria com a Junta de Missões Nacionais e a Igreja Batista do Meier-RJ). Proad

²Dr. Wilson Gonzaga - Sua formação como médico psiquiatra e a experiência de 30 anos como consultor de empresas, embasa seu trabalho e o tem levado a conhecer e entender a base fundamental de qualquer empresa: o ser humano. Sua experiência como empresário, à frente do Instituto Hermes de Transformação Humana, lhe dá o conhecimento prático de quem convive com os desafios diários de um executivo. Consultor e orientador de executivos de empresas dos setores público e privado é um profundo conhecedor dos dilemas e dos desafios do dia a dia desses profissionais. Conferencista, já se apresentou para entidades privadas, convenções empresariais, ambientes acadêmicos e megaeventos. Participa regularmente de congressos, simpósios e conferências nacionais e internacionais dedicadas ao desenvolvimento humano. É colaborador de revistas, jornais e sites no Brasil e participa com frequência de programas de rádio e TV.  Mantém na Amazon Sat um quadro fixo semanal, sobre a saúde do corpo e da mente.

Os CAPS são instituições destinadas a acolher pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar e apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecendo-lhes atendimento médico e psicossocial.]

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