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segunda-feira, 6 de junho de 2016

A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO E EU

Este artigo/estudo é o esboço de uma mensagem que Deus me deu no dia 28 de março de 2007. O mais interessante é que eu só viria a ministrar essa mensagem no culto dominical realizado na igreja onde congrego, no dia 05 de junho de 2016. Durante 9 anos essa mensagem ficou "em gestação" no meu espírito para que no tempo oportuno, o kairós de Deus, ela fosse liberada à sua Igreja.

Certa vez, um advogado da Lei levantou-se com o propósito de submeter Jesus à prova e lhe indagou: 'Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna?' Ao que Jesus lhe propôs: 'O que está escrito na Lei? Como tu a interpretas?' E ele replicou: '"Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e com toda a tua capacidade intelectual’ e ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo"'. Então, Jesus lhe afirmou: 'Respondeste corretamente; faze isto e viverás'. Ele, no entanto, insistindo em justificar-se, questionou a Jesus: 'Mas, quem é o meu próximo?' Diante do que Jesus lhe responde assim: 'Certo homem descia de Jerusalém para Jericó, quando veio a cair nas mãos de alguns assaltantes, os quais, depois de lhe roubarem tudo e o espancarem, fugiram, abandonando-o quase morto. Coincidentemente, descia um sacerdote pela mesma estrada. Assim que viu o homem, passou pelo outro lado. Do mesmo modo agiu um levita; quando chegou ao lugar, observando aquele homem, passou de largo. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, assim que o viu, teve misericórdia dele. Então, aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Em seguida, colocou-o sobre seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e lhe recomendou: "Cuida deste homem, e, se alguma despesa tiverdes a mais, eu reembolsarei a ti quando voltar". Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?' Declarou-lhe o advogado da Lei: 'O que teve misericórdia para com ele!' Ao que Jesus lhe exortou: 'Vai e procede tu de maneira semelhante.'"
- Lucas 10:25-37 (Versão King James Atualizada, grifos meus)

Nos Evangelhos vemos Jesus em inúmeras oportunidades ensinando por parábolas. Antes, entendamos o significado de parábola. Parábola é uma pequena narrativa que usa alegorias para transmitir uma lição moral. As parábolas são muito comuns na literatura oriental e consistem em histórias que pretendem trazer algum ensinamento de vida. Possuem simbolismo, onde cada elemento da história tem um significado específico. 

Princípios cristãos de fundamental importância espiritual podem ser extraídos dessa narrativa registrada pelo evangelista Lucas. Na identificação dos personagens (negritados acima) podemos fazer uma análise do tipo de postura que temos e da postura que o Senhor espera que tenhamos.

1. O homem (v. 30b) - Esse personagem tem várias identificações no contexto dessa parábola. Analisemos quais:
  • a) Simboliza as almas: a Bíblia nos ensina o tempo todo a importância do amor salvífico pelas almas. O homem nessa parábola é o mundo (a humanidade) de João 3:16.
  • b) Simboliza o próximo: observe que Jesus não declara qual a etnia do "certo homem", embora isso fosse de suma importância naquela época. O nosso próximo pode ser qualquer um, uma vez que em Cristo todos somos um - "Porquanto, todos vós sois filhos de Deus por meio da fé que tendes em Cristo Jesus, pois todos quantos em Cristo fostes batizados, de Cristo vos revestistes. Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus." - Gálatas 3:26-28 (VKJA - grifos meus)
  • c) Simboliza a Igreja: nesse aspecto o homem simboliza a Igreja sob um ataque do adversário e seu resgate triunfal pelo mestre Jesus.

2. Os salteadores (v. 30b) - Esses personagens - que não estão no plural por acaso - têm dois significados específicos e estão ligados a obra de satanás no mundo: "(...) o Diabo (...); Ele foi assassino desde o princípio (...). O ladrão não vem, senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida, e vida em plenitude." - João 8:44, 10:10 (VKJA):
  • a) Simbolizam o próprio inimigo;
  • b) Simbolizam as lutas, as adversidades - "Sofremos pressões de todos os lados, contudo, não estamos arrasados; ficamos perplexos com os acontecimentos, mas não perdemos a esperança; somos perseguidos, mas jamais desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus, da mesma forma, seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos cotidianamente entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se manifeste em nosso corpo mortal. Pois, nem quando chegamos à Macedônia tivemos descanso; pelo contrário, em tudo fomos atribulados; externamente, lutas; internamente, temores." - 2 Coríntios 4:8-11; 7:5 (VKJA)


3. O sacerdote (v. 31) - Esse simboliza o crente religioso. Aquela pessoa que se esconde atrás da pompa dos títulos e regras do sistema religioso. Aquela pessoa que conhece a Palavra, mas não a pratica. Tal pessoa afirma amar, conhecer e servir a Deus, mas seu testemunho não expressa isso: "Aquele que tem os meus mandamentos e obedece a eles, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me revelarei a ele." - João 14:21
A instituição do "cargo" de sacerdote nesse período foi feita por Deus através da Lei dada a Moisés. Os primeiros sacerdotes foram Arão e seus filhos. Arão ocupou o cargo de sumo-sacerdote [uma espécie de chefe dos sacerdotes] e seus filhos o cargo de sacerdotes. A função deles era servir como líderes no culto a Deus. O sacerdote era um mediador entre Deus e o povo. Sua função era também a de oferecer os sacrifícios e orar em favor do povo. 


Essa forma de sacerdócio foi praticada no tabernáculo e também no templo de Jerusalém. Mas, devido às restrições quanto à purificação, este sacerdote não poderia "se contaminar" aproximando-se do homem ensanguentado. A não ser que ele levasse em conta mais a importância de uma vida do que as regras religiosas. Foi o que ele não fez ao ignorar a situação do homem necessitado.

Isto nos remete ao sacerdócio superior de Cristo, da ordem de Melquisedeque, que fez de uma vez por todas a mediação entre a humanidade pecadora e Deus, levando Ele próprio sobre si - ou seja "contaminando-se" - todos os pecados (Hebreus 7:1-25).


4. O levita (v. 32) - Simboliza o obreiro que atua na obra do Senhor e que teria por uma obrigação ministerial assistir à necessidade do homem. Mas, qual era a função do levita nos tempos de Jesus? Eles desmontavam todo o aparato que envolvia o tabernáculo quando a nuvem se movia, durante a peregrinação no deserto, e montavam tudo de novo, quando a nuvem estacionava. Você já pensou em quanto sangue era derramado no altar? Os levitas é que higienizavam tudo, limpando, mantendo tudo em ordem. Eram eles que carregavam os utensílios do tabernáculo pelo deserto. 

Sim, depois que Davi os designou, algumas famílias de Levi atuavam como músicos, ministrando ao Senhor diante da arca (Portanto, já vemos que seria incorreto dizer que os levitas são os que são chamados para a área da música na igreja. Se queremos ser bíblicos, deveríamos chamar de levitas a equipe de limpeza e também os porteiros e diáconos). 

Mas, dentro deste contexto, o tal levita da parábola, tinha então, a obrigação de cuidar do corpo do homem, uma vez que para Jesus o corpo era um templo. A visão de Jesus sobre o corpo era a que o apóstolo Paulo definiria depois: "Ou ainda não entendeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não pertenceis a vós mesmos? Pois fostes comprados por alto preço; portanto, glorificai a Deus no vosso próprio corpo." - 1 Coríntios 6:19, 20 (VKJA)

5. O samaritano (v. 33) - Simboliza o próprio Jesus e o seu cuidado pela alma ferida e necessitada. O samaritano, com sua atitude, expressou: a) amor ao próximo; b) cuidado com necessitado; c) entrega; e d) servidão. Todos esses traços são característicos no perfil de Jesus Cristo. Mas, entendamos o quem era um samaritano naquela época.

Os samaritanos na época de Jesus


Os samaritanos ocupavam o país que anteriormente pertencia à tribo de Efraim e à meia-tribo de Manassés. A capital do país era Samaria, anteriormente uma cidade grande e esplêndida. Quando as dez tribos foram levadas em cativeiro para a Assíria, o rei de lá enviou pessoas de Cuta, Ava, Hamate e Sefarvaim para habitar Samaria (2 Reis 17:24; Esdras 4:2-11). Esses estrangeiros casaram-se com a população israelita que ainda estava dentro e em torno de Samaria. Estes "samaritanos" de primeira adoravam os ídolos de suas próprias nações, mas por terem tido que lidar com leões, pensaram que era porque não tinham honrado o Deus daquele território. 

Um sacerdote judeu foi, portanto, enviado de Assíria para instruí-los na religião judaica. Eles foram instruídos com base nos livros de Moisés, mas ainda mantiveram muitos dos seus costumes idólatras. Os samaritanos adotaram uma religião que era uma mistura do Judaísmo e idolatria (2 Reis 17: 26-28). Porque os habitantes israelitas de Samaria casaram-se com estrangeiros e adotaram a sua religião idólatra, os samaritanos eram geralmente considerado "meia-raças" e eram universalmente desprezados pelos judeus.

Motivos adicionais de animosidade entre os israelitas e os samaritanos foram os seguintes:

  • 1. Os judeus, após o seu retorno da Babilônia, começaram a reconstruir o seu templo. Enquanto Neemias estava envolvido na construção dos muros de Jerusalém, os samaritanos vigorosamente tentaram atrapalhar esse empreendimento (Neemias 6:1-14).
  • 2. Os samaritanos construíram para si mesmo um templo no "monte Garizim," o qual os samaritanos insistiram que foi designado por Moisés como o lugar onde a nação deve adorar. Sambalate, o líder dos samaritanos, estabeleceu seu genro, Manassés, como sumo sacerdote. A religião idólatra dos samaritanos foi assim perpetuada.
  • 3. Samaria tornou-se um lugar de refúgio para todos os foragidos da Judeia (Josué 20: 7; 21:21). Os samaritanos de bom grado receberam criminosos e refugiados judeus. Os infratores das leis judaicas e aqueles que tinham sido excomungados encontraram segurança para si próprios em Samaria, aumentando o ódio que existia entre as duas nações.
  • 4. Os samaritanos aceitavam apenas os cinco livros de Moisés e rejeitaram os escritos dos profetas e todas as tradições judaicas.

Essas causas deram origem a uma diferença irreconciliável entre eles, de modo que os judeus consideravam os samaritanos como os piores da raça humana (João 8:48) e não tinham quaisquer interações com eles (João 4:9). Apesar do ódio entre os judeus e os samaritanos, Jesus quebrou as barreiras entre eles, pregando o evangelho da paz para os samaritanos (João 4:6-26); os apóstolos mais tarde seguiram o Seu exemplo (Atos 8:25).

E foi justamente com alguém assim que Jesus se identificou na parábola que contou.

6. O hospedeiro - Por fim, esse hospedeiro é um símbolo do pastor que recebe a incumbência de cuidar da Igreja, até que o Dono dela, o que pagou por ela, retorne. É preciso que entendamos que a narrativa da parábola é mensagem indireta, por isso, todos os paralelos feitos aqui são teológica e biblicamente cabíveis dentro do contexto para seu entendimento.

O samaritano e Jesus


1. Os samaritanos eram rejeitados pelos judeus (Jo 4:9) - Jesus foi rejeitado pelos judeus (Jo 1:11 [conforme Isaías 40:9]; Mt 23:37);

2. O samaritano serviu àquele homem sem esperar nada em troca (v. 34) - Jesus nos serviu e se entregou por nós (Filipenses 2:6-8) e nos amou incondicionalmente (Romanos 5:8);

3. O compromisso da volta do samaritano (v. 35) - O compromisso da volta de Jesus para o resgate da Igreja (Jo 14:1-3; At 1:10, 11);

4. O samaritano foi movido por íntima compaixão (v. 33) - Jesus era movido por íntima compaixão (Lc 7:11-14).

Conclusão


Em resposta à pergunta do advogado — "Quem é meu próximo?" —, Jesus não foi específico como o questionador esperava. Em vez disso, contou-lhe uma história e lhe perguntou quem havia dado provas de ser o próximo. O estudioso queria uma resposta categórica, preto no branco. Esperava que Jesus especificasse que os próximos seriam os judeus, os convertidos ao judaísmo e os estrangeiros que vivessem na sua comunidade. 

Com essa lista, o jurista saberia exatamente quem deveria amar para cumprir a lei. Mas a resposta de Jesus não foi uma listinha dos que o advogado teria a responsabilidade de amar ou considerar "próximos", mas ensinou que o "seu próximo" é todo aquele que Deus traz para o seu caminho que tenha alguma necessidade.

Estes são alguns pontos que devem ser considerados com respeito a esse desafio:

  • A obrigação de amar o próximo não se restringe aos que conhecemos, com quem temos afinidade ou que partilham das nossas crenças. Jesus não definiu limites no tocante a quem devemos amar e mostrar compaixão.
  • Diferenças de raça, crença, estilo de vida e status social não devem nos impedir de amar os outros.
  • A bondade não é uma exclusividade da nossa religião. Há muitas pessoas de outras fés, ou que não abraçam nenhuma fé, que demonstram amor e compaixão pelos outros.
  • Por sermos discípulos e seguidores de Jesus, devemos ser cheios do Seu amor e isso deve nos motivar a agir em relação aos outros. O amor e a compaixão são características que definem o verdadeiro cristianismo, que indicam que alguém esteja seguindo as pegadas do Mestre.
  • A prática do amor envolve sacrifício. Com frequência, ajudar os demais envolve uma mudança de planos. Quem ajuda os outros financeiramente fica com menos dinheiro para si. Ajudar os outros exige um amor que custa algo, mas é parte de amar os outros. É possível que talvez ninguém saiba o que lhe custa amar seu próximo, mas seu Pai no céu, que vê o que é feito às ocultas, vê e o recompensará por isso.
Pare para pensar nos princípios que Jesus ensinou nessa história.

Jesus definiu o padrão de amor e compaixão nesta parábola e concluiu dizendo para mim e para você — os ouvintes de hoje para irmos e fazermos o mesmo.

Quem somos nesta história? O sacerdote, o levita, o samaritano... mas além destes, saiba que muitos podem se ver nesta história na mesma situação do peregrino.

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