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domingo, 26 de junho de 2016

MALDIÇÃO OU HERANÇA FAMILIAR: MITOS E VERDADES

Código genético (DNA) em movimento
"Pois todos os que são das obras da Lei estão debaixo de maldição. Porquanto está escrito: 'Maldito todo aquele que não persiste em praticar todos os mandamentos escritos no Livro da Lei'. É, portanto, evidente que diante de Deus ninguém é capaz de ser justificado pela Lei, pois 'o justo viverá pela fé'. 
A Lei não é fundamentada na fé; ao contrário, 'quem praticar esses mandamentos, por eles viverá'. Foi Cristo quem nos redimiu da maldição da Lei quando, a si próprio se tornou maldição em nosso lugar, pois como está escrito: 'Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro'. 
Isso aconteceu para que a bênção de Abraão chegasse também aos gentios em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos a promessa do Espírito Santo pela fé" (Gálatas 3: 10-14, ênfase minha [Em concordância contextual com o Salmo 127] — Bíblia King James Versão Atualizada).
Alguns conceitos ganham espaço no repertório religioso e se transformam em verdadeiro paradigmas, modelos, matrizes, para as pessoas independentemente de qualquer espécie de reflexão. Um exemplo disso é a velha questão, que virou livro em formatos e discussões diferentes, sobre bênção e maldição. 

Há teólogos de todas as vertentes cristãs (protestantes e católicos) que se debruçam em teorias na composição de diretrizes para seus conceitos. 

Tais ilustres não raramente se transformam em paladinos na defesa do afirmam ser "revelações espirituais" e protagonizam seminários, congressos e são tidos como referências no assunto. 

Exegese contextual


O Antigo Testamento afirma que Deus, movido pela desobediência humana, especialmente de seu povo Israel, visitaria a maldade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta gerações (Êxodo 20:5). 

A partir dessa declaração, intérpretes, teólogos conservadores, pregadores, passaram a explicar as crises das pessoas e das famílias tomando como ponto de partida uma herança boa, no caso de bênção, ou ruim, para justificar o que seria chamado de maldição. 

Todos nós conhecemos igrejas que põem nas portas de seus prédios ou templos placas com anúncio de cultos e campanhas místicas com poderes de amarrar satanás, quebrar maldição e oferecer libertação. Tem até as que promovem cursos nessa área. 

Não é preciso dizer que a procura é muito grande, mas não temos informação de respostas coerentes ou buscas bem sucedidas porque o expressivo número de obreiros que estão "atendendo" aos necessitados não tem preparo para resolver, dissipar dúvidas e oferecer solução real para a "maldição". Tudo, então, fica com ares de uma enorme patranha. 

Neste artigo irei enfocar este assunto relacionado à experiência de família, que é o ponto mais batido, sob duas perspectivas: a) não existe maldição, mas herança de família; b) a família normal pode prosperar ou não. Antes, é salutar que entendamos a distinção entre os conceitos 

maldição e herança. 

  • ¹Maldiçãos.f. Ato ou efeito de amaldiçoar.Palavras com que uma pessoa deseja que advenham males a outra; praga. Desgraça, fatalidade: "a maldição caiu sobre o infeliz"
  • ²Heranças.f. Bem, direito ou obrigação transmitidos por disposição testamentária ou por via de sucessão. Legado, patrimônio. Fig. Condição, sorte, situação que se recebe dos pais. Genét. Conjunto de caracteres hereditários transmitidos pelos genes; hereditariedade.
 

O que é herança familiar? 


Cada família procura preservar uma história à qual será fiel em todas as gerações. Existe uma transmissão obrigatória de informações que representa o código genético, o DNA, de cada família. 

Normalmente, os modelos serão repetidos quase que integralmente. Um vício, alcoolismo, por exemplo, pode ter acontecido ao bisavô, que foi repetido pelo avô, preservado pelo pai e, na atualidade, continuado pelo filho. 

Às vezes, para não trair a família, uma mulher de marido alcoólatra se separa, alegando que está em busca de alívio para o sofrimento pois "não quer ser igual à mãe", que segurou o vício do marido por tantos anos, e procura outro com os mesmos problemas. 

Quando isso acontece, surge o discurso da maldição. "Parece uma maldição, um destino, um carma, a sina dessa família". Nada disso; é a herança familiar que está sendo preservada. 

Vamos procurar, na Bíblia, um exemplo clássico de herança familiar com cara de "maldição". Não há outro mais completo que o exemplo da família de Abraão, o pai da fé, o símbolo da religiosidade dos judeus e cristãos. Analisemos: 
  • A família de Abraão tem origem numa realidade idólatra, Ur dos Caldeus (Gênesis 11:26-32); 
  • Abraão foi chamado por Deus (12:1,2) e fez um "acordo" com Sara, que era estéril: 
"Quando ele estava prestes a entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: 'ora, bem sei que és formosa à vista; e acontecerá que, quando os egípcios te virem, dirão: "está é mulher dele". E me matarão a mim, mas a ti te guardarão em vida. Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e que viva a minha alma em atenção a ti'" (Gênesis 12:11-13). 
  • Sara foi usada, sem qualquer peso de consciência de Abraão, várias vezes (12:15; 20:2). 
  • Finalmente Abraão e Sara têm um filho, Isaque (21:1-8). 
  • Quando Isaque está para se casar, quem decidia isso era o pai, Abraão manda buscar uma esposa no meio de sua terra, de seus parentes (24:37-41). 
  • Isaque encontra-se com Rebeca; para onde ele vai com ela? Para a tenda de sua mãe, para ser consolado por ela por causa "da morte de sua mãe" (24:67). Ele não pode renunciar à sua família. 
  • Sara era estéril; Rebeca era estéril (25:21).
  • Dois filhos nasceram desse casamento, Esaú e Jacó; Isaque amava Esaú, que era caçador, mas Rebeca amava Jacó, que era enganador; ou seja, ela está agora reproduzindo o modelo da família de Abraão junto com Isaque. 
  • Isaque está negando que sua esposa, Rebeca, é sua esposa (26:7). 
  • Rebeca e Jacó estão unidos para enganar Isaque (27). 
  • No tempo do casamento de Jacó, este é enganado por Labão (29:21-28). 
O tema da família de Abraão é um enganar o outro; isso passou de geração a geração, trazendo problemas que não são "maldições", mas heranças de fidelidade às histórias da família original. Então, que é a maldição? 

Existiria maldição hoje? 


Uma resposta adequada a esta pergunta deve contemplar uma possível crença: destino, predestinação e o poder de satanás sobre o crente. 

Pela teoria que tenho defendido até agora seria um absurdo admitir qualquer uma das três; a minha base está na Bíblia: 
  • Deus colocou o homem no mundo e lhe deu a liberdade como critério de vida — não lhe deu um destino; 
  • Deus elegeu um povo, Israel, para realizar seu plano no mundo — não fez uma predestinação de bons para a salvação e maus para a perdição; 
  • Deus salva o homem perdido no pecado, escravo do poder de satanás, de uma vez e lhe dá uma nova vida — o livro de Jó nos mostra satanás querendo tentar o servo de Deus e Deus lhe diz até o que poderia dizer, ou seja, satanás não tem nenhum poder sobre a vida do crente. 
Como vamos explicar os problemas que acontecem à vida das pessoas, inclusive àqueles que têm características estranhas? Vamos considerar algumas opções: 

1. Num famoso livro, "Quando coisas acontecem às pessoas boas"³, Harold Kunsher, judeu, investiga uma série de possibilidades e discute vários pontos de vista sobre a problemática do mal e do sofrimento na vida de pessoas dignas. 

Ele mostra que alguns colocam Deus no processo da tragédia como uma espécie de organizador do mundo; o que parece ser uma tragédia é, de fato, uma bênção. Ele, claro, não defende esta linha de pensamento, apenas diz: 
"nem sempre há uma razão. Nós ainda nem sabemos tudo sobre nós mesmos..."
2. Pensamento negativo constante — algo como uma lei de Murphy: se você acredita que algo vai dar errado, dará. A conclusão para este tipo de pensamento é clara: talvez, o que esteja acontecendo à vida de muitas pessoas não seja "maldição", mas resultado de uma atitude mental negaria condicionante, que oprime e obriga pessoas a agirem de acordo com o que pensam; se pensam negativamente, vivem uma vida negativa. 

3. Quando Deus não ocupa a vida inteira de uma pessoa, satanás pode ocupar o espaço que ainda resta. Provavelmente esta opção será mais justa. Falamos muito de integridade, mas não interpretamos o que vem a ser integridade. 

Em linhas rápidas, é algo que não está corrompido, sua essência é perfeita, não carece de reparos ou consertos, diferente daquele queijo suíço que é cheio de buracos por dentro, mas a casca externa é completa. 

Uma pessoa com um espaço que Deus não ocupa certamente será alvo de algum "dardo inflamado do inimigo", conforme Efésios 6:16

4. Influências de modelos religiosos anteriores — principalmente para aqueles que saíram de religiões pagãs, que acreditam em reencarnação, justiça do destino, ou alguma outra teoria metafísica; muitos se convertem ao cristianismo mas não conseguem abandonar totalmente o que aprenderam anteriormente. 

É comum encontrarmos crentes discursando sobre doutrinas estranhas ao Novo Testamento, influenciados por uma experiência de vida marcada por uma religião opressora. A tese da maldição fica ali, inconsciente, sempre lançando seus sinais e deixando muitos em dúvida. 

Por uma família saudável 


As alternativas para a edificação de uma família saudável são muitas; a maior dificuldade é abrir mão de conceitos enraizados na cultura doméstica, nacional, local e eclesiástica. Um mito cristão é a perfeição da família. 

Quantos casais, normais, não sabem que são normais tão somente porque ouvem, dominicalmente, uma qualificação de um sistema tão perfeito que, para alguns milhões de pessoas no mundo, não passa de um "sonho impossível". 

Findou o tempo em que acreditávamos na estruturação espiritualizada da família, atribuindo as responsabilidades dos erros e acertos a Deus ou ao diabo. Na sociedade em que estamos inseridos não há mais lugar para tais atitudes; não queremos dizer, com isso, que a igreja e a família cristão vão renunciar a uma de suas principais doutrinas, a da vocação humana, mas que precisam fazer uma conexão com a mentalidade atual para viver de forma contextualizada e, ao mesmo tempo, mostrar o testemunho da fé. 

Quando consideramos a família como um sistema íntimo de relações, que envolve pessoas unidas em lações de confiança, sinceridade e intimidade, podemos levantar a possibilidade de compreensão de conflitos e dilemas realistas. 

Por que não procuramos conhecer mais sobre a história antiga de nossa família? Quais foram os nossos bisavós, como se conheceram, como se casaram, como educaram os filhos, que condições tinham? Qual será a relação que cada pessoa, de todos os tempos, tem com aquele sistema de família? Quem repete os modelos de quem? Quem realizou mais e como chegou lá? 

Os comportamentos que foram transmitidos são reveladores e rígidos. Intimidade deixou de ser característica de casal e passou a ser condições de estrutura dos relacionamentos. Scheneider (1996) afirma que: 
"Mais importante no sistema íntimo de relação é o objetivo de sustentar e enriquecer a vida de seus membros, que estão dispostos a desenvolver no grupo familiar uma mutualidade do querer, do sentir, do agir e do saber"4.
Cada família tem um estilo próprio de convivência, de detectar, interpretar e resolver problemas. Tudo isso vai moldando uma cultura familiar que se estende pelas gerações até o dia em que morre o último representante daquela família; mesmo assim, sendo o último, ele mostra ao mundo um resumo de tudo o que foi a história, cujo início talvez nem ele saiba, mas é capaz de ser um guardião de tudo o que lhe foi transmitido. 

Conclusão 


Conforme Gálatas 3:10-14, o texto com o qual abri este artigo:
  1. Cristo nos resgatou da maldição da lei prevista em Deuteronômio 27:26
  2. Ele se fez maldição por nós, indo até a cruz, o madeiro maldito. 
  3. A bênção prometida a Abraão chegou aos gentios, isto é, todos nós que não somos judeus e nem descendentes de israelitas - quem conseguiu isso foi Jesus; 
  4. Pela fé, recebemos a promessa do Espírito. 
Esta lista poderia ser bem grande, todavia, não há nenhuma necessidade de insistir com questões primárias da nossa fé. 

Esta geração aguarda, ansiosamente, a manifestação dos filhos de Deus. Tem sido experiência comum o fato de não convencermos muito os que estão de fora por causa da qualidade de vida dos que estão do lado de dentro da igreja. 

O que dizer daquele filho de pastor que "foi para o mundo" provocando um mal-estar profundo e doloroso na família e na igreja? Mais uma vez é o mito falando, pois a família do pastor é tao humana quanto a de qualquer outro. 

Será benéfico para o sistema familiar e para a sociedade a retirada do manto da hipocrisia para que surja um rosto natural do ser humano, livre de máscaras e de maquiagens, para que os sentimentos tenham lugar, sejam válidos e as pessoas possam definir com tranquilidade seus caminhos, sem aquela obrigação de ser "leal" a qualquer custo à sua família. 

[Fonte: ¹'²Dicionário On Line; ³Editora Nobel, 152 pgs, 1988 — 
Um jovem estudante de Teologia, Harold Kushner, ficou intrigado com a mensagem do livro de Jó. Rabino de uma pequena cidade, consolou as pessoas visitadas pela dor e pelo sofrimento. No instante, em que soube que seu filho Aaron, de três anos de idade, morreria de uma doença rara no início da adolescência, ele se deparou com a mais importante e mais terrível questão que alguém pode enfrentar — Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas? Este livro não foi escrito para defender ou explicar Deus. Dirige-se àqueles que desejam acreditar na bondade e justiça divinas, mas não conseguem conciliar tal crença com a dor do ser humano.
4Schneider, C. Imagens de Família. São Leopoldo: Sinodal, 1996, P. 48] 

A Deus toda glória.
Fique sempre atualizado! Acompanhe todas as postagens do nosso blog https://conexaogeral2015.blogspot.com.br/. Temos atualização diária dos mais variados assuntos sempre com um comprometimento cristão, porém sem religiosidade.
E nem 1% religioso.

Um comentário:

  1. Olá pastor, muito interessante, mas só para constar e pensarmos juntos no tema,n nã consigo ter essa mesma linha de pensamento. Eu tenho o testemunho de pessoas muitos anos crentes e até pastores, tendo heranças espirituais malditas e não tendo mais argumentos para os convencer e aceitar tais situações, acabam por pesquisar e achar casos do início do problema ate na quarta geração. E após um confição de pecados praticados pelos antigos, em um real sentimento de tristeza por desagradarem a Deus, se colocando como um Neemias, acabam por receberem a cura, libertação, prosperidade, enfim a vida plena e abundante que lhes faltavam. Se possível entre no canal oficial da juíza Tânia Tereza.

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