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quarta-feira, 22 de junho de 2016

FILMES QUE EU VI - 12: FORREST GUMP

O ano era 1995 e realmente não acho que este foi o melhor filme do ano. Teriam pelo menos dois filmes que considero muito superiores que disputaram com ele: Pulp Fiction, a obra prima de Tarantino (já falei dele aqui) e o não inferior Um sonho de liberdade (ainda vou falar dele aqui). Mas, apesar de não ser perfeito como os citados, ainda assim é um filmaço que nos faz rir, chorar e refletir.

O filme


Logo no início do filme somos apresentados ao personagem principal, Forrest Gump (Tom Hanks em mais uma fantástica atuação), um sujeito que embora seja inocente e doce, tem um caráter e imaginação além do normal.

Forrest é um homem com o QI de 75, o que é considerado abaixo da média. Normalmente, ele deveria frequentar uma escola especial para crianças como ele, mas sua mãe (Sally Field) dá um jeito com o diretor do colégio para que ele possa ficar lá. A mãe de Forrest sempre dá um jeito para que ele seja tratado com qualquer outra pessoa, e principalmente para que ele se sinta como qualquer outra pessoa.

Um dia, Forrest tem que correr de crianças que jogam pedras nele. Sem qualquer motivo. Ele tem dificuldade no início, porque usa uns aparelhos para endireitar a coluna, mas quando esses aparelhos se quebram, ele (e nós) descobre que pode correr como o vento.

Eu me pergunto o que foi da vida dessas crianças que o maltratavam? Forrest ensinou Elvis a dançar, quando começou a correr foi jogar futebol americano para uma universidade. Depois de formado foi pro exército, onde lutou no Vietnã, foi condecorado com as mais altas medalhas que se pode receber e ainda virou uma estrela internacional do tênis de mesa (popularmente conhecido como ping pong). 

Se transformou em milionário depois que virou capitão de um barco de pesca de camarões (o Bubba Gump se transformou numa cadeia de restaurantes de verdade depois do filme) e investir o dinheiro em "plantações" (Apple Computers). Conheceu três presidentes e correu por todos os EUA inspirando as pessoas mesmo sem ter essa intenção. O que esses valentões conseguiram das suas vidas que possa se equiparar a isso?

Um dos fatos mais curiosos do filme, é que a sua narrativa nos leva a uma viagem por 40 anos na história dos Estados Unidos, todos na visão de Forrest, que embora tenha QI abaixo da média, teve participação em vários dos mais importantes eventos durante esse período. Seja ensinar a um Elvis ainda desconhecido como fazer o remelexo que tanto causou furor nas garotas, seja está presente na 2ª Guerra Mundial ou em Watergate, Forrest sempre está lá!

Porém o que poderia ser apenas uma narrativa de pontos importantes, se transforma em uma história de amor. Sim, de Forrest pela sua amiga de infância Jenny Curran (Robin Wright). Juntos desde sempre, desde a infância, passando pela adolescencia, a descoberta do sexo, e a dor da partida, quando Jenny decide ir conhecer o mundo.

Entre encontros e desencontros, entre guerras e revoluções hippies, Forrest escreve a sua história, junto com a dos EUA, e sempre a procura de Jenny. Tem coisa mais romântica?

Quem nunca quis sentar no banco branco ao lado de Forrest e ouvir as suas histórias?

A direção


Mas claro que aspectos do filme fazem de "Forrest Gump" um filme genial. Além da direção magistral de Robert Zemeckis, que soube como contar a história, sendo talvez ele o verdadeiro Forrest, mas também pelo uso de ângulos de câmera simples, mas que algum outro não teria dado tão certo. 

Zemeckis também brilha na condição do elenco, que além de Hanks e Robin Wright, possui nomes  de peso (Muitos!) como Sally Field – que dá vida à mãe de Forrest e Gary Sinise, seu capitão em combate na Guerra. Todos em atuações impecáveis, o que também faz com que o filme ganhe ares de obra de arte.

E como não se deixar tocar pela história, pela mensagem da história? Forrest é talvez o personagem mais puro do cinema. Sem maldade. Sem pré-julgamento. Sempre acreditando nas pessoas e no bem maior. "Minha mãe sempre diz que a vida é como uma caixa de chocolates. Você nunca sabe o que vai ganhar", é o lema do personagem, e que por muitas vezes, deveria ser assim a vida encarada.

Curiosidades


  • Haley Joel Osment, o menino de "O Sexto Sentido" faz uma ponta no filme como o filho de Forrest.
  • No Brasil, o filme estreou em agosto de 1994 e ficou em cartaz até meados de abril do ano seguinte. Outro filme de igual feito foi "Titanic" em 1998.
  • Bill Murray, John Travolta e Chevy Chase recusaram o papel de Forrest Gump (todos viriam a se arrepender depois... pois é, meus caros, vão chorar na cama que é lugar quente).
  • Para as cenas em que aparece após a Guerra, as pernas de Gary Sinise foram envolvidas em tecido azul que possibilitou que elas fossem removidas digitalmente mais tarde (o que para a época foi uma revolução).

The Oscar goes to:


Estatueta especial criada pelo designer
gráfico e ilustrador Olly Moss

Melhor Filme (1995) – Melhor Diretor (Zemeckis) – Melhor Ator (Hanks) – Melhor Roteiro Adaptado – Melhores Efeitos Especiais – Melhor Montagem.


Na minha opinião a academia ficou devendo ao filme o prêmio de melhor trilha sonora, pois a coletânea que precisou de um CD duplo é sensacional e teve também foi lançado em vinil e fita K7.







Conclusão


Um filme que vale a pena, com atuações memoráveis, e que fará você pensar na sua vida e como você encara todos os "chocolates" que ganha a cada dia!

Forrest, apesar de "meio lento", fez parte de todos os fatos importantes da história americana dos anos 50 até até os 80. Até mesmo no caso do presidente Nixon, que foi quem o recomendou a ficar no Hotel Watergate. As poucas coisas que ele não viveu, foram vividas pela mulher por quem é apaixonado desde sempre, Jenny (Robin Wright).

O mais engraçado é que isso não é o que mais me impressiona nesse personagem. Todos os seus feitos são notáveis, mas o que mais me impressiona é a capacidade que ele tem de ver o mundo de um jeito único. Quando no exército, ele combina de entrar para o negócios de camarões com Bubba. Quando este morre, ele dá metade do dinheiro para a mãe de Bubba mesmo fazendo todo o trabalho sozinho. Ela pergunta se ele é estúpido. Ora, não seria essa a maneira certa de agir? Ele fez um acordo com Bubba de dividir os lucros meio a meio e está apenas cumprindo o acordo.

Forrest é um dos personagens mais honestos que já vi no cinema. Ele não julga ninguém por classe social, cor da pele ou por qualquer outra coisa, assim como não tenta levar vantagem em cima de ninguém. Talvez por querer ser tratado como todo o resto, ele trata a todos como devem ser tratados. Sua mãe entende esse desejo dele, assim como Jenny. E no decorrer do filme, Tenente Dan também entende. Quem dera todos entendessem.

Nunca houve um personagem como Forrest Gump. Pelo menos não que eu tenha conhecimento. Mesmo depois do sucesso que fez, eu não vi nada parecido. Dizem que Travolta recusou o papel e se arrependeu depois. Que bom, já que não imagino ninguém interpretando esse papel além de Hanks. Ele é a perfeita encarnação do homem simplório que equilibra na medida exata a ingenuidade, alegrias e tristeza daquele homem.

É uma comédia? Um drama? Um filme histórico? Não consigo definir, apenas posso dizer que é um filme maravilhoso. Dizem que a Warner se livrou do projeto por achar parecido com Rain Man. Forrest não é sequer parecido. Ele não é um doente que é levado de um lado para o outro. Aqui, quem faz a história acontecer é ele. E que história.

Ah sim, o livro


Há muito tempo eu soube que "Forrest Gump", um dos meus filmes preferidos de todos os tempos, havia sido baseado em um livro homônimo. Desde então eu tinha muita curiosidade em lê-lo, e finalmente consegui.

Eu já sabia que seu autor, Winstom Groom, não havia aprovado a adaptação por terem omitido certas tramas, além de terem suavizado as cenas de sexo e a linguagem. Eu entendia isso como um certo "ciúme" que ele tinha da própria obra, o que é bastante comum e compreensível.

Porém as diferenças não demoram a se mostrar: logo no início o narrador (o próprio Forrest) afirma que com 16 anos já media 1,98m e pesava 121 quilos - o que é um contraste forte e bastante bizarro quando o Tom Hanks aparece na capa da obra.

As diferenças entre livro e filme crescem timidamente até a metade da leitura, quando se torna outra história (marcadamente a partir da aparição da NASA na narrativa), completamente diferente, onde o fato do protagonista viver situações inusitadas é a única semelhança entre um e outro.

O tenente Dan, que no filme é um militar casmurro e orgulhoso, interpretado de forma brilhante por Gary Sinise, no livro é um sujeito bondoso e bastante dado à filosofia. No filme, Bubba é alguém com o intelecto bastante semelhante ao de Forrest. No livro, apesar da estreita amizade entre os dois, essa semelhança inexiste. Já Jenny Curran é melhor explorada no filme, onde tem um passado traumático, um tom marcante que fez falta na leitura. 

O livro traz uma relação bem marcante entre Forrest e um orangotango chamado Sue. Não sei se os produtores do filme preferiram optar por distribuir essa relação marcante entre Forrest e outros personagens. O fato é que se mostrou uma opção melhor. Quanto à linguagem reclamada por Winston Groom, o estilo da narrativa me lembrou bastante o Henry Chinaski de Charles Bukowski, principalmente a partir da metade, um estilo completamente diferente da ingenuidade do Forrest Gump vivido por Tom Hanks. Por sinal, foi a partir da metade que, repentinamente, parei de imaginar a voz de Tom Hanks narrando o livro.

Um dos fatos que mais me faziam ter vontade de ler o livro é que, lendo curiosidades sobre o filme, fiquei sabendo que a fala do personagem quando o microfone é desligado durante o protesto contra a Guerra do Vietnã foi: "Às vezes, quando as pessoas vão para o Vietnã, elas voltam para suas mamães sem nenhuma perna. Às vezes elas não voltam pra casa. Isso é uma coisa ruim. É tudo o que eu tenho a dizer sobre isso." Eu achava que a fonte dessa curiosidade era o próprio livro e me indagava como o autor havia trabalhado essa cena. Qual não foi a minha decepção ao terminar o livro e não encontrar essa passagem...

Um outro detalhe marcante é que, no livro, Forrest Gump tem uma relação bastante íntima com a música, sendo um exímio gaitista - talento que aprendeu com Bubba. No filme, não há nenhuma relação marcante entre o personagem e a música. De certa forma, essa relação pode ter sido trabalhada pelos produtores de Hollywood através da trilha sonora, que é impecável.

Enfim, livro e filme são imensamente diferentes, sendo um desses raros casos em que o filme é (bastante) superior ao livro. Não é uma leitura ruim. Pelo contrário, o final é bastante interessante. Mas a inevitável comparação com o filme tornou minha experiência um pouco decepcionante.

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