Total de visualizações de página

segunda-feira, 13 de junho de 2016

INTOLERÂNCIA, UM PECADO "OCULTO"

O mundo acordou estarrecido com o massacre ocorrido no interior da boate voltada ao público LGBTS em Orlando, na Flórida (EUA). O massacre já é considerado um dos capítulos mais sombrios na história dos Estados Unidos, quando um homem de 29 anos abriu fogo em uma casa noturna popular entre a comunidade gay, matando pelo menos 50 pessoas e ferindo 53. Foi o pior atentado a tiros múltiplo da história. 

Os primeiros indícios apontam para um único atirador, que foi baleado pela polícia. O atirador, identificado como Omar Siddique Mateen, era cidadão norte-americano de pais afegãos. O presidente Barack Obama descreveu o massacre como "ato de terrorismo e ódio". Tudo indica que se trata de um repudiável episódio de intolerância, pois o atirador, além de ter declarado sua lealdade ao Estado Islâmico (ISIS, na sigla em inglês), que horas depois assumiu a autoria do ataque, era homofóbico e teria extravasada seu ódio ao ver dois homens se beijando. 

Como identificar a intolerância


A intolerância não significa simplesmente discordar daqueles que pensam ou agem de maneira diferente de nós – o que é perfeitamente aceitável –, mas fazê-lo com um espírito de rancor, agressividade e desrespeito pela dignidade humana. Com frequência a intolerância tem ligação com o poder. 

O intolerante utiliza alguma situação de força para ferir e esmagar aquele que se encontra em desvantagem ou fragilidade. Na área religiosa, esse comportamento consiste em suprimir ou limitar a liberdade de consciência, expressão e associação no âmbito da fé. 

Ao longo da história, a igreja tem sido palco de muitas manifestações dessa natureza, o que exige uma reflexão cuidadosa por parte dos cristãos. 

A intolerância religiosa


Nos primeiros séculos, o período das perseguições promovidas pelo Estado romano, a atitude predominante entre os cristãos foi pacifista e conciliadora. No entanto, a partir do início do 4º século, com a união entre a Igreja e o Estado, tomou vulto a intolerância contra indivíduos e grupos considerados heréticos. 

A princípio, as penas impostas consistiam em banimento, prisão e confisco de bens. Posteriormente, começou a se utilizar a espada contra os dissidentes. As primeiras pessoas a serem executadas por heresia na história do cristianismo foram o bispo espanhol Prisciliano e seis simpatizantes, decapitados por ordem do imperador Teodósio I no ano 385.

Poucas décadas mais tarde, o notável bispo e teólogo Agostinho, que inicialmente defendeu a conversão dos cismáticos por meio de argumentos verbais, apoiou o uso da coerção estatal contra o movimento donatista, no norte da África. Um dos textos bíblicos a que recorreu foi Lucas 14:23, onde ocorre a expressão "obriga a todos a entrar"

Durante a Idade Média, na luta contra grupos heterodoxos como os cátaros e os valdenses, a igreja criou o temido tribunal da Inquisição, estabelecido formalmente pelo papa Gregório IX a partir de 1231. Esse método de investigação, geralmente confiado aos dominicanos e aos franciscanos, incluía denúncias anônimas, uso de tortura para obter confissões, presunção de culpa do acusado e entrega ao poder secular para a queima na fogueira ou punições mais brandas. 

Um caso famoso foi a execução do pré-reformador João Hus, em 1415. Em 1478 foi criada a Inquisição Espanhola, controlada pelo Estado, que sobreviveu oficialmente até o início do século 19. Além de heresia, outros delitos sujeitos a punição eram a feitiçaria e a conversão insincera, no caso dos judeus. 

A intolerância "em nome de Deus"


Na época da Reforma Protestante, a Igreja de Roma foi intolerante com os protestantes, utilizando contra eles não só a Inquisição, mas guerras religiosas e massacres, como o da noite de São Bartolomeu (1572), na França. Lamentavelmente, os protestantes muitas vezes também foram agressivos em relação a católicos e a outros protestantes, como os sofridos anabatistas. 

Um caso frequentemente citado foi a execução na fogueira do médico espanhol Miguel Serveto (1553), em Genebra, sob a acusação de negar a doutrina da Trindade. Fatos como esses geraram forte antipatia contra o cristianismo na Europa dos séculos 17 e 18, o que contribuiu para o surgimento do Iluminismo e seu ideário secularizante. 

Intolerância nada tem a ver com Cristianismo


A intolerância deve ser distinguida da genuína disciplina cristã. O Novo Testamento deixa claro que a igreja tem o dever de preservar a fé e manter elevados padrões éticos entre os fiéis. Para isso, muitas vezes há necessidade de repreensão e correção. Todavia, a disciplina cristã, adequadamente entendida, tem um propósito pastoral e terapêutico, e não punitivo ou repressor. 

O coração humano é enganoso e suas motivações frequentemente não são puras. É muito fácil, sob pretexto de fazer a vontade de Deus, ultrapassar alguns limites e se deixar levar por um espírito vingativo e pela falta de amor. 

No século 21, o cristianismo tem sofrido horríveis manifestações de intolerância em muitas partes do mundo. Isso não dá aos cristãos o direito de agir da mesma maneira em relação a outros grupos, dentro ou fora da igreja. Cristo ensinou que seus seguidores nunca deveriam se valer de métodos violentos, violadores da consciência e da dignidade humana, mesma na defesa de seus valores mais elevados. 

Como diz a Epístola de Tiago: "A ira do homem não produz a justiça de Deus" (1:20). Porém, não apenas isso. Os cristãos também devem se precaver contra formas sutis de agressividade, principalmente através de palavras e atitudes más, porque, além de erradas em si mesmas, podem servir de prelúdio para manifestações mais destrutivas. 

Conclusão



O melhor remédio para evitarmos a intolerância religiosa é olharmos para a maneira de proceder do Senhor Jesus. Veja o caso dos samaritanos, que eram pessoas que praticavam uma forma deturpada de judaísmo. Um judeu da época podia até conversar com um incrédulo pagão, mas não conversava com um samaritano, pois se sentia ofendido com a distorção que ele fazia de sua religião. Veja com cuidado essa passagem:
"E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada, Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém. E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: 'Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?' Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: 'Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.' E foram para outra aldeia". - Lucas 9:51-56 (grifos meus)
Em João 4 encontramos o Senhor à beira de um poço pedindo água a uma mulher samaritana, o que surpreende a mulher e, mais tarde, seus próprios discípulos, porque ninguém esperava que um judeu conversasse com uma mulher samaritana. 

Porém nós vemos Jesus se interessar por aquilo que ela estava fazendo ali, que era tirar água, colocar-se humildemente na condição de um necessitado, criando uma relação de empatia, oferecer uma alternativa muito melhor a ela, a água viva, e ir pouco a pouco fazendo com que ela revelasse sua vida devassa. 

Ele não se isolou ou tornou-se inacessível à mulher. Não chegou a ela de queixo erguido, não zombou de sua vida devassa e nem a ameaçou com fogo e enxofre. Ele foi em amor e ganhou seu coração. Tanto que em outra passagem ele conta uma parábola do homem ferido e caído à beira do caminho, desprezado pelo sacerdote e pelo levita, porém socorrido pelo samaritano. 

Sabe quem representa aquele samaritano da história, que salva o homem, cura suas feridas, o carrega a uma estalagem e paga por sua estadia ali? O próprio Senhor, que não deixou de nos salvar, apesar de nossa condição lastimável (fiz um artigo específico sobre esse episódio: http://circuitogeral2015.blogspot.com.br/2016/06/a-parabola-do-bom-samaritano-e-eu.html?spref=fb).  Se olhássemos mais para o modo como o Senhor andou aqui, teríamos menos problemas com a intolerância.

  • Dica

Intolerância Religiosa (Márcio Valadão) 
O livro Intolerância Religiosa (Márcio Valadão), da Igreja Batista da Lagoinha, retrata os conflitos entre religiões e como nós cristãos devemos nos comportar diante delas.
Sinopse do livro Intolerância Religiosa

Devemos ter uma postura adequada em meio às divergências de crenças, pois devemos ter amor por todos, independente de atitudes, inclusive aqueles que possuem uma fé diferente da nossa.

Capítulos do livro: Intolerância na história; Nossa guerra é espiritual; Somente pelo Espírito Santo de Deus; Romanismo versus Evangelismo; Restrições aos evangélicos; Exemplo da intolerância na Bíblia; Bem-aventurados sois quando, mentindo…; Importa-vos sofrer por meu nome; A Tua graça nos basta.
Características

Título: Intolerância Religiosa
Autor: Márcio Valadão
Publicação: Igreja Batista da Lagoinha
Ano: Janeiro/2011
Edição: 2º
Páginas: 52

Nenhum comentário:

Postar um comentário