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terça-feira, 24 de maio de 2016

ESPECIAL FAMÍLIA - DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO

Tem assuntos que nos colocam em uma situação delicada. Ou você trás uma mensagem que agrade a maioria ou você se atém à Palavra, ainda que com isso possa não agradar a todos. O que fazer? Buscar um equilíbrio na Palavra e não abrir mão dela. Os princípios bíblicos são inegociáveis, são absolutos, são imutáveis, são eternos.

Divórcio


O divórcio tem sido uma das questões mais complexas da atualidade. Muita gente tem até receio de discutir o assunto abertamente – todavia, não se pode esquivar-se deste tema, que tem afetado (e em escala cada vez mais crescente) a Igreja Evangélica.

De um lado, os mais conservadores rejeitam o divórcio em toda e qualquer situação, mesmo nos casos de infidelidade conjugal. De outro, os liberais fazem uma releitura dos textos bíblicos que tratam da questão, sob a justificativa de que os tempos são outros e que ninguém deve ser obrigado a sofrer para sempre ao lado de quem não gosta. Diante de tanta polarização, é preciso lançar luz bíblica sobre a questão.

Da perspectiva hermenêutica, deve-se ressaltar a importância do casamento registrada em Gênesis 2:18-24, na Criação; e em de Deuteronômio 24:1-4, que fala da permissão para o divórcio.

Todavia, a direção clara sobre o divórcio, em termos práticos, aparece, sem dúvida, no Novo Testamento. Como é bem conhecido, os textos dos evangelhos sinóticos que tratam do assunto são Mateus 5:31-32; 19:1-12; Marcos 10:1-12; Lucas 16:16-18. Destes, o mais detalhado e significativo é aquele registrado por Mateus. Uma análise atenta do texto irá nos mostrar alguns fatos. Façamos isso pontualmente para que fique mais fácil o entendimento:
  • O divórcio era comum e fácil já nos dias de Jesus.
  • Cristo coloca o homem e a mulher em pé de igualdade. 
  • Entre os judeus, nenhuma mulher podia divorciar-se de seu marido.
  • Havia uma discussão entre os rabinos sobre o divórcio no tempo de Jesus. A questão era a interpretação das escolas de Hillel e de Shamai. A primeira aceitava o divórcio por "qualquer motivo"; a segunda, somente por "algo indecente" (ambos a partir da interpretação de Deuteronômio 24:1-4). Jesus posiciona-se do lado dos de Shamai, rejeitando a separação por "qualquer motivo".
  • Jesus procura mostrar que Deus está mais interessado no casamento do que no divórcio. Por isso, volta a atenção da discussão para a teologia do casamento na criação. Sua postura era clara: o casamento é monogâmico e deve durar por toda a vida.
  • É preciso dizer que a poligamia ainda era tolerada pelos judeus, pois o Antigo Testamento nunca a condenou.
  • O pecado praticado no divórcio, conforme Mateus 19, está relacionado com a quebra dos votos do casamento, isto é, a infidelidade. Observe que, em toda cerimônia de casamento há o clássico voto perante Deus e os homens da união ser "até que a morte nos separe". O divórcio, então, caracteriza uma mentira, tanto perante os homens quanto diante de Deus.
  • A certidão dada pelo marido na ocasião da separação da mulher trazia uma frase que permitia a ela um novo casamento. Isso porque os judeus não incentivavam uma vida de solteiro. Mas isso era algo humano e não da parte de Deus.
  • Jesus corrige a teologia judaica, afirmando que a base teológica correta é "o princípio" - ou seja, "tornar-se ambos uma só carne" (princípio da unidade cônjuge-matrimonial) e não "Moisés". Aqui vemos o ideal cristão de restauração de todas as coisas conforme o princípio.
  • Como os judeus aceitavam a poligamia, especialmente no caso da escola de Hillel, o homem só adulterava se tomasse a mulher de outro homem.
  • A postura de Jesus tem a finalidade de proteger a mulher injustamente "despedida".
  • Cristo afirmou inequivocamente que um divórcio não válido implica em adultério.

Prostituição e adultério


Tudo indica que Jesus admite algum tipo de divórcio ou de anulação do casamento em Mateus 19. O problema é o sentido de "porneia", tradicionalmente traduzido por "prostituição", cuja interpretação é de fato "imoralidade sexual". A visão mais conservadora sugere que o termo se referia ao que acontecera antes do casamento – o marido descobria que a mulher não era virgem, e assim anulava o casamento (lembra de José em relação à Maria, quando soube que ela estava grávida?).

Outros até sugerem que a ideia fosse a de consanguinidade. A posição mais comum e mais fundamentada entende que Jesus se refere ao depois, isto é, se acontecesse alguma "porneia". O termo não é literalmente adultério (moicheia), usado depois no texto. O significado da palavra é amplo e pode referir-se a qualquer tipo de imoralidade sexual. A comprovação dessa imoralidade permitia o divórcio sem culpa por parte do ofendido.

Assim, o resumo de uma posição equilibrada sobre o assunto nos dirá que tudo deve ser feito para manter um casamento. Ainda que haja adultério, deve-se buscar restaurar o casal, a menos que isso seja impossível, se uma das partes insiste em viver na "imoralidade sexual", o que pode englobar uma série de práticas como adultério, homossexualidade, bestialidade, incesto e pedofilia. Infelizmente, o divórcio é um remédio amargo que se toma para evitar viver em bigamia, poligamia e promiscuidade.

Novo casamento


Todavia, a questão se torna mais complicada diante de 1 Coríntios 7. A dificuldade é que o texto parece sugerir que a separação é até compreensível, mas o recasamento é inaceitável. É preciso ressaltar desde o início que o contexto é bem diferente do que vemos nos evangelhos. 

Em 1 Coríntios 7[*], o problema principal é o casamento misto. A pergunta que se fazia não era sobre adultério ou traição. A questão era: o convertido a Cristo deveria abandonar seu cônjuge pagão? Com base no versículo 1, parece que alguns cristãos não queriam ter relações íntimas com o cônjuge descrente. Além disso, é importante ressaltar que o casamento misto sempre foi condenado pelos judeus – tanto, que os filhos desses casamentos eram tidos como ilegítimos. O mesmo problema aparece aqui. Alguns cristãos achavam que deveriam separar-se do seu cônjuge pagão para que seus filhos fossem "santos".

Ao lidar com a questão, Paulo mostra-se muito prático. Uma razão para isso era que a lei romana era muito flexível e liberal para com o divórcio. Muitos simplesmente abandonavam o cônjuge. Ao chegarmos ao versículo 10, vemos que Paulo ordena que a mulher não se separe do marido. O texto refere-se à ordem de Jesus e aplica-se contextualmente. Tal orientação destina-se a mulheres crentes que achavam que deveriam deixar o marido descrente. 

Seguindo o ensino de Cristo, ela não poderia casar-se de novo, pois isso seria adultério, conforme Mateus 19:9. Aqui não houve "porneia". No caso de imoralidade o divórcio foi permitido; no caso de um motivo injustificado, como o caso de um cônjuge pagão, o divórcio é proibido. Todavia, caso a convivência ficasse impossível, a separação era aceitável, mas não o re-casamento. Assim, o cristão estava proibido de casar-se de novo. Mas, repito, esta era uma instrução específica dada ao que estava acontecendo no meio dos crentes em Corinto!
A questão parece ser diferente nos versos de 12 a 15. O texto fala agora de cristãos que poderiam ser abandonados pelos cônjuges descrentes. A ênfase é fazer o possível para continuar casado – mas, se o descrente resolvesse separar-se, o cristão não seria culpável (v.15). A dificuldade de interpretação no verso 15 é a frase "debaixo de servidão". As sugestões são várias: 
  1. a pessoa estaria livre da lei de Cristo (Mt 19) e poderia divorciar-se; 
  2. a pessoa estaria livre para separar-se, mas não deveria escravizar-se a nenhum outro cônjuge; 
  3. a pessoa estaria livre da escravidão do marido; 
  4. a pessoa, isto é, a mulher estaria livre pela primeira vez para escolher o seu futuro. 
A frase parece indicar possibilidade de novo casamento, caso um dos parceiros fosse abandonado por um cônjuge descrente que definiu sua situação com outra pessoa.

Finalizando, vale mencionar que a frase "chamou para a paz" parece indicar uma expressão rabínica que significaria "fazer justiça sem ser muito legalista". Isso indicaria a flexibilidade de Paulo neste caso específico.

[*] 1 Coríntios 7 é um capítulo que deve ser analisado com muito cuidado e critério, pois há instruções lá que são princípios conjugais universais e outros são específicos. Por isso eu sempre chamo a atenção para a importância dos contextos.

Conclusão


Quando alguém quer se evadir de conclusões contundentes e dogmáticas, geralmente se diz que determinado assunto é "polêmico" (do grego "polemeo" = guerra). Nosso apelo aqui é o seguinte: Vamos ficar em paz com a Palavra de Deus sobre esse assunto? Não há guerra alguma aqui, quando temos um espírito submisso à Palavra de Deus. Não tentemos forçar situações particulares sobre a Palavra de Deus, mas analisemos o ensino Bíblico. 

Uma pergunta sempre surge: Qual o conselho que se deve dar para pessoas que se divorciaram e recasaram? Isso é um problema que cada um tem que resolver por si. Não creio que nenhum pastor deva se meter nessa questão, pois as pessoas que se meteram nessa confusão de divórcio e novo casamento é que são responsáveis por seus atos e devem elas mesmas resolver o problema. Os princípios Bíblicos são esses aqui expostos, mas as pessoas é que devem elas próprias decidir. Isso parece duro, mas o fato é que depois que as pessoas estragaram as suas vidas, existe essa vontade de criar a válvula de escape que os outros que devem resolver e decidir por elas. 

Existe uma tendência de jogar o abacaxi nas mãos do pastor. E depois se os problemas aumentam (e eles podem vir a aumentar sim), o pastor é o culpado. Nada disso! Quem se meteu na confusão é que são os culpados, eles é que resolvam. Cair numa armadilha de aconselhar divorciados é uma fogueira que todo pastor deve evitar. 

Pessoas divorciadas e recasadas devem ser orientadas pela igreja local sem que se "puxe a sardinha" para nenhum dos lados, mas que se mantenha firme no que diz a Bíblia - e isto doa em quem doer. Por isso as igrejas devem ter pesada carga de ensino sobre a família e concentrar o ministério em aconselhamento preventivo tanto para jovens como para casais, observando, inclusive o perigo que no aconselhamento misto (nunca deve se fazer aconselhamento misto: homem aconselha homem, mulher aconselha mulher...).

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