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domingo, 29 de maio de 2016

DISCOS QUE EU OUVI - 10: FRUTO SAGRADO - O QUE NA VERDADE SOMOS?



Nos idos de 2003 - isso mesmo, há exatos 11 anos (o tempo não para...) - quando eu soube que a banda de rock Fruto Sagrado tinha assinado contrato com a então gravadora MK Publicitá (atual MK Music), do clã Oliveira (Arolde, Yvelise e Marina), eu torci o nariz. A tal gravadora, uma das maiores do mercado musical gospel, já havia tido em seu cast a extinta banda Catedral e ainda contava (aliás, ainda conta) com o nome de peso da banda Oficina G3. 

Mas, por que eu torci o nariz? Porque os responsáveis pela MK eram conhecidos por meter o bedelho nos trabalhos de seus contratados, para torná-los mais comerciais. Fizeram isso com o Catedral (até a banda sair fora e ir tentar a sorte em outra praia...) e quase transformaram o Oficina G3 em uma bandinha de pop rock.

A Fruto sempre foi conhecida por seu trabalho de peso, por fazer músicas que fugiam muito do que caracterizava o segmento gospel da época (nada de "fogo" e "chuva", por exemplo) e trazia composições que embora deixasse clara as referências cristã, bíblica e teológica, muitas, inclusive, com forte viés evangelístico, fazia um protesto sobre a falsa espiritualidade, o triunfalismo e a hipocrisia que ainda hoje é muito forte no meio evangélico. Mas eu estava enganado.

Eis que mais um dinossauro do rock cristão - eu considero a Fruto uma das melhores bandas de hard rock nacional - no Brasil lançava um álbum, que seria o 6º na carreira, o  5º de estúdio e o excelente "Fruto Sagrado - Acústico Ao Vivo" (gravação independente do show em comemoração aos 15 anos da banda). Conforme dito anteriormente, diferente de outros companheiros seus da mesma época, que tinham descambado de vez para o pop/rock comercial (Culpa da MK?), a Fruto Sagrado continuou procurando evoluir e agregar novos valores ao seu som, sempre mantendo o peso característico. Estou falando de...

"O Que na Verdade Somos?"


A banda Fruto Sagrado (hoje  com nova formação, sem a presença de Marcão e Bênlio) está na estrada desde 1988 e foi uma das bandas que deu início à chamada "reforma musical da igreja" no Brasil, também conhecida como Movimento da Música Gospel juntamente com Oficina G3 e Katsbarnea. 

Para quem não conhece, o nome "Fruto Sagrado" foi inspirado pelo texto de João 15:16 que diz "Não fostes vós que escolhestes a mim. Pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e dê frutos, e o vosso fruto permaneça". A banda era formada por Marcão [vocal], Bênlio [teclado], Bene [guitarra] e Sylas Jr. [bateria], contando com a participação de Francisco Falcon no contra-baixo. 

Este trabalho é marcado por ótimas músicas, super bem arranjadas, que se aproximam muitas vezes do rapcore e newmetal, mas sempre mantendo o som de peso característico do "Fruto Sagrado".

Ouvir este cd foi (e continua sendo...) muito interessante para mim, pois quando comecei a ouvi-lo estava terminando de ler um livro chamado "A Bíblia Que Jesus Lia" escrito por Philip Yancey (Ed. Vida). O livro trata sobre alguns textos do antigo testamento que muitas vezes não lemos por nos causar desconforto e não se encaixar na mensagem que Jesus Cristo nos trouxe, mas que no fundo, são tão importantes quanto os textos do Novo Testamento, trazendo lições muito profundas para as nossas vidas como cristãos ontem, hoje e sempre... 

Mas... por que eu estou falando disso? Aliás, isso é uma resenha de um disco, não de um livro [risos]! O fato é que O Que Na Verdade Somos? está em muito baseado em diversos textos do Antigo Testamento, o que me fez pensar no quanto este trabalho está voltado para o cristão e o seu caráter nos dias atuais (exatamente o principal assunto do Antigo Testamento: a conduta do judeu enquanto "Povo de Deus"). 

Como a própria banda declara, este álbum é um repeteco da frase "o que a gente faz fala muito mais do que só falar" (que foi o título de um outro álbum da banda). Embora apresente algumas músicas de cunho evangelístico, o principal foco deste trabalho está sobre o próprio cristão, sua vida, seu caráter e sua conduta, ou seja, aquilo que ele faz. A diferença esta no desfecho... a apresentação de Cristo como a única solução pra este mundo e a ênfase de Jesus como nosso único líder, a quem devemos seguir fielmente! 

Vamos ao faixa a faixa


A primeira faixa do cd é (1) "Desesperado", um hard pauleira que fala sobre o diabo e a sua já declarada derrota! Logo depois vem (2) "A Sanguessuga" que na minha opinião é uma das melhores faixas do cd. Baseada no texto de Provérbios 30:15 que diz: "A sanguessuga tem duas filhas, a saber: Dá, Dá..." exatamente o refrão desta música cheia de energia! 

Aliás, a dobradinha de abertura "Desesperado/A Sanguessuga" impressiona pelos riffs pesadíssimos e pelo vocal alucinado, agressivo e sarcástico de Marcão, que realmente transmite o que as músicas pedem. Há que se destacar também as letras sempre inteligentes e diretas que a banda faz, como no trecho de "A Sanguessuga": 
"Assim é a natureza humana, quanto mais tem, mais quer, sempre insatisfeita, faminta, insaciável, quer por que quer, por que quer, um vazio incomoda a alma, nada satisfaz, a sanguessuga sempre quer mais poder, dinheiro, sexo e até rock n roll".
(3) "Não Quero Mais Acordar Assim" marca a primeira balada do cd. É a faixa que eu considero mais "radiofônica" do álbum (tanto que foi escolhida como a música de trabalho, ou seja, aquela faixa principal usada para lançamento e divulgação de um disco). Com uma linda melodia trata do sofrimento do cristão fazendo uma citação à vida de Jó. 

Logo depois desta temos a maravilhosa (4) "De Deus Não Se Zomba" (a mais longa, com muitas variações e efeitos bem colocados), com uma ótima linha melódica e arranjos arrasadores a música tem uma letra impactante, impossível não despertar a atenção pela mensagem confrontadora que trás sobre qual tem sido o posicionamento da Igreja diante das mazelas do mundo.

(5) "Vício" é uma música escancaradamente evangelística e este refrão fala por si só:
"Até quando você vai aguentar? / Até quando você vai aguentar? / Ver a droga do vício... do lixo... / Te dominar, te controlar... te manipular!" 
Essa música também tem outra parte bem forte e direta em sua letra: 
"Você pode evitar que a morte escreva / A última cena da tua história / Ter a vida de volta, a liberdade de verdade / De volta à tua história / Então não dá bandeira / Sai batido dessa treta! / Droga rima com capeta, Vida, com Jesus! / A tua vida de volta... só em Jesus! / Alguém pra te ajudar... só em Jesus! / Te libertar do hospício, do precipício / Da lata de lixo do vício... só Jesus!"
O álbum segue sem causar efeitos colaterais, com boa fluência entre as músicas, sem exagerar nas baladas. A música tema do cd (6) "O Que Na Verdade Somos?" é como um soco na cara dos cristãos. A balada parece querer trazer certo equilíbrio ao peso da mensagem desta música que fala diretamente ao comportamento [muitas vezes ineficiente] dos cristãos neste mundo. 

(7) "Uma Noite de Paz" trata em tom bem irônico, contudo, magistralmente sobre o Natal (só ouvindo para entender...) 

(8) "Ser tão sertão" é uma rápida faixa instrumental com destaque ao solo de bateria e percussão, que marcariam a nona faixa do cd, que é uma versão da música (9) "Involução" gravada pela banda em 1993 no cd Na Contra Mão do Sistema e na também irônica (10) "O Sonho do Profeta"

O disco segue recheado de críticas à sociedade e à igreja encarando muitas vezes a função dos profetas do antigo testamento e de grandes apóstolos como Paulo, reforçando as verdades por eles proclamadas na pesada (11) "Ninguém me Encontrará Entre os Fracos".

Diminuindo novamente o peso, vem (12) "Diferente dos Anjos", outra balada que funcionou bem no rádio (letra linda).

Não posso deixar de destacar a penúltima faixa chamada (13) "O Sangue de Abel". Uma balada simplesmente linda que canta uma oração pedindo perdão por tudo de ruim que a humanidade tem feito, desde o derramamento do sangue de Abel. Magnífica! 

A última faixa do cd é (14) "A Sanguessuga (Heavymix)". Feito por Amaury Fontenele, não se trata de um remix simples da musica, mas sim uma re-leitura da música original onde são adicionadas duas novas estrofes interpretadas pelo próprio Amaury, que é um talentoso e conhecido happer e dj cristão. E é isso mesmo que você está pensando. Afundaram a música no eletrônico de vez, e aqui sim erraram feio. Uma faixa sem nenhum propósito de existir, desnecessária e ultrajante (ainda bem que é a última e ninguém tira da minha cabeça que isso foi "ideia" do povo lá da MK).

Conclusão


Com todo o instrumental bem trabalhado e consciente - com destaque para a bateria de Sylas Jr, mostrando uma criatividade impressionante. O mesmo podendo se dizer das guitarras, tudo isso ajudado por uma produção cuidadosa e detalhista, bem acertada, uma forte característica deste trabalho do Fruto Sagrado é a utilização de recursos eletrônicos, felizmente, com muita inteligência. 

Os caras conseguiram tudo isso de forma que não soasse exagerado, maçante e desnecessário demais. Tudo muito válido até a equivocada última faixa. 

Contudo, conclui que quem consegue inovar com sabedoria, ao invés de serem as novas bandas, são as que estão na ativa há mais tempo, resultado da experiência adquirida, das virtudes e da segurança para mudar que vem com ela. Parabéns ao Fruto Sagrado, que não se deixou enganar pelas modinhas passageiras, acertou a mão, e produziu um álbum de muito bom gosto. Depois de tudo isso, acho que não me resta dizer mais nada! Simplesmente um ótimo cd, com ótimas músicas e letras de fato excelentes! Certamente este cd não pode faltar na sua coleção!

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