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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

CULTURA FUNK


Antes de tudo, vejamos como os dicionaristas definem o termo "cultura": Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é. 

Um dos assuntos que mais repercutiram e geraram debates no início de 2014 foi os do chamados “rolezinhos”, que chamaram a atenção pela quantidade de jovens mobilizados pelas redes sociais em pouquíssimo tempo. Os motivos para se reunirem são os mesmos que por muito tempo permearam gerações: namorar, conhecer outras pessoas, encontrar os amigos etc.

Tratados inicialmente como ameaça pelos administradores de shopping centers, aos poucos foram sendo desmitificados e agora os lojistas já enxergam nos “rolezinhos” um potencial de consumo. Os eventos noticiados foram antes de tudo uma descoberta para a classe A de São Paulo de uma nova juventude da periferia inserida no capitalismo e com poder de consumo. Nada mais natural que quisessem mostrar a melhora de vida conquistada e os pequenos luxos recentemente adquiridos, algo tão distante da realidade de seus pais e avós.

Assim, a “trilha sonora” escolhida para celebrar esses encontros foi o “funk ostentação”, uma criação paulistana nascida no distrito de Cidade Tiradentes, extremo leste da capital e um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina. 

O funk já é a música preferida da juventude que mora não só na periferia de São Paulo, mas nas periferias de todo o Brasil – muito embora, se engana que pense que o funk hoje em dia seja apenas uma “cultura periférica”, uma vez que ele já “desceu o morro e ganhou o asfalto" – há algum tempo, mais exatamente desde 2007, quando os hits ainda eram “importados” da Baixada Santista e do Rio de Janeiro. 


Geração Coca-Cola



Na década de 1980 tanto a cultura quanto o som eram outros. Nada de ostentação. O que se via eram jovens com jeans surrados, camisetas de malha e tênis All Star em suas muitas variações de modelos, eram quem ditavam a moda da juventude. Ser dark, punk, gótico ou new wave era o quente. E essas “tribos” nada tinha o que ostentar, muito pelo contrário, tanto suas posturas quanto suas músicas expressam o protesto contra o capitalismo e a filosofia rebelde. 

Embalados pelo sucesso de bandas, como Legião Urbana, RPM, Ultraje a Rigor, Titãs, Legião Urbana, 14 bis, Barão Vermelho, Kid Abelha, Ira!,,Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Blitz, entre outras, a chamada “Geracão Coca-cola”, organizavam festivais de rock (Como esquecer os clássicos shows no Circo Voador em São Paulo?). Os tempos eram outros. A juventude também. 


Geração Funk



De volta aos tempos atuais, que chamarei aqui de Geração Funk, temos as letras desses funks vindos do Rio de Janeiro e da Baixada Santista que são assustadoras: o que predomina fora da mídia é o chamado “proibidão”, com suas mensagens que vangloriam a promiscuidade sexual, a violência e as facções criminosas. Uma dos grandes sucessos no “proibidão”, que era interpretado por um tal de MC Keke, cujo refrão, um hino cantado por nove entre dez jovens da Cidade Tiradentes: “Cinco dias de terror o Brasil, o Brasil parou pra ver, quem manda, quem manda? Quem manda é o PCC!...” 

Em meio a esse cenário obscuro, surge então o funk melody, mas o que é funk melody? Na década de 80, surgiu nos Estados Unidos, um ritmo musical que 'lembrava' o Funk, mas que na realidade, não tinha 'quase' nada de Funk... Este ritmo estava nascendo com o nome de Freestyle! As suas músicas, assim como o próprio nome diz, representavam uma forma de estilo livre para tocar e até mesmo dançar. Empregava-se aí toda uma tecnologia "de ponta" nas músicas deste ritmo com suas letras românticas – muitas, inocentes até (tipo as do Claudinho e Buchecha, por exemplo, que teve uma de suas músicas, “Sou Eu Assim Sem Você”, com um hino romântico). Muita gente ainda não sabe que existe este ritmo devido a vários fatores, como a falta de apoio da mídia por exemplo. Ou ainda, se sabem que existe tal gênero musical, batizam com diversos outros nomes: Funk Melody, Miami, New Funk, etc ... 

No Brasil, o "sinônimo" mais utilizado seria o Funk Melody, porém, é preciso deixar bem claro que o nome OFICIAL para este ritmo seria Freestyle mesmo! A música Freestyle caracteriza-se por apresentar em suas mais diversas músicas, um tom romântico, expressando-se através de letras musicais recheadas de verdadeiros poemas sentimentais. São músicas com um som totalmente original! No exterior, o Freestyle já está bem evoluído em termos de adeptos e divulgação. Os Estados Unidos, Canadá e Alemanha apreciam o Freestyle de modo bem organizado. Seria, então o Freestyle a “salvação do funk”? 


Ostentar é preciso(?)



Ostentação - S.f. Ação ou efeito de ostentar; afetação na maneira de exibir riquezas ou dotes; alarde de ações ou qualidades. Fig. Riqueza, pompa, fausto, luxo. Ou seja, ação ou efeito de ostentar; afetação na maneira de exibir riquezas ou dotes; alarde de ações ou qualidades. 

Muita calma nessa hora. Eis que entra em cena o Funk Ostentação com letras que não fazem apologia ao crime não têm conotação sexual explícita. Em São Paulo foi onde surgiu o funk ostentação. Uma vez que o “proibidão” havia sido abolido dos principais e mais concorridos eventos, os meninos começaram a “pensar” e observar outras coisas que estavam acontecendo ao seu redor, entre elas a melhora no poder de consumo e a aquisição de alguns poucos produtos de luxo – na maioria das vezes comprados em muitas parcelas. 

No funk ostentação são expostos não somente os artigos consumidos pelos filhos da nova classe C, mas também seus sonhos de consumo. Os “troféus” de quem triunfa no capitalismo são cantados, como os automóveis Camaro, Ferrari e outros que dificilmente poderão ser consumidos, mas que permanecem no imaginário de quem com esforço e dedicação quer chegar mais alto na pirâmide social. 

A tendência da ostentação propagou-se pelo Brasil. Em 2013, o maior hit do funk carioca descrevia a “festa de milionário” de um Bigode Grosso alguém muito rico. O sertanejo assumiu a ostentação de peito aberto, o maior hit do gênero no ano passado em 2014 foi o Camaro Amarelo. A música, como parte da cultura, reflete um momento, um sentimento da sociedade e essa geração de jovens quer escutar músicas que exaltem seus sonhos de consumo ou falem dos pequenos luxos conquistados. A publicidade, por sua vez, os bombardeia com mensagens que pregam a felicidade aliada ao consumo. Condená-los por ouvirem funk ostentação e pelo fetiche do consumo de produtos caros é hipocrisia e até uma certa covardia. 

Enfim, eu não gosto – aliás, detesto – e prossigo não gostando – aliás, detestando. Mas, para quem gosta – já diz o velho, tem gosto pra tudo –, bom proveito (se é que no caso em questão há o que se aproveitar).

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