A Globo não insistiria com o BBB por 15 anos seguidos se não desse um mínimo de retorno esperado. Há patrocinadores que querem investir, pessoas aos milhares que querem assistir e mais ainda pessoas que querem participar do programa. Esse canal de TV sabe fazer dinheiro com coisas idiotas por um motivo simples: são profissionais. Outros já tentaram imitar, mas não conseguem nada nem próximo.
Sim, sou mais um a falar mal do BBB. Sim, eu detesto, abomino o BBB. Não, eu não assisto o BBB. Não, eu não preciso assisti-lo para afirmar que é algo de mais grotesco que a televisão brasileira poderia ter importado para produzir aqui. O Big Brother Brasil nunca prestou e desde sua primeira temporada (ou edição) há 15 anos só fez piorar a cada ano de sua exibição.
Essa atração produzida pela vênus platinada não trás qualquer benefício cultural, moral, cívico, político ou educativo. Como entretenimento consegue ser mais bizarro que os programas policiais sensacionalistas, os do tipo "... Urgente" ou "... Alerta", que sobrevivem no ibope através da exploração de desgraças e tragédias. Aliás, é de assustar a constatação de que esse tipo de programa, no caso específico, os tais chamados "espetáculo da realidade (reality show os cambaus!)", dão uma audiência tremenda às emissoras que os exibem como grandes estratégias para alavancar seus índices no Ibope.
Perguntinha boba: você se reuniria com sua família para que todos juntos assistissem a um filme pornográfico? Se for alguém com um mínimo de descência responderá que não. Pois bem, diariamente há famílias inteiras em frente de seus aparelhos assistindo aos episódios do "zoológico humano", jeitinho bem peculiar e acertado que o ilustre apresentador Pedro Bial - ilustre mesmo, excelente e respeitado jornalista que dentre o seu currículo como correspondente internacional tem a cobertura ao vivo da Queda do Muro de Berlim, fato histórico ocorrido em 09 de novembro de 1989 e o caso do conflito na Bósnia e Herzegovina no início da década de 1990, quando o país lutava para se separar da antiga Iugoslávia; e o começo da guerra civil na Romênia, também em 1989. Aliás, eu me pergunto o que leva um profissional do nível de Pedro Bial a se submeter por longos 15 anos a apresentar um programa tão baixo como o BBB.
Mas, quem é pior nessa história toda, os produtores - que, em resumo só estão preocupados com o retorno financeiro em milhões de reais que o programa trás -, os participantes - um bando de desajustados (alguns até graduados, prova inequívoca de que bom senso não se desenvolve em fileiras acadêmicas), que expõem suas mazelas moral, psíquica e de caráter - ou os telespectadores/seguidores - desses eu prefiro não falar nada... -?
Para concluir, o excelente escritor Luis Fernando Veríssimo - escritor, jornalista, humorista e cronista brasileiro, filho do também escritor Érico Veríssimo, é o escritor que mais vende livros no Brasil -, fez uma inteligente e inquestionável síntese sobre o BBB - que, inclusive, me inspirou nesse artigo - e tudo o que o permeia. Vale a pena ler na íntegra.
"Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. A décima (está indo longe) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB 10 é a pura e suprema banalização do sexo.
Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB 10 é a realidade em busca do IBOPE.
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB 10. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Se entendi corretamente as apresentações, são 15 os “animais” do “zoológico”: o judeu tarado, o gay afeminado, a dentista gostosa, o negro com suingue, a nerd tímida, a gostosa com bundão, a “não sou piranha mas não sou santa”, o modelo Mr. Maringá, a lésbica convicta, a DJ intelectual, o carioca marrento, o maquiador drag-queen e a PM que gosta de apanhar (essa é para acabar!!!).
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis?
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados.
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo santo dia.
Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).
Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$ $$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores ).
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade."
Luis Fernando Veríssimo
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