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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

AMIZADE NO TRABALHO: MITO OU VERDADE?

Esse assunto não é novo. Já foi inúmeras vezes abordado em workshops, palestras, artigos e reportagens de especialistas em recursos humanos. Não sou especialista em absolutamente nada, mas quero deixar minha opinião, baseado em experiências pessoais e apanhados em pesquisas que fiz sobre o tema. 


Amigo ou colega? Eis a questão


Você tem amigos no trabalho? Tem certeza? Não se precipite. Pense melhor na resposta. Você seria capaz de colocar a mão no fogo pelo seu amigo do trabalho? Será que ele ou ela fariam o mesmo por você? Você abriria mão de uma promoção em benefício do seu melhor amigo no trabalho? Duvido muito! Em reportagens desses programas vespertinos, tipo, o Mais Você da Ana Maria Braga, as reportagem sobre amizades no trabalho chocam com tanta hipocrisia, não que isto seja utopia, mas no mundo competitivo em que vivemos, conseguir bons amigos no trabalho, no sentido literal da palavra, é um verdadeiro desafio. 

Colegas de trabalho são aquelas pessoas com as quais você mantém um relacionamento que fica restrito aos cumprimentos básicos e obrigatórios como “bom dia”, “oi” e “como vai?” apesar de trabalharem por exemplo em uma mesma sala ou usarem o mesmo elevador. Com essas pessoas você discute os assuntos ligados ao trabalho e a empresa. E só.

Já os amigos são aquelas pessoas com quem você tem mais afinidade podendo até fazer certas confidências pessoais ou profissionais, sabendo que elas estarão prontas para ouvir e dar uma força quando necessário.

Então, quando identificar cada tipo?


No dia a dia essa definição de colegas e amigos fica bem visível, embora haja exceções. O amigo você reconhece quando tem que desenvolver um trabalho complicado e você precisa de uma pessoa ao lado para lhe dar pelo menos algumas explicações. Amigos têm paciência para ouvir, analisar e dar orientações. A qualquer hora e lugar. Amigo está sempre pronto para te apoiar, para cumprimentar por um trabalho bem feito. Amigo não tem ciúmes quando você se sai melhor do que ele. Mesmo quando você tem a chance de se tornar superior dele ou ter um aumento de salário maior que o dele.

Colegas de trabalho nem sempre agem assim. Eles nunca estão disponíveis para qualquer ajuda, muitas vezes torcem para que você “quebre a cara” para depois comentar seu fracasso com os demais. A situação fica pior ainda se você se sair bem em algum trabalho, ou tiver um aumento salarial ou ainda mais se for promovido a chefe dele. Muitas pessoas se desapontam por não saber identificar quem são as pessoas que merecem confiança e amizade. Em sua maioria, o ambiente profissional não permite que você seja o “amigão” da turma, como nos temos de escola ou faculdade. Então, e você, tem mais amigos ou mais colegas de trabalho?

Metáfora da vida real 


Imagine que você e um amigo de trabalho tenham iniciado a carreira numa empresa no mesmo dia, no cargo de auxiliar administrativo. Com o tempo, ambos foram promovidos, em datas diferentes, para assistente, analista e coordenador, cada um na sua área, no mesmo departamento. Nesse ínterim, vocês construíram um bom relacionamento, ele foi seu padrinho de casamento e vice-versa, você e sua esposa foram padrinhos do primeiro filho dele e vice-versa e ambos estiveram juntos na maioria dos eventos marcantes da vida de vocês. 

Durante esse mesmo tempo, ambos se prepararam como ninguém para crescer na empresa, fizeram faculdade, curso de inglês, MBA e passaram por uma experiência internacional, sempre de olho numa oportunidade futura de crescimento para o cargo de diretor da área. Alguns anos se passaram e, quando você menos esperava, a oportunidade chegou e você vinha contando com isso, mas quem levou a melhor foi o seu amigo, o seu padrinho de casamento, padrinho do seu filho, aquele mesmo que não saía da sua casa. 

Você sorri aquele sorriso magro, cumprimenta o amigo, deseja a ele toda sorte do mundo, mas a verdade nua e crua é que ele vai ser seu chefe a partir de agora, naquele cargo que você tanto almejava e, além de tudo, a empresa não está nada bem. Para ficar ainda mais emocionante, seu amigo foi elevado ao cargo de diretor com a missão de promover uma verdadeira revolução no departamento onde vocês trabalham a fim de recuperar os resultados que a empresa precisa, doa a quem doer, segundo o presidente. 

Decorridos trinta dias desde que o seu amigo foi promovido, você é chamado por ele na sala para uma conversa ao pé-de-orelha e a mensagem direta: - é o seguinte, meu amigo, os números da sua área foram sofríveis nos últimos tempos, portanto, apesar de morar dentro do meu coração, ou você muda isso ou não tenho como segurá-lo no emprego. Você argumenta, contra-argumenta, lembra a ele, sutilmente, sobre o vínculo que ambos criaram ao longo dos últimos anos, mas nada parece sensibilizá-lo, afinal, agora ele é o diretor, tem um nome e um cargo a zelar, portanto, se tiver que chorar, que chore a sua mãe e não a dele. Parece duro, mas não é. Fatos como esse acontecem exatamente como acima. E a regra - considerando-se as exceções, ainda que raríssimas - é que a grande amizade vai por água abaixo. As famílias envolvidas se afastarão e o relacionamento vai se deteriorando a cada dia. 

Onde foi parar aquela amizade de tantos anos? O que leva uma pessoa a mudar assim tão rápido? Amigos não deveriam proteger e beneficiar os amigos? Mas a realidade é o que ela é e não o que você gostaria que fosse. 

Tem jeito? 


Deveria ter! Um relatório recente publicado pela Globoforce, em parceria com a MarketTools, ouviu mais de 700 profissionais nos Estados Unidos e mostrou que os relacionamentos afetam a qualidade de vida e até a lealdade profissional. A pesquisa demonstrou que 99% dos entrevistados afirmaram que já fizeram ao menos uma amizade no trabalho, 88% garante que confiam nesses colegas e 78% dos profissionais disseram que já riram até quase chorar com os amigos do trabalho. 

Como toda amizade, essa relação é para os bons e maus momentos, pois 61% disseram que contam com o apoio de colegas de trabalho para superar uma fase difícil e a grande maioria, 93%, considera importante a opinião desses amigos. O poder da amizade no trabalho é tão importante que 89% desses entrevistados dizem que os relacionamentos afetam sua qualidade de vida e 71% dos entrevistados que têm mais de 25 amigos no ambiente profissional afirmaram que gostam da empresa em que trabalham. 

A lealdade à empresa e ao líder também é influenciada. Entre esses profissionais repletos de amigos no trabalho (mais de 25 amizades), 50% afirmam ter orgulho de seu empregador. A apenas 21% aceitariam outra proposta de emprego. Entre aqueles que não têm amigo nenhum, apenas 14% sentem orgulho de seu empregador e 42% aceitariam outra proposta.

Tudo bem que a pesquisa foi feita lá nos EUA, onde a realidade profissional é proporcionalmente superior a do Brasil sob os mais diversos prismas, o que faz com que a competitividade fique, digamos, mais "justa" e amplie as oportunidades com mais igualdade. Afinal, não é à toa que muito gente sai daqui e vai pra lá em busca de realização profissional. 

Minha palavra 


Aquele que chamo de amigo hoje, que convido para um churrasco lá em casa e com que me confidencio sobre a mais recente desilusão amorosa, amanhã poderá ser o escolhido para aquele cargo que eu tanto almejava, passando a ser meu chefe. E agora, como fica essa amizade? O quanto ambos "amigos" estão preparados para esse grande teste de amizade? No "professor" Google há mais de 15 milhões menções ao tema! Parece que não há algo de novo para se abordar sobre esse assunto, já desgastado em melosos PPSs que circulam na Internet ou em posts de citações famosas no Facebook. Por isso, me limito a uma tentativa de entender a fronteira entre o coleguismo diplomático no trabalho e as amizades verdadeiras iniciadas no trabalho, mas que o transcendem. 

Talvez a base de uma amizade iniciada no ambiente de trabalho seja aquela "química pessoal" gerada por interesses, preferências e, principalmente, valores pessoais ou, segundo aqueles mais espirituais, aquela "sinergia cósmica" para uns, aquela "unção" para outro, aqueles "santos que bateram", para alguns ou aquela "aura", que aproxima ou afasta as pessoas. Sobre o alicerce daquela química, as pessoas têm inúmeras interações em que podem conhecer o comportamento e as reações dos demais, em diferentes situações e, a partir daí, julgar a coincidência de valores e comportamentos. Papo vai papo vem e os assuntos extrapolam o trabalho para falar sobre música, cinema, futebol ou a vida pessoal, podendo se estabelecer uma ponte para a vida além do trabalho - uma nova amizade se inicia. 

O difícil é manter as amizades. A sustentação da verdadeira amizade se dá pela consistência de nossos comportamentos e a demonstração cotidiana de nossos valores por nossas ações. Nossa disposição de dar feedbacks genuínos, às vezes duros, e nossa capacidade de separar os incidentes do trabalho com a amizade que o transcende são alguns dos elementos que sustentam as amizades. Pode parecer uma missão quase impossível, mas acredito que ainda hoje haja muitas pessoas que consigam firmar uma verdadeira amizade com ex-colegas, subordinados ou chefes em diferentes organizações, que tiveram a felicidade de isolar a amizade dos conflitos inerentes à competitividade nos ambientes organizacionais para conseguir um bem maior nessa vida: um verdadeiro amigo. 

Infelizmente não posso dizer o mesmo. Eu nunca tive amizades no trabalho. Nunca! Não sei se é por causa dos ambientes, não sei se por minha causa mesmo. Tive bons relacionamentos profissionais. Raramente me envolvi em atritos. Ou seja, dentro do âmbito estritamente profissional, eu sempre me relacionei bem com meus colegas de trabalho. Mas amigos, não, eu nunca tive amigos no trabalho, tanto que, após o desligamento das empresas, apesar das "juras de amizade eterna", aos poucos, os contatos foram diminuindo até não mais ocorrerem.



Fonte: FGV e Portal da Administração

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