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sexta-feira, 8 de julho de 2016

DEUS NÃO É BICHO PAPÃO (MAS TAMBÉM NÃO É PAPAI NOEL)!

"A criança é a igreja de amanhã!" Acho que não sou o único que já ouviu essa frase equivocada. Trata-se de mais um dos famigerados chavões, fruto da imbecilidade que caracteriza a teologia rasa que aflora no meio gospel. Tratam as crianças como se elas fossem um bando de retardadas mentais.

A quem compete a formação de conceitos e o desenvolvimento espiritual dos filhos? Alguns transferem para a igreja e seus programas a responsabilidade de instruir espiritualmente as pessoas pois ela é detentora desta tarefa no mundo; outros pensam que a responsabilidade é do indivíduo, que chegará o tempo em que as suas opções serão feitas e as decisões tomadas; e há aqueles que querem tomar a responsabilidade para a família. Quem está com a razão? 

Até que tenhamos as respostas para estas perguntas, o que vemos são crianças sem qualquer referência ou estrutura espiritual. Crianças esquisitas, mau educadas, que não sabem a importância da reverência diante de Deus e transformam as programações da igreja em mera opção de lazer. Muitas fazem das igrejas a extensão de seus quartos, de seus playgrounds. E a forma como veem Deus então?

Se a maioria das nossas crianças está deixando a fé assim que pode, algo terrivelmente errado tem acontecido. 

Certamente a fé que tem fortalecido a igreja perseguida por dois milênios não é tão estreita e tediosa quanto "Peça desculpas", "Seja legal" e "Não haja como eles." Porque alguém negaria a si mesmo, renunciaria sua vida, ou sofreria por algo tão fútil quanto isso? Fora aquela parte do "peça para Jesus entrar em seu coração", como essa mensagem difere de algo que qualquer criança sem igreja ou um jovem judeu poderia ouvir todo dia? 

Fazendo de Deus um Papai Noel 


Encaremos isso: a maioria das nossas crianças acredita que Deus está feliz se elas são "boas pelo amor de Deus". Nós transformamos o santo, terrível, magnificente e amoroso Deus da Bíblia em Papai Noel e seus gnomos. E ao invés de transmitir a gloriosa verdade libertadora e transformadora de vidas do evangelho, nós temos ensinado às crianças que ser bom (pelo menos exteriormente) é conteúdo e o objetivo de tudo da fé deles. 

Isso não é o evangelho; não estamos apenas deixando o cristianismo de herança para eles. Nós precisamos de menos dos efeitos Game Of Thrones e de mais toneladas da radical, sangrenta, escandalosa mensagem do Deus-homem esmagado por seu Pai por nossos pecados. 

Essa outra coisa que estamos dando às crianças tem um nome – é chamada "moralismo". Aqui está como um professor de seminário descreveu essa experiência infantil na igreja: 
"Os pregadores que eu normalmente ouvia… na igreja em que fui criado, tendiam a interpretar e pregar a Escritura sem Cristo como o foco central. Personagens como Abraão e Paulo eram recomendados como modelos de fé sincera e de obediência leal… Por outro lado, homens como Adão e Judas eram criticados como a antítese do comportamento moral apropriado. Portanto a Escritura se tornou nada menos do que um livro de lições morais de vida cristã, seja ela boa ou ruim." 

Ensinando boas maneiras ao invés da salvação 


Quando nós mudamos a história da Bíblia do evangelho da graça para um livro de lições moralistas como "As fábulas de Esopo", tudo dá errado. Crianças incrédulas são encorajadas a mostrar o fruto do Santo Espírito mesmo que elas estejam espiritualmente mortas em seus delitos e pecados (Efésios 2:1). Crianças não arrependidas são ensinadas a dizer que sentem muito e pedir por perdão mesmo que elas nunca tenham provado a verdadeira tristeza segundo Deus. Para crianças não regeneradas é dito que elas estão agradando a Deus porque elas têm alcançado alguma "vitória moral". 

Boas maneiras têm sido elevadas ao nível de justiça cristã. Pais disciplinam seus filhos até que eles evidenciem uma forma prescrita de contrição, e outros trabalham pesado para guardar seus filhos da maldade no mundo, presumindo que a maldade dentro de seus filhos foi tratada por que eles oraram alguma vez uma oração no Clube Bíblico. 

E ainda afirmam que Jesus disse que delas já são reino dos céus. Ok, Jesus disse sim. Mas para quais crianças, dentro de que contexto? Em qual circunstância? 

A tradição em andamento 


O conceito de modalidade de aprendizagem familiar pode ser detectado a partir de observações de funcionamentos diversos tais como: 
  1. Tipo de comunicação: se a família possui uma comunicação clara e direta entre pais e filhos, onde há autorização e valorização do saber religioso; onde o falar da mãe e o calor do pai impõem modelos complementares de acesso aos conteúdos adquiridos: o que falam, de que falam, como falam. 
  2. Tipo de funcionamento diante das mudanças: rígida ou flexível; aceitando novas experiências e descobertas. 
  3. Forma de interação familiar que permite a aquisição de conhecimentos, visto que apropriar-se do saber também é uma forma de se distanciar da família. 
  4. Significado que a família confere aos mitos, especialmente aqueles ligados ao saber, que possibilita a definição de lugares, figuras de autoridade e sentido prático para os ensinos ao longo do tempo. 

A Bíblia não é um livro de Contos de Fadas 


Se nossos "compromissos de fé" não se enraizaram em nossas crianças, pode ser por isso que elas constantemente não os têm ouvido? Ao invés do evangelho da graça, temos dados a eles banhos diários no 'mar do narcisismo moralista', e elas respondem a lei do mesmo modo que nós: correm para a primeira saída que encontrarem. 

A paternidade moralista ocorre porque a maioria de nós tem uma visão errada da Bíblia. A história da Bíblia não é a história sobre fazer garotinhos e garotinhas melhores. Conforme Sally Lloyd-Jones escreveu em The Jesus Storybook Bible: 
"Não, a Bíblia não é um livro de regras, ou um livro de heróis. A Bíblia é mais do que tudo uma História. É uma história de aventura sobre um jovem Herói, que vem de um país distante para ganhar de volta o seu tesouro perdido. É uma história de amor sobre um Príncipe valente, que deixa seu palácio, seu trono – tudo – para resgatar aquela que ele ama. É como o mais maravilhoso conto de fadas que se tornou verdadeiro na vida real." 
É essa história que as crianças precisam ouvir e, como nós, eles precisam ouvi-la de novo e de novo. 

As escolinhas bíblicas são ridículas. Brincadeiras sem didática teológicas inteligentes. Às vezes tem até pedagogia, mas falta essência. Falta unção. Torna-se apenas uma forma das crianças não atrapalharem o culto. 

Não! É preciso que as crianças tenham noção da importância do arrependimento. Que saibam da realidade do inferno e da maldade de satanás. 

Há crianças más! Capazes de atrocidades! Isto é fato! A igreja não pode fingir que isso não existe. 

Conclusão 


Senhores, as crianças não são a igreja de amanhã. Elas são igreja hoje de agora e com todas as promessas e também responsabilidades e deveres da igreja, de ser igreja. Posso terminar esse artigo lembrando aos pais que a sua experiência religiosa precisa ser avaliada constantemente para saber se é saudável ou comprometedora, pois será a mesma dada aos seus filhos. Nem sempre estamos dispostos a fazer reflexões sobre aquilo que recebemos das nossas famílias e, às vezes, estamos prolongando erros que poderiam ter sido corrigidos ao longo do tempo, mas são transmitidos através das gerações.

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