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domingo, 17 de julho de 2016

O SERMÃO DO MONTE - 2ª. BEM AVENTURANÇA

"Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados" - Mateus 5:4 (grifos meus).
O sermão prossegue: "Bem-aventurados OS QUE CHORAM...". A bem-aventurança depende da emoção humana? O choro como consequência direta de uma emoção humana concede o favor de ser consolado?

Não! A ideia apresentada neste versículo complementa a anterior.

O choro denota a condição de impotência frente a questões impossíveis. Após reconhecer a condição de miserabilidade espiritual, a reação do homem é o choro.

A única ação de um miserável é o choro, e serão consolados!

Miserável, eu... como assim?


O apóstolo Paulo, no capítulo 7 de sua epístola aos Romanos, deixa isso bem claro. Após refletir sobre si e suas debilidades em contraste com os rigores da lei, ele desabafa: "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" (v. 24).

Mas então, nós estamos certos em perguntar o que é essa lamentável situação que Paulo está descrevendo em Romanos 7? A quem ele está se referindo? Porque ele está usando está passagem como se estivesse a aplicando para si próprio, um nascido de novo e por que ele está falando no presente como se fosse algo que está acontecendo agora? 

Bem, nós não precisamos ir longe para achar a resposta. Tudo que nós precisamos é ler o contexto das frases acima, todo Romanos 7. Dando uma olhada, Romanos 7 mostra que seu tema principal é a lei e como era impossível para alguém que tinha apenas a natureza pecadora de Adão cumprir esta lei. 

Para dizer isso, Paulo está usando a primeira pessoa do singular no presente figurativamente, não literalmente. Em outras palavras, embora, pareça que ele diz o que ele diz para ele mesmo pessoalmente, ele faz isso apenas no sentido figurado, colocando a si mesmo na posição daqueles a quem essas coisas eram diretamente aplicáveis. Esta era exatamente a situação do público de Jesus no Sermão do monte - inclusive dos discípulos. Por isso compreendemos o quanto essas palavras precisam ser ministradas a eles.

O choro no contexto do cristão


Para que o abatido seja consolado, é preciso que habite com alguém que lhe arranque da miséria: 
"Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos" (Isaías 57:15; Salmo 51:17).
Compare:

"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5:3). "...como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos" (Is 57:15).

O salmista quando pedia perdão ao Senhor disse: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto" (Sl 51:10).

Quem haveria de consolar os que choram? Os que choram serão consolados por Aquele que tem em sua natureza o Reino dos céus. É Ele que a quem o salmista Davi rogava enxugar todas as lágrimas! Ele já veio. Ele vive. Ele é real. Ele está em mim e em você! Por isso, "cantem louvor a Deus, o SENHOR, vocês, o seu povo fiel! Lembrem do que o Santo Deus tem feito e lhe deem graças. A sua ira dura só um momento, mas a sua bondade é para a vida toda. O choro pode durar a noite inteira, mas de manhã vem a alegria (Sl 30:4, 5)"!

A prova inequívoca está nas palavras proféticas de Isaías: 
"O espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes" (Is 61:1,2).

Contextualizando com a realidade


Frieza, apatia e indiferença são manifestações dos que se permitiram sujar pelo mal e, tendo corrompido a natureza humana, tornaram-se infelizes — desumanos. Os seres humanos choram suas próprias mazelas, sentem na pele a dor do outro, lamentam e ficam indignados diante da crueldade e da injustiça. Os que choram são felizes por conseguirem preservar a sua natureza, sua vocação de ser gente. 

Por isso, chorar é uma virtude natural. À semelhança das demais bem-aventuranças, chorar é também um estado de alma, um modo de ser do discípulo de Jesus Cristo. Pedro chorou amargamente, ao perceber sua própria crueldade, quando negou a Jesus Cristo (Lucas 22:62). Sua negação foi uma manifestação da indiferença desumana, mas suas lágrimas foram um sinal de que dentro dele existia um ser humano capaz de lamentar copiosamente sua própria desventura.

  • Choro como terapia da confissão


Chorar por chorar não indica felicidade, pode ser apenas uma reação fisiológica, uma descarga emocional. Esse choro é sinal de que ainda existe um ser humano com vida. Só os mortos não choram mais. O choro natural é um bem que todos possuímos. Mas não é sobre esse tipo de choro que Jesus está falando. 

No Sermão do Monte, chorar é mais do que uma função biológica ou uma reação emocional. É um estado de alma, uma virtude permanente. No caso dos discípulos, eles choram e são felizes, porque o choro vem como sinal da humanidade interior redimida. O discípulo reconhece suas limitações, se arrepende de seus pecados e os confessa. E, na terapia da confissão, encontra a alegria de ser amado e acolhido pelo perdão de Deus. Torna-se livre — livre para amar e compadecer-se.

  • Choro como sensibilidade de espírito


O encontro com Deus põe o discípulo em sintonia com todas as dimensões da vida. Ele é feliz porque a sua desventura consigo mesmo o faz repousar na esperança da consolação de Deus. 

Por exemplo, os que acolheram o Messias foram afligidos e perseguidos ao mesmo tempo em que usufruíam da prometida consolação de Israel (Lc 2:25). Entre eles brotava este choro: uma sensibilidade de espírito que acolhia o Menino "pobre" da manjedoura, que era ao mesmo tempo o Emanuel, Deus conosco. 

Que maravilha do Evangelho! Deus se faz presente na figura de uma criança. Quem recebe uma criança recebe a Jesus. Quem tem sensibilidade suficiente alimenta o faminto, acolhe o marginalizado, agasalha o despido e, assim, usufrui da felicidade de acolher o próprio Jesus Cristo (Mt 25.31-46).

  • A alegria dos que choram 


O choro que gera alegria é o choro capaz de fertilizar o terreno da alma para acolher o Consolador. Quem precisa de um Consolador senão homens e mulheres sob conflitos, dores e lágrimas? Ser discípulo é viver nas mesmas condições dos profetas, que, movidos pelo Espírito e por amarem a vida, foram injuriados e perseguidos por infelizes desumanos (Mt 5:12). 

Aquele que, entre os pobres, sofre as mesmas aflições e dores dos pobres, precisa de um consolador. Os que choram são felizes porque têm, pelo Espírito, a sensibilidade de se colocar e gemer no lugar do outro, especialmente o fraco, aflito e necessitado. Os que choram como virtude usufruem da habitação do Consolador e são, sem dúvida, felizes por desfrutarem da sublime e preciosa presença de Deus — de onde vem a Alegria que jamais entristece.

Conclusão


Além do perdão dos pecados, somos contemplados por Deus com o consolo que seu Espírito nos dá nesta vida. O Espírito Santo é o nosso consolador. Em nossa peregrinação, ele está do nosso lado encorajando-nos e capacitando-nos a perseverar na fé em meio às tribulações do tempo presente que muitas vezes nos fazem chorar.

Deus já nos consola nesta vida, mas somente na eternidade seremos plenamente consolados por ele. Os filhos de Deus recebem consolo com base nas promessas que Deus revelou em Sua Palavra. A palavra de Deus nos consola. Suas promessas nos dão esperança. Durante nossa vida aqui temos de chorar e lamentar os nossos pecados, mas Deus já nos consola com a promessa do perdão. 

Também em sua Palavra ele nos consola com a promessa fiel da vida eterna. O Senhor prometeu voltar e restaurar toda a criação para habitar eternamente com o seu povo. Em muitos lugares na Bíblia somos consolados com a promessa da vida eterna. Vejamos Apocalipse 21:1-4 que narra a visão consoladora que o apóstolo João recebeu do Senhor quanto à vida eterna no novo céu e na nova terra em que Deus habitará com o seu povo.

Na eternidade estaremos para sempre com o Senhor. Não haverá mais necessidade de chorarmos pelo pecado porque este não mais existirá. Também as aflições do tempo presente, que nem se comparam com a glória porvir, se acabarão. Só haverá alegria, paz e eterno consolo para o povo de Deus. "Felizes os que choram porque serão consolados". Estas são palavras de grande importância para os filhos de Deus e herdeiros do seu Reino. Os que choram por seus pecados agora, são perdoados por Deus e serão plenamente consolados por ele na eternidade, pois Deus mesmo estará com eles e lhes enxugará dos olhos toda a lágrima.

Mas aqueles que agora riem e se divertem com o pecado, se não se arrependerem, não receberão o consolo de Deus, mas haverão de lamentar e chorar por toda a eternidade no inferno – um lugar de tormentos onde só haverá choro e ranger de dentes. Mas ainda resta tempo. Eis o momento oportuno da salvação. Cristo está chamando agora pecadores ao arrependimento para a vida: reconheçam seus pecados, chorem por eles, abandonem seus pecados e venham a mim, pois eu posso te dá de graça o consolo com o perdão dos pecados e a vida eterna. Em Cristo e somente nele há consolo e esperança para o pecador arrependido que chora amargamente por seus pecados. Ele mesmo nos prometeu: "Felizes os que choram, porque serão consolados". Amém!

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