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terça-feira, 19 de julho de 2016

ACONTECIMENTOS - O CASO CARLINHOS, 43 ANOS DE MISTÉRIO

Carlos Ramires da Costa foi sequestrado em sua residência, no Rio de Janeiro, no ano de 1973. É um caso repleto de lacunas e o mistério do seu desaparecimento nunca foi esclarecido.

Com dez anos na época, Carlinhos era um dos 7 filhos do casal Maria da Conceição Ramires da Costa (dona de casa) e João Mello da Costa (dono da Indústria Farmacêutica Unilabor (em Duque de Caxias). O charmoso e pacato bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro se tornava, então, o cenário de um dos casos mais intrigantes de desaparecimento ocorridos no Brasil. Trata-se do sequestro de Carlos Ramires da Costa, conhecido como Carlinhos.

De acordo com relatos de sua mãe, o garoto foi levado de casa durante a noite, por um homem, enquanto a família assistia a mais um capítulo da novela "Cavalo de Aço", exibida pela Rede Globo, no horário das 20:00h. O sequestrador deixou um bilhete de regate, marcando hora, local e valor a ser pago e avisando para não chamarem a polícia (ela estava em casa sozinha com seus filhos). Como o bilhete acabou sendo publicado no jornal O Globo, os sequestradores jamais entraram em contato e Carlinhos nunca mais foi encontrado.

No ano de 1976, após 19 anos de casamento os pais de Carlinhos de separaram. Segundo dona Maria da Conceição (mãe de Carlinhos) quando o ex-marido, voltou para casa na noite do crime o sequestrador ainda podia ser visto levando embora Carlinhos. Maria da Conceição também disse que o ex-marido não tentou alcançá-los.

Em meados de março de 1977, quatro anos depois do sequestro, Vera Lúcia , irmã de Carlinhos, fez um depoimento à polícia dizendo que reconheceu o sequestrador. Ela apontou um funcionário do laboratório de seu pai: Sílvio Azevedo Pereira. 

O suposto sequestrador chegou a ser condenado 13 anos de prisão, mas seus advogados recorreram da sentença e ele foi absolvido (solto).

O caso e seus muitos - e insolúveis - mistérios


Estávamos em plena ditadura e vários órgãos de segurança estiveram discretamente (alguns nem tanto) envolvidos na investigação do caso. Virou lenda aquele cara grandão, olhos claros, pinta de galã, bem vestido, dirigindo uma Mercedes-Benz novinha, que volta e meia acompanhava a gente nos plantões da madrugada na rua Alice. 

Não raro, ele passava no Bob's e levava dezenas de sanduíches e sucos para todos os repórteres. Uns diziam que era da Polícia Federal, outros, que era ligado à CIA e à Embaixada Americana. Demonstrava ter acesso ao delegado encarregado da investigação. Nunca se soube quem era.

Para resumir o assunto, que é demasiado longo, vou direto ao ponto do qual nunca se falou: a investigação paralela desenvolvida por órgãos de segurança e a cujo teor tive acesso. Maria da Conceição foi interrogada por dois dias; a constatação de sua deficiência mental e o parentesco dela com um coronel teriam levado as autoridades a liberá-la. O relatório apresentava mais ou menos a seguinte linha de fatos e conclusões:

João Mello, pai do Carlinhos
  • 1) A mãe de Carlinhos não tinha boas relações com o marido havia cerca de dois anos e praticamente não se falavam mais. Os principais obstáculos para a separação seriam os sete filhos e a falta de dinheiro, porque João Mello estava numa fase financeira delicada e não teria como (ou não queria) dar pensão a todos;
  • 2) Conceição tinha verdadeira paixão pelo filho Carlinhos e não se dedicava tanto às outras crianças, exceto Vera Lúcia, a quem era chegada. Além de apresentar problemas de comportamento, a mulher era "aficionada por magias e superstições, e frequentava um terreiro de macumba";
Conceição, mãe do Carlinhos
  • 3) Ela teria se tornado íntima de um pai-de-santo, com quem planejaria o sequestro. Constava que o plano original seria tirar algum dinheiro do marido e passar a viver noutro local com o amante e os filhos Vera Lúcia e Carlinhos, seus prediletos. Mesmo que o resgate fosse pago, a criança jamais seria devolvida;
  • 5) Além do imprevisto de o bilhete de resgate ser divulgado pelo O Globo, o caso ganhou uma repercussão inesperada, não rendeu nenhum tostão e a polícia começou a chegar perto, por isso, o sequestrador desistiu da empreitada e fugiu (teria sido posteriormente localizado no Maranhão e morrido em confronto com agentes militares);
  • 6) Com o aprofundamento das investigações sobre sua vida, Conceição mudou rapidamente de comportamento, passando da macumba ao kardecismo, de mulher fogosa a mãe extremada (papel que viria interpretando até hoje, agora convertida em "evangélica"). 
Este é o resumo do que foi apurado pelos órgãos de segurança, naquela ocasião. Por este raciocínio, quem deve saber do destino do garoto é a sua mãe. A minha suposição é de que ele foi morto pelo sequestrador antes da fuga. 

A obsessão de Maria da Conceição por Carlinhos era tão desmedida que ela não suportaria um período tão longo sem procurar vê-lo, se ele estivesse vivo. Ela foi vigiada durante muitos anos, sem dar nenhuma pista.

Para entender melhor como pôde acontecer tanto desencontro no caso Carlinhos, é necessário saber que naquela época os policiais faziam de tudo para aparecer na mídia, havia uma disputa por notoriedade só comparável a algumas histórias dos anos 30 em filmes americanos. Se alguém confessava qualquer bobagem, o delegado corria a fazer declarações à imprensa, mesmo sem ter nada comprovado. Naturalmente, pouco depois a história desabava e ficava o dito pelo não dito, sem desmentidos oficiais. 

Por isso tem tanta acusação estapafúrdia no Caso Carlinhos, principalmente de Maria da Conceição contra o marido e seus empregados, aparentemente, uma vingança de mulher magoada e desequilibrada. Teve até um maluco (Adilson de tal) que foi preso pelo Delegado Moacir Bellot, da Baixada Fluminense, por afirmar que jogara o corpo de Carlinhos no fundo da Baía de Guanabara (tive uma edição extra em O Dia, assinada, com a matéria da descoberta de uma ossada na baía - que não era de Carlinhos, viu-se depois).

Uma curiosidade: na equipe de reportagem policial da noite, em O Globo, havia três profissionais da velha-guarda, Ronald, Seixas e Gilson, e dois focas - eu e Tim Lopes (assassinado em 2002 pelo traficante Elias Maluco). Se o Tim não estivesse de folga naquela noite, o plantão no "castigo" da rádio escuta seria dele - e a história também.

Repercussão


Em uma época longe dos aparatos tecnológicos de hoje, o caso causou grande comoção nacional. Não era comum, naqueles anos, no auge da Ditadura Militar, ouvir falar em sequestros e desaparecimentos de crianças. Não que não houvessem, mas a situação política era diferente.

Crianças sempre desapareceram e, na grande maioria das vezes, passam desapercebidas pela grande sociedade. São nossas estrelas invisíveis, como eu as chamo, porque existem, mas ninguém vê.
Eventualmente, de tempos em tempos, um caso ganha maior atenção e a comoção é geral. Podemos igualar o caso do Carlinhos, em termos de comoção, ao atual caso do João Rafael Kovalski, 2 anos, desaparecido no interior do Paraná e que alcançou a mídia nacional e internacional sem que se descubra o que aconteceu à ele.

Quando Carlinhos desapareceu, foram usados todos os meios disponíveis na época, para esclarecer aquele mistério, que desafiou todas as polícias, durante muito tempo.

43 anos se passaram, e quem viveu os anos 70, guardou na memória a imagem refletida de um menino loiro, bonito e sorridente. Somente no início do segundo milênio, foi possível saber, como seria a imagem daquele menino, nos dias atuais. 

Como estaria Carlinhos hoje?


A imagem do Carlinhos adulto, só foi possível graças ao projeto de Progressão de Idade, desenvolvido pelo professor e pesquisador em reconhecimento facial, Isnard Martins. 

Como explica Isnard, a progressão sofre influência do fundo ambiente. São fatores que vão desde acidente que deixa cicatrizes, passando por problemas de peso, até o estilo de barba e cabelo. Formato da boca e nariz, por exemplo, não mudam.





Conclusão

Entenda (se puder) o caso


  • 1973 - No dia 2 de agosto, Carlos Ramires da Costa, 10, o Carlinhos, é sequestrado na casa de classe média da família, no Rio de Janeiro. O sequestrador invadiu a casa, trancou a mãe e seus seis irmãos em um quarto e fugiu levando o menino. Deixou um bilhete em que pedia resgate de Cr$ 100 mil (cerca de R$ 50 mil em valores atuais). A família chegou a oferecer o valor, conseguido com a ajuda de doações, mas ninguém apareceu para receber o resgate no local marcado.
  • 1976 - A mãe de Carlinhos, Conceição Ramires da Costa, e o pai, João Mello da Costa, se divorciam. A mãe acusa o pai, que no dia do sequestro chegou em casa poucos minutos após o ocorrido, de não ter tentado impedir a fuga. O envolvimento de João Mello com o sequestro é amplamente investigado. A hipótese mais forte é de que ele teria forjado o sequestro por estar em em dificuldades financeiras, à beira da falência. Nada foi provado.
  • 1977 - Quase quatro anos após o desaparecimento, é aberto o inquérito policial. Concluído em novembro, apontou um funcionário do laboratório farmacêutico do pai de Carlinhos como sendo o sequestrador. Em depoimento, uma irmã de Carlinhos afirmou tê-lo reconhecido. O homem chega a ser condenado, mas é solto por falta de provas.
  • 1983 - Em Caxias do Sul, especula-se que Laudelino Fô, um menino que não lembra de sua origem e tem fisionomia semelhante a de Carlinhos, pudesse ser o filho de Conceição. A mãe vem a Caxias encontrar Laudelino e chega a se convencer de que se trata de Carlinhos. Os irmãos desconfiam. Semanas depois, exames descartam a hipótese. A manchete do Pioneiro do dia 21 de setembro destaca que Laudelino recebeu com naturalidade a notícia, mas queria ter mais respostas sobre seu passado. "...ninguém me explica como é que eu fui lembrar de tanta coisa lá do Rio", afirmou.

As várias versões de uma mesma história


O jornalista Celso Cerqueira que trabalhava na época no jornal O Globo, suspeitou das atitudes da mãe de Carlinhos, pois segundo ele, ela apresentava um comportamento estranho, estava sempre sorrindo e acenando para os jornalistas, aparecia com frequência na janela da casa vestida com camisola e penteando os cabelos. Essas atitudes fizeram com que especulações sobre seu suposto envolvimento no caso circulassem nas rodas de bate papo dos brasileiros.

Uma das versões sobre o suposto envolvimento da mãe de Carlinhos no caso, era que o sequestrador seria seu amante, um pai de santo com quem ela pretendia fugir e deixar a família para trás. Sem condições de levar consigo os seis filhos, Maria Conceição teria escolhido um dos filhos, o seu preferido, para viver com ela e o amante, além de ser uma boa maneira para conseguir uma quantia razoável em dinheiro. Mas como o caso acabou ganhando a atenção da imprensa e da policia, o plano teria dado errado e o amante teria fugido com o garoto para o Maranhão. No entanto, como nas outras hipóteses que surgiram acerca deste caso, não houve nenhuma evidência que isso teria acontecido.

Após 40 anos do desaparecimento de Carlinhos, o caso - que virou até livros -  continua sem solução e a polícia nunca soube o que de fato aconteceu naquela noite na residência da família Costa. Ao longo dos anos, a família Ramires da Costa passou por pelo menos dez casos de aparecimentos de meninos que poderiam ser Carlinhos. No entanto, nenhum se confirmou. A família parou com as buscas pelo país, mas ainda tem esperanças de resolver o caso.

[Fonte de pesquisas: Acervo Digital O Globo, Globo News, Veja]

10 comentários:

  1. Acusaram o pai por muitos anos e agora mudaram o alvo para a mãe do garoto. É natural que amasse o filho e, também, que o casamento acabasse depois dessa tragédia. Não convence essa versão nem de que ela é maluca ou que tenha feito besteria por causa de religião africana. E se Carlinhos fosse sequestrado por um amante dela, ele não teria matado o menino. Na época, os sequestradores planejavam levar a menina menor e desistiram. Também foi divulgado que eles teriam um tio rio de onde sairia o dinheiro do resgate.

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    1. Onde estão os restos mortais desse menino que até hoje (2023) não foi encontrado?

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  2. Acabei aceitando as argumentações do jornalista Domingos Meireles da rede Record de televisão. Esse menino mataram! Já não está entre nós, creio também que o pai deste menino foi o autor responsável e que mandou cometer o ato pelo fato da necessidade de dinheiro. Ele,o pai de Carlinhos estava precisando de dinheiro e foi isso q ele forjou.

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  3. Está na cara que o autor foi o próprio pai tendo como cumplices os empregados. A dúvida é se a mãe sabia ou não. Lamentável o despreparo da polícia na época e ainda hoje. Vide o Caso Marielle, até hoje sem solução.

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  4. De tudo que já li e ouvi sobre o caso , também acho que foi o pai e seus empregados. Sobre a mãe de carlinhos ,o que me intrigou foi que ela disse em depoimento que ela foi trancada com os outros filhos em um quarto , e ela falou que viu o sequestrador saí apontando uma arma na cabeça de Carlinhos ; como assim ela viu se ela estava trancada num quarto com as outras crianças
    ...

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    1. Poucos dias depois do sequestro, ainda jovem advogado, libertei João Mello da cadeia nos porões da delegacia policial de Caxias, onde mandava o então delegado Moacyr Bellot. Daí para frente --- e até hoje --- somos amigos, João Mello e eu. Em 1974 fomos à Holanda. Consegui com a empresa KLM as passagens graciosas, hospedagem no Hotel Hilton e uma consulta com o maior vidente e sensitivo do Século XX, Gérard Croiset. Fomos levados pela KLM à casa dele, em Utrech. Croiset garantiu que Carlinhos reapareceria. Que o crime seria desvendado. Que levaria tempo. Disse isso para João Mello, para mim e para o intérprete, um funcionário português da KLM. Croiset só falava holandês. João Mello, inglês. E eu francês. Foi preciso um intérprete. Também o israelense Uri Geller nos recebeu, em Bogotá e depois no Hotel Nacional no Rio. Tudo foi feito. No plano policial com muitos erros e desacertos. Então partimos para o que é metafísico. Foi e sou mais amigo do que advogado de João. O pai de Carlinho nunca me despertou mínima dúvida da sua inocência. Ele, sua esposa Dona Conceição e todos os filhos foram e são vitimados. Hoje, 27 de Abril de 2022, Mello deve ter perto de 100 de idade. Eu, 76. Sobre Dona Conceição nada sei dizer. Mulher forte e de fibra. Todos sofreram. Todos sofrem. Todos queremos Carlinhos de volta.

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    2. Deus sabe de todas as coisas ,o coração do homem só ele conhece , então um dia quem fez isso ,irá prestar conta com Deus ,pq quando uma mãe sofre todas sofremos

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  5. Oiie Advogado Jorge.. Tudo bem?? Como esta a familia de Carlinhos?? E os irmãos?? A Luciana sei que é advogada e tem uma filha. E outros? Que fim deu?? Abraços!

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  6. Esse tal advogado que soltou o pai de Carlinhos, João Mello, já fez várias coisas - só alguns fatos da vida corrida dele:

    1) já defendeu o Lula no processo da Lava-Jato

    2) já foi publicamente contra a candidatura da cidade do Rio de janeiro como sede olímpica dos jogos de 2004 (Atenas foi escolhida pelo COI em 1996 para sediar os citados jogos)

    3) já processou o Renan Calheiros

    4) já atuou no caso do "Palace II (1998)"

    5) já atuou no caso da chacina da Candelária (1993)

    Enfim, caramba, se esse sujeito aí no comentário anterior for realmente o homem JORGE BEJA, eu considero que ele deveria ter se consultado logo com o espírita Chico Xavier para saber se o Carlinhos está vivo (ou estava depois de 1973). Enfim, espero que
    pelo menos, o sequestrador esteja totalmente no inferno assim como seus mandantes do crime. E valha-me DEUS que os parentes do Carlinhos não sejam mt envolvidos nesse crime grotesco aí.

    Agora, se for um cretino qualquer desejando enganar todo mundo aqui se fazendo passar pelo "Jorge Beja" verdadeiro, que esse falsário vá pra PQP servir uma temporada eterna junto com o sequestrador/ mandante no inferno 😠😡🤯😰🤬🥺😤🙄😱🤔🧐🤨😄😎

    Tenho dito !!!!!!!

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  7. Infelizmente só Deus pra saber a verdade

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