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domingo, 3 de julho de 2016

JOÃO BATISTA, O PROFETA DA TRANSIÇÃO

"7 Enquanto saíam os discípulos de João, começou Jesus a falar às multidões a respeito de João: O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8 E então? O que fostes ver no deserto? Um homem vestido com roupas finas? De fato, os que usam roupas finas estão nos palácios reais. 9 Mas, afinal, o que fostes ver? Um profeta? Sim, Eu vos afirmo. E mais do que um profeta! 10 Este é aquele a respeito de quem está escrito: 'Eis que Eu enviarei o meu mensageiro à frente da tua face, o qual preparará o teu caminho diante de Ti'. 11 Com toda a certeza vos afirmo: Entre os nascidos de mulher não se levantou ninguém maior do que João, o Batista; entretanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele. 12 Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de violência se apoderam dele. 13 Porque todos os Profetas e a Lei profetizaram até João. 14 E, se desejarem aceitar, este é o Elias que havia de vir. 15 Aquele que tem ouvidos para ouvir, que ouça!"

João Batista é o personagem que demarca a transição da Antiga para a nova Aliança e serve de ponte entre o Antigo e o Novo Testamento. Além disso, foi precursor do Messias e tinha como uma de suas principais atividades o batismo em água. De certa forma, acabou introduzindo o rito, que veio a tornar-se a primeira ordenança da Igreja. Nesta oportunidade, trataremos da origem, ministério e mensagem de João Batista, o último profeta veterotestamentário. Ou seja, apesar do registro ministerial de João Batista estar no Novo Testamento, ele foi o último profeta do Antigo Testamento.

I. Sua origem


1) Família - João Batista veio de uma piedosa família, formada pelo sacerdote Zacarias, e Isabel, sua esposa. Seu pai era "da ordem de Abias" e sua mãe "das filhas de Arão" (Lucas 1:5). Na época de Davi, o número de sacerdotes havia se multiplicado de tal modo que o segundo rei de Israel resolveu estabelecer o sistema de serviço, do qual a ordem de Abias era a oitava (1 Crônicas 24:3-6, 10). Os descendentes de Arão continuaram a se multiplicar tanto que, nos anos que precederam só tinha uma oportunidade na vida de servir no altar (Lc 1:8-10). E foi nesse contexto que o anjo Gabriel anunciou a Zacarias, o nascimento de João Batista.

2) Nome - O anúncio, a escolha do nome e a concepção de João Batista demonstram que ele teria uma importante missão a cumprir. Tudo aconteceu em razão de uma intervenção direta de Deus, pois Isabel, sua mãe era estéril e, além disso, ela e Zacarias "eram avançados em idade" (Lc 1:7), à semelhança de Abraão e Sara (Gênesis 11:30; 21:2). Isso prova que algo incomum estava acontecendo. Até mesmo o nome da criança foi uma escolha divina pois o anjo ordenara a Zacarias que pusesse no menino "o nome de João" (Lc 1:13).

Apesar de ser um nome comum naquela época, não o era na família de Zacarias (Lc 1:59-63). A alcunha de "Batista" foi dado em função de o seu ministério consisti em grande parte na prática de batizar. Literalmente, João Batista significa João, o Batizador. Conforme o anjo ainda comunicara a Zacarias, "muitos" se alegrariam com o nascimento de João (Lc 1:14, 58), pois tal acontecimento era prova inequívoca de que o Senhor ainda amava Israel (Lc 1:65-80).

3) Sua estatura espiritual e ministério - O anjo Gabriel discorre sobre a estatura espiritual de João Batista, declarando que ele seria "grande diante do Senhor" e "cheio do Espírito Santo [ser cheio do Espírito Santo é uma condição a todo profeta], desde o ventre de sua mãe" (Lc 1:16, 17). "Bem disposto" para o que? Sem dúvida alguma, para o que o próprio pai, Zacarias, profetizou por ocasião da circuncisão do menino, afirmando que a criança seria profeta do Altíssimo e precursor do Messias (Lc 1:76).

II. Personalidade


1) O testemunho de Jesus (v.7a) - Pouco tempo após batizar o Senhor Jesus, João Batista foi preso. Ao ouvir acerca das realizações de Cristo, ele mandou que dois de seus discípulos fossem até ao Senhor e o inquerisse acerca do cumprimento de sua missão messiânica (Mt 11:3). Jesus mandou então que contassem a Batista, na prisão, "as coisas que ouvis e vedes: Os cego veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho" (Mt 11:4,5). Isto é, não havia apenas sinais no ministério do Senhor Jesus Cristo, mas também e, principalmente, a mensagem do evangelho.

2) Sua espiritualidade e devoção (v. 7b) - Após essa resposta, o Senhor Jesus passa a falar sobre a grandiosidade do ministério de João Batista. O Filho de Deus revela que o povo não saiu do deserto para ouvir qualquer pessoa, mas um homem destemido e cheio do Espírito Santo; um homem que falava a verdade divina, exortando os pecadores ao arrependimento; um homem que não temia ameaças dos poderosos. Era inconcebível pensar que João Batista havia fraquejado por estar preso, pois ele não era "uma cana agitada pelo vento", mas um vigoroso cedro capaz de resistir a fortes tempestades. Ele estava na masmorra de Herodes (Mt 14:10-12), porém, demonstrava um forte compromisso e preocupação com a obra de Deus. Ele era grande no contexto do significado da obra que ele realizaria. Cheio do Espírito Santo desde o ventre no contexto de uma vida integralmente consagrada à realização da obra a ele determinada.

3. Sua personalidade (v. 8) - Com as perguntas retóricas - "Que fostes ver no deserto? [...] Um homem ricamente vestido?" - Jesus estava dizendo que esse tipo de personalidade não caracteriza a João. Pois, os que o ouviram no deserto podiam estar certos de que, mesmo encarcerado, o Batista continuaria sendo o mesmo João: um homem santo e destemido que, por opção própria, usava vestes de pelos de camelo e cinto de couro. Uma expressão de humildade. 

Sobre seu inusitado cardápio, gafanhoto e mel silvestre Provavelmente o gafanhoto Locustra que devorava as plantações foi o tipo de gafanhoto que João se alimentou no deserto. Pensar e acreditar que o alimento de João Batista no deserto foi gafanhotos contradiz um bom número de estudiosos, que não se cansam de afirmar, que João se alimentava com a secreção de um arbusto do deserto a semelhança do maná que os israelitas se alimentaram no regresso de volta do Egito pra a Terra da Promessa.

Estes gafanhotos devoradores, que apareciam em nuvens e atacavam as poucas plantações da Palestina foi à espécie que João encontrou no deserto e serviu de alimento para saciar a sua fome. O texto de Joel 1:4 narra à presença desta praga em Israel: "O que o gazam deixou, o gafanhoto o devorou! O que o gafanhoto deixou o yeleq o devorou! O que o yeleq deixou, o hasil o devorou" (Joel 1:4) Bíblia de Jerusalém.

Se alimentar com insetos, o gafanhoto, não era proibido pela lei Judaica no antigo Israel. O livro do Levítico em 11:20-23 assim descreve: "Todos os insetos alados que andam sobre quatro pés, serão para vós uma abominação. Contudo, estes há que podereis comer de todos os insetos alados que andam sobre quatro pés: os que têm pernas sobre os seus pés, para saltar com elas sobre a terra; isto é, deles podereis comer os seguintes: a locusta segundo a sua espécie, o grilo segundo a sua espécie, o gafanhoto segundo a sua espécie e o hagabe segundo a sua espécie. Mas todos os outros insetos alados que têm quatro pés, serão para vós uma abominação" (Levítico 11:20-23) Bíblia Almeida (grifos meus).

A forma de preparação da "locustra ou gafanhoto" no cardápio dos antigos: Eram cortadas as cabeças e pernas desses insetos, que depois de secados ao sol era salgado e servido com uma espécie de "manteiga" (naturalmente não é a manteiga que usamos hoje), mas era uma espécie de gordura vinda do leite). Hoje temos o conhecimento, pelo dizer dos nutricionistas que este alimento é muito rico em proteínas, cerca de 75% são proteínas. Não sabemos se o sabor era apetitoso, mas o sustento do organismo humano como alimento era muito grande ao comer gafanhotos.

  • Contexto profético  


O deserto é um lugar inóspito, escasso de alimentos, de água, mas imagino eu que também seja um lugar bom para se meditar e refletir se você sabe atravessá-lo. Quantas vezes em nossas vidas nos encontramos no deserto, em meio a adversidades, olhando para um horizonte vazio, buscando recursos para resolver as mais diversas situações e não encontrando nada. 

Como João, no deserto, ainda que estejamos atravessando momentos difíceis não devemos nunca deixar de anunciar a esperança, a vinda de uma vida plena e melhor, em meio a todas as tribulações devemos abrir nossa boca e anunciar a boa nova, o Evangelho, o viver em Cristo!

Aquele homem se alimentava de mel silvestre e gafanhoto, eram os alimentos que a natureza colocava em sua boca, era o que o mantinha vivo e animado a falar da vinda do Messias.

O mel, o mais doce dos alimentos, saboroso, nutritivo, bonito, perfumado… Quantas vezes a vida nos enche a boca de mel, as situações são felizes capítulos bonitos, doces, brilhantes, suaves de nossas vidas. Fases da vida que temos prazer de viver, assim como é agradável o mel descer pela garganta. 

Os gafanhotos, uma das piores pragas com a qual o ser humano convive, desde os tempos mais remotos, asqueroso, chega sem avisar, destrói as colheitas e parte. Muitas vezes nossa vida parece ser atacada por uma nuvem de gafanhotos, às vezes sem avisar, um fato vem e leva nossos sonhos, nossas expectativas, nossos entes queridos, nossas lembranças… 

Enfim a vida nos alimenta com mel e gafanhotos, apesar da diferença entre os dois, ambos possuem nutrientes que nos permitem viver de forma saudável, ambos tem o poder de nos dar força para anunciar a Jesus, ambos podem nos dar força para continuar no caminho do evangelho.

III. João Batista, o último profeta


1. "Muito mais que profeta" (v. 9) - O testemunho público de Jesus confirma o que o Espírito Santo havia falado por boca de Zacarias: João seria "profeta do Altíssimo" (Lc 1:76). Cristo além; afirmou que João era "muito mais do que profeta". Ele declarou ser o Batista um mensageiro enviado por Deus como o precursor do Messias (v.10), cumprindo assim profecia de Malaquias (M 3:1). Jesus acrescentou que dentre os mortais, não houve ninguém maior do que João (v.11). E isso, por algumas razões:
  • Porque os profetas falaram a respeito de João (Isaías 40:3; Ml 3:1);
  • Porque João teve o privilégio de ver o cumprimento principal dos oráculos proféticos do Antigo Testamento: O Senhor Jesus Cristo;
  • Por ter sido o precursor do Messias;
  • Porque batizou o Senhor Jesus nas águas;
  • Porque pode participar da salvação que os profetas apenas predisseram, e finalmente;
  • porque chegou ao clímax do ministério profético, tal como havia no Antigo Testamento (Lc 16:16).

2) O término da dispensação da Lei (v.13) - Pelas razões acima apresentadas, João é o mais excelente de todos os profetas; com ele se encerra a Antiga Aliança. João Batista é o único personagem do Novo Testamento com quem Deus se comunicava da mesma maneira que Ele falava aos profetas do Antigo Testamento: "[...] veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias" (Lc 3:2 - ARA; conforme Jeremias 1:2).

3) "O Elias que havia de vir" (v.14) - Ao comparar o ministério de João Batista ao de Elias, Jesus confirma o oráculo de Malaquias (4, 5, 6). Em outras palavras, João veio na virtude e no espírito de Elias (Lc 1:17), ou seja: exercendo um ministério igual ao de Elias. E o Senhor Jesus reafirma em outra ocasião (Mt 17:12, 13). Isso, porém, não deve levar ninguém a pensar que João era Elias reencarnado por duas razões básicas: 
  • Elias foi arrebatado vivo para o céu, portanto, não morreu (2 Reis 2:11).
  • Além disso reencarnação é algo que não existe e nem é permitido por Deus (2 Samuel 12:23; Salmos 78:39; Hebreus 9:27).
Elias e João tinham as mesmas características: ambos vestiam-se de pelos e usavam cinto de couro (2 Rs 1:8; Mt 3:4), ministravam no deserto (1 Rs 19:19:9,10,15; Lc 1:80), e eram incisivos ao pregarem contra os reis ímpios (1 Rs 21:20-27; Mt 14:1-4).

Conclusão


João Batista é uma das figuras que mais me chama a atenção na Bíblia, por sua vida, por sua missão, por sua personalidade. Ele anuncia a vinda de Cristo e poderia ter sido só mais um profeta a ter feito este anúncio, mas além de anunciar, batizou, viu com os próprios olhos o Cristo.

Este homem que anunciou a vinda do d'Aquele que batiza com Espírito Santo vivia no deserto, se alimentando de mel e gafanhoto. É interessante pensar no contexto em que se encontra João Batista e nas nossas vidas.
 
Ele continua sendo um exemplo de coragem e humildade que devemos seguir. Essa voz no deserto precisa ser mantida contra o pecado e contra a corrupção. 

Assim devemos agir, ainda que estejamos atravessando o pior deserto das nossas vidas, ainda que o inesperado venha e destrua o trabalho de uma vida e, mesmo nas situações mais doces, nos momentos mais suaves e brilhantes de nossa vida, anunciemos sempre a vinda d'Aquele que nos batiza com o Espírito Santo, Aquele que nos ensina o caminho para o Pai. Em qualquer circunstância, perseveremos destemidos e cheios do Espírito Santo, com a boca amarga ou doce anunciemos sempre a expansão do Reino de Deus para a vinda de Jesus.

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