Certa vez fui questionado por um irmão, se uma pessoa que já aceitou a Jesus como seu Senhor, congrega na igreja, mas que peca e tem consciência de seu(s) pecado(s), se essa pessoa em questão, morrendo na prática desse(s) pecado(s) perde a salvação ou ainda assim é resgatado pela graça. Lhe respondi que sim, infelizmente ele perde a salvação.
Mas as coisas não são tão simples assim. É preciso que entendamos o que ensina as Escrituras sobre a salvação para que não saiamos por aí "determinando salvos e perdidos", segundo os nossos próprios conceitos.
"Uma vez salvo, salvo para sempre!"
Tenho certeza que você já ouviu essa afirmativa e sabe que inclusive ela é uma premissa teológica. Essa é uma afirmativa dos calvinistas que defendem a predestinação. Mas, então, como entender isso? Vejamos.
- Os salvos e os não salvos no Reino dos céus
Uma vez salvo, salvo para sempre? Sim, a salvação é para sempre e irreversível. Uma vez salvo, salvo para sempre pois é uma obra divina, não humana. Quando você lê passagens que dizem que é preciso fazer isto e aquilo para entrar no Reino dos céus, o Senhor não está falando do céu propriamente dito.
O Reino dos céus é a esfera em que Cristo é reconhecido como Senhor e hoje o reino (que é dos céus) está na terra, mas não ainda manifesto (como um reino cujo rei está no exílio). Ele será plenamente manifesto na vinda de Cristo para reinar, mas até então o Reino dos céus conterá uma mistura de salvos (o trigo) e perdidos (o joio que diz "Senhor, Senhor" da boca pra fora). Eles continuarão juntos no Reino dos céus até a colheita, quando o joio sera queimado e o trigo recolhido no celeiro de Deus.
Entendendo a parábola
Mateus 13:25-30 diz:
"Mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: 'Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?' Ele, porém, lhes respondeu: 'Um inimigo fez isso.' Mas os servos lhe perguntaram: 'Queres que vamos e arranquemos o joio?' 'Não!' Replicou ele, 'para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro'" (ênfases minhas).
Entendendo Hebreus 10:26,27
Você pode argumentar que Hebreus 10 estaria dizendo que é possível sim perder a salvação, pois ali diz que
"se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários" (10:26,27).
Aqui também diz que: "Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele" (Hb 10:38, ênfase minha). Mas observe que se você continuar lendo a passagem verá que o capítulo termina assim: "Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma" (Hb 10:39, ênfase minha). Portanto o texto está falando de apóstatas (falsos crentes que apenas professavam), pois ali os verdadeiros são os encontrados na frase "nós não somos dos que retrocedem para a perdição".
- Mas, está escrito ainda, que só quem perseverar até o fim será salvo
Sobre outra possível citação, "Quem perseverar até o fim será salvo", a passagem toda está falando da grande tribulação e esse "salvo" aí é no sentido de não morrer. Se continuar lendo a mesma passagem de Mt 24 encontrará isto: "Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados" (24:22) ou como diz a versão Almeida Corrigida "nenhuma carne se salvaria". Aquelas pessoas (são judeus fiéis que se converterão naquele tempo) precisarão estar vivas para entrarem no reino de mil anos de Cristo. É tudo uma questão de entendimento dos contextos.
A vida de quem acredita que será salvo ou que permanecerá salvo por esforço próprio pode pender para dois lados:
- (1) Desespero e incerteza total porque a salvação se torna uma loteria: se você pecar e não der tempo de confessar seu pecado está perdido.
- (2) Hipocrisia em tentar manter uma aparência de "crente" como faziam os fariseus.
O correto é reconhecer que não temos condições de nos salvarmos a nós mesmos e nem de nos mantermos salvos e tanto uma coisa como outra é por graça somente. É Deus quem nos salva e mantém salvos. Caso contrário chegaríamos no céu glorificando a Deus por "metade da salvação". Para a outra metade a glória será nossa.
Não queiramos crer numa salvação que nos dará alguma glória por ela (perseverar, por exemplo, que indica um esforço próprio, merecedor de um prêmio). Creiamos que tudo é de Deus e para Deus e que depois de salvo Deus nos manterá assim porque a obra é 100% dEle.
Sinceramente, eu realmente não consigo entender a razão de tanta gente querer ajudar Deus na salvação (e em outras coisas mais). Será que é por não se considerarem totalmente perdidas? Ou será que é por acharem que a obra de Cristo foi pela metade?
A salvação NÃO É caracterizada por uma mera conversão exterior
Muitos são os que olham para a salvação como uma mera conversão exterior, como a do indivíduo que levanta a mão na hora do apelo, compra uma Bíblia, vai a uma "igreja", dá ofertas, dízimos etc. e depois fica igual ou pior ao que era antes. Assim como é possível encontrarmos lobos em pele de cordeiro, qualquer porca ou cão pode vestir essa fantasia por algum tempo para depois voltar à lama ou ao próprio vômito.
O homem pode colocar uma lista de tarefas e condições para a salvação, mas o próprio Senhor assegurou que aqueles que lhe foram dados pelo Pai estão seguros eternamente na mão do Pai e na mão de Jesus. Que descanso, que certeza, que louvor podemos dedicar a Deus por tamanha salvação! E esta salvação é caracterizada pela transformação interna, pela renovação da mente e não por uma mudança de roupas ou mera e simplesmente pela obediência a uma lista de regras doutrinárias e/ou de usos e costumes. Fingir tudo isso, é muito fácil!
Existem afirmações na Palavra de Deus das quais não podemos nos esquivar. Uma é que aquele que crê em Cristo e na sua obra não passará pelo juízo final:
"Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou TEM A VIDA ETERNA, NÃO ENTRA EM JUÍZO, mas passou da morte para a vida" - João 5:24 (ênfase minha).
Outra é que aquele que crê recebe o selo do Espírito Santo, o qual vem habitar nele:
"Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, FOSTES SELADOS COM O SANTO ESPÍRITO DA PROMESSA" - Efésios 1:13 (ênfase minha).
O Espírito é a garantia (o penhor) da salvação, portanto aquele que não tem o Espírito nunca creu verdadeiramente e nem foi salvo (lhe falta o penhor ou a garantia da herança):
"O qual é O PENHOR DA NOSSA HERANÇA ["Herança"! aqui, é uma figura de linguagem da salvação], ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória" - Ef 1:14 (ênfase minha).
E mais: "Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" - Romanos 8:9 (ênfase minha).
Sendo assim, os que acham que um verdadeiro crente possa perder sua salvação não conseguirão explicar o que será feito do Espírito Santo no caso de um crente se perder, já que quando Jesus prometeu dar o Espírito ele disse que era PARA SEMPRE: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, PARA QUE FIQUE CONVOSCO PARA SEMPRE; o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará EM VÓS - Jo 14:16.17 (ênfase minha).
Mas, e quanto minha afirmação na abertura do artigo sobre a questão da perda da salvação, eu caí em contradição?
Vamos entender essa suposta contradição?
"Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore. Toda a iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte" - Jo 5:16,17 (ênfases minhas)
Quando nos somos redimidos por Cristo, saímos da natureza Adâmica (pecador) (Rm 3:23, 5:12, 5:19) e passamos a ter a natureza de Cristo (sem pecado) (Rm 8:1, 2 Coríntios 5:17). Mas continuamos sendo homens, falhos, limitados, débeis, sujeitos ao erro (Rm 7:15-21). O que muda então? Antes de sermos selados em Cristo, não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores (por natureza, por essência - Rm 5:12). Depois de sermos selados, eventualmente, pecamos por atos, pensamentos e palavras. Basta então confessarmos nossos pecados ao Senhor e abandonar o erro (1 Jo 2:1).
No entanto isso só se aplica aos pecados involuntários, ou seja, aqueles que cometemos sem intenção. Por exemplo: estou no trânsito e me irrito com outro motorista, e quando dou por mim, o ofendi ou lhe desejei mal. Ou ainda, fico com raiva de alguém porque fui mal atendido em um banco, um órgão público, ou em uma loja, ou em outra circunstância sinto ira (Ef 4:26) ou deixo de fazer o bem estando ao meu alcance (Tg 4:17), etc.
Os pecados para a morte são diferentes, são os pecados premeditados (voluntários) Por exemplo: Conheço uma mulher linda e a desejo (sendo Eu casado), a partir daí planejo uma forma de possuí-la, então vou lá concluo meu intento. Esse foi um pecado voluntário, à princípio senti o desejo (carnal), mas ao invés de abandonar o desejo, preferi amadurecer o sentimento e consumar, nesse momento passou a ser um ato voluntário. Convenhamos, quem é selado pelo Espírito não tem esse tipo de atitude. Antes, mesmo sendo tentado, ele resistirá bravamente não para que não perca a salvação, mas pela certeza de que já está salvo e aquele tipo de procedimento não é condizente com com sua nova natureza!
Dentro da Igreja há muitos líderes que levam uma vida dupla, e isso é sim motivo para perderem a salvação. Caso morram na prática do pecado voluntário, não herdarão o Reino (vindouro, a eternidade) de Deus. Aí sim, citemos: "Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários" - Hb 10:26,27 (ênfases minhas).
A graça é o favor de Deus aos homens, mas para tanto é necessário abandonar o pecado. Contudo, eu não abandono o pecado para obter a graça, que um favor imerecido, mas sim por ter alcançado a graça, eu abandono o pecado. Ou seja, eu abandonei o pecado por ter sido alcançado pela graça. A graça me alcançou mesmo quando eu ainda estava no pecado e me livrou dele (Do contrário novamente o Cristo é crucificado - Hb 6:4-6):
"Ele vos concedeu a vida, estando vós mortos nas vossas transgressões e pecados, nos quais andastes no passado, conforme o curso deste sistema mundial, de acordo com o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência (Ef 2:1,2)". E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne; vos deu vida juntamente com Ele, perdoando todos os nossos pecados (Colossenses 2:13)" - Versão King James Atualizada, ênfases minhas.
Conclusão
Em Mateus 7, lemos sobre obreiros que na autoridade que há no Nome de Cristo, fizeram obras, supostos homens de Deus, homens esses que tiveram fé para exercer o Ministério, mas não andaram conforme os ensinamentos de Cristo, foram apenas obras mortas:
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus [o vindouro, a eternidade], mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia [no dia do Juízo final pelo qual os filhos de Deus não passarão (Apocalipse 20:11-15)]: 'Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?' E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade [Ora, se Ele nunca os conheceu, estes tais nunca foram deles (João 15)]" (21-23) - ênfases minhas.
Em suma irmãos, se estivermos pecando conscientes e voluntariamente perderemos a oportunidade única da salvação caso não nos arrependamos sinceramente enquanto ainda há tempo:
"Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade [ou seja, nada a ver com a doutrina da predestinação calvinista]. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual se deu a si mesmo em resgate por todos, para servir de testemunho a seu tempo" - 1 Tm 2:3-6. "Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável E socorri-te no dia da salvação; Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação" - 2 Co 6:2 (ênfases minhas).
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