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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

ESCRITO NAS ESTRELAS - FREDDIE MERCURY



Para além do superastro do rock mundial da banda que mais vendeu discos no mundo, Freddie Mercury (✩1946/✟1991) - que estaria completando 73 anos, no último dia 05 de setembro -, é resultado de uma obstinação impressionante em buscar o que sempre projetou para si desde adolescente: ser o melhor. Pretensão? Seu legado prova que não.

De voz inigualável - que foi até fonte de estudos científicos - e de composições épicas, responsável por ter levado o Queen ao topo, ele teve que insistir muito para fazer parte da banda do baterista Roger Taylor e do guitarrista Brian May. 

Com a homossexualidade gritando desde adolescente, sem nunca ter a assumido publicamente, Freddie conseguiu perpetuar uma imagem dúbia da sua sexualidade até hoje, 28 anos após sua morte. Diz-se, frequentemente, que o amor da sua vida foi uma mulher e que ele era bissexual. Na realidade, Mary Austin - que seria a musa inspiradora de um dos grandes sucessos do Queen, a clássica canção 'Love Of My Life' -, com quem morou por seis anos, foi uma grande amiga que ele amou profundamente. Dois anos antes de terminar o relacionamento, o astro já estava namorando sério um homem.

Já no topo do sucesso, a vida privada do vocalista foi marcada por noites de excessos, regadas a muitas drogas e relações promíscuas com homens jovens e pobres, no mesmo ritmo em que produzia hits que bombavam nos quatro cantos do mundo. Viveu mil anos em 10, até que descobriu estar com Aids.

Freddie, Estrela Solitária


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Desnecessário dizer que qualquer coisa sobre Freddie Mercury dificilmente é definitiva. Muito tímido e introspectivo quando se tratava de sua vida íntima e de seus sentimentos, não deixou autobiografia e nem relatos autorais do que viveu. Estão na memória de quem conviveu com ele, de entrevistas da época e de documentários após a sua morte. 

Busca-se, agora, juntar algumas peças do quebra-cabeças de sua vida a partir da coletânea de informações já publicadas e disponíveis em biografias, entrevistas, reportagens e documentários. Como principal fonte, é válido enfatizar a biografia escrita pela jornalista britânica Lesley-Ann Jones: "Freddie Mercury – A Biografia Definitiva" (Editora BestSeller, 490 páginas), publicada pela primeira vez em 1997, seis anos após a morte do músico, e revisada em 2010, quando seria lançado o filme sobre a vida dele – o que só aconteceu em 2018 - o aclamado "Bohemian Rapsody", já escrevi sobre o filme e a canção homônima ➫ aqui e ➫ aqui, respectivamente.

No entanto, enquanto esteve vivo, era Freddie no centro e os demais gravitando à sua volta. E assim continua, mesmo com ele morto. O mundo do rock sempre foi essencialmente heterossexual. Ter uma banda de rock com um vocalista gay era uma ousadia e tanto. E ainda mais alguém tão "espalhafatoso", nas próprias palavras de Brian, e afetado, como Freddie já era nessa época.

Estamos falando do início da década de 1970. Na Inglaterra, por exemplo, o relacionamento entre dois homens só passou a ser legal em 1967, três anos antes da criação do Queen. Na Escócia, só em 1980. Se hoje ainda há tanto preconceito com gays, imagine, na época, para uma banda de rock sonhando com o sucesso. E esse foi o principal motivo pelo qual Freddie nunca assumiu sua orientação sexual abertamente. O outro motivo foi sua família.


A trajetória

Simple the best


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Imagem do emblemático clipe  'I Want To Break Free', de 1984

Ainda criança pequena, Farokh Bulsara já era requisitado para cantar nas festas da família. Segundo sua mãe e um tio, ele gostava de estilos variados, especialmente de música ocidental. Esse ecletismo se materializou na diversificada produção musical do Queen. E uma lembrança da mãe sintetiza o que ele sempre procurou fazer à frente da banda inglesa, daí a fama amealhada de fazer os melhores shows do mundo. 
"Ele se sentia orgulhoso por fazer as pessoas felizes"
conta Jer Bulsara, em relação às cantorias do filho, no documentário sobre o vocalista do Queen.

Desde que chegou a Londres em 1964, aos 18 anos, ele foi caçando seu espaço na música, enquanto desenvolvia seu estilo único de se vestir e de se comportar. Não foi fácil, nem rápido, o caminho até o estouro mundial. Mas felicíssimo por estar em Londres, repetia para mãe e para os amigos quase todos os dias que seria uma grande estrela. 
"Não posso ser o segundo melhor. Preferiria desistir"
disse Freddie, anos depois, no auge do sucesso, à jornalista Lesley-Ann Jones.

Somente em 1966, aos 20 anos, ele retornou aos estudos e conseguiu fazer a faculdade de ilustração e design gráfico. Formou-se em 1969, aos 23 anos. A ideia era trabalhar como ilustrador. Enquanto estudava, fez bicos num depósito de contêineres do parque industrial de Feltham e no setor de catering do aeroporto de Heathrow (cena inicial do filme "Bohemian Rapsody"). Ali, sofreu mais bullying por causa de seu jeito afetado e sua aparência indiana. Após se formar, chegou a trabalhar com design, inclusive de roupas. Mas logo ficou entediado e quis se dedicar somente à música.

Foi ainda na faculdade de artes que conheceu Tim Staffell, onde viviam cantando juntos nos intervalos das aulas. Quando a banda Smile foi criada, em 1967, por Tim (vocalista e baixista) e Brian, Freddie, com 21 anos, já era amigo dos dois. Mas eles chamaram um outro colega da faculdade de artes, Cris Smith, para ser o tecladista. Roger Taylor candidatou-se a baterista do grupo. O próprio Freddie contou em entrevista que a criação do Queen foi concebida quando ele ainda estava na faculdade, inspirado pelo grupo Smile.

Nesse período, o futuro vocalista do Queen saía todas as noites. E passou a dormir na casa de amigos, vivendo que nem cigano, segundo relato de Brian. Era figurinha carimbada do descolado Kensington Market e do badalado empório Biba (lojas de roupas, onde conheceu Mary Austin), segundo consta na biografia escrita por Lesly-Ann Jones. 
"Freddie comportava-se como uma estrela. Vestia-se sempre impecavelmente e de forma ousada. Andava com pompom no fim de uma fita batendo nas pessoas [há uma foto dele de pompom na net]. Era um personagem local", 
relembra Brian May. Segundo o guitarrista,
"percebia-se nessa época que era muito tímido e se embrulhava num personagem, o que já sinalizava que se tornaria algo grande. Era tratado como uma estrela. E não era".
Freddie também queria ter de volta a vida confortável de criança, numa casa grande e com empregados domésticos, perdida quando seu pai foi obrigado a trocar seu bom emprego de funcionário do governo do Reino Unido pelo de caixa de uma empresa privada no subúrbio de Londres. Os colegas do Smile, com os quais dividia apartamento, reclamavam que ele deixava de botar comida dentro de casa para andar de táxi e não de ônibus.

Enquanto o Smile nascia e fazia abertura de shows de astros, como Jimi Hendrix (1942/1970), Freddie participava de algumas bandas amadoras. A melhorzinha foi o Ibex. Um relato de John Taylor, do Ibex, revela muito daquele período de Freddie e do seu futuro de astro do rock: 
"Era extravagante e chamado de 'old queen' [bicha velha], mas só em privado".
O estilo de tocar e de se vestir de Freddie foi inspirado nos ídolos Little Richard, que tocava teclado de pé, e Jimi Hendrix, com seu jeito arrebatador no palco (o roqueiro americano ainda tocava guitarra de cabeça para baixo, com os dentes, pelas costas...) e suas roupas extravagantes, muito floridas e de cores fortes. Ele vivia dizendo que queria ser como Hendrix. O gosto do astro do Queen pelas camisas estampadas durou até o fim da vida.

Segundo o ex-colega do Ibex, o modo peculiar com que Freddie segurava o microfone, com a punha do lado, nasceu na época da banda. 
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"O equipamento não era muito bom, e Freddie balançava o microfone. Um dia, a base soltou e ele não conseguiu colocar de novo. Ninguém tinha produtores de digressão. Como ninguém colocou no lugar, ele se pavoneou pelo palco e tirou partido daquilo"
contou John Taylor no documentário.
"Ele fazia o mesmo tipo de apresentação que viria a exibir no auge da carreira. Já era astro antes de ser astro. Desfilava pelo palco como um pavão orgulhoso"
relembrou Ken Testi, outro membro do Ibex. Ou seja, Freddie nem sabia, mas o Queen (e seu megassucesso) já estava sendo gestado ali. John Taylor é testemunha da obstinação do astro: 
"Tinha uma fé inabalável de que seria bem-sucedido, queria ser o maior e o melhor de todos".
Porém, era do Smile que Freddie gostava mesmo, por causa do estilo do som, com o qual se identificava. A música 'Step On Me', do Smile, tem a gênese do som do Queen na década de 1970. Ele passou a acompanhar os amigos em turnês e começou a dar dicas de como deveriam agir como artistas. Contou o vocalista em entrevista: 
"Eu dizia ao Brian e ao Roger: por que estão perdendo tempo com isso? Vocês devem fazer mais material original. Vocês têm que ser mais efusivos na forma de apresentar a música. Se eu fosse o cantor, faria isso".
O curioso é que, mesmo depois, com Freddie à frente do Queen, os outros três integrantes continuavam bem devagar nos palcos. Mas a "old queen" valia por todos. Nessa fase, Freddie já demonstrava estar muito acima do seu tempo em termos de oferecer entretenimento de qualidade ao público, tanto que foi o Queen com as ideias do astro que inaugurou a era dos videoclipes e proporcionou o surgimento da MTV.

No entanto, ainda de escanteio, ele reeditou o Ibex como Wreckage, mas não ficou satisfeito com o som da rapaziada e desistiu de novo. Enquanto continuava assistindo a Brian e Taylor procurarem um vocalista sem cogitá-lo, Freddie, com 24 anos, se candidatou a um teste na banda Sour Milk Sea, com integrantes na faixa de 18 anos. Foi escolhido e fez alguns shows, atraindo toda a atenção para si. 
"Conseguiu ter total controle sobre o público apenas com seu jeito de se apresentar. Era muito cheio de pose, afetado e vaidoso"
descreveu-o um dos integrantes à jornalista Lesley-Ann Jones. Ficou nítido que Freddie sabia fazer show, mas quis tomar as rédeas da banda e do som. Os demais não gostaram, e a banda acabou.

Enquanto isso, Brian e Taylor ainda buscavam um vocalista para o Smile. Depois de várias tentativas para selecionar a voz da banda, que já estava morrendo pela inatividade, finalmente, os dois aceitaram Freddie Bulsara. Era o primeiro semestre de 1970.

O futuro líder do grupo já chegou cheio de ideias e mudando o nome da banda. Faltava acharem o baixista adequado, o que aconteceu somente quase um ano depois, em fevereiro de 1971 – John Deacon. A personalidade discretíssima do novo baixista era a ideal para a banda com três membros que se achavam. E assim seguiram juntos até a morte de Freddie, 15 anos depois.

O apogeu de um astro

Rainha ou rei?


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O sucesso mundial veio só perto dos 30 anos Quando roubou o show no palco do famoso concerto Live Aid, em 13 de julho de 1985, Freddie Mercury já tinha 40 anos. Ele vinha de uma década de sucesso absoluto à frente do Queen. Embora já sinalizasse o enorme talento musical desde a infância, a fama mundial e a riqueza chegaram somente quando ele já estava na casa dos 30 anos, com o lançamento do álbum "A Night At The Opera", em 1976, que continha o megassucesso 'Bohemian Rhapsody' – o single foi lançado em novembro de 1975.
Tim Stafell, foi o vocalista que deixou a banda Smile, o embrião do Queen, e que abriu caminho para Freddie. O curioso é que a efetivação de Freddie como vocalista da então banda de Brian e Taylor não foi de imediato. O guitarrista e o baterista não o aceitaram de pronto para fazer parte da banda, apesar de seus inúmeros pedidos. 

Nem de longe Freddie era visto como um integrante do Smile, que chegou a assinar um contrato para fazer um LP. O astro venceu pela insistência. Isso consta na biografia de Lesley-Ann Jones e de relatos do próprio Brian em entrevista para um dos documentários da vida do vocalista. E o motivo, embora nunca dito abertamente, era a orientação sexual de Freddie.

Good save the Queen 


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Cena do clipe 'Radio Ga-Ga', de 1984

Mercury custou para entrar, mas tomou as rédeas da banda. Alguém imagina Freddie emplacando o nome da banda como Queen (rainha, em inglês, mas também definição de gay), como ele era chamado no Ibex? Rendidos à figura claramente "queen" de Freddie, Brian e Taylor acabaram achando prático adotar aquele nome, pois serviria como válvula de escape para o jeito afetado do vocalista, considerando que os dois eram altamente "pegadores" de mulheres.

Eles queriam fazer sucesso e não estavam conseguindo até então. Por que não tentar com Freddie Bulsara? O fato é que demorou, mas Freddie venceu, porque ainda fez a banda à sua imagem e semelhança. Ponto. Criou a famosa logomarca da banda e adotou o sobrenome Mercury em vez de Bulsara, inspirado na frase de uma música que ele próprio compôs.

Curiosamente, nos primeiros três anos juntos, a parceria não deslanchou. Faziam shows em universidades, em um ou outro evento, mas nada de evoluir. 
"Chegou uma hora, dois ou três anos depois de começarmos, que quase desfizemos a banda"
chegou a admitir Freddie. Mesmo assim recusaram propostas de gravadoras pequenas. 
"No fundo, a gente se achava o máximo"
afirmou Brian em entrevista mais tarde. 
"Queríamos ser os melhores. Não nos contentaríamos com menos"
contou Freddie.

Em novembro de 1972, a banda fechou um contrato desvantajoso com o estúdio Trident, considerado o melhor do mundo. Assim, conseguiu lançar o primeiro disco, em julho de 1973 – "Queen" – aproveitando basicamente as instalações do estúdio fora do horário comercial ou as horas vagas deixadas pelos cantores David Bowie (1946/2016) e Elton John. O single com a música 'Keep Yourself Alive' não emplacou nas rádios. O álbum teve mais sorte e até fisgou um disco de ouro. Freddie completara 27 anos.

O segundo álbum foi gravado logo em seguida – "Queen II" – e a banda saiu em turnê pelos EUA para fazer o show de abertura do grupo Mott The Hoople. Começou como coadjuvante e encerrou a turnê como principal atração. Enquanto o público começava a aparecer, os críticos musicais ainda mantinham o ceticismo em relação aos quatro rapazes. No Reino Unido, a banda começava a ocupar espaço, e o LP "Queen II" chegou em sétimo lugar nas vendagens. Mas ainda estava longe de agradar ao principal mercado, os EUA, que os catapultariam para o mundo.

Em outubro de 1974, começou a grande virada com o lançamento do terceiro single, 'Killer Queen', que estaria no álbum "Sheer Heart Attack", considerado um dos melhores da banda. 
"Era a canção que melhor representava nosso estilo musical, precisávamos desesperadamente que fizesse sucesso. Não tínhamos um centavo"
relembrou Brian. A música já foi direto para a segunda posição do ranking. O sucesso de "Sheer Heart Attack" alavancou a venda dos dois primeiros discos. E, assim, o Queen estourou na Europa e no Japão.

Como o sucesso estava chegando, mas o dinheiro não, o Queen resolveu romper o contrato com o estúdio Trident, o único a lucrar até então com o trabalho dos rapazes. É nesse momento que entra em cena o advogado Henry James "Jim" Beach (que aparece no filme "Bohemian Rhapsody") para livrar a banda das amarras do estúdio. Não foi barato. Principalmente por que não tinham um centavo. Tiveram de pagar, de uma vez, 100 mil libras e 1% dos royalties dos próximos seis álbuns. Foi Reid quem conseguiu a grana, por meio de adiantamento da gravadora EMI Odeon, para pagar o Trident.

Foi com esse novo fôlego, sonhando com a conta milionária, que a banda se reuniu numa casa alugada em Hereforshire e compôs o álbum "A Night At The Opera" e a lendária canção 'Bohemian Rhapsody'.

Também foi nessa época que Freddie se aproximou de Elton John, por intermédio do empresário em comum, John Reid, indicado ao Queen por David Croker, executivo da gravadora EMI Odeon. Após ver Freddie no palco, Reid comentou com o colega: 
"Ele é gay, não é?" 
E Croker respondeu: 
"Oh, não, não, ele vive com uma menina, Mary Austin". 
E Reid não se fez de rogado: 
"Bem, isso não é incomum, mas você sabe, ele é gay!".
Durante um jantar apenas com Freddie, Reid teria comentado que era homossexual e que esperava que aquilo não fizesse diferença na relação comercial com a banda. Segundo seu relato, na biografia escrita por Matt Richards e Mark Langthorne, o vocalista respondeu, deixando o garfo e a faca se soltarem da sua mão: 
"Eu também, querido".
Consta que Elton John confidenciou a Reid que o single de seis minutos de 'Bohemian Rhapsody' seria um fracasso. A música estourou já no topo das paradas de sucesso de quase todo o mundo, os rapazes ficaram ricos e nasceu a lenda. É o terceiro single de maior vendagem da história do Reino Unido, segundo levantamento divulgado em 2012, só ficando atrás de 'Something About The Way You Look Tonight/Candle In The Wind', de Elton John, lançado por ocasião da morte da princesa Diana, em 1997, e de 'Do They Know It's Christmas?' Essa última é, justamente, a canção lançada no Natal de 1984, em prol dos famintos da África, por diversos músicos conhecidos, de cuja gravação o Queen foi preterido por ter rompido o boicote cultural da ONU e ter feito turnê naquele ano na África do Sul, que estava sob o regime do Apartheid.

Não à toa, a banda se preparou e ensaiou durante uma semana para arrebentar meses depois no histórico Live Aid, no estádio de Wembley, em 13 de julho de 1985. O show de 20 minutos no fim da tarde arrebatou o público de 74 mil pessoas presente no estádio, como nenhuma outra banda ou músico conseguiu fazer naquele dia – foram dois megaconcertos (um em Londres e outro na Filadélfia, nos EUA), que reuniram mais de 20 atrações. Às 21h48, Freddie e Brian voltaram ao palco de Wembley e tocaram 'Is This The World We Created?'. 
"Foi o palco perfeito para Freddie: o mundo inteiro"
disse mais tarde Bob Gueldof, idealizador dos concertos.

A maior criação de Freddie, "A Night At The Opera", foi lançada em 21 de novembro de 1975. Logo em seguida, a banda saiu em breve turnê pelo Reino Unido. Em três dias, o álbum, que também tem a canção 'Love Of My Life', já era disco de platina, com 250 mil cópias vendidas. No cobiçado mercado americano, ficou no topo por 56 semanas. Foram vários prêmios recebidos. Com 'Bohemian Rhapsody', o Queen também inaugurou a era dos videoclipes conceituais e a das festas de arromba depois dos shows, sempre com muitas garçonetes e garçons, quase que pelados, e artistas performáticos.

Na época do lançamento de 'Bohemian Rhapsody', Freddie pintava de preto as unhas da mão e continuava afetadíssimo, com o meu querido pra cá, meus amores pra lá. E morava com Mary Austin há cinco anos.

No final de 1976, o Queen lançou seu quinto álbum, "A Day At The Races", que trouxe o sucesso 'Somebody To Love'. Com dinheiro e farra jorrando (essa já há mais tempo), Freddie precisava de alforria na consciência, pois ainda morava com Mary Austin. Desde 1974, durante as turnês, as aventuras homossexuais de Freddie já estavam dando o que falar entre os mais chegados. O ano de 1975 ainda não tinha terminado quando o vocalista do Queen passou a sair com um executivo da gravadora Elektra Records, David Minns.

A despeito do guitarrista Brian May e do baterista Roger Taylor terem aguçado tino comercial para exploração da marca Queen até hoje, a alma da banda era, e continua sendo, Freddie Mercury. O quarto integrante era o baixista John Deacon, último a integrar o quarteto, sempre muito discreto, inclusive no palco, e que resolveu sair de cena definitivamente em 1997.

Com Roger e Brian ativos até hoje à frente da marca e da empresa Queen, os dois são sempre muito elogiados e poupados nas biografias e documentários, até por que estão sempre entre as principais fontes dessas informações sobre a banda e Freddie. Sem a voz, as composições e o frontman, que era Freddie, o Queen jamais chegaria perto do que se tornou. Rende milhões de dólares aos integrantes da banda até hoje em royalties. Embora não haja dados divulgados oficialmente. Até a morte de Freddie, foram vendidos 150 milhões de LPs e singles. Após a partida dele, mais outros estimados 150 milhões. Após o filme "Bohemian Rhapsody", esses números já devem ter mudado novamente.

Carreira solo


Mas a história também mostra que o vocalista sem os companheiros não teria chegado aonde chegou. Seus dois voos solos, já no auge da idolatria do público, renderam discos que não fizeram o mesmo sucesso – na realidade, só o segundo "The Great Pretender", de 1987, já com os rumores de que estava com Aids, chegou ao quarto lugar no Reino Unido. 

O primeiro, "Mr. Bad Guy", de 1984, vendeu apenas 160 mil cópias. Ainda que a obra-prima que os despontou para o sucesso mundial tenha sido toda composta e pensada por Freddie, a eterna 'Bohemian Rhapsody', os companheiros também são responsáveis pela composição de sucessos estrondosos, como 'Another One Bites The Dust' e 'I Want To Break Free' (ambas de John Deacon), 'We Will Rock You' e 'Hammer To Fall' (de Brian May) e 'Radio Ga Ga' e 'It's a Kind Of Magic' (de Roger Taylor).

Na carreira solo de Freddie, vale destaque também para o último disco, lançado em parceria com a soprano Montserrat Caballé (✩1934/✟2016) - "Barcelona", de 1988, que tem o hit 'How Can I Go On', canção por aqui imortalizada como o tema da rainha Valentine, personagem memorável da atriz Tereza Rachel (✩1942/✟1970), na excelente novela "Que Rei Sou Eu?", exibida pela Rede Globo, na faixa das 19 horas, em 1989. 

A descoberta da Aids

A luta contra a doença

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Ninguém soube o que se passou na cabeça do Freddie diante da doença fatal, a não ser Mary, a única com quem se abria e a primeira a quem contou que estava com Aids. Aos colegas de banda comunicou em janeiro de 1988, segundo rememorou Brian: 
"Vocês provavelmente já sabem qual é o meu problema, a minha doença. Não quero que os outros saibam, não quero falar a respeito, só quero tocar a minha vida e trabalhar até não ter mais forças".
O vocalista decidiu tentar parar a doença, renunciando à vida desvairada e desregrada de antes e se cuidando melhor. Cortou as drogas, diminuiu o álcool e passou a se alimentar de forma mais saudável. Nitidamente, ele estava mais fortinho em 1986, por ocasião dos últimos shows, e principalmente em 1987, quando lançou o disco solo "The Great Pretender", que chegou ao quarto lugar nas paradas de sucesso de Londres, e na comemoração de seus 41 anos, em Ibiza, na Espanha. Mas a doença já se manifestava. Ainda em 1987, ele desenvolveu a ferida na planta de um dos pés que nunca mais o deixou.

Por ironia, a descoberta de que era soropositivo ocorreu poucos meses depois do estrondoso sucesso no concerto Live Aid, em 13 de julho de 1986, que injetou novo gás num Queen prestes a se separar, conforme os fortes rumores na imprensa e nos bastidores do espetáculo. A repercussão retumbante do que foi considerada a melhor apresentação de uma banda de rock (até hoje) a levaria de volta ao estúdio e às turnês. Em maio de 1986, o Queen lançou outro álbum, "A Kind Of Magic", trilha sonora do filme "Highlander", com enorme sucesso em todo o mundo, exceto nos Estados Unidos. A banda saiu em turnê pela Europa. Foram os últimos shows ao vivo do Queen.

Nessas viagens, já havia um Freddie sem vontade de varar madrugadas em boates gays como antes, com os dois grupos da banda (dos homos e dos héteros) voltando a se hospedar no mesmo hotel, segundo a biógrafa Lesley-Ann Jones. Dois meses depois do último show da banda num estádio, ocorrido em 9 de agosto de 1986, Paul Prenter abriu a boca para o tabloide inglês News Of The World, contando as farras de Freddie com vários homens e drogas, incluindo noitadas regadas a cocaína com David Bowie e Rod Stewart.

O jornal publicou uma galeria de fotos de ex-casos do astro com o título "All the Queen's men" – "Todos os homens do Queen". A entrevista foi "picada" e publicada por vários dias seguidos, com uma revelação a cada reportagem. As notícias foram reproduzidas também pelo The Sun, do mesmo grupo de comunicação.

O momento não podia ser pior para o astro, conforme relatou a jornalista Lesley-Ann Jones. Já tinham sido registrados 264 casos de Aids no Reino Unido - dentre eles, as mortes de vários parceiros sexuais e casos de Freddie. A doença foi classificada como a maior ameaça à saúde da população britânica desde a Segunda Guerra Mundial. Os gays passaram a ser fortemente discriminados nas ruas, nos hotéis, no trabalho. 

As pessoas evitavam cumprimentar homossexuais e, até, usar os mesmos copos e talheres, temendo erroneamente a contaminação. Uma lei aprovada no Reino Unido previu a concessão de ordens judiciais determinando a internação hospitalar de soropositivos imediatamente, retirando-os de circulação.

A verdade nunca dita aos pais


Apesar da vida de orgias homossexuais ter sido escrachada na imprensa, Freddie nada disse aos seus pais e à sua irmã. Nada foi perguntado. Em fevereiro de 1987, o vocalista lançou o single 'The Great Pretender' – 'O grande fingidor'. Em sua última entrevista, no final daquele ano, Freddie disse que a música (que não é de sua autoria) era um resumo de sua carreira. Diz a letra: 
"Oh yes, I'm the great pretender; pretending I'm doing well. My need is such I pretend too much, I'm lonely but no one can tell ("Sim, eu sou o grande fingidor; fingindo que estou bem. Minha necessidade é tanta que eu finjo muito, estou sozinho, mas ninguém percebe")". 
Ele ainda gravaria o single 'Barcelona', também com a soprano espanhola Montserrat Caballé, que virou tema das Olimpíadas de 1992, na Espanha. Em janeiro de 1989, a banda concluiu o álbum "The Miracle", que foi bem aceito pelo público.

Já muito debilitado, a banda gravou o álbum "Innuendo", no final de 1990. O single de mesmo nome saiu em janeiro de 1991. Depois de 10 anos, era a primeira canção do Queen a liderar a parada britânica. "Innuendo" foi feito basicamente num período de sobrevida, pois Freddie 
"não estava nada bem"
contou depois Roger Taylor.

No videoclipe de 'I'm Going Slightly Mad'
o vocalista aparece fantasiado de Lord Byron, o que ajuda a disfarçar sua magreza e abatimento. Já no vídeo da gravação de 'There Are The Days Of Our Lifes',
Making off do clipe de 'There Are The Days Of Our Lifes', o último gravado por Freddie Mercury

Freddie não esconde muito sua condição física. Seu rosto recebeu camadas e camadas de base e pó faciais para tapar as manchas na pele provocadas pelo câncer de pele (sarcoma de Kaposi). O making off mostra o cantor visivelmente magro, debilitado e mancando, com dificuldade de andar por causa da ferida na sola do pé. Ainda assim, Freddie gravou a música. Contudo, é um canto triste.

O vocalista nunca contou aos pais que estava com Aids. Nem que era homossexual, pois acreditava que eles não aceitariam. Ele costumava visitar os pais quando estava em Londres, que continuaram morando na mesma casa num condomínio de Feltham, a mesma desde quando chegaram a Londres, ainda que o astro tenha oferecido outro imóvel maior e melhor. Porém, os encontros não eram frequentes.

A irmã Kashmira, seu marido, Roger, e os dois filhos iam a Garden Lodge sempre no aniversário das crianças, na Páscoa ou no Natal. 
"Somente íamos a reuniões de família"
declarou o cunhado em entrevista em 2000 ao jornal The Mail on Sunday, afirmando nunca terem ido às festas do Queen. Freddie deu uma festa para comemorar o aniversário de casamento dos pais em 1980, mas nenhum dos seus amigos ou funcionários gays foram convidados. Apenas Mary que, segundo Peter Freestone, compareceu deslumbrante num vestido escarlate, feito por um estilista famoso, que o vocalista comprou especialmente para a ocasião.

Em entrevista ao jornal The Times, em 2006, a mãe, Jer Bulsara, comentou que a sociedade era diferente nos anos 80, mas que agora 
"é tudo muito aberto"
numa clara demonstração de que teria aceitado a condição do filho com o passar do tempo. 
"Ele não queria nos magoar"
disse ela.

Naqueles anos 80, além de a relação entre dois homens ser condenada, os gays ainda sofriam discriminação feroz por causa da proliferação da Aids, embora tanto homens heterossexuais e mulheres estivessem igualmente entre os grupos de risco.

Conclusão

A partida - Apaga-se a estrela, sem, contudo, perder-se o brilho


Em agosto de 1991, Freddie chamou a irmã e o cunhado numa tarde e contou para eles. 
"Estávamos no quarto dele, tomando café quando, de repente, ele disse: 'você precisa entender minha querida Kash, que o meu caso é terminal. Eu vou morrer'. Depois disso não tocamos mais no assunto"
contou, mais tarde, o cunhado à jornalista Lesley-Ann Jones. Seu último aniversário, em 5 de setembro, foi comemorando em Garden Lodge, com poucos amigos e um Freddie bem quieto e abatido, segundo relato de Jim Hutton. Seus dias estavam contados e ele sabia disso. Em outubro, o Queen lançou o emblemático single 'The Show Must Go On' – 'O show deve continuar'.
Uma semana e meia antes de morrer, já não conseguindo mais compor e cantar – estava perdendo a visão e já não conseguia se levantar da cama –, Freddie decidiu que não tomaria mais a medicação para combater a Aids. A partir daí passou a receber apenas doses de analgésicos para suportar as dores intensas. No domingo anterior à sua morte, Freddie recebeu a visita dos pais, que estavam acompanhados da irmã e sua família, segundo consta no livro escrito por Peter Freestone, seu assistente pessoal.

Eles iriam visitá-lo novamente no sábado, dia 23. Mas o filho de Zanzibar não quis mais vê-los. Estava muito mal. Nesse dia, a assessoria de imprensa do astro divulgou o comunicado à imprensa feito em conjunto com o empresário John Beach, anunciando que ele estava com Aids.

Para a mídia, obviamente, não foi surpresa. Nas poucas aparições públicas nos últimos dois anos antes da morte, Freddie estava extremamente magro e com as feições físicas de quem estava gravemente doente. O jornalista inglês Jonathan King disse na época da morte: 
"Todo mundo suspeitava há muito tempo, mas esperávamos que os rumores não fossem verdadeiros".
Mary, grávida de sete meses do segundo filho, ia todo dia à Garden Lodge ver o amigo. Naquele final de tarde de 24 de novembro de 1991 não foi diferente, segundo reportagem do jornal The Sun. No exato momento em que Freddie morreu, por volta de 19h, estavam cuidando dele o amigo Dave Clark, o assistente pessoal Peter Freestone e Jim Hutton, seu companheiro. O médico tinha acabado de deixar Garden Lodge e foi chamado de volta ainda no portão.

A morte


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Freddie Mercury e o companheiro Jim Hutton

Quando ele ia dar o suspiro final, por ter tido uma crise de respiração devido à pneumonia, Jim foi atrás de Peter. Há relatos de que Clark teria saído por um instante do quarto para o maior astro do rock partir em paz.

Mary, a única com quem ele se abria e conversava sobre a doença, disse em entrevista após a sua morte: 
"Ele tinha um sofrimento terrível, sofrimento mental e emocional, além de físico, especialmente nos últimos dias". 
Na última visita que recebeu dos pais, o vocalista do Queen ficou conversando com eles por mais de duas horas, num esforço hercúleo.

Em entrevista ao jornalista do Daily Mail, David Wigg, amigo antigo de Freddie, Mary Austin contou que, enquanto perdia a saúde, Freddie assistia às gravações de suas performances nos palcos. 
"Em uma ocasião, ele se virou e disse com tristeza: 'Pensar que eu costumava ser tão bonito'". 
Ela teve que sair do quarto. 
"Foi muito perturbador. Nós não podíamos ficar emocionados perto dele. Foi difícil. Sabia que se ficasse sentada, estaria em prantos. Quando voltei, sentei-me como se nada tivesse acontecido."
Poucos dias antes de morrer, Freddie incumbiu Mary de enterrar suas cinzas sem que ninguém soubesse o local. Segundo o jornalista David Wigg, isso teria ocorrido dois anos depois da morte do astro. Os pais foram chamados para uma pequena cerimônia religiosa de despedida. Além de Mary, ninguém sabe onde foram enterradas as cinzas, nem mesmo os pais de Freddie. Se é que elas saíram de Garden Lodge. 
"Eu nunca traí o Freddie durante sua vida. E eu nunca vou traí-lo agora"
disse Mary, que também se tornou a herdeira de Freddie, em entrevista ao Daily Mail, em 2013.

A maior voz do rock mundial sofreu horrores com a doença, mas não pediu compaixão de ninguém em momento algum. Dizia que a doença era um problema dele e, por isso, evitava expor o tanto que sofria.

Freddie Mercury foi quem quis ser desde criança, mesmo depois de morto. Apesar da enorme provação no final, como todas as estrelas que morrem jovens, ele partiu cedo, virou mito e passou a viver para sempre, por isso seu nome está escrito nas estrelas em meio às quais ele próprio fulgura.

[Fonte: Metrópole - extraído da matéria original: "Freddie Mercury: vida e carreira de uma das grandes estrelas do rock", publicada em 24/02/2018, por Ana d'Ângelo]

A Deus, toda glória. 
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