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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

ATUALIDADE - CASO MC GUI E O PERIGO DO CYBERBULLYING

Foto: Reprodução Instagram 

O assunto que está mais bombando nas redes/mídias sociais nessa semana - já assumiu a liderança dos traiding topics (tópicos em tendência) - é o episódio polêmico envolvendo o funkeiro paulistano MC Gui.

MC* quem?


O jovem artista de 21 anos, cujo nome é ‎Guilherme Kaue Castanheira, ficou conhecido ainda criança, aos doze anos, quando ele e o irmão por brincadeira faziam letras do chamado funk ostentação. Seu reconhecimento nacional aconteceu quando lançou a música "Ela Quer" e em 2013 lançou o clipe da música "O Bonde Passou", que na plataforma de vídeos YouTube, já tem mais de 8.000.000 views (visualizações). 
  • *MC = Mestre de Cerimônia, é a sigla adotada pelos cantores de funk.
À partir daí, com a participação em diversos programas de televisão, como Domingão do Faustão, Altas Horas, Caldeirão do Huck (Rede Globo); A Hora do Faro, Dancing Brasil (Record TV); Programa do Ratinho, Programa Raul Gil, Domingo Legal, Programa da Eliana, The Noite (SBT); Super Pop e Sensacional (Rede TV!), MC Gui passou a ser um dos jovens artistas mais conhecidos do grande público e se tornou um dos grandes fenômenos da internet. 

Nas redes sociais, seu perfil no Instagram tem quase 8 milhões de seguidores. Seus shows costumam ficar lotados por fãs, na maioria crianças e adolescentes. Tudo isso prova a grande popularidade de MC Gui aqui no Brasil. Os stories (históricos) do cantor bombam feito hit de verão. Eles são reproduzidos no Twitter e arquivados em perfis do YouTube. Parecem instantâneos, bobinhos, mas só parecem. Aqueles que caem na telinha das celebridades ganham mais que cinco segundos de fama – e eles podem se tornar terrivelmente constrangedores. 

A polêmica 

Deu ruim! 


Caso você não tenha conseguido acompanhar a história - o que acho pouco provável, dada a repercussão -, leia abaixo um resumo dos fatos até o momento. Tudo começou quando o funkeiro publicou um vídeo em seu Instagram. Curtindo férias em Orlando, na Disney, o cantor estava ao lado da namorada e de amigos em um dos trens que levam aos parques, quando começou a filmar uma menina, enquanto ri. 

A reação na web foi quase imediata, com o cantor sendo acusado de humilhar a criança. 
"Eu realmente já fui zoado por alguns amigos e, mano, estão postando em sites de fofocas dizendo que eu estava fazendo bullying com a criança, e eu fiquei impressionado. 
Porque aqui nos Estados Unidos, eu vejo pessoas que são iguais aos personagens que estão nos filmes... a internet está muito chata", 
ele tentou explicar, mostrando uma imagem da menina Boo, personagem Disney da franquia de filmes "Monstros S/A". 

Repercussão 


A atitude de MC Gui foi criticada nas redes sociais, com muitos internautas dizendo que o funkeiro praticou bullying contra a garotinha. Embora ainda não tenha sido confirmado, alguns sites estão dizendo que ela está se recuperando de um tratamento contra o câncer.  

Famosos também entraram na discussão. 
"...Você é ridículo..."
disparou a também funkeira Jojo Todynho. Outros famosos como a atriz Bruna Marquezine e o apresentador Marcos Mion, também criticaram a atitude do funkeiro. 

Show cancelado 


A repercussão negativa do episódio também tem feito o cantor ter prejuízos profissionais. Por meio de um comunicado no Facebook, o CNA de Três Lagoas (MS) informou que cancelou um show que o funkeiro faria em um evento de Halloween da escola de idiomas, no dia 31 de outubro. 
"Reforçamos que Ética e respeito fazem parte dos valores da nossa empresa e qualquer situação que vá contra nossos princípios em nenhuma hipótese é aceita"
afirma o texto. Além disso, MC Gui ainda perdeu uma parceria com a loja Black Nine, que informou que não comercializará mais produtos da marca do cantor após o episódio e uma outra escola no interior de Minas, também cancelou um show com o artista que estava agendado para o próximo final de semana.

Tentativa de desculpas

Quando a emenda sai pior que o soneto 


Depois de toda a repercussão negativa do caso, a mãe do cantor entrou em cena, e por meio do Instagram pediu desculpas em nome do filho. 
"Em nome da família e do meu filho, MC Gui, peço desculpas por tudo"
escreveu ela. 

Também em seu Instagram, a mãe de MC Gui fez um apelo para seus seguidores para ajudar a encontrar a menina: 
"Estamos aqui pedindo quem possa nos ajudar a encontrar essa garota, que não sabemos se o nome dela é Jully, nem sabemos de que país ela é, mas queremos muito poder reparar esse erro, e quem puder nos ajudar, por favor"
escreveu ela. 

O cantor também publicou mais um vídeo em sua rede social tentando se explicar e dizendo que a repercussão é "injusta". 
"Em momento algum pensei em fazer isso pra atacar alguém ou fazer bullying, principalmente com uma criança, que é algo mais forte que sempre tive na minha carreira, se hoje eu tô aqui é por esse público teen. 
Se realmente ela se sentiu constrangida, eu iria na hora pedir desculpa, não iria postar, não iria estar dando risada de algo que achei engraçado e a pessoa não"
disse ele. 

Mas ainda que o fã-clube de MC Gui não tenha se abalado e saído em defesa do funkeiro, as justificativas parecem ter surtido pouco - ou nenhum - efeito, pois hashtags como #McGuiBabaca ainda eram as mais comentadas no Twitter. 

Ou seja, as justificativas de MC Gui e seus pais colaram?Claro que não. Tanto que, pouco depois, Gui gravou um novo vídeo sobre o caso. Ele se explicou novamente. Pediu desculpas. Mas ficou feio porque o vídeo que deflagrou a polêmica pode ser encontrado no YouTube e a zombaria seguirá registrada para quem quiser clicar, curtir e compartilhar, sabe-se lá até quando. 

A lição da vez é velha, mas ainda útil: numa rede que parece muito íntima, vídeos de "brincadeirinhas" podem se tornar públicos – e, por isso, perigosos. O caso repercutiu nas redes sociais e rendeu ao menos uma consequência positiva: uma campanha para que a menina ganhe um "dia de princesa" na Disney. 

O bullying na era digital: exagero ou um mal da sociedade contemporânea? 


Exageros à parte – há sempre excessos nas reações explosivas da plateia das timelines (linhas do tempo) -, o alerta veio a calhar: celebridades são, sim, responsáveis pelo conteúdo que divulgam na internet - que, ao contrário do que muitos pensam, não é terra de ninguém -, principalmente quando têm o controle de vitrines superpopulares. O próprio Gui parece ter percebido o estrago (que pode afetar contas na publicidade e nos palcos) e, depois de ter apagado os stories, tentou justificar em vídeos as gravações feitas na Disney. 

Para a Psicologia Forense, o bullying é uma forma de violência psicológica do qual, de acordo com FANTE (2008), estão ligados a 
"comportamentos agressivos e antissociais" 
do autor que pratica. Obviamente, produz sofrimento psicológico na vitima que experimenta ser alvo desse tipo de humilhação. 

Atos aparentemente inofensivos de humilhação são protótipos de comportamentos antissociais. A Psicologia Forense contribui no sentido de procurar entender, pesquisar e intervir no sentido da integração da psicologia e da lei. Trata-se da interface de duas áreas de conhecimento: a Psicologia, que estuda o comportamento humano e o funcionamento mental, e o Direito: 
O objeto de estudo da Psicologia Forense são os comportamentos complexos que ocorrem na interface com o campo jurídico (WALKER & SHAPIRO, 2003). 
Assim, a Psicologia Forense, como qualquer ciência, utiliza da aplicação de pesquisa, método, teoria e prática psicológica a uma atividade que tenha interface com o sistema legal. 

As práticas de bullying, como aponta Calhau (2010), 
"acarretam uma série de sanções para os seus autores, ou responsáveis legais, podendo gerar sanções administrativas, trabalhistas, civis ou criminais, dependendo do grau e extensão dos danos causados às vítimas". 
A violação de direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação, solidariamente responsáveis com os autores e os co-autores e as pessoas designadas no art. 932 do Código Civil. 

No caso de Mc Gui, o que se pode verificar é que o ato praticado por ele é como uma fotografia, pois revela sua real personalidade, a sua verdadeira natureza, muito diferente das máscaras sociais apresentadas por ele e pelo seu pedido de desculpas que não convence ninguém, ao mesmo tempo em que se mostra incapaz de reconhecer seu erro, revelando assim o nível da maldade contra outro ser humano e sua incapacidade de sentir culpa. 

Mc Gui fez bullying - ou no caso em questão cyberbullying (violência praticada contra alguém através da internet ou outras tecnologias relacionadas) - com uma menina que ele supostamente não sabia que passava por um tratamento para vencer o câncer e, por isso, não tinha cabelos e sobrancelhas. Mas não importa que ela tem o câncer ou não. Mesmo que ela não tivesse esse mal em sua vida, é inconcebível tal atitude. 

No vídeo gravado por ele, pode-se observar as reações emocionais de desconforto e constrangimento da criança indefesa, que, sem entender bem o que se passa, expressa vergonha abaixando a cabeça, arrumando a peruca, desviando o olhar triste e incomodada. Ao fundo, é possível ouvir outras pessoas zombando de sua aparência. 

Mc Gui, que é um homem, portanto, um adulto, e sua vitima, uma criança indefesa com um agravante da sua condição de enfermidade. E, o que era para ser um dia feliz em sua vida, se tornou um dia do qual foi alvo de chacotas e humilhações devido a sua aparência. Porém, o que se revela não é a face da vitima, e sim a verdadeira face do autor, que prefere rir mesmo humilhando uma criança. 

Conclusão 

Freud explica? 


O ato de diminuir propositadamente a outra pessoa para obter um beneficio particular é o que Freud (✩1856/✟1939) chamaria de narcisismo das pequenas diferenças, no qual o que está em jogo é o prazer de se sentir mais inteligente, interessante, competente e superior ao outro. Tal característica pode revelar ainda uma forma de satisfação sádica da personalidade do autor, que tem prazer em infringir dor e sofrimento a terceiros. 

A pertinência do tema está no fato de que, desde os textos de Freud, em o "Futuro de uma Ilusão", de 1927, já se detectava essa dinâmica nas dimensões da vida em sociedade. 

O reconhecimento de tais papeis nas relações humanas é imprescindível para a manutenção de vínculos saudáveis, pois o trabalho, a família, a escola e o ambiente virtual não podem ser ambientes que prejudicam a saúde mental de um individuo. 

Os profissionais de saúde mental devem estar capacitados a ajudar quem eventualmente passe por esse sofrimento, assim como os profissionais que trabalham operando o direito fazer com que a lei seja cumprida no seu rigor de forma eficiente. 

O bullying e o assédio moral também são temas de trabalho, cabendo ao perito psicólogo determinar ao judiciário sua extensão e aferir o dano. 

Por isso, é imprescindível ao profissional de direito, em casos como esse, que oriente seu cliente a procurar uma avaliação psicológica de profissional capacitado com esse tipo de avaliação, para assim poder dimensionar a extensão do dano e fazer exercer os direitos de seu cliente. 

Porém, muitas vezes em casos nos quais os danos são muito graves ou até mesmo irreversíveis, podendo levar a transtornos mentais graves como depressão ou suicídio, nada é suficiente para reparar tal condição. Embora eu não creia que isto aconteça, já que a falta de noção grassa em escalada galopante nas redes/mídias digitais, onde se faz tudo por "likes" (curtidas) e "views", espero que este caso sirva de lição. 

[Fonte: Veja, UOL, Canal de Ciências Criminais; CALHAU, L. B. Bullying: o que você precisa saber: identificação, prevenção e repressão. (2). Niterói, RJ, 2010. FANTE, C. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Versus, 2005. WALKER, L. E. A. & SHAPIRO, D. Introduction to Forensic Psychology: Clinical and Social Psychological Perspectives. Kluwer Academic Plenum Publishiers, NY, 2003.]

A Deus, toda glória.
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