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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A BÍBLIA COMO ELA É: ENTENDENDO O SALMO 133



Inicio aqui mais uma série especial de artigos. Nesta série, irei fazer uma análise hermenêutica sobre alguns textos bíblicos, para que possamos, juntos, garimpar os tesouros que estão distribuídos nos registros das Sagradas Escrituras. 

Não irei, em absoluto, me ater a imbróglios teológicos - mesmo porque, estes não nos edificam em nada -, mas apenas me render à Bíblia como ela é. Para abrir a série, vamos conhecer mais detalhes sobre o Salmo 133, conhecido como o Salmo da Comunhão.

O valor da unidade


"Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre" (Sl 133).
Este salmo davídico se volta para importância da comunhão e do relacionamento adequado na comunidade. Este salmo também é muito cantado nos dias de hoje pelos judeus em Jerusalém. Esse salmo é pós-exílico, ou seja, foi escrito depois do cativeiro babilônico, que durou de 586 a.C. até 539 a.C.

Quando água e óleo se misturam


Há uma combinação estranha nesse salmo, pois sabemos que óleo e orvalho não se misturam! Que relação esses elementos têm a ver com a união fraternal? O verso dois descreve que esse "viver em união" deve ser como o óleo precioso derramado desde a cabeça, e que desce sobre a barba de Arão até a gola de suas vesteIsto se trata de uma referência à consagração do sacerdote. O óleo deveria descer sobre toda a sua veste sacerdotal. 

Portanto, entendemos que a consagração deve ser plena e absoluta. A ideia que o texto pretende transmitir é a seguinte: a união entre os irmãos deve ter relacionamento, santidade e santificação. Não pode haver uma verdadeira união sem santidade perante Deus. E essa santificação deve produzir um ambiente de confraternização entre os irmãos. O importante matemático e filósofo cristão francês Blaise Pascal (✩1623/✟1662) disse que 
"o amor não tem idade: está sempre nascendo". 

O Salmo 133 diz também que a união fraternal é como o orvalho do monte Hermom quando desce sobre os montes de Sião. O monte Hermom está situado numa região muito marcada pela humildade por ser cheia de água. Isso faz um contraste com as regiões desérticas do Sul da Palestina. 

Portanto, a região do Hermom é marcada pela prosperidade e por frutificação. Logo, a união que Deus deseja é acompanhada pela benção da santificação, da prosperidade e da frutificação que Deus concede a partir dos montes de Sião (verso 3). O importante é que o Senhor é quem sustenta isso. É uma benção completa para todos nós.

O avivamento na unidade


O Salmo 133 expressa os segredos do avivamento e da efusão do Espírito Santo, que é o resultado da união dos filhos de Deus. O óleo (verso 2) e o orvalho (versículo 3) referido no Salmo 133 também representa a presença do Espírito Santo no meio de Sua Igreja. É a presença do Senhor no corpo de Cristo que traz a unidade no coração do homem. O detalhe de que o óleo escorre da cabeça para as vestes simboliza o fato de que, quando a liderança é ungida em primeiro lugar, eles são capazes de transmitir esta unção ao povo.

Hermom, ápice profético


O Hermom significa: montanha sagrada, santuário (hebraico, hermôn) e é o pico sul na Cordilheira das montanhas do Anti-Líbano com dois mil e oitocentos e quatorze metros de altitude, provavelmente o mais alto deles. O Anti-Líbano é uma cordilheira que se estende de sudoeste a noroeste do Líbano com cerca de 150 km de comprimento, sendo a cadeia do leste e paralela ao maciço do monte Líbano que está a oeste, voltado para o Mar Mediterrâneo. 

Abrange Líbano, Israel e Síria. A neve quase nunca desaparece do seu cume durante o ano inteiro, causando orvalhos abundantes em tremendo contraste com a terra seca da região, enquanto que o degelo é uma das principais fontes alimentadoras do Rio Jordão. Muito provavelmente foi no Monte Hermom onde ocorreu o episódio da transfiguração de Jesus, próximo a Cesaréia de Filipe. O Hermom é também chamado de Senir (Senir, cota de malha) pelos amorreus e, pelos assírios, Saniru (Deuteronômio 3:9). É também chamado em Deuteronômio 4:48 de Siom (elevado ou montanha sagrada) e de Siriom (couraça), pelos sidônios.

Alegria na unidade


Explicando um pouco mais o Salmo 133, em primeiro lugar o salmista expressou a alegria do Senhor ao ver a união entre os irmãos. Ele compara essa unção de união ao óleo precioso com que eram ungidos os sacerdotes, que escorria da cabeça para todo o corpo, simbolizando a proteção derramada por Deus sobre eles. 

Essa unção de união e amor fraterno também é comparada à água que escorre do Monte Hermom após o degelo e enche o Rio Jordão, consequentemente, todo Israel, mantendo a vida onde as regiões são desérticas. Como vimos, Hermom significa: montanha sagrada, santuário. Portanto, a união que vem do coração de Deus para Seus filhos é algo sagrado e que deve permanecer fluindo como águas que matam a sede dos que são carentes. 

É lá do alto do Hermom, do santuário, do sagrado, que fluem as águas vivas para nutrir nossa terra. Quando o líder de uma comunidade ("Arão") manifesta em si mesmo o amor fraterno, todos os demais membros que estão em submissão a ele também serão abençoados por esse amor e aprenderão, igualmente, a desenvolvê-lo. Quando o amor Philleo (amor fraterno, em grego) é pleno dentro da Igreja, a bênção divina é plena. 

A importância da congregação


Nós poderíamos dizer que a comunicação entre as pessoas no nível emocional flui como algo líquido, maleável, que dessedenta e libera a vida de cada um das barreiras do preconceito, da timidez, do julgamento, da culpa, da vergonha etc. 

Quando esse tipo de comunicação está impedido por alguma causa, sentimos o peso da rigidez, da frieza e da dureza dos corações. A vida de Jesus não pode se manifestar num lugar desses. Por isso, é importante termos dentro de nós a disposição de amar os irmãos para que essas barreiras caiam dentro do Corpo de Cristo e o avivamento do Espírito possa agir. 

Devemos nos lembrar das palavras de Jesus quando disse que nós somos o sal da terra e se esse sal perder o sabor, para nada aproveita. O sal significa a fidelidade das promessas de Deus, a fidelidade da aliança que Ele fez conosco (Levíticos 2:13; Números 18:19). Se colocarmos um pouco de sal sobre uma pedra de gelo, ela começa a derreter. 

Assim deve ser conosco; como sal da terra nós devemos derramar nossa unção de amor aonde formos, porque o seu calor vai derreter o gelo da frieza dos corações daqueles que não conhecem ainda essa força dada por Deus. O amor fraterno sadio propicia o desenvolvimento do amor de Deus, o Ágape, em nossos corações. Abaixo, o Monte Hermom e a visão por satélite do Anti-Líbano.

Conclusão

Aplicação no contexto da Nova Aliança


Com raros pontos de exceção, até agora nos concentramos em interpretar o texto no contexto original. Depois de feita esta interpretação cabe-nos perguntar quais são as implicações teológicas do Salmo 133 no contexto da revelação bíblica.

Primeiramente, o texto se relaciona com o contexto do reinado davídico e dentro deste contexto manifesta aspectos das bênçãos redentivas que Deus ordena para seu povo. Davi tinha consciência da importância da unidade nacional das tribos de Israel. O povo não poderia ser abençoado na divisão por dois motivos simples: 
  1. sem um rei não haveria vitória e paz, e
  2. sem um sacerdote que ministrasse a todo o povo eles não teriam condições de se aproximar de Deus.
O papel do reino é de fundamental importância. O reino davídico serve dentro da esfera do próprio reinado de Deus.
Tanto o rei quanto o reino e o sacerdócio são tipos de um reinado futuro. O texto manifesta o reconhecimento da necessidade de um reino e sacerdócio mediatorial. Sem estes não há bênção.

Este conceito estende-se para o povo de Deus na era do Novo Testamento: 
"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus…" (1 Pedro 2:9). 
Vimos no texto que a bênção era condicionada à unidade, e prejudicada sem ela. A mesma relação permanece para o povo de Deus hoje? Creio que sim, guardadas as devidas proporções. O povo de Deus é uma nação santa e exerce um sacerdócio que é abençoado na unidade. 

Esta unidade se expressa à medida que o povo de Deus, sua Igreja, como agente do seu reino, se submete à autoridade do Rei, sua lei e seu ensino, sem se desviar, sem comprometer sua verdade. Nesta unidade, Iahweh ordena a sua bênção. Creio que esta é a aplicação fundamental do texto para nossos dias.

A pergunta que permanece é se ainda outros elementos do texto podem ou devem ser aplicados no contexto neotestamentário, como por exemplo, o óleo ser comparado com o Espírito Santo. Seria legítima esta aplicação do Salmo 133? Ainda que este seja o primeiro impulso do intérprete com um conhecimento geral das Escrituras, tal aplicação sem uma formulação adequada pode levar a erros de interpretação, uma vez que, como sabemos, o derramamento do Espírito Santo se deu na Nova Aliança.

Sabemos que a unidade do povo de Deus se dá debaixo da obra e poder do Espírito Santo, e da mesma forma como o povo de Israel era abençoado na unidade nacional, o povo de Deus é abençoado na unidade espiritual, quando com unanimidade, em um só Espírito, uma só fé, nos aproximamos do único Senhor.

Fala-se muito na igreja contemporânea a respeito de unidade, e não há como negar diante da interpretação deste salmo que a bênção de Deus vem sobre seu povo unido. Entretanto, é importante reconhecermos que, assim como a unidade de Israel se dava, em vários níveis (social, cultural e espiritual) debaixo de princípios claros da Escritura, a igreja do Senhor deve buscar esta unidade sob princípios semelhantes, que reflitam a verdade da Escritura e seus princípios básicos de autoridade.
"Corpo e Família" - Priscila Angel (Autor: Daniel Souza)

[Fonte: Ministério Seara Ágape, por Pastora Tânia Cristina Giachetti; Monergismo, Pregação Reformada]

A Deus toda glória. 
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