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sábado, 5 de outubro de 2019

PAPO RETO: UM "DEMÔNIO" CHAMADO D-I-V-I-S-Ã-O


"Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos"  (Efésios 4:4-6).
A unidade espiritual da igreja é uma obra exclusiva de Deus. Não podemos produzir unidade; apenas mantê-la. Todos aqueles que nasceram de novo fazem parte da igreja e seus membros devem demonstrar aos olhos do mundo, de forma visível essa unidade interna. A desunião dos crentes, portanto, é uma ameaça à igreja e um escândalo diante do mundo. Essa atitude desonra a Cristo e a própria igreja.

Já se perdeu a conta da fragmentação do cristianismo em inúmeras denominações, igrejas e seitas. Ao que parece, as cisões estão na ordem do dia e, infelizmente, é provável que assim continue também no futuro. Qual seria a razão disso? É vergonhoso, inominável, medonho, bizarro... DIABÓLICO o que vemos no atual cenário evangélico. Verdadeiras guerras denominacionais, onde as placas são os baluartes estendidos e hasteados nos frontes chamados de "igrejas", "ministérios" "congregações" e "comunidades" Brasil afora. Como uma das "estratégias" dessa guerra insana, está a nauseabunda competição entre as denominações ("'minha' igreja é maior que a sua", "'minha' igreja é melhor que a sua"...).

Quais são as causas?


Quero apontar aqui algumas razões ou respostas. A primeira é simples, mas provavelmente é a mais difícil de suportar. A divisão dos cristãos baseia-se na natureza humana. 
"O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa..."
diz o profeta Jeremias, 
"...e sua doença é incurável; quem é capaz de compreendê-lo?" (17:9). 

Os crentes poderão argumentar que ganharam um novo coração por meio de Jesus (Romanos 6). É verdade! Todavia, ainda assim os cristãos lutam com o pecado em seu velho corpo (Rm 7). Enquanto ainda habitarmos este corpo atacado pelo pecado, será para todos nós impossível enxergar tudo corretamente. 
"Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas então veremos face a face" (1 Coríntios 13:12). 
Somente quando ressuscitarmos ou formos transformados e virmos o nosso Senhor face a face é que entenderemos tudo (cf. 1 João 3:2).

O desafio da unidade na diversidade


Os cristãos são personalidades divergentes, têm aspectos fortes e fracos diferentes, diversas preferências e pecados variados com que precisam lutar. Sua formação, maturidade, capacidade psicológica, espiritual, relacionamento com o Senhor, seu intelecto, sua capacidade intelectual diferem... não admira que tantas vezes discordemos! Os seres humanos são complexos, emotivos e inquiridores, e os cristãos não são exceção. A conversão não nos transformou em robôs padronizados. 
"Os propósitos do coração do homem são águas profundas, mas quem tem discernimento os traz à tona" (Provérbios 20:5).


E não é de hoje...


Quando Paulo escreve sua carta aos Filipenses faz uma transição dos inimigos externos (1:28), para os perigos internos (2:1-4). Paulo está deixando a ameaça de um mundo hostil, para tratar de um problema igualmente ameaçador, o da comunidade dividida. Paulo alerta para o fato de que uma igreja dividida é uma presa fácil no caso de um ataque frontal da sociedade externa. Assim, não basta apenas ficar firme contra os perigos que vêm de fora; é preciso acautelar-se contra o perigo de esboroar-se por causa das divisões internas. Para o apóstolo Paulo "uma santa e una igreja" não era apenas um artigo mercadológico de fé.

Antes de exortar a igreja de Filipos sobre a questão da unidade cristã, Paulo dá a base doutrinária. Há quatro pilares que sustentam a unidade cristã. Esses pilares não são criados pela igreja; são dádivas de Deus à igreja. Paulo coloca esses fundamentos em forma de cláusulas condicionais, mas ele assume em cada uma que a condição é verdadeira. Esses pilares já existem e eles precisam ser o alicerce da unidade. Podemos ver a obra da própria Trindade na construção da unidade da igreja. Os crentes estão em Cristo, experimentando a realidade do amor de Deus, pela ação do Espírito Santo. Quais são esses pilares da unidade?
  • Em primeiro lugar, exortação em Cristo (2:1) - A palavra grega paraklesis sugere que há uma obrigação colocada sobre os filipenses, oriunda diretamente de sua vida comum "em Cristo", para trabalharem juntos e em harmonia. Paulo está convidando os filipenses a lembrar-se de seu status de comunidade amada por Cristo. Todo crente tem recebido encorajamento, exortação e conforto de Cristo. Essa comum experiência deveria unir os crentes. Ninguém pode caminhar desunido com seu semelhante e ao mesmo tempo estar unido a Cristo. Ninguém pode viver a atmosfera de Cristo e viver ao mesmo tempo odiando a seus irmãos.
  • Em segundo lugar, consolação de amor (2:1) - Aqui, é o amor de Cristo pela igreja que Paulo tem em vista. Ao conclamar os crentes para que vivam juntos em harmonia, Paulo apela para os mais altos motivos: o amor que o Senhor da Igreja nutre por seu povo deve impeli-los a viver dignamente. O amor de Cristo nos leva a amar como Cristo nos amou (1 Jo 3:16). O amor nos leva a suportar uns aos outros. O amor nos leva a perdoar uns aos outros.
  • Em terceiro lugar, comunhão do Espírito (2:1) - A participação comum no Espírito, pela qual os crentes são batizados em um só corpo, deveria determinar a morte de toda desavença e espírito de partidarismo dentro da igreja. O Espírito Santo trouxe os cristãos à comunhão uns com os outros. Aquele que os uniu em Cristo, também os uniu uns aos outros. É o Espírito Santo que produz a nossa comunhão com Deus e a nossa comunhão com os irmãos. É o Espírito que nos une a Deus e aos irmãos de tal maneira que todo aquele que vive em desunião com seus irmãos dá provas de não possuir o dom do Espírito.
  • Em quarto lugar, entranhados afetos e misericórdia (2:1) - A palavra grega splanchna "afetos" significa literalmente "as entranhas humanas", consideradas como a sede da vida emocional (1:8). Enquanto no primeiro capítulo a palavra está se referindo ao amor de Paulo pelos filipenses, aqui ela se refere ao amor de Cristo por eles e através deles. Já a palavra grega oiktirmoi "misericórdias" é a palavra que descreve a emoção humana da piedade terna. A irmandade em uma igreja não se limita a "sentimentos" (emoções) nem se resume em atividades de ajuda e frias ações (o que muitos chamam de "obras" e/ou "ministérios"). Certamente nossas "entranhas" precisam ser movidas, e as aflições do irmão precisam despertar em nós uma viva compaixão.

O imbróglios teológicos: cada qual com "sua verdade"


A Palavra de Deus é verdade objetiva, mas as pessoas a interpretam subjetivamente. Tiago, líder da igreja primitiva em Jerusalém, diz a respeito das questões doutrinárias: 
"Todos tropeçamos de muitas maneiras..." (3:2). 
Por isso os crentes não deveriam ter muita pressa em ser mestres da Palavra, 
"...pois vocês sabem que nós... seremos julgados com maior rigor..." (3:1).

Tiago 3:2 é um "versículo régio" em relação à nossa questão. Se um meio-irmão de Jesus e uma "coluna" da igreja primitiva (Gálatas 1:9) diz que "todos [nós]" tropeçamos frequentemente, incluindo assim a si mesmo nisso, quanto mais essa declaração se aplicará a nós hoje, mais de 2.000 anos depois e culturalmente a anos-luz de distância dos apóstolos!

Hoje há uma variedade de premissas e sistemas teológicos concorrentes influindo o modo como lemos a nossa Bíblia. Podemos não nos dar conta disso conscientemente, mas por meio das igrejas que frequentamos, os institutos bíblicos nos quais nos formamos ou a literatura cristã que lemos, cada um de nós tem marcas teológicas diferentes. 

Entre os protestantes há, por exemplo, teólogos da aliança, teólogos da substituição, dispensacionalistas, ultradispensacionalistas, dispensacionalistas progressivos, batistas, calvinistas, luteranos, menonitas, irmãos abertos, irmãos restritos, universalistas, arminianos, amilenistas, pós-milenistas, pré-milenistas, pentecostais, neo-pentecostais, tradicionais, renovados, pré-tribulacionistas, mesotribulacionistas, pós-tribulacionistas, presbiterianos, congregacionalistas, anglicanos, pentecostais, etc. etc. ... 

E ainda que todos eles tenham boas razões para afirmar sua fidelidade exclusiva à Bíblia, todos acabam determinados por diferentes sistemas interpretativos e teologias sistemáticas. A cultura cristã na qual nos movemos inevitavelmente tinge os óculos através dos quais lemos a Bíblia.

"Cada um no seu quadrado?"


Não me entendam mal: todos temos óculos como esses, e isso é normal. A arte está em obter as lentes certas, pois não faltam os óculos de camelôs nesse mercado. Paulo espera que interpretemos a Palavra de Deus 
"...segundo a sã doutrina..." (Tito 1:9). 
A sã doutrina apostólica terá de ser o nosso filtro. Quem afirma ler a Bíblia sem óculos e sem filtro engana a si mesmo. Assim, por exemplo, é razoável que nenhum cristão normal aplique à sua vida diária a exigência de apedrejar filhos rebeldes fora da cidade, conforme exige a aliança do Sinai (Deuteronômio 21:18-21).

Temos de reconhecer que todos nós - mesmo os mais sábios e "piedosos" entre os professores de Bíblia - somos criaturas falíveis. Nenhum de nós seria superior a Tiago neste quesito. Somos pessoas que conseguem enganar até a si mesmas. A Bíblia sabe disso há muito tempo (Jr 17:9). 

A esta altura, os psicólogos seculares também já descobriram esse fato. Por natureza, tendemos a registrar a realidade de uma forma que se encaixe em nosso esquema e que corresponda à imagem subjetiva que temos do mundo. Por isso o diálogo de surdos entre os cristãos é tão comum e não conseguimos progredir. Constantemente corremos o risco de interpretar palavras e frases da Bíblia segundo as nossas tendências pessoais.

Um exemplo: imagine alguém que em geral raciocine de forma muito organizada e sistemática. Tudo em sua vida precisa ter uma estrutura definida e uma clara explicação. É uma pessoa racional e lógica, que não suporta obscuridades. Qual será sua tendência ao interpretar a Bíblia? É provável que seja simpático a sistemas interpretativos que organizem a doutrina bíblica sem lacunas e que a dividam em várias unidades fechadas e em épocas claramente definidas. Para essa pessoa seria importante ter uma explicação exata de cada detalhe bíblico, e ela cuidaria para que nenhuma incoerência penetrasse ali.

Mas temos então uma outra pessoa, o tal tipo artístico. Seu lema é: só os tolos precisam de ordem; o gênio abarca o caos. E trata-se realmente de um gênio. O que para outros parecem contradições, para ele é apenas o tempero que dá sabor à vida. Ele sempre está em busca de um plano espiritual mais elevado. Nunca se cansa de aprender. Para onde será que ele tenderá ao interpretar a Bíblia? Provavelmente sentirá rejeição por sistemas interpretativos sistematizados e afirmará que se trata de tentativas de enquadrar Deus. Mais atraentes seriam para ele abordagens mais "liberais", místicas e "holísticas" da Bíblia, que mantenham uma visão do todo. Tais pessoas gostam de paradoxos e reservam espaço para incertezas.

Ambos creem a mesma coisa. Neste exemplo não temos um bom e um mau. Ambos amam Jesus Cristo, afirmam a trindade divina, valorizam a Palavra de Deus e creem no Evangelho. Mesmo assim, porém, em certos aspectos as teologias que ambos moldaram em torno do núcleo da sua fé podem ser totalmente diferentes.

De certo modo, todos buscamos um lar teológico no qual possamos nos sentir bem. E por sermos personalidades diferentes, nossos lares teológicos também podem ter aparências diferentes. Mas, como um professor de Bíblia explicou certa vez, toda casa teológica tem também seus defuntos no porão. Por nos equivocarmos, por sermos pecadores, por termos nossas preferências e limitações, sempre haverá pontos em nossas convicções que outros não poderão assumir e que - segure-se! - estão errados.

Conclusão


Nós, os cristãos, muitas vezes discutimos e brigamos justamente em torno daquilo que não conseguimos entender plenamente: a soberania e a natureza do Deus triúno e Seu plano para o futuro e a eternidade. É plenamente normal que, limitados como somos, esbarremos em nossas conjecturas sobre o Eterno em nossos limites e cheguemos a resultados divergentes - e, não raramente, controversos, equivocados.

Se todos os cristãos de todas as eras concordassem em todos os detalhes a respeito do conteúdo da Bíblia, seria razoável dizer que teríamos em mãos um livro muito superficial. Como, porém, o que ocorre é justamente o oposto e porque se discute tão acaloradamente sobre a Bíblia porque sua Palavra atinge tanto os corações, dividindo famílias, comunidades e até países, e porque jamais encerraremos os debates sobre ela, sabemos e reconhecemos que Deus é Deus e que Sua Palavra é Sua Palavra.

Infelizmente, muitas vezes nossa desunião também resulta de nos deixarmos atropelar por seduções demoníacas. Assim, por exemplo, presumimos o pior sobre o nosso próximo, não nos orientamos pelas diretrizes do Evangelho e do amor, somos vítimas de boatos e difamações e pisamos em armadilhas magistralmente projetadas sob medida para nós, cedemos a bajulações, aceitamos conselhos falsos ou agimos movidos pela ira, pela ganância, pelo egoísmo. É frequente os conflitos entre cristãos serem regidos por ódio, fúria e amargura - e tais sentimentos certamente não provêm de Deus, em que existe apenas luz e nenhuma sombra.

Preciso julgar a mim mesmo: esquecemos com excessiva rapidez que somos criaturas facilmente influenciáveis, frágeis e dependentes, expostas a um combate cósmico que não poderemos vencer com nossas próprias forças. E isto, por sua vez, nos conduz aos abismos cavados por nossa divisão.

O Espírito Santo é o Deus subestimado. Alguns Lhe atribuem suas próprias ideias absurdas, outros não esperam nada dEle. No entanto, nosso Deus não é biúno, mas triúno - e esta é a garantia da nossa segurança. Por meio do Espírito Santo, a plenitude de Deus habita em nós (Ef 1.13,14,17; 3:14-19). Ele é o Consolador e Apoio que acalma e sela o nosso coração indisposto, tempestuoso e frágil. 

É por isso que ainda conseguimos entender a Palavra de Deus (1 Co 2:11). E por isso somos mais que os maiores profetas do Antigo Testamento e podemos realizar mais que os milagres de Jesus (Lucas 7:28; Jo 14:12). Deus mesmo habita em nós, e já faz mais de 2.000 anos que isto nos capacita a funcionar como povo sem rei visível, como "religião" sem santuário visível e como unidade orgânica sem parentesco de sangue. Pela fé em Jesus Cristo temos condições de ser um com pessoas das quais nos separam milhares de anos, milhares de quilômetros ou milhares de diferenças culturais. Esse milagre é muito maior do que tudo o que aconteceu no Antigo Testamento!

O que nos une não é nem a espada, nem o medo, nem uma nacionalidade, mas o Espírito Santo de Deus. O poder que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos está há mais de 2.000 anos zelando para que os salvos adorem o Pai "em espírito e verdade", confessem o nome de Jesus e esperem por Sua volta. Este é o maior milagre que o mundo invisível jamais presenciou (Ef 3:9,10): a ilimitada plenitude de Deus em homens fracos, outrora caídos e ainda agora limitados.

A resposta ou palavra-chave chama-se humildade. Às vezes precisamos simplesmente nos retrair e considerar morto o nosso orgulho (Rm 6:11). Não é fácil, mas necessário. 

Bons cristãos e mestres da Bíblia são pacificadores que se alegram quando Jesus Cristo é proclamado. Por isso Paulo diz: 
"Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira digna da vocação que receberam. Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor. Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz" (Ef 4:1-3).
O desafio para cada um de nós é não ser orgulhoso, mas humilde; não combativo, mas manso; não teimoso, mas misericordioso. É muito fácil denegrir outros crentes do púlpito, em redes sociais, em circulares, em conversas "confidenciais" ou na mídia. A verdadeira grandeza e sabedoria segundo Tiago é algo bem diferente.

Nossa atitude em relação àqueles seguidores de Cristo que talvez não pensam exatamente como nós pode ser similar àquela revelada por Paulo: 
"Mas que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro. De fato, continuarei a alegrar-me" (Fp 1:18, grifo meu). 
Ao Deus da unidade, toda glória. 
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