Autora de verdadeiros "hinos" da música brasileira como "Andança" e "Coisinha do Pai", a cantora e compositora Beth Carvalho morreu no final da tarde desta terça-feira (30), aos 72 anos, no Rio de Janeiro. A Madrinha do Samba, como ficou conhecida no meio artístico, estava internada Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, Zona Sul da cidade, desde o início de 2019. Desde 2009 Beth Carvalho vinha lutando contra fortes dores na coluna. Com 50 anos de carreira, ela chegou, nos últimos meses, até mesmo a fazer shows deitada (ano passado, 2018, ela emocionou o Brasil ao fazer o show deitada em uma cama por não conseguir ficar de pé, devido aos graves problemas na coluna). A causa da morte foi infecção generalizada e o velório e cremação será realizado hoje, 1.
Beth por todos
Começando com o sucesso arrebatador de "Andança", até chegar a Marte com "Coisinha do Pai", Beth traçou uma trajetória vitoriosa laureada por vários prêmios, inclusive um Grammy pelo conjunto da obra.
Madrinha de sambistas conhecidos como Zeca Pagodinho e Jorge Aragão, a cantora, além de sua atuação na música, tinha firme posicionamento político à esquerda. Admiradora do ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez e ex-eleitora de Leonel Brizola, Beth Carvalho teve forte participação na campanha pelas Diretas Já, na década de 1980 e chegou, em 2018, a gravar um samba em homenagem ao ex-presidente Lula, que havia acabado de ser preso.
As rosas não falam
como cantava Cartola. No entanto, Beth Carvalho, a madrinha do samba, considerada uma das maiores intérpretes do gênero, deixava claro que além de falar e cantar, exalava a "música dos morros".
Segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), no ranking das canções interpretadas pela mangueirense mais executadas (nos segmentos de casas de festas, rádio e shows), nos últimos anos, aparecem "Andança", "Vou Festejar", "Coisinha do Pai", "As Rosas Não Falam" e "Água de Chuva no Mar". No topo da lista das canções mais gravadas pela intérprete estão, respectivamente, "Andança", "Vou Festejar", "Água de Chuva no Mar", "Ainda é Tempo Pra Ser Feliz" e "Folhas Secas". Já Arlindo Cruz foi o artista que Beth Carvalho mais gravou em toda sua carreira.
"Andança"
Duvido que alguém nunca tenha ouvido "Andança" (1968). A canção foi feita na casa de Beth Carvalho, por três jovens que, como ela, iniciavam na época suas carreiras: os compositores Danilo Caymmi (✰1948), Edmundo Souto (✰1942) e Paulinho Tapajós (✰1945/✞2013). Danilo compôs a melodia da primeira parte, Edmundo a da segunda e, novamente Danilo, a da parte que é usada em contracanto, cabendo a Paulinho fazer a letra, que trata da caminhada sem fim de um romântico andarilho:
"No passo da estrada / só faço andar / tenho a minha amada / a me acompanhar / vim de longe, léguas / cantando eu vim / vou, não faço tréguas / sou mesmo assim...".
Meio samba, meio toada, moderna e bem estruturada, "Andança" mostra certa influência do estilo Milton Nascimento, uma tendência que pode ser observada no final dos anos sessenta, principalmente em músicas concorrentes aos festivais. Aliás, o próprio Milton afirmou em depoimento a Zuza Homem de Mello, em junho de 69:
"Não há muita diferença entre minha música e a de Danilo e Dori, porque a gente faz a mesma coisa, de um modo geral. Menos na melodia e na letra, mais na harmonia e no ritmo."
Apresentada por Beth Carvalho e os Golden Boys, "Andança" foi a terceira colocada na parte nacional do III FIC e uma das mais aplaudidas pelo público (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
"Andanças" lançou a cantora Beth Carvalho para o grande público e, a partir de então, sua carreira decolou.
Conhecendo a canção
"Andança" (Danilo Caymmi / Edmundo Souto / Paulinho Tapajós)
Vim, tanta areia andei,
Da lua cheia eu sei,
Uma saudade imensa
Vagando em verso, eu vim
Vestido de cetim,
Na mão direita rosas
Vou levar
Olho a lua mansa a se derramar,
Ao luar descansa meu caminhar
Vim de longe, léguas, cantando eu vim,
Vou não faço tréguas sou mesmo assim
Por onde for quero ser seu par
Já me fiz a guerra por não saber
Que esta terra encerra meu bem querer
E jamais termina meu caminhar
Só o amor ensina onde vou chegar
Por onde for quero ser seu par
Rodei de roda, andei,
Dança da moda eu sei
Cansei de ser sozinho
Verso encantado usei,
Meu namorado é rei
Nas lendas do caminho onde andei
No passo da estrada só faço andar,
Tenho a minha amada a me acompanhar
Seu olhar em festa se fez feliz
Lembrando a seresta que um dia eu fiz
Por onde for quero ser seu par
Já me fiz a guerra...
Decifrando a canção
- "Olha a lua mansa a se derramar..." – Personificação (a lua é um corpo celeste e não apresenta características humana, no entanto o autor deu a característica de "mansa" a ela).
- "...Ao luar descansa meu caminhar..." – Metonímia (a metonímia consiste em colocar um termo no lugar do outro havendo entre ambos uma estreita afinidade; no caso do trecho o autor sugeriu que o seu descanso fosse descanso sob a luz do luar).
- "...Olha a lua mansa... Ao luar descansa..." – Pleonasmo (reforça da ideia mediante o uso repetido da mesma palavra).
- "...Meu namorado é rei..." – Metáfora (estabelecimento de uma analogia)
- "...Rodei de roda andei..." – Aliteração (repetição das mesma sonoridades, no caso, a sílaba "de").
Conclusão
Beth deixa um legado inestimável para a música popular brasileira e sempre será lembrada por sua luta pela cultura e pelo povo brasileiro. Seu talento nos presenteou com a revelação de inúmeros compositores e artistas que estão aí na estrada do sucesso.
Posicionamentos e ideologias políticas à parte - cada um com seu cada qual e todos defendendo o lado que lhe parecer mais aprazível e/ou conveniente - não se discute ou questiona a contribuição de Bete Carvalho para o enriquecimento cultural da música brasileira e "Andanças" foi eternizada por ela assim como também a eternizará na memória dos brasileiros.
A Deus toda glória.
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E nem 1% religioso.
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