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sábado, 25 de maio de 2019

JESUS "DESCEU AO INFERNO"? UAI, E O QUE ELE FOI FAZER LÁ?



"Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: 'Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus'." (Mateus 22:29, grifo meu).
Há por parte de muitos religiosos a crendice de que Jesus desceu ao inferno. Uns dizem que Ele teria ido lá para "pregar às almas perdidas", outros dizem que Ele foi lá "para tomar as chaves da morte e do próprio inferno das garras do diabo" e ainda há os que acreditam que, como não gostava de perder tempo, Jesus foi lá no inferno e fez as duas coisas.

Mas, qual o embasamento bíblico para a crença e a defesa de tais doutrinas? NENHUMA! Onde na Bíblia está escrito tais coisas? EM LUGAR NENHUM! Mas de onde então o povo tirou isso? Bom, se não foi de alguma HQ, foi de algum episódio de uma dessas séries fantasiosas exibidas na Netflix. Brincadeira à parte, acredito que o que fez a disseminação dessa crença absurda é o grande problema que ainda está presente no meio evangélico e, em tempos atuais - onde o "pastor Google", e o "pastor YouTube" da "igreja Internet" têm arrebanhado um grande número de fiéis seguidores -, cada vez mais crescente: a falta de conhecimento e entendimento das Escrituras Sagradas, onde: 
  • conhecimento = uma leitura constante e insistente;
  • entendimento = discernimento através da revelação dada pelo Espírito Santo.
O texto de 1 Pedro 3:18-20 tem sido motivo de muitos debates entre teólogos e cristãos (aliás, tais debates, ma maioria das vezes, só servem para causar confusão e roubar o que deve ser o principal objetivo: a pregação do Evangelho). Mas, será que Cristo desceu a um mundo inferior entre a sua morte e ressurreição? É o que vamos analisar.

As várias interpretações


1) Interpretação arminiana - Defende que os contemporâneos de Noé não tiveram nenhum redentor e nenhum guia. Portanto, Deus teve de lhes suprir esta deficiência e, assim, por fim, o Senhor ressuscitado lhes trouxe a salvação. Para eles, a rejeição do Evangelho no passado não foi uma rejeição final e definitiva.

Mas, será que a morte não coloca um fim no período em que Deus opera com Sua graça para salvar pecadores? Será que existe neste texto de Pedro o ensino de uma nova oportunidade para os ímpios se salvarem, mesmo depois de sua morte? A grande dificuldade é que os santos do Antigo Testamento já haviam crido no Messias e, por isso, estavam justificados (Romanos 4:3; Gálatas 3:6-9).

2) Interpretação luterana - Diz que Cristo morreu e, antes de ser ressuscitado, teve seu espírito restituído ao corpo e, na totalidade de sua natureza humana, foi ao inferno e proclamou sua vitória a Satanás. Mas, essa interpretação traz dificuldade porque não havia tido ainda nenhuma manifestação de vitória de Cristo.

3) Interpretação anglicana - Ensina que a alma de Cristo desceu ao inferno para conquistar a morte e o diabo (tomar as chaves - mas que chaves são essas?) e para libertar as almas dos homens justos e bons, que desde a queda de Adão morreram por causa de Deus e na fé e na crença em Jesus, que estava para vir. Sua conquista destruiu qualquer reivindicação que o diabo tinha sobre os homens, e a descida foi parte do "resgate" pago por Cristo.

Mas, as Escrituras não ensinam que os crentes do Antigo Testamento foram para o Hades e que Jesus lá desceu para libertá-los. Esses crentes foram estar com Deus após a sua morte (Salmo 73:23,24). Enquanto Cristo estava na terra, Elias e Moisés já estavam com Deus no céu, e não no Hades (2 Reis 2:11; Lucas 9:29-35).

Análise bíblica de 1 Pedro 3:18-20


1) Qual o significado das expressões "carne" e "espírito vivificado"?

 
Neste texto, Pedro está contrastando dois estados de existência de nosso Redentor.
  • b) O estado de não-limitação - "Espírito vivificado". A expressão "vivificado no espírito" se refere à natureza divina de Jesus. Seu estado antes de sua encarnação. E foi neste estado que Ele pregou aos "espíritos em prisão".
Quando o texto fala que Jesus 
"vivificado em espírito foi e pregou, não está se referindo a um lugar depois de sua morte, mas onde Ele estava quando havia desobedientes dos tempos de Noé" (v. 20). 
Foi neste espírito que Ele pregou através dos profetas.

"Também". A palavra "também" do v. 19 mostra a ênfase do estado de limitação para o estado de não-limitação. Dito de outra forma: Cristo pregou quando estava em nosso meio, como homem (dias de Sua carne), mas também pregou como Divino (não-limitação) nos dias de Noé através dos profetas.

2) Quando Cristo pregou? 


O ensino desta passagem não é o que Cristo fez entre a morte e a ressurreição, mas o que Ele fez no seu estado antes da Encarnação - estado não-limitado, no tempo de Noé (1 Pe 1: 8-12).

3) Qual o conteúdo da pregação? O que Cristo pregou? 


Jesus pregou o evangelho aos contemporâneos de Noé. Espiritualmente, Cristo estava presente em Noé quando este era o "pregoeiro da justiça" 2 Pe 2:5. Em 1 Pe 1:10,11, o apóstolo mostra o evangelho sendo pregado pelos profetas. Noé certamente pregou aos seus contemporâneos o evangelho e convocou-os ao arrependimento.

4) Quem são estes "espíritos em prisão" a quem Cristo pregou?


A expressão "espíritos em prisão" se refere às pessoas que no tempo de Noé (noutro tempo) rejeitaram a sua pregação e que foram consideradas "espíritos em prisão", incapazes de fazer qualquer coisa que os deixassem livres. Permaneceram no cativeiro espiritual; permaneceram incrédulos quanto à mensagem pregada por Noé e na prisão de suas almas.

Agora vamos analisar outro texto, que também gera essa confusão no meio dos crentes (clique no link para ler o texto).

EFÉSIOS 4:9


  • Problema - Paulo declara que Jesus desceu "até as regiões inferiores da terra" e o Credo dos Apóstolos declara que, depois de ter sido morto, Jesus "desceu ao inferno". Entretanto, quando Cristo estava morrendo, entregou o seu espírito nas mãos do Pai (Lc 23:46) e disse ao ladrão que este estaria com ele no "paraíso" (23:43), ou seja, no "terceiro céu" (2 Co 12:2,4). Para onde Jesus foi então: para o céu ou para o inferno?
  • Solução: Há duas posições a respeito do lugar para onde Jesus foi durante os três dias em que o seu corpo permaneceu no túmulo, antes da ressurreição: uns defendem que ele foi para o Hades; outros, que foi para o céu. 
a) Para o Hades - Os partidários dessa posição afirmam que o espírito de Cristo foi ao mundo espiritual, enquanto o seu corpo permanecia no túmulo. Creem que Jesus "pregou aos espíritos em prisão" (conforme já exposto acima), que estavam num lugar de cativeiro temporário, aguardando a sua chegada para "levar cativo o cativeiro", isto é, levá-los para o céu. De acordo com essa posição, havia dois compartimentos no Hades (ou Sheol), uma para os salvos e outra para os perdidos. Eles estavam separados por "um grande abismo" (Lc 16:26), que ninguém podia ultrapassar. A seção dos salvos era chamada de "o seio de Abraão" (16:23). Quando Cristo, "sendo ele as primícias" da ressurreição (1 Co 15:20), ascendeu, Ele levou esses santos do AT consigo pela primeira vez. 

Para o Céu. Esse parecer sustenta que as almas dos crentes do AT foram diretamente para o céu no momento de sua morte. Em favor disso tem-se os seguintes argumentos.
  • Primeiro, Jesus afirmou que o seu espírito estava indo diretamente para o céu, quando disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23:46).
  • Segundo, Jesus prometeu ao ladrão na cruz: "Hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23:43); mas "paraíso" é definido como sendo "o terceiro céu" em 2 Coríntios 12:2,4.
  • Terceiro, quando os santos do AT deixaram esta vida, foram diretamente para o céu. Deus tomou a Enoque para si (Gn 5:24; cf. Hb 11:5), e Elias foi tomado "ao céu" quando partiu (2 Rs 2:1).
  • Quarto, "o seio de Abraão" (Lc 16:23) é uma descrição do céu. Em nenhum ponto ele é descrito como sendo o inferno. É o lugar para onde Abraão foi, que é o "reino dos céus" (Mt 8:11).
  • Quinto, antes da cruz, quando os santos do AT apareciam, era do céu que vinham, como aconteceu com Moisés e Elias no Monte da Transfiguração (Mt 17:2-3).
  • Sexto, os santos do AT tiveram de esperar a ressurreição de Cristo para que seus corpos fossem ressuscitados (1 Co 15:20; cf. Mt 27:53), mas suas almas foram diretamente para o céu. Cristo foi o Cordeiro morto "desde a fundação do mundo" (Ap 13:8), e eles para lá foram pelos méritos que Deus sabia que Cristo cumpriria.
  • Sétimo, a expressão "até as regiões inferiores da terra" não é uma referência ao inferno, mas ao túmulo. Até mesmo o ventre de uma mulher, em linguagem metafórica, é descrito como sendo "profundezas da terra" (SI 139:15). Essa expressão significa simplesmente covas, túmulos, lugares fechados na terra, em oposição a partes altas, como montanhas. Além disso, o inferno não se localiza nas partes mais baixas da terra - mas "debaixo da terra" (Filipenses 2:10).
  • Oitavo, a frase "desceu ao inferno" não constava do Credo Apostólico primitivo. Ela foi acrescentada somente no século IV a. D. Além disso, um credo como tal não é inspirado, mas apenas uma confissão humana de fé.
  • Nono, os "espíritos em prisão" não eram salvos, mas seres perdidos. Na verdade, essa pode ser uma referência a anjos, não a seres humanos (veja os comentários de 1 Pd 3:19).
Finalmente, quando Cristo "levou cativo o cativeiro", não estava levando amigos para o céu, mas trazendo inimigos a uma prisão. É uma referência à sua vitória sobre as forças do inimigo. Os cristãos não são "cativos" no céu. Não somos forçados a ir para lá contra a nossa própria e livre escolha (veja Mt 23:37; 2 Pe 3:9).

Posicionamento Bíblico

Análise hermenêutica


Nas Escrituras Hebraicas, a palavra usada para descrever a esfera dos mortos é "Seol". Esta palavra simplesmente significa "lugar dos mortos" ou o "lugar das almas/espíritos que partiram" (NUNCA inferno). A palavra grega do Novo Testamento que é usada para inferno é "Hades", que também se refere ao "lugar dos mortos", no caso, obviamente, dos mortos sem Cristo. 

Outras Escrituras no Novo Testamento indicam que "Seol/Hades" é um lugar temporário, onde as almas ficam enquanto aguardam a ressurreição e julgamento final. Apocalipse 20:11-15 dá a distinção clara entre os dois. Inferno (o lago de fogo) é o lugar final e definitivo de julgamento para os perdidos. Hades é um lugar temporário. 
  • Então, não, Jesus não foi ao "Inferno" porque "Inferno" é uma esfera futura que somente entrará em vigor após o Julgamento do Grande Trono Branco (Apocalipse 20:11-15).
  • "Seol/Hades" é uma esfera com duas divisões (Mt 11:23; 16:18; Lc 10:15; 16:23; Atos 2:27-31), o território dos salvos e o dos perdidos. O território dos salvos é chamado "Paraíso" e "Seio de Abraão". Os territórios dos salvos e dos perdidos são separados por um "grande abismo" (Lc 16:26). 
Quando Jesus subiu aos Céus, Ele levou consigo os ocupantes do Paraíso (os salvos - Ef 4:8-10). O lado perdido do Seol/Hades permaneceu intacto. Todos os mortos incrédulos para lá vão e esperam seu futuro julgamento final. 
  • Jesus foi ao Seol/Hades (Que, entenda-se de uma vez por todas: NÃO É O INFERNO, O LAGO QUE ARDE EM FOGO E ENXOFRE, pois este lugar foi criado ESPECIFICAMENTE E EXCLUSIVAMENTE PARA O DIABO E, POR ENQUANTO, AINDA ESTÁ VAZIO. Agora, quem e quantos ele levará para lá consigo, isso eu não sei)? Sim, de acordo com Efésios 4:8-10 e 1 Pedro 3:18-20.

O erro e os perigos da falta de conhecimento da Palavra


Parte desta confusão surgiu de passagens como Salmos 16:10-11: 
"Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Far-me-ás ver a vereda da vida..." 
"Inferno" não é a tradução correta deste versículo. Uma leitura correta seria "a sepultura" ou "Seol"O corpo de Jesus estava na tumba; Sua alma/espírito foi para o lado do "Paraíso" de Seol/Hades. Então Ele removeu do Paraíso todos os justos que já haviam morrido e os levou consigo aos Céus. Infelizmente, em muitas traduções da Bíblia, os tradutores não são consistentes ou corretos quando traduzem as palavras hebraica e grega para "Seol", "Hades" e "Inferno".

Alguns defendem o ponto de vista de que Jesus foi ao "Inferno" ou ao lugar de sofrimento do Seol/Hades a fim de receber ainda mais punição por nossos pecados. Essa ideia não tem nenhum respaldo bíblico. Foi a morte de Jesus na Cruz e Seu sofrimento em nosso lugar que, de forma suficiente, promoveram a nossa redenção.

Foi Seu sangue derramado que validou o perdão dos nossos pecados (1 Jo 1:7-9). Quando estava pendurado na Cruz, Ele tomou sobre Si o fardo do pecado de toda a raça humana. Ele se fez pecado por nós: 
"Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5:21). 
O peso do pecado nos ajuda a compreender pelo que passou Cristo no Jardim do Getsêmani em sua luta com o cálice do pecado que sobre Ele seria derramado na cruz.

Conclusão


Na Cruz, Cristo, com grande voz exclamou: 
"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"
e foi neste exato momento que foi separado do Pai por causa do pecado da humanidade sobre Ele derramado. Deus não podia e não quebrou seu princípio nem mesmo para poupar Jesus, pois, se tivesse feito isso, o sacrifício dEle não teria sido completo. 

Quando entregou o Seu espírito, disse: 
"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". 
O Seu sofrimento em nosso lugar estava completo. Sua alma/espírito foi à parte do Hades correspondente ao Paraíso. Jesus não foi ao Inferno. O sofrimento de Jesus terminou no momento em que morreu. O pagamento pelo pecado estava feito. Ele então aguardou a ressurreição do Seu corpo e o retorno a Sua glória durante a ascensão. 
  • Jesus foi ao Inferno? Não. Jesus foi ao "Seol/Hades"? Sim.

Concluo, portanto, com exaustiva, mas valiosa análise hermenêutica das Escrituras, afirmando que:
  • 1) Não aceito: uma descida literal de Cristo ao Inferno; que o diabo possuía as "chaves" da morte e do inferno, que Jesus as tomou dele; uma segunda chance de salvação aos desobedientes após sua morte.
  • 2) Aceito: que Cristo esteve sempre presente tipologicamente no Antigo Testamento, pregando através dos profetas o Evangelho de Salvação, Rm 4: 3; Gl 16-9, 2Pe 2: 5.
E para mim, essa história está encerrada!

[Fonte - Bibliografia: GEISLER, Normam – HOWE, Thomas, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia; Revista Fides Reformata, vol. IV, nº 1, 1999; Revista Os Puritanos, nº 1, ano IX, 2001]

Ao eterno Deus, toda glória. 
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E nem 1% religião

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