Nesta parte da série especial, vou iniciar fazendo 2 perguntas que são recorrentes no meio cristão e logo após trarei os meus posicionamentos como resposta. E na sequência discorrerei sobre o assunto.
1ª. Pergunta
Que pensarmos daqueles lares piedosos em que há dois ou mais filhos, e um deles segue o caminho do mundo?
Eu acredito que é muito possível, e muitas vezes acontece, que o pai e a mãe tenham feito um excelente trabalho de cuidado, instrução, orientação, treinamento e formação de todos e cada um dos seus filhos, tanto através de palavras como através de piedoso exemplo (testemunho), mas, no final, um de seus filhos escolheu não viver para o Senhor.
Afinal, certamente não estão treinando robôs. Os filhos, cada um em si mesmo, têm uma vontade livre que os tornam responsáveis por suas escolhas e o que delas advier.
Eu acredito que Provérbios 22:6 -
"Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele" (ACF).
-, alem de estar dentro de todo um contexto de ensinamentos, significa simplesmente que, após pai e mãe terem feito todas as coisas certas que lhes cabia fazer, e terem vivido vidas piedosas diante de seus filhos, e realmente terem mostrado que realmente amam (profunda, individual e incondicionalmente) todos e cada um de seus filhos, então, não importa para quão longe eles corram (desviando-se), eles não podem deixar para trás (esquecer, escapar de) o treinamento, a orientação, a formação que foi ministrada a neles.
Ademais, se há qualquer esperança de seu retorno ao Senhor, é porque o Espírito Santo pode usar esse treinamento-orientação-formação que neles foi inserido, para trazer-lhes convicção, temor, quebrantamento e, consequentemente, gerar o genuíno arrependimento. Então, naturalmente, isso levanta outra pergunta.
2ª. Pergunta
Que pensarmos daqueles pastores, evangelistas, missionários, etc. que caem em pecado e arruínam seus ministérios, muitas vezes após muitos anos de exercício ministerial? São seus pais os responsáveis?
Não, cada pessoa responde ante Deus por seus próprios pecados; e, apesar dos melhores esforços de muitos pais e mães, muitos filhos optam por ignorar tudo aquilo que lhes foi ensinado, optam por ignorar todos os exemplos piedosos que viram, e afastam-se para dentro do pecado.
Dizer que o pai e a mãe são os grandes culpados disso, tem toda e qualquer instância, parece fornecer uma desculpa para o filho que diz: "A culpa não é minha [em nenhum grau ou intensidade], mas, sim [total e exclusivamente], dos meus pais." E sabemos que isto não é verdade.
Creio que muitos pais piedosos foram colocados em uma desnecessária viagem através (do território) da culpa, e isto é o resultado de interpretarem Provérbios 22:6 como uma férrea garantia de que, se um filho realmente foi, como criança, ensinado a distinguir entre o certo e o errado, e se seus olhos sempre viram seus pais viverem vidas realmente santas, então seguramente este filho jamais, em nenhum grau, vai seguir o caminho errado.
Em conclusão, olho ao redor e não posso deixar de perceber que muitos pais e mães (e aqui me refiro especificamente a cristãos autênticos) estão muito aquém na área da educação espiritual de seus filhos e, pior, estão assumindo culpas que não são suas. Deus os ajude a acordar!
Indo mais a fundo
Acredito que não há uma pessoa que seja a única e total responsável pela criação de seus filhos de forma a se tornarem piedosos. Creio há uma tripla responsabilidade no treinamento dos filhos nos lares cristãos:
Primeiro, há a responsabilidade conjunta do pai e da mãe (Pv 22:6). Por outro lado, há também a responsabilidade da igreja local, que é a coluna e o fundamento da verdade (1 Timóteo 3:15). A Grande Comissão dada por Cristo, que foi dada à igreja local através de seus representantes, os apóstolos, exige que as igrejas locais treinem o povo de Deus "a guardar todas as coisas" que Cristo nos ensinou em Sua Palavra (Mateus 28:19-20).
Uma igreja local piedosa pode fortalecer e reforçar os esforços do lar, tal como uma igreja mundana pode solapar os alicerces lançados no lar. Da mesma forma, um lar mundano pode prejudicar o trabalho que é feito na vida dos seus filhos por uma igreja piedosa.
Eu tenho visto ambas essas coisas. À semelhança de como certas famílias produzem filhos piedosos, assim também certas igrejas os produzem. Não é por acaso em ambos os casos. Espanta-me que a maioria das igrejas locais parece não reconhecer ter absolutamente nenhuma culpa pelos jovens que crescem dentro delas e não servem ao Senhor.
O mesmo vale para as escolas cristãs. Se os pais têm total responsabilidade, e se a igreja local e a escola cristã não têm nenhuma responsabilidade, então qual é a necessidade de termos igreja e escola cristãs, e de levarem seus filhos a elas?
Finalmente, há também a responsabilidade do filho, por si mesmo, responder a Deus e à verdade:
"Até a criança se dará a conhecer pelas suas ações, se a sua obra é pura e reta" (Pv 20:11).
Enquanto é verdade que o que os pais fazem afeta os filhos, também é verdade que nenhum filho nunca pode se pôr de pé diante de Deus e culpar seus pais por toda sua rebeldia.
Alguns dos principais ingredientes na criação de um rebelde são os seguintes:
- 1. Cristianismo Hipócrita.
(a) Quando pelo menos um dos pais é dominado pela carne em vez de andar no Espírito.
(b) Pais e mães ardem no desejo por coisas mundanas.
- 2. Pai ou mãe negligente de sua bíblica atuação no lar.
- 3. Falta de adequada e equilibrada disciplina dos filhos (disciplina excessiva, nenhuma ou de menos, inconsistente, ou intempestiva, ou sem nenhum amor).
- 4. Associações com coisas que não são santas (amizades e relacionamentos sentimentais mundanos são sempre um perigo iminente).
O problema é que estas são áreas comuns de falha, isto é, áreas, em que, provavelmente, todos os pais e mães têm culpa, pelo menos em algum momento e em algum grau. É muito fácil ser hipócrita de várias maneiras e falhar em praticar exatamente o que cremos e pregamos. É muito fácil andar na carne em vez de no Espírito, em nossos relacionamentos dentro de casa, dia após dia. É muito fácil o pai ou a mãe negligenciar sua responsabilidade de treinar os filhos na disciplina e admoestação do Senhor e, sim, provocá-los à ira. É fácil demais permitir associações não santas rastejarem disfarçadamente para dentro das vidas de nossos filhos. Isso pode acontecer com os relacionamentos de nossos filhos com crianças erradas, mesmo nas boas igrejas.
Por conseguinte, não é sempre que os pais podem se pôr de pé e dizer que eles não têm absolutamente nenhuma responsabilidade pela apostasia espiritual de seus filhos. As promessas da Bíblia são extremamente claras. Provérbios 22:6 não é tão vago quanto possa parecer. A escolha e uso das palavras por Deus é muito mais precisa. E, precisamos nos render à soberania da Verdade do Senhor, o verso em questão, definitivamente, promete que, se as crianças são treinadas adequadamente, não se desviarão do Senhor.
Se olharmos bem de perto, sempre podemos encontrar falhas (em nós mesmos). E sei que isto é certamente verdade em sua própria vida como um pai ou mãe (e aqui não é um julgamento, uma acusação, mas uma constatação). Muito do que você prega no que diz respeito à família, tem aprendido na "escola de batidas duras" por suas próprias falhas e erros.
Em busca do equilíbrio
Embora eu não acredite que um pai ou mãe precisa viver para sempre andando rastejando em lamentação por seus pecados e deficiências, ou, em "viagem através do país da culpa", eu também não acredito que tal pai ou tal mãe deveria fingir que não teve nenhuma responsabilidade. Creio que qualquer pai ou mãe que é honesto pode encontrar áreas de fracasso em si mesmo, e não é insalubre enfrentá-los.
Existem falhas de comissão - cometermos pecados fazendo ou dizendo coisas condenadas na Bíblia -, e falhas de omissão - deixarmos de falar ou fazer algumas coisas que deveríamos ter feito como um dos pais, ou em nossas caminhadas pessoais com o Senhor diante dos nossos filhos, ou em treinarmos e formarmos nossos filhos, ou em não sermos cheios do Espírito em nossos relacionamentos com os nossos cônjuges e filhos, etc. A solução para o nosso fracasso espiritual e nosso pecado, em qualquer área, não é ignorá-lo, mas enfrentá-lo, assumi-lo, confessá-lo, nos arrepender e endireitar as coisas (torná-las retas, de acordo com o que nos ensina a Palavra):
"O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia" (Pv 28:13 ACF).
Algumas das mais comuns áreas de fracasso são:
- Negligenciarmos o gastar tempo com os nossos filhos para ensiná-los a conhecer e servir ao Senhor (é mais fácil (especialmente para nós [os homens] pais, ao que parece) servirmos ao Senhor sozinhos do que O servirmos juntamente com os nossos filhos);
- Sermos ranzinzas com eles em vez de sermos cheios do Espírito;
- Criticá-los mais do que incentivá-los;
- Esposas serem mandonas e não submissas;
- Esposos serem tiranos, ditadores e não amorosos;
- Pais e mães negligentes que estão totalmente absorvidos em seus próprios egoS, seus próprios interesses e anseios, e em suas próprias atividades;
- Mães que, tendo filhos em idade escolar e adolescentes, trabalham fora (e estão o dia inteiro fora) de casa, de tal forma que as crianças ficam negligenciadas;
- Permitirmos insalubridades morais e espirituais (televisão, internet, literatura, música...), influenciarem a família;
- Deixarmos nossos filhos desenvolverem achegados relacionamentos com jovens do mundo (1 Coríntios 15:33);
- Permanecermos em uma igreja carnal, sem compromisso com a Sã Doutrina da Palavra, de modo que nossos filhos sejam adversamente afetados. Uma igreja que prioriza o ensino da Palavra é uma igreja fadada ao fracasso espiritual. Ela pode até ter um crescimento numérico, mas isso é apenas fermento e não consistência.
Conclusão
Qual o pai ou mãe que pode olhar para trás no tempo, sobre a vida de seus filhos quando ainda viviam em sua casa, e não encontrar falhas em si mesmo? Já conversei com vários líderes de igreja sobre os seus filhos que se desviaram e fiz isso porque eu tenho um grande interesse no tema, a fim de que eu possa ajudar outros.
Invariavelmente, tais líderes espontaneamente me relataram certas deficiências específicas que eram culpados e que eles sabem que têm lesados os seus filhos. Minha lista de falhas comuns, acima enumeradas, é baseada, em parte, nessas coisas que amigos compartilharam comigo com coração quebrantado e humilde, e, em parte, nas minhas próprias observações e falhas pessoais.
Ao mesmo tempo, todos os pais e mães cristãos podem testemunhar que o Senhor é muito misericordioso. Louvado seja Deus,
"Pois tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para todos os que te invocam" (Salmos 86:5).
É bom para pais e mães que olhem de frente seus pecados e deficiências nas suas relações familiares. Isto traz cura e crescimento a todos os que sinceramente se interessam pelo assunto.
Não há progresso espiritual quando os pais alegam que eles fizeram tudo certo e, mesmo assim, os seus filhos não servem ao Senhor. As coisas mais difíceis que tenho enfrentado como um cristão foram minhas responsabilidades. Isto me faz encarar coisas na minha vida que eu provavelmente não teria enfrentado de nenhum outro modo.
Apesar de, muitas vezes, ser muito difícil e desagradável, encarar de frente o pecado e a fraqueza espiritual não é insalubre, se for feito corretamente diante do Senhor e se isto resulta em crescimento espiritual. E isto vale para pais e filhos, conjunta e/ou individualmente.
A Deus toda a glória.
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