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quarta-feira, 12 de abril de 2017

ANÁLISE BÍBLICA E EXEGÉTICA DA CANÇÃO "RESSUSCITA-ME"


Essa canção foi hit absoluto nos círculos evangélicos — e até mesmo fora deles. Me lembro do alvoroço nas mídias sociais quando uma famosa apresentadora de televisão foi às lágrimas quando Aline Barros a interpretou em seu programa na sua antiga emissora. Teve o caso de outra apresentadora tão famosa quanto, a saudosa Hebe Camargo, que também se emocionou ao ter a canção cantada por Aline em seu programa na Rede TV!. E certamente essas duas celebridades não foram as únicas a irem às lágrimas pela envolvente canção. Ou seja, ninguém questiona o fato de a música ser envolvente, emocionante.

Bom, já faz um tempinho que essa canção "saiu de cena", ela foi sucesso absoluto mesmo lá nos anos de 2011, até 2013, quando era fácil ouvi-la sendo cantada na maioria das igrejas evangélicas. "Ressuscita-me", é uma composição da autoria de Anderson Freire e é a segunda faixa do sétimo álbum de carreira (e/ou de estúdio), "O Extraordinário Amor de Deus", da Aline Barros (MK Music, 2011). Mas apesar do tempo, a canção ainda é bastante entoada pelos evangélicos. Sua melodia é bonita e envolvente — admito —, mas a sua letra está de acordo com as Escrituras? Não e não! E é o que irei analisar no texto desse artigo. 

Considerações preliminares importantes


Antes da análise bíblica da letra, quero pontuar algumas considerações:
  • 1) Respeito, mas NÃO estou comprometido com as experiências e/ou gosto pessoais de quem quer que seja com a referida música.
  • 2) NÃO estou dizendo que alguém deva deixar de gostar só por causa da análise. Todos somos livres para gostar ou não do que quisermos sem ter que dar satisfações a ninguém.
  • 3) NÃO estou questionando a espiritualidade do compositor da letra da canção. Como eu poderia fazer isso (eu nem conheço o irmão)? Que poder tenho eu (ou qualquer outra pessoa) para fazê-lo?
  • 4) A análise é feita EM CONCORDÂNCIA CONTEXTUAL com a Bíblia Sagrada e, portanto, mesmo que alguém não concorde com a análise, não é comigo que deve levantar questionamentos, mas com Deus, o autor da Bíblia, e;
  • 5) Qualquer um pode discordar da minha análise, mas e da Bíblia, alguém discordará?

Isto posto, vamos à análise, não sem antes citar uma referência bíblica:

"E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim. De sorte que creram muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e não poucos homens" (Atos 17:10-12 - ACF, grifo meu).

Adianto que esta abordagem respeita a licença poética, mas prioriza a Palavra de Deus (1 Coríntios 4:6; Gálatas 1:6-8). Afinal, como crentes espirituais, devemos discernir bem tudo (canções, pregações, profecias, milagres, manifestações, etc.), a fim de retermos somente o que é bom (1 Co 2:15; 1 Tessalonicenses 5:21). A própria Bíblia me legitima a EXAMINAR TUDO e reter apenas o que for bom. Enfim, estou biblicamente respaldado. Vamos à música.
"Mestre, eu preciso de um milagre. Transforma minha vida, meu estado. Faz tempo que eu não vejo a luz do dia. Estão tentando sepultar minha alegria, tentando ver meus sonhos cancelados". 
Não vejo problemas no início da composição em análise, visto que todos nós, mesmo salvos, passamos por momentos difíceis em que nos sentimos perseguidos, isolados, como que presos em um lugar escuro, sufocante, "no vale da sombra da morte" (Salmo 23:4). Nessas circunstâncias, é evidente que ansiemos por um grande milagre.
"Lázaro ouviu a sua voz, quando aquela pedra removeu. Depois de quatro dias ele reviveu". 
Aqui, como se vê, a construção frasal não ficou boa. Quem removeu a pedra? Com base na licença poética, prefiro acreditar que o compositor referiu-se aos homens que removeram a pedra, naquela ocasião (João 11:39-41), haja vista Lázaro, morto e amarrado, não ter a mínima condição de fazer isso — segundo os historiadores, aquela pedra pesava cerca de quatro toneladas.

A oração cantada prossegue: 
"Mestre, não há outro que possa fazer aquilo que só o teu nome tem todo poder. Eu preciso tanto de um milagre"
Algum problema, aqui? Não. Prossigamos.
"Remove a minha pedra, me chama pelo nome". 
Os problemas começam aqui. Se o compositor tomou a ressurreição de Lázaro como exemplo, deveria ter sido fiel à narrativa bíblica. É claro que Deus remove pedras grandes, como ocorreu na ressurreição do Senhor Jesus (Marcos 16:1-4). Mas, no caso de Lázaro, quem tirou a pedra foram os homens, e não Deus (Jo 11:41)!  Licença poética? Já disse e repito: não estou embasando minha análise em licença poética e sim na mensagem bíblica e nenhuma licença poética por mais poética que seja se sobrepuja a autoridade da mensagem bíblica, quer queiram os admiradores da música ou não.

À Bíblia, por favor


Aprendemos lições diferentes com as circunstâncias que envolveram as aludidas ressurreições. Fazendo uma aplicação espiritual, há algumas pedras que Deus remove (como na ressurreição de Jesus), mas há outras que o ser humano deve revolver (como na ressurreição de Lázaro). Em outras palavras, conforme um antigo dito popular, Deus faz a parte dEle, e nós devemos fazer a nossa (2 Crônicas 7:13,14; Tiago 4:8). Continuando.
"Muda a minha história. Ressuscita os meus sonhos. Transforma a minha vida, me faz um milagre, me toca nessa hora, me chama para fora". 
"Evangeliquês", clichês comerciais e antropocêntricos não podem faltar em gospel hits: "muda a minha história", "sonhos", etc. Como já falei muito sobre esse desvio em outros artigos, sermões e conversas informais, evitarei ser ainda mais "antipático" (sei que é assim que muitos me consideram). Mas é importante que os compositores cristãos aprendam que os hinos devem ser prioritariamente teocêntricos, cristocêntricos, senão podem ser considerado qualquer coisa: música de auto ajuda, música para levantar o moral (egos) e até mesmo para evangelizar (porque não?), mas NUNCA em nenhuma hipótese poderão ser consideradas de louvor e adoração, pelo menos não a Deus.

"Ressuscita-me...". 

Aqui vejo a principal incongruência do cântico, a qual não pode ser creditada à licença poética. Pedir a Deus: "ressuscita os meus sonhos", no sentido de que eu me lembre das suas promessas e volte a "sonhar", a ter esperança, a aspirar por dias melhores, etc. — a despeito do que afirmei sobre o antropocentrismo —, até que é aceitável. Mas não posso concordar com a súplica: "Ressuscita-me". Por quê? Porque o salvo em Cristo já ressuscitou, espiritualmente, e não precisa ressuscitar de novo!

Quer dizer, então, que a aplicação feita pelo compositor é contraditória? Sim, pois, em Colossenses 3:1, está escrito: 
"Se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus" (grifo meu). 
O que é o novo nascimento? Implica morte para o pecado (Cl 3:3) e ressurreição para uma nova vida (Romanos 6:4). Essa analogia da nossa preciosa salvação — pela qual temos a certeza de que estamos mortos para o pecado e já ressuscitamos para o nosso Deus — não pode ser posta em dúvida para atender a anseios antropocêntricos. Por isso, a oração "Ressuscita-me" se torna, no mínimo, despropositada. A não ser que a pessoa que esteja cantando a música se considere espiritualmente morta. E, nesse caso, é cada um com seu cada qual.

Quanto à ressurreição


Alguém poderá argumentar: "Ora, a Bíblia não diz, em 1 Coríntios 15, que vamos ressuscitar? Por que seria errado pedir isso para Deus?" Bem, o sentido da ressurreição, no aludido texto paulino, é completamente diferente do mencionado na composição em apreço. Paulo referiu-se à ressurreição literal daqueles que morrerem salvos, em Cristo (vv.51-55; 1 Ts 4:16,17). Hoje, em vida, não esperamos ser ressuscitados, pois já nos consideramos
"como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 6:11).

Conclusão 


A parte final do cântico mantém o tom triunfalista da música, declarando que Jesus é o Filho de Deus para "nos erguer para vencer", nos chamando para "viver uma história de poder". Tais frases seriam verdadeiras biblicamente se não estivessem diretamente associadas ao antropocentrismo da música. Vencer, segundo o contexto deste louvor, é ter nossos sonhos atendidos. Viver uma história de poder, segundo esta música, é ter nossos sonhos atendidos. 

Porém, nossa vitória absoluta foi contra a morte, pois Jesus, com a sua própria morte, nos concedeu a vida eterna, e viver uma história de poder é ser usado por Deus como canal de bênçãos na vida das pessoas, transmitindo as boas novas da vida, morte e ressurreição do filho de Deus por nós para aqueles que ainda não o conhecem. Atrelar uma vida vitoriosa ao mero cumprimento de nossos desejos humanos é temerário e simplifica por demais a vida cristã.

Por fim, se tivéssemos que corrigir este cântico ou orientá-lo para um momento específico, eu diria que esta música poderia ser usada apenas em momentos de apelo, após mensagens evangelísticas que façam uma análise correta da questão da morte e vida espirituais. 

Neste caso, poderia ser utilizada uma mensagem ou ministração que mencionasse que os sonhos de Deus para nossas vidas são os melhores, que seguir a vontade de um Pai Onisciente e Todo-Poderoso é o melhor que podemos fazer, e que devemos buscar descobrir os sonhos que Deus tem para nós, de forma a vivermos uma vida espiritual satisfatória e plena. Somente desta forma, e mesmo assim com ressalvas, eu creio que este louvor poderia ser entoado em nossas igrejas sem causar confusões na mente dos membros.

Como diria o outro: Pronto, falei. Sei que muitos questionarão esta análise, porém espero que ela leve a uma reflexão sobre a música e a uma decisão esclarecida sobre como ela deve ser entendida e entoada.

O texto da análise acima foi feita com argumentos pessoais mesclados ao do pastor Ciro Sanches Zibordi, autor do livro "Erros que os Adoradores devem evitar", pois os argumentos dele são essencial e integralmente semelhantes aos meus.

A Deus toda glória.


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Um comentário:

  1. O grande problema é que a multidão, o público, a platéia não conhece o Deus que diz adorar. Essas pessoas conhecem o "deus" antropocêntrico, ou seja o "deus" que elas mesmo criaram em suas mentes caídas, o "deus" do ventre, um "deus" que está sempre à disposição delas despachando os seus mais extravagantes desejos. Por isso que esse tipo de música faz tanto sucesso, porque fala exatamente o que elas querem ouvir. O louvor santo, genuíno provocaria-lhes coceira nos ouvidos

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