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quarta-feira, 19 de abril de 2017

FILMES QUE EU VI - 30: "PLATOON"

Um dos retratos mais emocionantes dos horrores da Guerra do Vietnã, dirigido por um ex-combatente, "Platoon" (ou "Platoon - Os Bravos do Pelotão"), levou o Oscar de filme, direção, montagem e som, completou três décadas e ainda é um dos mais marcantes filmes do gênero.

O filme mostra a trajetória do jovem Chris, que troca a matrícula na universidade para servir como recruta no Vietnã, experimentando toda violência e loucura de uma carnificina sem sentido. 

Na guerra o jovem trava contato com os sargentos Barnes e Elias. O primeiro, um assassino brutal e psicopata e o segundo, um pacifista inteligente e sensível. Apesar do maniqueísmo, o filme possui cenas antológicas, como a chegada ao Vietnã, a chacina de uma vila vietnamita e o primeiro contato do pelotão ("platoon") com o inimigo. 

Contexto Histórico 


Em 1946, a tentativa francesa de restabelecer o colonialismo no sudeste asiático, provocou a Guerra da Indochina, em que o imperialismo francês enfrentou grupos de guerrilhas no Vietnã e no Laos, culminando com a derrota francesa na Batalha de Dien Bien-phu em 1954. Nesse mesmo ano, a Conferência de Genebra, convocada para negociar a paz na Indochina, reconheceu a independência do Camboja, Laos e Vietnã. 

Na conjuntura internacional marcada pela "guerra fria", o Vietnã dividiu-se em duas porções a partir do paralelo 17: o norte, socialista representado pela República Democrática Popular do Vietnã, liderada por Ho Chi Minh, com capital em Hanói e o sul, capitalista formado pela República Democrática do Vietnã, comandada por Ngo Dinh-diem, com capital em Saigon. Segundo a Conferência de Genebra, a divisão era temporária e a reunificação do país deveria acontecer em 1956, com a convocação de eleições populares. 

O cancelamento das eleições pelo governo do Vietnã do Sul, desencadeou a Guerra do Vietnã em 1960, ano em que também foi fundada a Frente de Libertação do Vietnã do Sul, da qual germinou o "vietcong", guerrilha comunista apoiada pelo Vietnã do Norte. O regime pro-ocidental do sul, pressionado pelos vietcong, passou a contar com a colaboração de consultores norte-americanos enviados pelo presidente John Kennedy

Em 1964, alegando que navios americanos tinham sido atacados por lanchas do Vietnã do Norte, o presidente Lyndon Johnson, autorizou a intervenção militar ao país asiático, que no auge da guerra chegou a ter 550 mil soldados combatendo no Vietnã do Sul. Uma nova escalada de guerra iniciou-se em 1965, quando o governo dos Estados Unidos iniciou um bombardeio sistemático sobre o Vietnã do Norte. 

Em janeiro de 1968, o Vietnã do Norte e os vietcong, desencadearam a "ofensiva do Tet" (o ano-novo vietnamita) e o presidente Johnson determinou a paralisação dos bombardeios. Importantes cidades do sul foram ocupadas pelos nortistas, que chegaram à periferia da capital Saigon. Vindos de uma guerra de libertação contra a França, os norte-vietnamitas usaram melhor as estratégias de guerrilha aproveitando-se das vantagens geográficas (selva fechada e calor de 40 graus) para derrotar os norte americanos. 

Esses por sua vez, não mediram esforços e investindo mais de 250 bilhões de dólares, além de terem utilizado material bélico condenado pelas Nações Unidas, como bombas químicas de alto poder destrutivo, destacando-se as desfolhantes como a de "napalm"

Em campanha eleitoral, o candidato republicano Richard Nixon, prometia "trazer os rapazes de volta", mas eleito presidente, realizou a vietnamização do conflito, que entre 1969 e 1973, combinava a retirada gradual com pesados bombardeios sobre o norte e com intervenções militares no Laos e Camboja (Segunda Guerra da Indochina), visando eliminar as "trilhas Ho Chi Minh", usadas pelos vietcong

Em 1973, os Acordos de Paris estabeleceram o fim do envolvimento norte-americano na Indochina, oficializando o término da Guerra do Vietnã, com a derrota dos Estados Unidos. No ano seguinte o Khmer Vermelho (comunista), assumia o poder no Camboja através da conquista de Phnom Penh, capital do país. 

A luta entre as forças sul-vietnamitas e vietcong continuaram até o dia 30 de abril de 1975 quando os Estados Unidos retiraram seus últimos representantes de Saigon, que cairia sob domínio das tropas vietcong. A Guerra do Vietnã chegava ao fim com a conquista de Saigon pelos vietcong e a reunificação do país sob regime comunista, com a denominação de República Socialista do Vietnã. 

Porque vale a pena assistir




Devo confessar que filmes com temática de guerra não são dos meus preferidos, mas no caso de "Platoon", foi impossível não ceder. Definir "Platoon" como um filme que mostra as atrocidades cometidas pelas tropas americanas no Vietnã é básico e clichê. Muito mais do que ser taxativo, a obra mais conhecida de Oliver Stone, mesmo que não seja seu melhor filme, é competente o suficiente para martelar nossas cabeças e nos fazer refletir sobre o que aqueles soldados, jogados em um país completamente desconhecido à mercê da sorte (e ego dos governantes), fazem para sobreviver. Muito mais do que sobre atrocidades, é um filme sobre fazer o extremo para sobreviver. 

Diferentemente de Apocalypse Now – de Francis Ford Copolla, outro super clássico de 1979, sobre a guerra do Vitnã, estrelado por Marlon Brando (★1924-✟2004) –, que é muito mais grandioso e romantizado, com um roteiro bem definido e cheio de marcações, "Platoon" nos coloca no meio de uma situação, sem nos apresentar um objetivo, trama ou qualquer outra coisa concreta. Somos jogados ali, no meio do conflito, e o filme simplesmente não nos apresenta nem mesmo o porquê daquela guerra estar acontecendo. Ponto para a coragem de Stone, já que isso representa bem a maioria dos soldados que estão lá: não fazem nem ideia do que estão participando. 

O roteiro 


Acompanhando o ponto de vista do Soldado Chris Taylor (Charlie Sheen, quando ainda fazia filmes sérios, quando ainda era um ator sério), somos apresentados ao conflito sob o mesmo olhar daqueles que lá lutavam. A partir do início do filme, quando Chris desembarca e, de cara, já vê gente morta e soldados baleados de forma quase fatal, muitas e muitas situações desumanas serão presenciadas, desde ter que dormir debaixo de chuva pesada com insetos monstruosos picando nossos personagens até atitudes extremas, como queimar uma vila milenar só pela suspeita de que os habitantes ajudam os vietcongues. Guerra é isso, não adianta julgar quem está certo ou errado, afinal, enquanto alguns estão atrás de mesas dando ordem, a luta no campo é bem diferente. A lei é do mais forte. 

Cena antológica 




Isso nos leva a outro ponto importantíssimo do filme: cenas marcantes. Uma das mais famosas do cinema, temos o Sargento Elias Grodin (Willem Dafoe, o duende verde de "Homem-Aranha" - 2002, de Sam Raime, bem novinho e também o protagonistas do polêmico "Ninfomaníaca" - 2013, de Lars von Trier) correndo de vários e vários vietcongues, após ter sido deixado para trás por sua tropa. Tomando tiros e mais tiros, ele se ajoelha e dá capa ao filme. Todo clássico tem que ter isso: momentos marcantes e que chocam, não saem de nossas memórias, e toda vez que penso em "Platoon", imediatamente a imagem de Dafoe ajoelhado enquanto é alvo de dezenas de inimigos me vêm à cabeça. 

Mas não é só dessa passagem que "Platoon" respira. Mostrando diversas cenas corriqueiras para aqueles soldados, como o local reservado para eles fumarem um baseado, ou então as cartas que escrevem para suas famílias, fica impossível não criar uma identidade com eles. A maioria está ali por obrigação, por ser pobre, negro ou de qualquer outra classe que sofre preconceito nos Estados Unidos, mas também há os doidos como Chris, voluntários a lutar na guerra, sem saber exatamente o porquê. 

E toda essa rotina se confunde com o medo de morrer de alguns (outros não ligam, como eles mesmo dizem, "se eu morrer não vou nem saber, por que me preocupar?"), nos entregando algumas passagens chocantes, como a execução da vietcongue que não parava de falar ou a bomba que arranca os dois braços de um importante personagem. 

Lógico que filmes de guerra têm que ter passagens violentas e com bastantes tiroteios, mas se você está esperando algo como "Pearl Harbor" (2001, de Michael Bay) ou "O Resgate do Soldado Ryan" (1998 - Steven Spielberg), esta não é a sua praia. Focado muito mais no psicológico dos personagens (como a primeira metade, a parte boa, de "Nascido Para Matar" - 1987, do fenomenal Stanley Kubrick), as lutas que acontecem, além de escassas, são em uma escala muito menor do que estamos acostumados a ver em Hollywood. 

Isso porque o filme acompanha os acontecimentos de uma tropa pequena, e não de um batalhão inteiro. A sequência final, em que Chris está já bastante afetado psicologicamente com tudo o que presenciou, é fantástica, mesmo que tenha uma escala menor em termos de importância naquela guerra – afinal, qual combate foi importante no Vietnã, se pararmos para pensar? 
  • (Aqui abro um parênteses: impossível não lembrar do fato que Stone escreveu o roteiro baseado nas suas experiências reais durante a guerra. Como pode uma pessoa viver aquilo tudo e ainda manter a sanidade para falar a respeito sobre? Talvez "Platoon" seja um auto-purgatório de tudo o que ele viveu ao longo dos dias em que ficou no Vietnã.) 

Starring Charlie Sheen




Parando para perceber um pouco nos rostos daqueles sofredores, é possível notar várias figuras que hoje são consagradas no cinema, como Johnny Depp (o "ex-eterno" capitão Jack Sparrow, da franquia "Piratas do Caribe") ainda moleque e um Forest Whitaker inconfundível com aquele olhinho caído. Mas o filme é mesmo de Sheen e não tem para ninguém. 

Alvo de todos os pensamentos e pontos mais dramáticos (a sequência em que os vietcongues vêm chegando ao fundo e ele não pode se mexer é fantástica), o papel caiu do céu para ele, já que outros nomes haviam recusado-o, como Keanu Reeves e Kyle MacLachlan, consagrando-o em Hollywood e abrindo as portas para diversos projetos (a título de curiosidade, Johnny Depp havia sido considerado para o papel de Chris Taylor, mas como era jovem demais, acabou ficando com um papel coadjuvante; mas Stone já havia dito que aquele menino seria um sucesso no cinema). 

Porque foi sucesso 




Vencedor de quatro Oscars (Filme, Diretor para Oliver Stone, Montagem e Som) e indicado em outras quatro categorias (Ator Coadjuvante para Willem Dafoe, Ator Coadjuvante para Tom Berenger, Fotografia e Roteiro Original), "Platoon" consagrou de vez os filmes sobre o Vietnã: foi com ele que as pessoas puderam conhecer uma visão sobre o conflito de alguém que esteve realmente por lá, e isso dá importância ao trabalho de Stone (com relação ao Oscar, O "Franco-Atirador" havia vencido em 1979, o que pode ter tirado o Oscar de "Apocalypse Now" no ano seguinte, para o apenas bom "Kramer VS Kramer"). 

E, após o fim do filme, a sensação de alívio por não termos participado daquilo é imensa. A experiência de ver o sofrimento dos soldados e os crimes de guerra já devia bastar para os Estados Unidos repensarem esse monte de guerra que eles insistem em realizar. Algo que está longe de acontecer. 

Trilha Sonora


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Eu não podia deixar de mencionar a trilha sonora composta por grandes hits do final da década de 1960, época na qual foi ambientado o longa. Além da tensa e deprimente canção instrumental 'Adagio For Strings' (que dá o tom perfeito ao clima do filme), destaco a psicodélica 'White Rabbit', sucesso da banda Jefferson Airplane, faixa do emblemático álbum 'Surrealistic Pillow', lançado no prodigioso ano de 1967 (aliás, o ano de nascimento desse prodigioso que vos escreve), a clássica "Respect" (também de 1967), de Aretha Franklin, a romântica "When a Man Loves a Woman" (que já recebeu várias regravações, sendo uma das mais famosas, a do Michael Bolton, em 1991, que por aqui foi tema da novela "Felicidade", de Manoel Carlos, exibida pela Rede Globo no horário das 18h:00), interpretada e imortalizada por Percy Sledge. A trilha ainda tem The Doors e Smokey Robinson.

Conclusão 




Não esperem mais um filme de guerra que relata o tradicional "heroísmo norte-americano". Porque "Platoon" é o retrato mais puro do que pode ser uma guerra: mortes sem sentido, tentativas de estupros, e outras brutalidades. Vale destacar a bela atuação de Willen Dafoe e Tim Berenger em seus papeis, ambos ganhando prêmios por suas interpretações. Outro fator que merece destaque é a trilha sonora do filme feita por Georges Delerue, a qual faz o espectador refletir mais sobre as ações humanas. 

"Platoon" revela a visão peculiar de Oliver Stone sobre o confronto mais marcante na vida dos norte-americanos. Mas as marcas deixadas no povo, por mais profundas que sejam, não se comparam às marcas deixadas nos combatentes que sobreviveram e levaram consigo aquelas tristes memórias. 

Os dois momentos marcantes da passagem de Chris pelo Vietnã – a morte de Elias e a saída do Vietnã – acontecem em sobrevoos idênticos, acompanhados pela mesma melancólica trilha sonora. E no segundo voo, a imagem dos corpos jogados no enorme buraco é simplesmente perturbadora. Nas palavras finais dele, "a guerra acabou, mas aquelas imagens ficarão pra sempre em sua memória". E ficarão também na memória do espectador, assim como o competente filme dirigido por Oliver Stone. Nota mil! 

"Platoon" (Platoon, EUA, 1986) 

• Direção: Oliver Stone 

• Elenco Principal: Keith David, Charlie Sheen, Johnny Depp, Willien Dafoe, Tim Berenger, Forest Whitaker



A Deus, o Pai, toda glória! 
E nem 1% religioso. 

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