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domingo, 2 de abril de 2017

ACONTECIMENTOS - O INFERNO NA BOATE KISS


Era madrugada de domingo, 27 de janeiro de 2013, quando o incêndio provocado por um sinalizador usado pela banda de forró Gurizada Fandangueira durante o show na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, iniciou uma das maiores tragédias da história do Brasil.

A tragédia


O incêndio recente que tomou conta da boate Kiss durante uma festa de jovens em Santa Maria, uma cidade universitária com 260 mil habitantes no Rio Grande do Sul, o estado mais ao sul do Brasil, resultou em uma enorme tragédia. Estima-se que a boate, cuja área de 615 m2 tinha capacidade para menos de 700 pessoas, estava lotada, com aproximadamente 1.200 a 1.300 pessoas.

Duzentos e trinta e seis jovens foram mortos e outros 169 foram hospitalizados por inalação de fumaça e queimaduras, muitos dos quais se encontram em estado crítico. A maioria dos mortos foi constituída de estudantes universitários, com 18 anos a 21 anos de idade. Os dados indicam que esse é o desastre causado por incêndio em boate com o maior número de mortes em mais de uma década.

O inferno foi ali


Imagem chocante dos corpos carbonizados no interior da boate
O incêndio teve início às 2h30h, quando uma banda que se apresentava no clube utilizou fogos de artifício baratos e propícios para uso em espaço aberto como parte do show, ao invés de utilizar fogos específicos para uso em espaço fechado.

A banda que estava no palco mirou o sinalizador para cima. O teto da boate, que era feito de material altamente inflamável, logo pegou fogo e, em decorrência do mau funcionamento do extintor de incêndios, as chamas rapidamente se espalharam por toda a boate lotada, liberando uma fumaça espessa e tóxica.
 

As pessoas entraram em pânico e tentaram sair desesperadamente, mas a fumaça fez com que perdessem o senso de direção. Aproximadamente 50 das vítimas foram encontradas nos dois banheiros do clube, aparentemente porque confundiram as portas com a porta de saída. Pelo menos 90% das vítimas morreram por inalação de fumaça e não por queimaduras.

Tragédia(s) anunciada(s)


O material do isolante térmico do forro era combustível e o equipamento de segurança contra incêndio não funcionava adequadamente.

A boate não contava com alarme ou sistema de aspersão e tinha apenas uma saída. Além disso, as catracas utilizadas para controlar a entrada das pessoas acabaram bloqueando a saída.

Os bombeiros tiveram que abrir uma parede externa para permitir que maior número de pessoas escapasse.

O Brasil fica distante, entretanto essa tragédia comoveu a todos, trazendo de volta memórias dolorosas em todos os lugares do mundo. As semelhanças entre essa tragédia e outras do passado não passam despercebidas. 
  • Em 1961, um circo pegou fogo matando 503 pessoas em Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. 
  • Em 2000, um acidente com solda iniciou um incêndio em um clube em Luoyang, na China, vitimando 309 pessoas.
  •  Em 2003, uma chama na boate Station, em West Warwick, Rhode Island, Estados Unidos, matou 100 pessoas e feriu 200. 
  • Uma chama incendiou a espuma do teto em uma boate superlotada em Buenos Aires, Argentina, matando 194 pessoas em 2004. 
  • Fogos de artifício em ambiente fechado foram considerados a causa de um incêndio em um clube de Bangkok, na véspera do Ano Novo de 2008, quando 66 convidados foram mortos. 
  • Um outro espetáculo pirotécnico em uma boate em Perm, Rússia, causou o incêndio em um teto de plástico decorado com ramos, matando 152 pessoas em dezembro de 2009.
Infelizmente, as lições aprendidas com desastres anteriores foram rapidamente esquecidas. Vidas foram perdidas em Santa Maria, justamente porque as precauções que deveriam ter sido tomadas foram negligenciadas. Após o desastre de Rhode Island, regras e regulamentos específicos forçaram muitos estabelecimentos nos Estados Unidos a instalar sistemas de aspersão e fazer outras reformas dispendiosas, incluindo-se o uso de material à prova de incêndio, instalação de novas portas e escadas, assim como iluminação adequada e indicação dos locais de saída. 

As boates também tiveram que montar planos de emergência e ter uma equipe de gerentes treinada para lidar com multidões, disponível no local dos shows.

Embora cada um desses desastres leve a uma maior conscientização sobre a segurança do público em geral contra incêndios, a implementação das medidas de prevenção necessárias rapidamente tem que enfrentar a realidade econômica e a falta de vontade política. 

A tragédia de Santa Maria deveria forçar uma reflexão séria sobre a cultura disseminada da leniência, desprezo e corrupção endêmica no mundo todo, especialmente nos países em desenvolvimento.

Mural com as fotos das vítimas

Conclusão

A lentidão e leniência da Justiça


A Polícia Civil indiciou 18 pessoas nos dois inquéritos remanescentes sobre o incêndio na boate Kiss. O resultado final das investigações foi apresentado em 18 de julho de 2014 ao Ministério Público de Santa Maria. Entre os crimes estão falsidade ideológica, prevaricação, falso testemunho e crime ambiental.

No total, foram 22 indiciamentos. Algumas pessoas responderão por mais de um crime. Onze pessoas foram indiciadas por falsidade ideológica, uma por prevaricação, uma por fraude processual, três por falso testemunho e seis por crime ambiental, sendo três deles funcionários públicos.

Após a conclusão, em março de 2013, do inquérito principal, que apurou crimes contra a vida, outras duas investigações haviam sido abertas para apurar fatos que não haviam sido esclarecidos anteriormente. Um dos inquéritos investigou irregularidades na prefeitura para a liberação dos alvarás municipais para a Kiss e a outra fraudes cometidas pelos antigos proprietários da boate para a obtenção de licenças da casa noturna.

Ainda estão em andamento dois processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.

Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de "dolo eventual", estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória a eles poucos meses depois.

Atualmente, o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100 pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e o próximo passo é ouvir as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. 

O fato é quase quatro se passaram e as famílias que perderam seus entes queridos ainda clamam por justiça em meio a uma sufocante fumaça de impunidade, no incêndio da injustiça.

Apenas quando deixarmos de lado as mesquinharias e a mentalidade voltada apenas aos negócios para obter lucro máximo com um mínimo de custo e quando a vida humana for considerada mais valiosa que qualquer custo necessário para gerar um ambiente mais seguro é que nossos jovens poderão curtir a vida e - aqueles que gostam (e eles não são poucos, diga-se) - dançar até o amanhecer, sem ter que ir ao encontro do beijo (Kiss, em inglês) da morte. Até lá, desastres semelhantes acontecerão novamente e, infelizmente, muitas vidas ainda serão perdidas.

[Fonte: Com informações do G1]

A Deus toda glória!

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