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terça-feira, 19 de maio de 2015

DISSONÂNCIA OU SÍNDROME DE ACÃ?

Em minha caminhada cristã tive algumas experiências no ministério de música. Há tempos fui integrante de coral e, mais recentemente, durante um tempo Deus permitiu que eu fizesse parte da equipe de louvor em minha congregação. Apesar de não ser esse o meu chamado, foi um tempo muito bom, de muitas experiências. Foi um tempo de Deus. Foi o tempo de Deus. Eu era um dos vocalistas da equipe e, apesar dos pesares, até que não fazia feio (nada de me comparar com uma gralha, pode acreditar, não chegava a ser um pardal, mas era bem mais afinado do que uma gralha). Nesse tempo maravilhoso tive a oportunidade de fazer algumas aulas de canto e aprendi algumas coisas que usarei metaforicamente neste artigo.

Consonância e dissonância 


Num contexto musical, consonância e dissonância são entrelaçadas numa partitura com o propósito de se construir uma teia que expressa emoções e sutilezas musicais. A consonância é estável e pode ser percebida num intervalo, acorde ou harmonia. De som agradável, seu uso é livre, ou seja, sem preocupação com as regras harmônicas (preparações e resoluções). As consonâncias soam nos intervalos de quartas e quintas juntas, nas oitavas e uníssonos, e nas terças maiores e sextas menores. No entanto, a dissonância é instável e, muitas vezes, definida por um som desagradável, inconstante, necessitando “resolução”. Seus intervalos e acordes característicos precisam ser conduzidos a uma consonância que traga repouso, aliviando a “tensão” causada pela dissonância do trecho musical.

No Renascimento [Cultural, um movimento histórico ocorrido inicialmente na Itália e difundido pela Europa entre os séculos XV e XVI. Foi caracterizado pela crítica aos valores medievais e pela revalorização dos valores da Antiguidade Clássica (greco-romana).], a quarta aumentada ou quinta diminuta eram considerados tão instáveis que foram tratados como intervalos do diabo (diabolus in musica ou tônus diabolicus, ou ainda, trítono – nos mosteiros, acreditava-se que os sons musicais carregavam um significado espiritual). A instabilidade gerada pelo trítono trazia a sensação de movimento e tensão na música. E essa “inconsistência” musical resultava no temido intervalo do diabo (três tons inteiros). Por isso, o uso excessivo e confortável de quintas paralelas no canto gregoriano.

Atualmente, percebemos com mais facilidade as diferenças entre consonância e dissonância, pois nossos ouvidos já assimilaram estilos musicais de diversos períodos e culturas. As regras harmônicas surgiram em um mundo não globalizado, quando cada nação vivenciava suas próprias descobertas e só respirava sua cultura. E, assim, foram definidos alguns conceitos musicais – a consonância, do latim consonare, significa soar junto; a dissonância, o oposto. Como uma bússola musical, a harmonia tornou-se padrão para o surgimento de estruturas sonoras. O compositor que quisesse ser respeitado academicamente precisaria segui-la.

Harmonia do erro


Hoje, não vivemos mais sob esse rigor musical e as regras da harmonia tornaram-se concessões, dando muita liberdade ao estilo de compor. Ainda assim, sabemos que alguns parâmetros são pilares na teoria musical e não devem ser ignorados. Se estamos tocando em um grupo instrumental, quando um músico erra a execução de determinado acorde, todo o grupo fica prejudicado. Se cantamos e alguém se perde nos improvisos vocais, não combinando sua melodia com as outras vozes e, simultaneamente, com a base produzida pelos instrumentos, todo o grupo se perde e tem seu objetivo frustrado. O mesmo acontece num coral, quando todos têm de responder pela qualidade sonora do grupo e uma voz desafinada sobressai às outras.

Por que essas coisas acontecem, se ensaiamos repetidamente os caminhos harmônicos, sequências melódicas, rítmicas e até mesmo os improvisos? Por que, no momento mais importante para o levita músico as combinações sonoras parecem soar somente como dissonâncias? Uma “sujeira” harmônica aqui, outra ali e, pronto. Todo o trabalho musical, esforço e objetivos desmoronam. Isso nos remete aos “ensaios” de Josué e da tribo de Israel.

Vitoriosos em Jericó, percebem que a aliança com o Senhor é verdadeira, pois aprenderam que Ele é fiel e não pode mentir (Nm 23:19). Deus é consoante com o que diz e zela para cumprir sua Palavra. Confiantes nessa aliança, saem para a batalha na cidade de Ai. Poucos homens são convocados para essa peleja, pois os inimigos, em menor número, não causariam tantas perdas, pensaram. Porém, um só homem, que estava em dissonância com a lei de Deus, trouxe a desafinação ao grupo que antes, com trombetas, fez cair as muralhas de Jericó. Aça escondeu uma capa babilônica que deveria ser queimada; tomou o outro e a prata que deveriam ir para o tesouro na Casa de Deus. 
“E respondeu Acã a Josué, e disse: Verdadeiramente pequei contra o Senhor Deus de Israel, e fiz assim e assim. Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma cunha de ouro, do peso de cinquenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata por baixo dela.” (Js 7:20, 21)
Alimentando sua cobiça, roubando e mentindo, um só homem, um só coração trouxe derrota para o povo de Israel. Todo o grupo percebeu as consequências. Precisamos olhar para nossa “tenda” interior e desenterrar entulhos escondidos! Nossas atitudes não podem ser paralelas às do grupo musical que pertencemos. As dissonâncias em nossas intenções precisam ser resolvidas na cruz de Cristo. O sangue do Cordeiro pode trazer resoluções necessárias à harmonia de nosso interior e aperfeiçoar-nos em Cristo Jesus. Reincidir nos erros e atitudes do “velho homem” revelam acordes que não respeitam a boa condução vocal e instrumental que a Lei de Deus quer produzir. NÃO à desobediência, cobiças e mentiras. São dissonâncias nos louvores de Israel! É a síndrome de Acã!


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